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Marina Colasanti

Katrina

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Marina Colasanti (Asmara, 26 de setembro de 1937) é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritréia. Ainda criança sua família voltou para a Itália de onde emigram para o Brasil com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

No Brasil estudou Belas-Artes e trabalhou como jornalista, tendo ainda traduzido importantes textos da literatura italiana. Como escritora, publicou 33 livros, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil.

Uma idéia toda azul é um livro seu de contos que ganhou o prêmio O Melhor para o Jovem, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Obras:
Minha Ilha Maravilha (2007) - Ed. Ática
Acontece na cidade (2005) - Ed. Ática
Fino sangue (2005)
O homem que não parava de crescer (2005)
23 histórias de um viajante (2005)
Uma estrada junto ao rio (2005)
A morada do ser (1978, 2004)
Fragatas para terras distantes (2004)
A moça tecelã (2004)
Aventuras de pinóquio – histórias de uma marionete (2002)
A casa das palavras (2002) - Ed. Ática
Penélope manda lembranças (2001) - Ed. Ática
A amizade abana o rabo (2001)
Esse amor de todos nós (2000)
Ana Z., aonde vai você? (1999) - Ed. Ática
Gargantas abertas (1998)
O leopardo é um animal delicado (1998)
Histórias de amor (série “Para gostar de ler” vol. 22) (1997) - Ed. Ática
Longe como o meu querer (1997) - Ed. Ática
Eu sei mas não devia (1995)
Um amor sem palavras (1995)
Rota de colisão (1993)
De mulheres, sobre tudo (1993)
Entre a espada e a rosa (1992)
Cada bicho seu capricho (1992)
Intimidade pública (1990)
A mão na massa (1990)
Será que tem asas? (1989)
Ofélia, a ovelha (1989)
O menino que achou uma estrela (1988)
Aqui entre nós (1988)
Um amigo para sempre (1988)
Contos de amor rasgado (1986)
O verde brilha no poço (1986)
E por falar em amor (1985)
Lobo e o carneiro no sonho da menina (1985)
A menina arco iris (1984)
Doze reis e a moça no labirinto do vento (1978)
Uma idéia toda azul (1978)

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marina_Colasanti

Outra autora que tive a oportunidade de conhecer graças a minha professora de português do Ensino Médio que adorava trabalhar seus textos. Lendo um aqui outro ali, quando um livro dela me caiu em mãos devorei em um piscar de olhos.

Eis alguns textos da autora:

Eu sei, mas não devia
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)


Fonte: http://www.releituras.com/mcolasanti_menu.asp

Dela recomendo o Contos de Amor Rasgados

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Em 'Contos de amor rasgados' Marina Colasanti que despertam os sentidos, penetram fundo nas singularidades da alma feminina e realizam uma fascinante viagem pelos misteriosos domínios do relacionamento humano.

Texto extraído do livro:

Sem Novidades no Front
Esperava que o marido voltasse da guerra. Durante os primeiros anos, quando ele certamente não chegaria, preparou compotas. Depois, a partir do momento em que o regresso se tornava uma possibilidade iminente, assou pães, e a cada semana uma torta de pêras, enchendo a casa com o perfume açucarado que, antes mesmo do seu sorriso, lhe daria as boas-vindas.

Um dia chegou o vizinho da frente. No outro chegou o vizinho do lado. E seu marido não chegou. Voltaram os gêmeos morenos. Voltaram os três irmãos louros. E seu marido não voltou. Aos poucos, todos os homens da pequena cidade estavam de volta a suas casas, Menos um. O seu.

Paciente, ainda assim ela espanava os vidros de compotas, abria em cruz a massa levedada, e descascava pêras.

Há muito a guerra havia terminado, quando a silhueta escura parou hesitante frente ao seu portão. Antes que sequer batesse palmas, foi ela recebê-lo, de avental limpo. E puxando-o pela mão o trouxe para dentro, fez que lavasse o rosto na pia mesmo da cozinha, sentasse à mesa, enfim um homem no espaço que a ele sempre fora dedicado.

Encheu-lhe o copo de vinho, serviu-lhe a fatia de torta. Profunda paz a invadia enquanto o olhava comer esfaimado. E esforçando-se para não perceber que aquele não era o seu marido, começou a fazer-lhe perguntas sobre o front.
 

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