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William Faulkner

Lucas_Deschain

Biblionauta
[align=center][size=medium]William Faulkner (1897-1962)[/size][/align]

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[align=justify]William Cuthbert Faulkner (New Albany, 25 de setembro de 1897 — Byhalia, 6 de julho de 1962) é considerado um dos maiores escritores estadunidenses do século XX.

Recebeu o Nobel de Literatura de 1949. Posteriormente, ganhou o National Book Awards em 1951, por Collected Stories e em 1955, pelo romance Uma Fábula. Foi vencedor de dois prêmios Pulitzer, o primeiro em 1955 por Uma Fábula e o segundo em 1962 por Os Desgarrados.

Utilizando a técnica do fluxo de consciência, consagrada por James Joyce, Virginia Woolf, Marcel Proust e Thomas Mann, Faulkner narrou a decadência do sul dos Estados Unidos da América, interiorizando-a em seus personagens, a maioria deles vivendo situações desesperadoras no condado imaginário de Yoknapatawpha. Por muitas vezes descrever múltiplos pontos de vista (não raro, simultaneamente) e impor bruscas mudanças de tempo narrativo, a obra faulkneriana é tida como hermética e desafiadora.[/align]

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Faulkner

[align=justify]Mais um escritor que se utiliza do fluxo de consciência, e mais um que quero muito ler. Não é tão comum encontrar obras suas nas bibliotecas que costumo frequentar, uma pena. Com o tempo vou garimpando em sebos e quando ver já tenho todos dele. Queria ouvir a opinião dos meio-palavristas sobre autor e obras.[/align]
 
Conheço apenas "O Som e a Fúria", Lucas. Lembro que foi uma daquelas leituras em que a gente lê sem pressa, desfrutando cada página. Acho a inclusão do Faulkner no topo dessas listas de melhores muito justa. Ele consegue usar uma série de recursos modernos, como o fluxo de consciência, e levá-los ao máximo. Claro, a consequência é que o texto se torna também bastante desafiador. Para ter uma ideia, "O Som e a Fúria" conta a história da decadência de uma família do sul dos EUA, desse condado de Yoknapatawpha, em 4 partes. Nem todas estão no mesmo tempo cronológico e cada uma delas possui um narrador diferente. Eles vão se tornando progressivamente mais "confiáveis", até uma terceira pessoa onisciente na última parte. Já a primeira é contada em primeira pessoa, sob o ponto de vista de um dos filhos, que possui retardamento mental, imagine! Para ele, tudo se mistura, a história continuamente salta no tempo, conforme as associações espontâneas que ele faz, muito caótico. Então não adianta querer entender tudo a princípio, as coisas vão assumindo outros aspectos conforme as outras perspectivas vão sendo adicionadas, o que é um dos grandes triunfos do livro.

Não gosto de ler várias obras do mesmo autor em sequencia, mas agora acho que já está mesmo na hora de experimentar outro Faulkner. Estou pensando em "Enquanto Agonizo"... Vamos ver se alguém tem outra sugestão. :)
 
[align=justify]Putz, agora fiquei empolgadaço! Se não bastasse o recurso do fluxo de consciência, que acho genial e do qual sou fã, a ótica de uma pessoa que tem retardamento mental deve ser algo no mínimo peculiar, para não dizer extremamente não-convencional. Minha vontade de ler aumentou exponencialmente assim que terminei de ler o seu post Gigio. Obrigado pela dica![/align]
 
Do Faulkner li apenas Enquanto Agonizo, vi em algum lugar que o livro foge um pouco dos paradigmas que seguem até certo ponto a obra do autor já que não retrata a vida da aristocracia sulista e sim, uma simples família camponesa. A história inicia-se com a morte da matriarca e o consequente empenho de sua família em satisfazer seu derradeiro desejo: enterrá-la na sua cidade natal. A cidade, porém, não é perto e viagem acaba pondo em cheque as fragilidades, desavenças e os segredos mais recônditos de cada membro da família (o patriarca e seus cinco ou seis filhos, se não me engano).

A grande originalidade da história é que cada capítulo é narrado sob a perspectiva de um personagem, isso aliado à técnica do fluxo de consciência acaba criando um universo intrincado de sentimentos e memórias. Uma leitura que definitivamente vale cada página.
 
[align=justify]Pois é, a genialidade dos grandes autores parece repousar na sua capacidade de contar uma história, em sua argúcia narrativa, a escolha de signos, imagens, símbolos, e não necessariamente nas intrincadas tramas, embora não via de regra.
Muitas vezes o que as pessoas parecem não ver (ou não querer ver talvez) é a forma, e não necessariamente o conteúdo. William Faulkner parece ser bastante do tipo de autor que surpreende pela forma, embora não possa dizer nada com propriedade, mas sim a partir dos posts que vi aqui nesse tópico.[/align]
 
A originalidade com relação à forma pode ser o fator preponderante da obra do Faulkner. Como não cheguei a me inteirar sobre o resto de suas produções (excetuando O Som e a Fúria), minha análise inevitavelmente repousa no único livro que li, e esse tem uma forma bem surpreendente (como eu já disse), ao ponto de um capítulo do livro – um dos mais esclarecedores, por sinal – ser narrado pela própria defunta.

Com relação à trama ou conteúdo posso afirmar que, de maneira nenhuma, deixa a desejar. O fato dos personagens levarem uma vida simplória e desprovida de grandes perspectivas é facilmente superado pelos anseios, pretensões, rancores e dúvidas que cada um deles nutre. A análise individualizada de cada um rende uma jornada bem proveitosa ao interior da alma humana. A viagem da família para enterrar a esposa e mãe também é um atrativo e tanto já que não é nada fácil para nenhum deles.
 
[align=justify]Prometo ler alguma coisa do Faulkner ainda esse ano para poder deixar de dar pitaco sem propriedade alguma, mas, ainda sob a sombra do manto da ignorância, arrisco perguntart se a forma como ele conta a história privilegia mais a forma do que o conteúdo? [/align]
 
Bem, provavelmente não sou o mais qualificado pra te dizer isso e até fico meio desconfortável em esboçar opiniões assim generalizantes sem conhecer parte considerável da obra do autor, mas vou opinar do mesmo jeito...:gira:

Pelo que li de sua obra, pelo pouco que eu conheço das outras e pelo que o próprio Gigio descreveu em seu comentário, acho que existe um privilégio maior a forma. Mas, já disse em meu post anterior e reitero: o conteúdo não deixa a desejar em nada.
 
Só pra deixar a minha opinião, quanto à questão forma/conteúdo: a forma é instrumento, é meio, embora vista como fim; a essência de uma obra são as ideias do autor. Claro que o "ser artista" pressupõe domínio da capacidade de expressão, e a escolha adequada do modo de expressar-se pode, sim, dar maior força a uma obra, mas a genialidade de um autor nunca vai estar na forma como ele escreve. A forma é pura técnica; as ideias dele, a forma dele pensar é que poderiam ser vistas como geniais. Embora, claro, ao leitor só reste o texto escrito, as palavras formadas e as frases construídas, sendo a captação de ideias processo de apreensão e, até, de especulação.
 
[align=justify]Rodrigo Lattuada, concordo com o que disse quanto a essência do texto, o teor das obras ser diretamente ligado a questão do conteúdo, afinal de contas, floreios e rebuscos não sustentam um clássico, muito menos qualquer obra literária. Contudo, da mesma forma que não se pode falar de obra sem falar de conteúdo, também o conteúdo é "indizível" sem a forma, já que, independente da instrumentalização a que ela serve, ela expressa os estilos literários igualmente. Não se pode ter conteúdo sem trazê-lo a tona com alguma forma, como você disse, instrumento.
Porém, não se trata, creio eu, de hierarquizar qual dessas duas dimensões da obra são mais importantes, mas sim saber reconhecer que elas condicionam as obras de maneiras diferentes, ora incidindo mais sobre uma, ora mais sobre a outra, sendo que isso não determina qual das duas será capaz de atribuir mais ou menos "qualidade" a obra. Trata-se de reconhecer as espeficidades de cada uma delas, coisa que não me julgo intelectualmente capacitado para sistematizar aqui.[/align]
 
[align=justify]Concordo quanto a elas condicionarem as obras de maneiras diferentes. Acho até que eu me expressei mal; eu disse forma, mas sem diferenciar direito a forma como instrumento e a estética da obra. Ora, a forma como instrumento é necessária a uma obra; sem forma uma obra não existe. Assim como a forma é necessário ao pensamento; se não há percepção de nexos e ligação entre nexos, o pensamento não toma forma, logo não existe. A diferença é que a forma do pensamento é individualmente subjetiva, e a forma da obra é expressão externa. Ainda assim, a forma como instrumento é elemento sem o qual a obra não existe, mas, bem, uma escultura em cobre não existe sem o cobre, mas o cobre tem sua importância como meio no qual o artista esculpe, não como essência criativa.

Ok, digredi. Mas eu acho que a estética e o conteúdo se encontram em esferas completamente distintas. Não acho que exista “genialidade” na estética.

Uma verdadeira obra literária deveria ser, ao meu ver, mais que uma construção de histórias, mais que uma construção de belas frases: uma construção de significados. E uma obra literária deveria ser sempre ideática (mesmo que muitos se digam radicalmente contra “obras de ideias”; sem se confundir ideático com ideológico).[/align]
 
[align=justify]Creio que supervalorizar a estética da forma sublevando-a em detrimento do conteúdo é um caminho de análise que não considero muito proveitoso, afinal, Literatura não é uma manifestação meramente estética, não serve apenas como estímulo sensorial, para agradar aos desígnios dos hedonistas e estetas; mas sim como expressão intelectual, de idéias (gostei muito do termo ideático que usaste), cujo conteúdo possui um objetivo que vai além da mera satisfação estética.
Porém (e sempre há um porém) o interessante com relação a forma é que, se formos pela conceituação que tu colocaste, mais voltada para a questão da estética da obra, também é possível analisá-la como sendo expressão, em maior ou menos grau, de uma certa idéia, no caso, a concepção de belo. Ora, a concepção do que é belo é, assim como a própria Literatura, independentemente de seu conteúdo, produto da criação humana, estando, portanto, submetido as transformações históricas pelas quais a humanidade passa.
Espero não ter falado coisas sem sentido. Gostaria de saber o que pensas a esse respeito Rodrigo. Queria que mais pessoas participassem dessa discussão, embora talvez não seja o tópico mais indicado.[/align]
 
[align=justify]Pois é, de Faulkner restou apenas o título do tópico.

Sobre a questão da forma, da estética e do belo, ainda acho que a forma como instrumento é meramente o meio, não contém nem toca a essência da arte. No caso da literatura, a forma é moldada pelo autor e, estando pronta a obra, a forma existe por si, existe externa ao autor, externa às ideias desse autor e externa também ao leitor. O leitor tem contato com a obra, cuja forma pode, então, torná-la mais ou menos acessível a esse leitor, mais ou menos interessante a esse leitor, mais ou menos compreensível, perceptível ou apreensível a esse leitor. Mas, bem, a obra é a obra. Do ponto de vista do leitor, a obra é objeto, objeto que existe por si mas somente existe por si para si, porque, sem a significação que o leitor dá a ela, não é obra e não é arte. A arte não existe por si. Não tem valor intrínseco, nem tem beleza intrínseca. A arte não é arte sem o sujeito. Sujeito que, em contato com o objeto, atribui-lhe significações. E é o diálogo entre o que é apreendido do objeto pelo sujeito e a significação que o sujeito atribui ao que é apreendido desse objeto que constitui a arte.

Ainda sobre o belo, uma bela frase não é uma bela frase porque é perfeitamente escrita, mas porque carrega em si uma significação que é dada pelo sujeito. Claro que a técnica ajuda, fornece recursos, fornece exatamente o instrumento para o autor se expressar (e eu acho importantíssimo que alguém que tenha intenções de ser escritor conheça a língua que terá por instrumento), mas são as significações que importam mais, não só as que o autor coloca em suas obras, mas aquelas que quem lê atribui.

Voltando, as ideias do autor são ideias do autor, e ele as expressa por palavras. Mas palavras são só palavras. Palavras são símbolos que ele usa para construir significados, para construir verdades válidas na sua obra. Mas a essência não são os símbolos que ele utiliza, nem a complexidade de relações entre esses símbolos – embora essas, certamente, auxiliem o artista a construir seus significados -, e, no final, a essência nem é o significado que o autor constrói, é a significação que o leitor dá àquela construção (hm... isso leva a perigosas conclusões sobre a arte ser arte independentemente da qualidade, ou até da intenção, do autor). [/align]
 
[align=justify]Mas aí entra uma coisa que me deixou em dúvida: se a forma condiciona a maneira como o conteúdo será visto, apreendido, interpretado ou entendido pelo leitor, não teria ela um peso tão significante quanto o conteúdo?
E outra: seja se considerarmos a forma como técnica, seja se a considerarmos como estética, ainda assim não se pode tirar o peso que ela tem, já que, assim como o conteúdo, ela também carrega um significado, logo, com uma forma bem constituída faz-se desnecessário um conteúdo de mesmo calibre e vice-versa?
Essa última questão trata de uma indissociabilidade que vejo entre essas duas dimensões da Literatura.[/align]
 
Lucas_Deschain disse:
[align=justify]Mas aí entra uma coisa que me deixou em dúvida: se a forma condiciona a maneira como o conteúdo será visto, apreendido, interpretado ou entendido pelo leitor, não teria ela um peso tão significante quanto o conteúdo?
E outra: seja se considerarmos a forma como técnica, seja se a considerarmos como estética, ainda assim não se pode tirar o peso que ela tem, já que, assim como o conteúdo, ela também carrega um significado, logo, com uma forma bem constituída faz-se desnecessário um conteúdo de mesmo calibre e vice-versa?
Essa última questão trata de uma indissociabilidade que vejo entre essas duas dimensões da Literatura.[/align]

É que, na verdade, o que tu estás considerando conteúdo, eu acho que ainda é forma. O conteúdo a que se tem acesso é forma. O conteúdo (essência) de uma obra são as ideias do autor (não-táteis para o leitor), ao passo que a essência da arte é o significado construído por esse autor e a significação que o sujeito dá ao "conteúdo".

Também acho que são indissociáveis, ao passo que um é o meio pelo qual o outro existe.

Enfim, está confuso pra mim, também. :rofl:
 
Rodrigo Lattuada disse:
Enfim, está confuso pra mim, também. :rofl:
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O problema que parece que está se passando diz respeito aos conceitos de "forma" e "conteúdo". Hum, interessante, acho que vou pesquisar mais sobre isso para ver se descubro alguma coisa interessante, já que essa relação forma/conteúdo é algo deveras intrigante para mim.[/align]
 
Pois é. Na verdade, nunca estudei nada disso, só passei a minha visão pessoal. Acho que até por isso ficou um pouco confuso. Sabe, a forma que eu usei pra passar as minhas ideias não foi a mais adequada.
 
[align=justify]Tenho que confessar que não tenho leituras técnicas sobre isso, me baseei na minha experiência de leitor e algumas considerações meio lógicas. Até onde sei essa relação é motivo de debates até hoje.[/align]
 
Só fui me interessar pelo Faulkner qdo vi um crítico comparando o trabalho do Cormac McCarthy ao dele. Nunca li nada, to com o "Light in August" aqui (em inglês mesmo). Nunca li muita coisa sobre o sul dos EUA, mas é uma cultura que passou a me interessar quando eu vi os filmes do David Gordon Green.
 

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