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Duelo de Autores

Qual o vencedor?

  • Nelson Rodigues - "Elas gostam de apanhar" (Breno C.)

    Votos: 0 0,0%
  • Machado de Assis - "Dom Casmurro" (Barbie)

    Votos: 0 0,0%
  • Fernando Sabino - "O encontro marcado" (G. N. Tauil)

    Votos: 0 0,0%
  • Chico Buarque - "Budapeste" (Anica)

    Votos: 0 0,0%
  • Claudia Tajes - "A Vida Sexual da Mulher Feia" (Anelise Espíndola)

    Votos: 0 0,0%

  • Total de votantes
    0
  • Votação encerrada .
[size=large]PEDRO BANDEIRA[/size]

BIOGRAFIA
Em sua cidade natal, Santos, trabalhou principalmente em teatro amador.

Mudou-se para São Paulo em 1961 para cursar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo.

É casado com Lia, com quem teve três filhos: Rodrigo , Marcelo e Maurício. Tem cinco netos: Michele, Melissa, Beatriz, Júlia e Érico. Atualmente vive em São Roque.

A partir de 1983, passou a dedicar-se exclusivamente ao trabalho de escritor, consagrando-se com a publicação, no ano seguinte, de A Droga da Obediência, voltado para o público adolescente. Até outubro de 2006, o livro já havia vendido um milhão e quatrocentos mil exemplares em todo o país.

O autor garante que a experiência em jornais e revistas o ajudaram como escritor, uma vez que um jornalista é obrigado a estar parado para escrever sobre quase tudo:

A inspiração para cada história, vem dos livros que lê e dos acontecimentos de sua própria vida. Ocasionalmente pode vir ainda das mais de trezentas mensagens de e-mail e cartas que recebe semanalmente de todo o Brasil:

"Às vezes tiro idéias das cartas porque o conteúdo das mensagens são os mais diversos. Tem quem pede conselho sentimental, outros dizem que não se dão bem com os pais e já recebi até carta de presidiário. Tento responder a todas."

OBRAS PUBLICADAS
* A droga da obediência
* A droga do amor
* Pântano de sangue
* Droga de americana!
* Descanse em paz meu amor
* Droga Virtual
* Anjo da morte
* O avesso dos coroas
* O contrário dos caretas
* Agora Estou Sozinha...
* A contadora de histórias
* A eleição da criançada
* A escola da vida
* A hora da verdade
* A marca de uma lágrima
* A onça e o saci
* Brincadeira mortal
* Caso da borboleta
* Gente de estimação
* Descanse em paz, meu amor
* Histórias de amor
* Mais respeito, eu sou criança!
* Mariana
* Minha primeira paixão
* Obrigado, mamãe!
* O dinossauro que fazia au-au
* O fantástico mistério de Feiurinha
* O melhor presente
* O pequeno dragão
* O pequeno fantasma
* O reizinho da estrada
* Prova de fogo
* Ritinha Danadinha
* Rosaflor e a moura torta
* Um crime mais que perfeito
* Lembrancinhas pinçadas láaa do fundo
* De punhos cerrados
* Malasaventuras, safadezas de Malasartes
* O grande desafio
* É proibido Miar
* As Cores de Laurinha
* "O medo e a Ternura"
* "Amor impossível , possível amor"
* "O par de tênis"

Discurso do escritor no Seminário promovido pelo Leia Brasil, na cidade de São José dos Campos/SP:

O grande problema do Brasil é que somos um país pouco culto, iletrado, ignorante. Somos incapazes de analisar, de criticar, de entender o que acontece à nossa volta. Por isso somos pobres, por isso somos subdesenvolvidos, por isso somos famintos, por isso somos doentes, por isso somos dominados, por isso somos explorados. A continuar esse estado de coisas, estaremos para sempre condenados à miséria, ao terceiro mundismo.

Para vencer esse desafio, precisamos do conhecimento. E o conhecimento está nos livros. Para confirmar essa afirmação, basta raciocinar sobre este ponto: todos os países que têm uma alta de analfabetismo, ou de semi-analfabetismo, necessariamente revelam uma taxa baixa de consumo de livros. Se você for à Alemanha ou ao Japão, e fizer uma viagem em um dos ótimos trens desses países, encontrará praticamente todos os passageiros lendo livros para fazer passar o tempo da viagem do modo mais agradável possível.

Por outro lado, se você estiver esperando um avião em um dos grandes aeroportos brasileiros, verá que praticamente ninguém estará lendo um livro para preencher o longo tempo de espera para o embarque. E quem tem dinheiro para viajar de avião certamente não pode culpar o preço dos livros, por exemplo, por sua pouca ligação com a leitura...

Sem dúvida essa é a principal causa do nosso subdesenvolvimento. Não há plano econômico, por mais adequado que venha a ser, não há governante, por mais bem intencionado que seja, que possa solucionar problemas ligados à nossa própria incapacidade de agir em favor de nós mesmos. Só uma ampla e completa revolução educacional poderá, um dia, reverter nosso destino de nação pobre e marginal no contexto do planeta.

Assim, em primeiro lugar, temos de lutar por uma população capaz de ler muito bem o pensamento da humanidade que está registrado nos livros. Em seguida, é preciso que todos os brasileiros sejam capazes de colocar no papel o seu próprio pensamento. Sejam capazes, também, de comunicar aos outros aquilo que eles estudaram, pensaram e concluíram. Em suma: é preciso ler e escrever muito bem.

Não é isso, porém, o que vem acontecendo no Brasil, quer em escolas públicas, quer em escolas privadas. A maioria de nossos alunos não lê. Muitos críticos acusam a televisão por esse descaso pela leitura. Esquecem-se esses que, antes do advento da televisão no Brasil, nossa população, mesmo a elite, também não lia. Por outro lado, países como a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos, os maiores consumidores de livros per capita do mundo, são ao mesmo tempo possuidores de sistemas de televisão moderníssimos e com altíssimos índices de audiência.

Nossos alunos não lêem, mas seus pais também não lêem. Eles não têm o exemplo em casa, e todos sabemos que a imitação é a base do aprendizado. E não se trata somente de famílias carentes; mesmo os pais brasileiros de elite, mesmo muitos médicos e engenheiros lêem muito pouco no Brasil. Muitos professores que criticam os próprios alunos porque não lêem, também não lêem ou lêem muito pouco.

Nossa cultura está escrita. Mesmo com a televisão ou com os computadores, nada foi feito até agora que substitua a palavra escrita como fonte de acesso ao acervo do conhecimento acumulado pela humanidade durante séculos. Por isso, um dos principais objetivos da Educação é desenvolver a capacidade de leitura dos alunos, transformando-os efetivamente em leitores, isto é, pessoas que saibam ler criticamente qualquer texto, argumentando, discutindo e posicionando-se diante das idéias expostas por um autor.

Assim, se queremos realmente resgatar toda uma população para que ela afinal possa estar preparada para construir o País com o qual todos sonhamos, é necessário que todos nós estejamos engajados em uma verdadeira revolução educacional. Durante toda minha vida, este foi o meu sonho e minha principal bandeira de luta como cidadão.
 
Eu adoro Pedro Bandeira e a turma dos Karas, eles marcaram a minha pré-adolescência, mas a defesa da Barbie foi muito boa, aumentou ainda mais a minha vontade de ler Machado, então acho que ela ganhou meu voto.
 
ok, foi mais forte do que eu, acabei votando no pedro bandeira qdo vi que ele estava sem voto. mas sim, a defesa da barbia foi excelente, e se fosse seguir a ideia do tópico eu deveria ter votado nela :timido:
 
A defesa da Barbie está boa. Mas espero uma tréplica digna do Alisson!!! Meu voto ainda é incógnita, tô na mesma situação da Anica, queria votar no Machado, mas tem coisas do Pedro Bandeira que não fogem da minha memória.
 
[size=x-large]POR QUE VOTAR NO PEDRO BANDEIRA?[/size]

- Porque ele escreve histórias incríveis que fascinam pessoas de todas as idades;

- Porque ele sabe como atingir e agradar o público alvo, com quem mantém uma relação afetuosa e de quem sempre acolhe sugestões e atende pedidos;

- Porque ele cria narrativas que não perdem a relevância e continuam sendo elogiadas mesmo com o decorrer das décadas;

- Porque ele tem o compromisso de educar sem utilizar os clichês do felizes para sempre e da lição de moral, (e tem dedicado sua vida a esse comprosso há mais de 20 anos) lançando as bases para que os mais jovens criem o hábito da leitura;

- Porque ele escreveu dezenas de livros que exploram os mais variados temas (como preconceito, drogas e meio ambiente) e marcaram a infância e pré-adolescência de diversas gerações.


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Pedro Bandeira não é um gênio da Literatura, mas nem por isso é digno de mérito menor. Fazendo uma analogia bem tosca:
A professora do primário, que alfabetiza e ensina a fazer os primeiros cálculos, é menos importante e deixa menos marcas que aquela que ensina Trigonometria no Ensino Médio? Sem o conhecimento básico, é possível evoluir no aprendizado? Sem dar os primeiros passos, é possível galgar degraus mais elevados?

Para ler e apreciar Machado de Assis é preciso maturidade (como a Barbie mesma falou) e experiência com o mundo das palavras. Mas é fácil fazer as crianças de hoje, da civilização high tech, aprenderem a gostar de ler e se tornarem adultos cultos o suficiente para experimentar a literatura dita "de nível mais elevado"?

Não. É necessário que elas tenham algo que lhes tome pela mão e lhes apresente o quanto ler um livro pode ser maravilhoso, o quanto as palavras podem proporcionar emoção e diversão... E o Pedro Bandeira é mestre nisso, em "despertar" a juventude para a Literatura e fazê-la tomar gosto pelas palavras... Em um meio dominado pelos Harry Potters da vida, é legal saber que existe um brasileiro que ainda está na ativa e, com simplicidade e perspicácia, sabe desempenhar esse papel como ninguém.

[size=x-small]
P.S: Se quiserem ler os depoimentos do Pedro Bandeira sobre cada um de seus principais livros e o meu comentário a respeito deles, dêem uma olhadinha no post "O processo criativo de Pedro Bandeira: por ele mesmo", na página anterior[/size].


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Pronto, espero ter feito uma defesa decente agora. :dente:
 
Como o Machado de Assis é o meu escritor favorito,seria natural o primeiro impulso em votar nele.
Mas levando em conta a proposta do Duelo de Autores esperei as defesas.
A Barbie fez uma ótima defesa do Machado,mas resolvi votar no Pedro Bandeira,pois a defesa do Alisson também foi muito boa,ainda mais se levarmos em conta que ele tinha o Machado como adversário.


Ele foi especialmente feliz neste comentário:


Alisson disse:
Para ler e apreciar Machado de Assis é preciso maturidade (como a Barbie mesma falou) e experiência com o mundo das palavras. Mas é fácil fazer as crianças de hoje, da civilização high tech, aprenderem a gostar de ler e se tornarem adultos cultos o suficiente para experimentar a literatura dita "de nível mais elevado"?

Não. É necessário que elas tenham algo que lhes tome pela mão e lhes apresente o quanto ler um livro pode ser maravilhoso, o quanto as palavras podem proporcionar emoção e diversão... E o Pedro Bandeira é mestre nisso, em "despertar" a juventude para a Literatura e fazê-la tomar gosto pelas palavras... Em um meio dominado pelos Harry Potters da vida, é legal saber que existe um brasileiro que ainda está na ativa e, com simplicidade e perspicácia, sabe desempenhar esse papel como ninguém.

:clap:
 
[size=xx-large]Por que votar no Machado?[/size]


* Porque ele primeiro se consolidou-se como crítico literário antes de se consolidar como grande ficcionista;

* Destila a ironia, que lhe é peculiar, não deixa de traçar um retrato de sua época, não deixa de lançar suas farpas, e escreve um livro extremamente doce;

* Porque ele é considerado o pai do realismo no Brasil;

* Ele nos mostra um painel da relações hipócritas da sociedade de seu tempo;

* Também escreveu poesia e foi um ativo crítico literário, além de ser um dos criadores da crônica no país;

* Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras;

* Porque ele introduziu a dilemática do ser humano, que em um momento pode ser bom, no outro momento ser ruim, em um momento será grandioso, no outro mesquinho, tudo isso na mesma consciência e por isso somos todos gratos a ele.


"Nunca vistes ferver a água? Hás de lembrartes que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma. Os indivíduos são essas bolhas transitórias” (Quincas Borba)

Se não fosse Machado, não teríamos ótimos livros, de ótimos autores, inclusive os de Bandeira, hoje!!!

:D
 
O primeiro impulso na enquete é votar no Machado, um autor que já li algumas obras, é grandioso na literatura brasileira ainda hoje, é exemplo para vários escritores, seus livros tem um quê que nos prende (como percebe-se em Esaú e Jacó, por exemplo), a defesa da Barbie foi maravilhosa.
Mas, Pedro Bandeira é um autor que quero ler a algum tempo, seus livros parecem ser realmente bons, incentiva e defende a leitura na infância e adolescência, e a defesa do Alisson não deixou a desejar não, por isso meu voto é para o Pedro Bandeira!
 
Barbie disse:
Machado é fascinante, mas requer um mínimo de maturidade, é leitura pra adultos. Não é leitura para qualquer um. A obrigação de ler Machado de Assis na escola fez com que muitos não chegassem a descobrir o prazer da sua leitura, o que é uma pena. Gosto muito de Dom Casmurro, mas acho que o conto é o gênero em que ele expressa melhor a sua capacidade de desvendar o ser humano. Ele é um dos que exploraram o lado psicológico dos personagens, e isso é mais que inteligência, é genialidade.

Ele é fantástico, alguém muito adiante em seu tempo.
Gosto de seu humor sarcástico, de suas tramas subjetivas, da maneira que dialóga com seus leitores. Suas crônicas e seus romances são maravilhosos, o modo como ele fala com o leitor do nada no meio do livro, é demais... Esse fato de "conversar" conosco o tempo todo é muito divertido, como se estivesse contando a estória na nossa frente.

Imaginem só, ele escreveu o livro no século XIX, e até hoje estamos discutindo se Capitu traiu Bentinho ou não...:pipoca:

"Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

Triste, trágico e lindo! Verdadeiro por inteiro!!!!

Eu AMO MA. A Teoria do Medalhão, O Espelho, Dom Casmurro.
Querem narrativas mais atuais e que abordam os problemas humanos mais do que essas?

pô, as criancinhas como eu não podem ler machado não? hehe
O mais incrível é que você colocou meus contos preferidos aí, principalmente Teoria do Medalhão... Ah, tudo bem que só li 7 ou 8, mas já é um começo. hehe
 
Alisson disse:
O Pedro Bandeira sempre ressalta a importância de se despertar desde cedo nas crianças o interesse pelos livros. Por ser peça chave nesse processo, a literatura infanto-juvenil é bastante válida, sevindo como ponto de partida para livros ditos "mais sérios". Sem dúvida, o Pedro é um dos melhores exemplos desse tipo de literatura aqui no Brasil. Sabe como cativar jovens leitores, escrevendo sobre temas que interessam à garotada e fazem refletir, sem cair naquela bobagem da lição de moral. Drogas, AIDS, meio ambiente e preconceito (sob diversas formas), entre outros assuntos, já tiveram lugar nas histórias do cara.
Usando a série Os Karas como referência, é praticamente impossível encontrar alguém que leu a coleção quando criança (ou mesmo mais velho) e não se divertiu com as aventuras do grupo de adolescentes, que mesmo se envolvendo em situações mirabolantes e cinematográficas, se assemelham tanto às pessoas do mundo real. O autor explora bem as relações entre os Karas: amor, paixão, ciúme, raiva, intrigas se fazem presentes na vida de todo adolescente, e o leitor sempre acaba se identificando com os personagens (ou algum em especial). Talvez por isso a coleção, que marcou a infância e pré-adolescência de muita gente, tenha mantido sua legião de fãs por tanto tempo, mesmo depois de 25 anos do lançamento do primeiro título. O Pedro Bandeira sabe como ser atemporal, captando os sentimentos inerentes a qualquer jovem, de qualquer época.

Pedro Bandeira foi um dos primeiros autores que li sem parar. Ah, eu já lia bastante coisa e tals, mas Pedro Bandeira foi um dos que aumentaram minha vontade de escrever que eu já tinha. Um dos livros que tentei escrever foi inspirado muito nos livros dO's Karas, tanto na ideia de eles formarem um grupo e tals, quando no estilo dele, quando ele coloca *** e muda para outro personagem a narração, acabando o personagem anterior (antes do ***) com uma fala sem resposta, coisas assim. :P
Tudo bem que era muito uma cópia dos livros dele o meu, mas eu tentava mudar as características dos personagens, tentando mantêr uma ou outra. E o personagem principal tinha bastante de mim, principalmente nas "cenas" em que estava junto com a mãe.

Alisson disse:
Normalmente, eu sou este tipo de escritor: alguém que procura escrever de modo livre, sem a intenção de lições de moral da história.
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Série Os Karas:
A Droga da Obediência (1984)
Pântano de sangue (1987)
Anjo da morte (1988)
A Droga do Amor (1994)
Droga de americana (1999)
Editora Moderna


O primeiro é o grande responsável por minha profissionalização como escritor. Junto com A marca de uma lágrima é o meu carro-chefe e o da Editora Moderna. Acerca desta série, é preciso definir o que eu entendo por um livro que mescla mistério e suspense. Para mim, uma novela de mistério é aquela em que alguns dados são ocultos do leitor, de modo que este, a partir de uma série de pistas mais ou menos explícitas, possa resolver o desfecho (no caso dos finais-surpresa, o que acontece é que o leitor deixou de perceber algumas pistas ou o autor ocultou-as demais).

Assim, uma novela de mistério é aquela que se destina ao raciocínio, à razão. Na novela de suspense, o autor oculta certas informações não do leitor, mas da personagem. É o caso de uma criança que entra em casa despreocupadamente, quando o leitor sabe que um louco armado com uma faca está atrás da porta, a sua espera. Neste caso, o apelo não é ao raciocínio, não é à razão, é à emoção.
Na série iniciada por A Droga da Obediência, procurei utilizar as duas técnicas. Há alguns dados do enredo básico que levarão ao tal final-surpresa, mas há também muitos fatos perigosos conhecidos pelo leitor e desconhecidos pelas personagens, de modo a criar o tal clima de suspense.

Quanto à forma, procurei usar dois aspectos básicos da técnica cinematográfica. Em primeiro lugar, temos a estrutura em cenas justapostas, com cortes bruscos, bruscas entradas e retomadas de ação já a partir da ação anterior, sem perdas de tempo com descrições, e flash-backs estruturados da mesma forma. Em segundo lugar, o foco narrativo, na terceira pessoa, explica a ação como se fosse o olho único de uma câmera de cinema. O narrador só fotografa o que está exposto a esse olho único, a esse único ponto de vista. Assim, ele não sabe tudo, ele não enxerga todos os ângulos. Um exemplo: o narrador descreve dois homens sentados na mesa de um restaurante. Um deles tem um revólver, sob a mesa, apontado para o outro. Como a tomada de cena é frontal, o narrador não verá o revólver; para tanto, será necessário um corte ou um travelling para debaixo da mesa.

Creio que o ponto de vista único de uma câmara cinematográfica é o mesmo de todos nós, de todo mundo. Ninguém vê, ao mesmo tempo, mais do que um ângulo cinematográfico. Mas, tal como faço nesta série, todos vêem um só ângulo mas imaginam os ângulos que não estão ao alcance de sua observação. É o caso do escuro. Uma criança tem medo do escuro porque, não podendo enxergar nada, cria em sua imaginação perigos que poderiam estar ocultos pela escuridão. Tememos o escuro quando crianças, porque tememos o que nossa própria imaginação elabora a partir do que os olhos não estão vendo.

Assim, nestes livros, eu não descrevo apenas o que a câmara vê; eu descrevo o que ela vê e o que ela infere do que não vê, complementando o que ela desconhece. Ela (ou o narrador) infere o que não pode ver. A forma, não é, deste modo, uma simples descrição como seria se eu me ativesse apenas ao olho único da câmara cinematográfica. Usando ainda a linguagem do cinema, seria o que chamam de inner-shots, para configurar pensamento e introspecção.

As histórias são protagonizadas por cinco adolescentes normais, estudantes de uma escola de elite. São extremamente corajosos, mas não são infalíveis. Eles erram, tropeçam, enganam-se o tempo todo, mas têm a capacidade de reconhecer os próprios erros e procurar a solução por novos caminhos. Criados do modo como foram, esses cinco adolescentes - os Karas - conseguiram uma grande identificação com os leitores.

Nesta série, acontecem algumas ações que podem ser consideradas violentas. Minha intenção, porém, foi deixar todas as ações violentas para os antagonistas das histórias. As ações dos protagonistas são sempre não-violentas, sempre baseadas na inteligência, na pertinácia, no amor, no trabalho. Desse modo, eu pretendi mostrar ao leitor que o caminho da civilização não é violência dos Rambos, ou John Waynes.

Os Karas é uma coleção criada para um público um pouco mais velho, para os leitores que vivem os primeiros anos da adolescência assim como os personagens. Pedro Bandeira mostra o jovem sob uma visão idealizada: os adolescentes são apresentados como "heróis", que não fogem à luta e tem consciência de seu dever de fazer desse mundo um lugar melhor. Segundo o escritor, é assim que a juventude deve ser, e ele escreve esperando que os leitores encontrem esse exemplo em seus personagens. Mesmo assim, não deixa de lado o caráter humano dos personagens: eles erram, brigam, se apaixonam, vivem dilemas como qualquer pessoa normal.
O enredo dos livros é fascinante, diverte, mexe com a imaginação do leitor e trata de temas importantes e que interessam à juventude. Laboratórios malignos com crianças sendo utilizadas com cobaia, uma grupo nazista que ameaça dominar o mundo e restabelecer o terror, uma máfia extremamente organizada que age no Pantanal e o problemático sequestro da filha do presidente dos EUA são apenas dos pontos centrais ao redor dos quais a história dos livros gira. Pedro Bandeira mostra-se, nessa coleção, um excelente escritor de suspense e aventura.

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A marca de uma lágrima (1986) - Editora Moderna

É uma recriação de Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand. A idéia romântica do autor francês é muito boa, mas sua forma, atualmente, é rebuscada demais para uma leitura popular. Usei apenas a idéia central das cartas escritas secretamente, mas criei outra história. Há, porém, equivalências: a guerra, em Cyrano, virou o crime, em A marca...; a cena do balcão é feita ao telefone; a famosa fala do nariz está no final, quando Isabel desiste de Cristiano.

Por que eu transformei uma grande personagem masculina em uma personagem feminina? Porque, se eu usasse um rapaz, correria o risco de fazer autobiografia; lançando mão de uma menina, vi-me obrigado a pesquisar, a sentir fora da minha pele, a imaginar o que pensa alguém que eu nunca poderia encarnar. E não é essa a função de um escritor?

Para este livro, desde o título, adotei descaradamente a forma folhetim por duas razões. Primeiro, porque este é o estilo de Rostand, o autor de Cyrano, e segundo porque eu creio que esta forma apaixonada, radical, melodramática de comunicação ajuda muito a conquistar as jovens leitoras, principalmente aquelas pouco afeitas ao hábito de ler. E, como estas são a maioria...

A marca de uma lágrima tem um interessante recurso literário que, até agora, pelo menos que eu saiba, ninguém percebeu. Eu pretendi criar uma personagem feminina que descobre bastar-se a si mesma, descobre poder realizar-se e ser feliz sem que a felicidade dependa única e exclusivamente do apêndice masculino, tomando-se apêndice em seus dois sentidos, o social e o sexual.

Não importa o que eu penso sobre isso, importa a coerência interna da personagem Isabel, uma cabeça superior, realizadora, corajosa e independente. Neste livro, é possível ver que, no transcorrer do enredo, a lógica aponta para uma solução, se não solitária, pelo menos de grande independência em relação ao sexo oposto. Assim, como pode ser visto no desfecho dramático do enredo, há um rompimento moderno do estilo folhetinesco que eu adotei para este livro.

Procurei, com o final racionalizante, uma saída a la Brecht, com a quebra de clima e tudo o mais. O tal distanciamento brechtiano. Em seguida, baseando-me no mesmo Brecht, usei a solução genialmente bolada por ele em A ópera dos três vinténs.

Esta peça termina de modo lógico, racional, com o enforcamento de Mac Navalha. No momento em que o carrasco vai puxar a corda, o Autor interrompe a peça e faz um dos personagens ir à boca-de-cena e explicar para a platéia que o Autor sabe que as pessoas não vêm ao teatro para ver finais infelizes e que gostam de voltar para casa com a alma lavada pela catarse. Eis então que, pensando nisso, o Autor preparou um outro final.

Nesse instante, a peça assume um clima operístico e entra em cena um mensageiro com um perdão real, Mac Navalha abraça sua namorada, é perdoado por todos e os espectadores saem do teatro com uma sensação de terem sido cinicamente enganados e manipulados pelo Autor em sua (deles) expectativa estética convencional. Desse modo, criei também um segundo final para A marca de uma lágrima, operístico, novelesco, falso, no melhor estilo de M. Delly.

Parece, felizmente, que as leitoras entenderam estas boas intenções, ou encontraram outras qualidades aqui não indigitadas. O livro é um grande sucesso de vendas. A marca... foi também bem acolhido pela crítica, recebendo o Prêmio A.P.C.A. como O melhor livro juvenil de 1986.
Não li esse livro, mas sei que gente de todas as idades o lista entre os melhores já lidos. Pelo jeito deve mostrar um lado mais maduro do Pedro, com uma história mais densa e dramática.

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O fantástico mistério de Feiurinha (1986) - Editora FTD

Este livro começou a nascer sem o personagem que o intitula. Minha idéia era reviver as histórias de fadas, discutindo as grandes heroínas após do fim de suas histórias, de modo a mostrar a importância desse tipo de literatura na formação de cada um de nós. Aos poucos, porém, a personagem Feiurinha apareceu, impôs-se e... tomou o livro!

De especial mesmo, eu creio que há neste livro três aspectos. Em primeiro lugar está sua estrutura, como se ele fosse um livro antes do livro, com sua organização em capítulos que vêm antes do primeiro capítulo. Em seguida, temos a fábula de Feiurinha, que eu montei com o máximo de clichês extraídos de todas as histórias da carochinha: bruxas, príncipe, transformações, heroína pobre, linda e infeliz, a idéia bíblica do Rei Salomão etc. E, por último, está a discussão da importância do leitor em relação à Literatura. Como eu disse, um livro não existe se não houver leitores para ele; um autor nada é, se não houver pessoas dispostas a ler o que ele escreve. Feiurinha é um sucesso de público e de crítica, tendo recebido o Prêmio Jabuti de 1986.
Livro super divertido, que promove o encontro entre personagens de contos de fada, que se unem para resgatar a princesa Feiurinha, de cuja história ninguém se lembra mais. A peça teatral baseada no livro é super encenada até hoje, e há um adaptação para ser lançada nos cinemas ainda este ano.

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Enfim, Pedro Bandeira é um nome de grande importância para a nossa Literatura. Escreve para diferentes públicos (desde os leitores de primeira viagem até os adolescentes), conhece e sabe como atingir cada um deles. Suas histórias passam sempre uma mensagem, mas fugindo do clichê dos felizes para sempre e da lição de moral. Quase todo mundo tem pelo menos um livro dele listado entre os favoritos da infância. Ainda hoje seus livros são lidos por muita gente, crianças ou não, que se divertem e aprendem com eles a gostar de ler.

Alisson disse:
[size=x-large]POR QUE VOTAR NO PEDRO BANDEIRA?[/size]

- Porque ele escreve histórias incríveis que fascinam pessoas de todas as idades;

- Porque ele sabe como atingir e agradar o público alvo, com quem mantém uma relação afetuosa e de quem sempre acolhe sugestões e atende pedidos;

- Porque ele cria narrativas que não perdem a relevância e continuam sendo elogiadas mesmo com o decorrer das décadas;

- Porque ele tem o compromisso de educar sem utilizar os clichês do felizes para sempre e da lição de moral, (e tem dedicado sua vida a esse comprosso há mais de 20 anos) lançando as bases para que os mais jovens criem o hábito da leitura;

- Porque ele escreveu dezenas de livros que exploram os mais variados temas (como preconceito, drogas e meio ambiente) e marcaram a infância e pré-adolescência de diversas gerações.


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Pedro Bandeira não é um gênio da Literatura, mas nem por isso é digno de mérito menor. Fazendo uma analogia bem tosca:
A professora do primário, que alfabetiza e ensina a fazer os primeiros cálculos, é menos importante e deixa menos marcas que aquela que ensina Trigonometria no Ensino Médio? Sem o conhecimento básico, é possível evoluir no aprendizado? Sem dar os primeiros passos, é possível galgar degraus mais elevados?

Para ler e apreciar Machado de Assis é preciso maturidade (como a Barbie mesma falou) e experiência com o mundo das palavras. Mas é fácil fazer as crianças de hoje, da civilização high tech, aprenderem a gostar de ler e se tornarem adultos cultos o suficiente para experimentar a literatura dita "de nível mais elevado"?

Não. É necessário que elas tenham algo que lhes tome pela mão e lhes apresente o quanto ler um livro pode ser maravilhoso, o quanto as palavras podem proporcionar emoção e diversão... E o Pedro Bandeira é mestre nisso, em "despertar" a juventude para a Literatura e fazê-la tomar gosto pelas palavras... Em um meio dominado pelos Harry Potters da vida, é legal saber que existe um brasileiro que ainda está na ativa e, com simplicidade e perspicácia, sabe desempenhar esse papel como ninguém.

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P.S: Se quiserem ler os depoimentos do Pedro Bandeira sobre cada um de seus principais livros e o meu comentário a respeito deles, dêem uma olhadinha no post "O processo criativo de Pedro Bandeira: por ele mesmo", na página anterior[/size].


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Pronto, espero ter feito uma defesa decente agora. :dente:


Fez uma defesa muito, muito boa. A barbie também fez uma ótima. Fiquei tão em duvida, que vou ter que pegar por motivos externos mesmo. Já que ambos defenderam muito bem, parabéns aos dois, vou votar no Pedro Bandeira, simplesmente porque mesmo ele talvez não sendo tão bom quanto Machado, ele se saiu muito bem numa disputa contra ele. Sério, não é para qualquer um. hehe
Simplesmente porque o Pedro Bandeira desperta a vontade de ler em muita gente e por ser um dos que inspiraram quando fui tentar escrever um livro (não, não terminei).
 
Nossa, não disse que Machado, por completo, é escrito só para maiores de 18 anos, disse apenas que precisa ter uma maturidade intelectual, e isso não tem idade, mas espera-se que um garoto de 13 anos não tenha tal maturidade, certo? E não afirmei que ele não escreva para menores, disse apenas com relação aos clássicos dele, os quais são obrigatórios na escola, agora, vejam:
Machado de Assis é adotado nas escolas da França

O livro infantil “Conto de Escola”, de Machado de Assis, publicado no Brasil pela Cosac Naify, será adotado na França, informa a coluna Mônica Bergamo, na Folha do dia (30/05/08), que já está nas bancas.

A obra foi selecionada pelo Ministério da Educação Nacional, para alunos de oito a dez anos.


Por falar nisso...

Baseando-se no Conto de Escola, o texto reflete sobre a questão da violência na nossa história da educação, analisando o processo de formação escolar, vigente no Brasil até o século XIX, que consistia em o professor sujeitar seus alunos por meio de instrumentos de coerção e medo, com o fim de formar-lhes o caráter, mesmo que para isso recorresse a atos violentos. A partir das análises desenvolvidas, pode-se pensar que quanto mais o poder se fundar na manutenção de privilégios de uma classe, mais a violência se impõe na estrutura social e, portanto, na educação, como uma de suas instituições.

Machado de Assis (l839-l908) publicou em l884 o conto Conto de Escola, recolhido em l896 no livro Várias Histórias. Além de fazer parte de umlivro que se considera como o apogeu da narrativa curta machadiana, o conto possui também valor estilístico próprio e características distintivas, já
assinaladas pela crítica: apóia-se, muito provavelmente, em reminiscências da infância, harmoniza a narrativa de personagem com a narrativa analítica e concentra seu foco crítico e reflexivo sobre a formação do caráter. Trata-se de um conto sobre educação e sobre a escola.
O conto está narrado em primeira pessoa, abrindo-se com uma precisaindicação de data e de local:

"A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de l840. Naquele dia ? uma segunda-feira, do mês de maio ?deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de
Sant?Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. (Machado de Assis, 1959b, p. 532)

E felizes dos meninos que aprenderam a ler e a escrever com professores negros, doces e bons. Devem ter sofrido menos que os outros: os alunos de padres, frades, ?professores pecuniários?, mestres régios ? estes uns ranzinzas terríveis, sempre fungando rapé; velhos caturras de sapato de fivela e vara de marmelo na mão. Vara ou palmatória. Foi à força de vara e palmatória que os ?antigos?, nossos avós e bisavós, aprenderam Latim e Gramática; Doutrina e História Sagrada. (1987, p. 417)

Quem disse que Machado também não tem um lado infantil???
 
Essa "Conto da Escola" me lembrou o Monteiro Lobato.
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Votei no Machdo de Assis, mas me senti triste por não conhecer nada do Pedro Bandeira.
 
Estou num dilema aqui. Gosto muito dos dois autores, Machado é um clássico e Bandeira marcou minha infância e o despertar da minha paixão pela literatura. Levando em conta as defesas, que são ainda mais importantes no Duelo de Autores, fico ainda mais confusa. As duas defesas estão ótimas e fica difícil escolher um autor só. Vou reler com mais calma e volto com meu voto!
 
A defesa dos dois está excelente, mas tenho um certo gingi com o Machado, talvez por ter sido leitura obrigatória e eu não sei porque sempre achei leitura de velho, até descobrir mais sobre ele com vocês, passei a ter vontade de ler seus livros e contos agora, mas meu voto vai no Pedro.
 

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