Elriowiel Aranel
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Ele sabia que alguma coisa inesperada poderia acontecer, e não se atrevia a ter esperanças de que pudessem atravessar aquelas altas montanhas de picos solitários e aqueles vales onde nenhum rei governava sem aventuras atemorizantes. E não puderam mesmo. Estava tudo bem, até que um dia depararam com uma trovoada - mais que uma trovoada. Uma verdadeira guerra de trovões. Vocês sabem como pode ser terrível uma grande tempestade sobre a terra num vale de rio, especialmente quando duas grandes tempestades se encontram e se chocam. Mais terríveis ainda são trovões e relâmpagos nas montanhas à noite, quando as tempestades vêm do leste e do oeste e guerreiam. Os relâmpagos se estilhaçam nos picos, as rochas tremem e grandes estrondos partem o ar e vão ecoando e invadindo cada caverna e cada gruta, e a escuridão se enche de um ruído esmagador e de clarões inesperados.
Bilbo nunca vira ou imaginara qualquer coisa semelhante. Estavam lá em cima, num lugar estreito, um terrível precipício sobre um vale escuro bem ao lado. Estavam abrigados sob uma pedra saliente onde pretendiam passar a noite, e ele estava deitado debaixo de um cobertor, tremendo da cabeça aos pés. Quando espiava os clarões dos relâmpagos, via os gigantes de pedra do outro lado do vale, lançando pedras uns sobre os outros, como num jogo, apanhando-as, jogando-as na escuridão embaixo, onde elas se despedaçavam por entre as árvores ou se estilhaçavam em mil fragmentos com um ruido ensurdecedor. Então vinham vento e chuva, e o vento sacudia chuva e granizo em todas as direções, de tal modo que uma pedra saliente não representava proteção nenhuma. Logo estavam todos quase encharcados, e os pôneis estavam parados com as cabeças baixas e os rabos entre as pernas; alguns gemiam de pavor. Ouviam os gigantes gargalhando e gritando por todas as encostas das montanhas.
- Assim não dá! - disse Thorin. - Se o vento não nos levar, se não nos afogarmos, se um raio não cair em nossas cabeças, seremos apanhados por algum gigante e chutados para o céu como uma bola de futebol.
- Bem, se você conhece algum lugar melhor, leve-nos para lá! - disse Gandalf, que estava muito irritado e nada satisfeito com os gigantes.
Bem, por esta passagem completa dá pra concluir que, de fato, Bilbo nunca vira uma tempestade dessas no Condado, mas mesmo assim os gigantes não são uma metáfora, pois Thorin diz que seriam apanhados por algum gigante com todas as letras.
Pesquisei no livro O Mundo de Tolkien, mas nada diz sobre o episódio da tempestade, apenas fala sobre o episódio dos três trolls.
No entanto, achei uma passagem interessante:
TRIBOS DE TROLLS
Gigantes, Ents e Olog-Hai
(...)
Os trolls eram a antítese dos ents sob todos os aspectos. Eram seres assassinos e canibais. Sua dieta era composta principalmente de carne crua. Frequentemente matavam por prazer - ou sem qualquer motivo. Enquanto os ents foram feitos a partir da madeira viva e crescente, os trolls foram feitos de pedras duras e mortas. Aqui estava a razão principal de um atrito antigo entre floresta e montanha. Certa vez, Barbárvore explicou a diferença: "Os trolls são apenas cópias mal feitas pelo Inimigo na Grande Escuridão, em zombaria aos ents, assim como os orcs o são para os elfos".
No poema épico Beowulf, muitas das criaturas parecidas com trolls foram raças torturadas que se acreditava serem descendentes do assassino bílbico, Cain. Em outros lugares da literatura anglo-saxônica temos uma confusão de palavras para uma confusão de criaturas que Tolkien moldou e padronizou: "eoten", que significa "gigante" ou "ent" no inglês antigo; "jotunn" que significa "gigante" em norueguês antigo; e "troll", que significa "gigante" ou "monstro" em norueguês. Para os trolls, Tolkien nos dá uma série de categorias: Trolls de Pedra, Trolls da Caverna, Trolls da Colina, Trolls da Montanha, Trolls da Floresta e Trolls da Neve.
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Acredito então que os gigantes que eles viram neste trecho de O Hobbit podiam ser Trolls de Pedra ou Trolls da Montanha.