Lembrando que Tolkien era inglês. nós que vivemos há tanto tempo em uma república não conseguimos compreender a relação que os ingleses tem com a realeza. Achamos idiota, absurdo, ou sei lá o que. Mas eles tem uma noção de que a realeza está realmente acima do povo, eles são "os escolhidos de Deus", digamos assim. E isso até nos dias atuais, quando a mídia se ocupa em mostrar que na realidade eles são todos gente como a gente. Mas a relação continua. Lembram daquela história do Aragorn ser o único que poderia curar as pessoas (ou algo que o valha)? Pois é. Reflexo desse contexto em que Tolkien viveu.
Um problema em taxar um escritor de racista, elitista ou o diabo a quatro é que as pessoas esquecem que o romance é:
1. Um recorte da realidade: Isso quer dizer que por mais complexa e vasta que seja a obra de um escritor (como é o caso de Tolkien) ele não pode transferir para seu romance todo o mundo tal como conhecemos. Invariavelmente algo fica de fora, o que tem uma certa relação com o item a seguir.
2. Um (impreciso) reflexo do contexto no qual vive/viveu o autor: A questão que apontei no primeiro parágrafo explica isso. Não dá para julgar a obra de Tolkien com os olhos de um brasileiro de 2012. Não dá. A obra se insere em um contexto diferente do nosso, de forma cultural, social e histórica. Aquela velha história de em certos países ser uma afronta você sair da mesa sem dar um arrotão bem gostoso e aqui ser falta de educação.
No mais, não sei porque esse tipo de discussão se nas palavras do autor registradas nas Cartas já há a palavra de que não era racista. Procurar o homem no romance é uma tarefa beeeeem perigosa (e por isso usei a palavra impreciso no item 2) porque nas palavras do Pessoa, o poeta é um fingidor. É tipo pegar O Cemitério de Praga de Umberto Eco e acusá-lo de ser antissemita. Biografia é uma coisa, romance é outra.