Aplaudo de pé , Gerbur Forja Quente!!!
Acho corretíssima essa sua menção ao fato de que excluir interpretações "externas" da obra limita a compreensão e o riqueza da leitura. Perfeita a sua alusão ao modo com que a Psicanálise de Freud deve ser usada nos nossos dias e sua analogia com o que é , ocasionalmente, feito com o próprio Tolkien na posição fundamentalista e bitolada de algumas pessoas que , por exemplo, acham que Peter Jackson devia ser enforcado por fazer "lavagem cerebral" na cabeça dos expectadores.
Recentemente, por motivos pessoais andei "me pegando" com várias pessoas que acham que praticamente tudo que foi feito depois de Freud é uma invasão do "templo" pelos vendilhões "americanos" ( Melanie Klein que era austríaca e trabalhou na Inglaterra, por exemplo, mas, claro, pra eles isso é só um detalhe), e que tudo que é elaborado em cima dele só tem relevância "teórica" ( como se diversos conceitos de Freud como a inveja do falo não fossem construtos teóricos com pés de barro).
Desde que o mundo é mundo artistas e autores diversos reinterpretarão e "deturparão" o sentido ou contexto de uma dada descrição artística ou de outra natureza, o importante é saber ter senso crítico e a mente aberta pra que a arte ou ciência possa evoluir.
Então, exemplo, o Livro Negro de Arda, a versão Dark do Silmarillion, pode não ser um bom instrumento pra interpretar Melkor ou a Teodicéia de Tolkien mas constitui um tremendo gérmen de obras literárias e cinematográficas que levarão o questionamento sobre a "Justiça de Deus" um passo além pra uma nova geração não familiarizada com a Bíblia usando ou não a mitologia de Tolkien como veículo "didático"..
John Howe pode ter feito um Balrog lutando com Glorfindel
com asas e
sem fogo e sombra e Ted Nasmith pode ter feito Gothmog lutando com Fingon com crina de fogo e rabo de ratazana e sem asas, mas , no fim, o que interessa é que ambos jogam ingredientes no caldeirão fervente do imaginário, não pra obscurecer nossas perspectivas ou pontos de vista, mas pra aclará-los com possibilidades.
A visão da janela não substitui o passeio no prado mas, por assim dizer , dá no expectador a vontade de sair e pisar lá fora... Interpretações "externas", literárias, plásticas ou cinematográficas são exatamente isso. Janelas pra um prado. Se a pessoa prefere ficar dentro de casa e não sair pra ver o mundo lá fora sem a mediação do vidro isso não tira o mérito da "janela" existir e nem devia fazer ela pensar que ela vê o prado como se pisasse nele..
E devemos lembrar que o gérmen inicial da mitologia de Tolkien foi, justamente, a idéia de recontar ou "interpretar" histórias mitológicas preexistentes "consertando" o que Tolkien pensava ser
erros ou inconsistências no original. Foi isso que fez, por exemplo, a Narn I Chîn Húrin nascer do Kullervo do Kalevala.