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Segundo Tolkien (Nota do Redator: em seu ensaio supracitado), o atrativo do conto de fadas consiste em que nele o homem cumpre de maneira mais plena sua função de "subcriador"; não faz um "comentário sobre a vida", como adoram dizer hoje em dia (NR: Lewis, cerca de meia década depois, continuar certo!), mas constrói, tanto quanto possível, um mundo subordinado que lhe é próprio. Uma vez que, segundo Tolkien, essa é uma das funções características do ser humano, é natural que seu bom desempenho gere satisfação. Para Jung, o conto de fadas libera arquétipos que residem no inconsciente coletivo; e, quando lemos um bom conto de fadas, estamos obedecendo ao antigo preceito "Conhece a ti mesmo". (...)
É claro que, assim, como nem toda a literatura infantil é fantástica, nem todos os livros fantásticos são infantis. Mesmo numa época tão ferrenhamente anti-romântica como a nossa, ainda é possível escrever histórias fantásticas para adultos (embora em geral seja preciso fazer nome num gênero literário mais elegante para arranjar quem as publique). Porém, pode haver um escritor que, em determinado momento, encontre não somente na fantasia, mas na fantasia para crianças a forma exata para dizer o que precisa dizer. A distinção é sutil. Suas fantasias para crianças e fantasias para adultos terão muito mais coisas em comum uma com a outra do que um romance convencional ou com o que às vezes se denomina "romance da vida infantil". Aliás, é provável que os mesmos leitores leiam seus livros fantásticos "infantis" e suas histórias fantásticas para adultos. (...)
Seria muito mais verdadeiro (NR: dizendo sobre o anseio das crianças de histórias "reais") dizer que o país das fadas desperta no menino um anseio por algo que ele não sabe o que é. Comove-o e perturba-o (enriquecendo toda a sua vida) com a vaga sensação de algo que está além de seu alcance, e, longe de tornar insípido ou vazio o mundo exterior, acrescenta-lhe uma nova dimensão de profundidade.