Não haviam muitos motivos que fizessem Ungoliant sair de seu covil: Poderia sentir fome, sair e se alimentar pelas redondezas; para saciar seu desejo de luz já havia a luz do Sol e suas teias a sugariam. Não era como a Luz das Árvores, mas era uma fonte constante - tirando os dias nublados e chuvosos...
Para mim, Ungoliant apenas deixaria seu covil ao descobrir que Melkor havia sido roubado e que uma das Silmarils estavam em poder dos Elfos que viviam na floresta em frente ao seu covil. Supondo que o Cinturão de Melian a mantivesse afastada de Doriath, ela ainda poderia se alojar em algum canto das florestas nos arredores do reino de Thingol e observar, e esperar até que a barreira cedesse.
Agora Thingol teria muito com o que se preocupar: Ungoliant rondando seus domínios, a ameaça de Melkor e a constante pressão dos filhos de Fëanor. Eventualmente ele acabaria sendo morto pelos Anões e Melian abandonaria Doriath, fazendo com que o Cinturão deixasse de existir. Tão logo a barreira deixasse de impedir a sua aproximassão, Ungoliant invadiria Doriath e mataria tudo e todos os que estivessem entre ela e o objeto de seu desejo.
É provável que os efeitos causados pela Silmaril em Ungoliant fossem os mesmos causados em Carcharoth, porém, tendo em vista o poder da aranha, seria em menor intensidade. O que lhe daria tempo para voltar para seu covil nas Ered Gorgoroth.
Não acredito que Melkor tentaria destruir Ungoliant enquanto essa estivesse rondando Doriath, embora soubesse das reais intensões dela, manteria alguém de confiança para a vigiar e agir assim que possível caso ela se apoderasse da pedra. Esse time provavelmente seria liderado por Sauron e um punhado de Balrogs.
Por mais que os Filhos de Fëanor levassem o juramento ao pé da letra, acredito que teriam um pouco de bom senso para não atacarem Ungoliant sem terem um bom exército. O que já era difícil, acabaria por ficar mais complicado ainda; Além da aranha, teriam que lidar com o mais fiel servo de Melkor e um punhado de Balrogs, criaturas que já viram em ação antes e sabiam medir muito bem sua periculosidade.
Haveria um impasse: Ungoliant não tinha senhor, não conhecia amigos e todos os que se aproximassem seriam inimigos: Elfos, Sauron, Balrogs e Anões, seriam todos iguais perante sua crescente loucura causada pela Silmaril em seu ventre. Mesmo tendo um exército preparado os Elfos teriam que decidir quem atacar primeiro, pois dividir forças para eliminar os inimigos não seria possível. Sauron e seus comandados sabiam do que Ungolinat era capaz, haviam ouvido os gritos de seu mestre quando este a havia efrentado pela posse das jóias e conheciam a força e determinação dos Eldar.
Um possível desfecho para essa situação seria a chegada dos Anões de Nogrod e Belegost para vingarem a morte de seus companheiros. Supondo que analisassem a situação antes de se lançarem ao ataque, chegariam à conclusão de que o grupo de Sauron, sendo o menor e em local desvantajoso se atacado pela retaguarda, seria o alvo mais fácil de enfrentar.
Agora Sauron teria uma difícil escolha: enfrentar os Anões ou atacar de vez Ungoliant e cumprir sua missão? O medo do fracasso e a subserviência para com Melkor acabariam por falar mais alto e, dividindo seu grupo em dois, levariam alguns Balrogs no ataque contra Ungoliant. Ainda que levasse um tempo os Eldar descobririam que os Anões também haviam chegado para reclamar a posse da jóia, porém seu ataque à retaguarda de Sauron acabou por lhes proporcionar uma vantagem: teriam agora apenas que se preocupar com Ungoliant.
A força dos Filhos de Fëanor e de Sauron, combinadas ao acaso, se somariam à crescente dor causada pela Silmaril e, cercada de inimigos, Ungoliant não teria outra opção a não ser lutar por sua vida. Como o exército dos Anões havia sido beneficiado pelo elemento surpresa, mesmo sofrendo pesadas baixas, conseguiriam vencer os Balrogs e agora passariam a atacar novamente Sauron e seus Balrogs, que se viriam em uma complicada posição na qual teriam que se defender de Ungoliant e dos Anões.
Por mais bem preparados que os Eldar se mostrassem, a crescente dor de Ungoliant alcançaria níveis tais que em seu desespero e loucura ela se lançaria contra eles causando enorme baixa e trazendo consigo Sauron, Balrogs e Anões, temporariamente e involuntariamente formando uma única força contra os Filhos de Fëanor. Com a desordem gerada por esse movimento inesperado, os Elfos perderiam muito de seu terreno e ficariam encurralados nas florestas. Com a maioria de seus companheiros mortos, um bom número deles lutando e morrendo e com seus comandantes feridos, o bom senso novamente falaria mais alto e acabariam por abandonar a luta.
Sauron sabia que os Anões haviam derrotado sua guarda de Balrogs e ele já estava exausto por se atracar pessoalmente contra eles e Ungoliant ao mesmo tempo. Com a retirada dos Eldar, Ungoliant agora voltaria a sua atenção contra eles e, por mais ferida que estivesse, agora estaria completamente fora de controle, atacando desesperadamente tudo o que estivesse ao seu redor emitindo gritos pavorosos que o fizeram lembrar de Melkor. Sozinho, lutando contra dois inimigos ao mesmo tempo e sem perspectivas de vencer qualquer um deles, muito mais ferido do que já estivera em toda a sua existência, Sauron acabaria por abandonar a luta e voltar para seu mestre, sem sua guarda de Balrogs e sem a Silmaril.
Por mais valentes que os Anões fossem, as fugas de Elfos e Sauron lhes diziam que aquela criatura descontrolada não seria facilmente vencida. Muitos deles haviam perecido contra os Balrogs no primeiro ataque, mais ainda haviam morrido enfrentando Sauron, mais Balrogs e Ungoliant, e os poucos que restaram logo buscaram abrigos no que havia sobrado das belas construções de Doriath, temendo continuar atacando a aranha e também sem forças para correrem de volta para seus reinos.
Nesse ponto, a situação de Ungoliant já seria tão insustentável que, em meio à sua gigantesca dor, em um ato de desespero começaria a golpear seu próprio ventre na tentativa de retirar dele a jóia. Todavia, devido à exaustiva luta contra seus inimigos, suas forças já não eram suficientes para isso e então subiu pelas paredes do prédio mais alto que ainda não havia destruído e se lançou contra os troncos das árvores que haviam sido semi destruídas pela luta intensa. Os troncos mais grossos funcionaram como lanças muito bem firmes no chão e lhe perfuraram o corpo todo, e um deles acabou por rasgar-lhe o ventre exatamente onde a Silmaril estava.
Os Anões, em seus abrigos, ao verem que a aranha havia pulado para a morte na tentativa de se livrar da imensa dor, custariam muito a acreditar em seus olhos. A aranha ainda se movia, mas sem apresentar perigo real para eles, mas o que mais lhes chamaria a atenção seria o brilho de beleza indescritível que continuaria emanando da jóia, ainda no meio dos fluídos nojentos do ventre de Ungoliant.
Sabendo que provavelmente os Elfos voltariam para pegar o colar com a jóia, eles o pegariam e fugiriam na direção de seu reino.
Daqui para frente a história segue como realmente foi contada.
Cara***, que saudade de escrever essas coisas mirabolantes...