SPOILERS
Finalmente consegui ver o filme! E, sabem o que é mais engraçado? Eu gostei! Até reli esse tópico para pensar no que dizer.
Não concordo com quem disse que as histórias são curtas demais e que não dá para se apegar emocionalmente aos personagens. Achei elas na medida. Não consigo imaginar nenhuma vantagem em aumentá-las. E eu, pelo menos, me senti envolvido: não queria que a Susan morresse, não queria que a babá fosse deportada, não queria que os meninos fossem presos, não queria que a japonesa ninfomaníaca pulasse da janela. Não queria um monte de coisa e queria outras, e isso é envolvimento.
Quanto a trilha sonora, ela não me incomodou. Não prestei muita atenção nela, na verdade. Achei bacana.
A história dos turistas veio num momento bom. Alguém disse que seria mais legal se ela culpasse o Brad por tudo o que estava acontecendo. Mas, ok, não sei se é isso que eu faria no meu leito de morte - geralmente, deixamos as coisas irrelevantes para fazer no cotidiano, né? Se eu estivesse morrendo e com o homem da minha vida do meu lado, ali, eu não ia fazer esse tipo de drama. "Cuide dos nossos filhos" é um clichê, ok, mas quantas vezes vocês não dizem clichês, heim? As pessoas vivem dizendo clichês, e é por isso que eles são clichês. A vida real é assim. Essa história rendeu as minhas únicas poucas lágrimas no filme: durante a ligação do Brad para o filho (aliás, aqui entra o muito interessante recurso do aproveitamento de dois tempos diferentes no filme).
A história dos marroquinos é pequena, mas não é de se jogar fora. É preciso que entendamos o lance do ACASO e das pequenas escolhas que levam a danos enormes e irreversíveis. Eles podiam não ter atirado na porcaria do ônibus. Foi uma idéia estúpida, e se eles pudessem prever as consequências, não teriam apertado o gatilho. Mas não podiam, e apertaram. Fazemos isso todo santo dia.
O mesmo digo da babá, cuja história ainda aproveita para dar uma cutucada na imigração ilegal. Ela podia ter deixado as crianças, ou atravessado de manhã com calma. Foi uma idéia estúpida que ela teve, só isso. Ela mesmo confessa isso. E veja lá, a vida dela foi toda transformada. Não acho que tenha sido feito um grande drama em cima disso, mas a mensagem está lá.
Falando da japonesa... Hm, achei tudo muito engraçado, no final das contas. Não fiquei chocado nem me senti tocaaaaado. Gostei principalmente das últimas cenas, em especial a última. Vai, confessem, inserir um personagem surdo-mudo num filme sobre falta de comunicação foi genial. E mostra justamente que a falta de comunicação não é a mesma coisa que a falta de expressão verbal, de forma alguma. É bem além disso.
É importante falar sobre as línguas universais, aliás. A violência, por exemplo. Todo mundo entende a violência do Brad Pitt, no Marrocos. O sexo, para a japonesa. A dor, que leva a velha no Marrocos a cuidar da Cate. O dinheiro do Brad, que o marroquino enfaticamente rejeita. São todas línguas que saem das fronteiras da oralidade, e isso é maravilhoso.
Vai, um último comentário: a única parte realmente forçada do entrelaçamento das histórias foi a doação da arma do japonês, para mim. Mas isso nem me incomodou. Na hora, me pareceu uma grande sacada. Eu não consigo pensar num jeito melhor de unir as coisas, mas eu gostaria, ok, que a união fosse um pouco mais emotiva e não só material e tudo mais.
Não é o filme do ano. Não estou torcendo para que ganhe o Oscar. Mas peloamordedeus, gente, não é tão ruim assim. Achei bem válido assistir, e recomendo