Todos os filmes que eu assisti hoje envolveram sentimentos fortes, tanto com músicas e visuais. Eu to abalado.
BUENA VISTA SOCIAL CLUB (Wim Wenders, 1999) (81) é superficial como um documentário, mediano no máximo, mas o conteúdo é tão maravilhoso que podiam ter filmado isso com o negativo ao contrário que eu ainda ia ter me emocionado. Ry Cooder reune vários fantásticos músicos cubanos de Havana pré-Castro, a maioria já com mais de 80 anos, e praticamente esquecidos, e forma uma reunião com shows em Amsterdã e em NY. Todas as músicas são lindas, mas os destaques (e põe ênfase em destaques) são "Chan Chan" na abertura e final, e "Siboney" tocada no piano, pelo Rúben. Meus deus isso é tão foda.
EU SOU CUBA (Mikhail Kalatozov, 1964) (85) (segunda vez; primeira: 78) é um dos melhores filmes de todos os tempos. O filme é meio que uma propaganda anti-autoritária/capitalista/americana, que acaba virando uma propaganda comunista no final, mas isso mal é notado. O que é notado é o trabalho de camera e fotografia, com vários dos melhores planos sequências de todos os tempos, longos, surreais, sobrenaturais, líricos, em prédios, ruas, plantações de canas, florestas. A lente de fish-eye, o contraste forte, fazendo o céu ficar negro e o chão e as plantas e árvores e pessoas ficarem brancas, é fantasmagórico e extremamente memorável. Esse é o tipo de filme que você fica de boca aberta pela duração toda e implora pra não acabar logo. É dividido em quatro histórias, com roteiros simples, usando arquétipos e situações básicas, elevadas a algo grandioso e épico pela estética, ficando absurdamente emocionante. Todo o idealismo ingênuo e esperançoso do filme dá uma sensação nostálgica, fazendo a história desse país virar praticamente legendária (somado com Buena Vista, eu diria que minha percepção de Cuba mudou bastante). As três melhores coisas: o cenário da última história, no meio do nada, uma colina com vegetação exótica e variada, uma neblina no fundo; o plano-sequência na terceira história, mostrando o funeral do estudante assassinado no meio da rua, a camera sobrevoando (parece impossível) a uns 30 metros de altura, a multidão carregando o corpo lá embaixo, folhetos com idéias revolucionárias caindo dos prédios, a trilha sonora crescendo e crescendo, fazendo parecer que a tela da sua TV vai realmente explodir de tanta intensidade; e, é claro, a abertura do filme, uma camera aérea sobrevoando o litoral de Cuba, o mar negro e a floresta cinzenta e sombria devido ao contraste da imagem, mesmo num dia ensolarado, centenas de palmeiras enormes balançando com o vento, e uma música de violão melancólica tocando sobre as imagens -- eu tive que rever a abertura quando o filme acabou, e tenho certeza que esse momento não vai sair da minha cabeça por um boooom tempo...
I am Cuba.
Why are you running away?
You came to have fun.
Go ahead, have fun!
Isn't this a happy picture?
Don't avert your eyes.
Look!
I am Cuba.
For you, I am the casino, the bar, hotels and brothels.
But the hands of these children and old people are also me.
I am Cuba.
OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR (Jacques Demy, 1964) (77) (segunda vez; primeira: 63) melhorou muito, e eu imagino que vá melhorar ainda mais com o tempo. Naturalmente, pois o filme é sobre o Tempo, como tudo é transitivo, tanto objetos, quanto pessoas, e especialmente sentimentos, mesmo as que você pensa que são eternas. É um musical contando uma história de amor entre dois jovens franceses que é separada pela guerra, e como o tal amor vai enfraquecendo e desaparecendo aos poucos, mostrado com um romanticismo extremo e irresistível -- aliás, o filme inteiro é cantado, e coreografado como se num sonho perfeito, colorido, mágico. O melhor momento é o final, é claro, onde os dois jovens se encontram novamente, com suas vidas já formadas em caminhos diferentes, já sem a mesma inocência de antes. Mas a música ainda é épica e emocionante, como se estivesse saindo da própria alma deles. (Talvez eles sejam eternos afinal de contas...)
Ufa...