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[Skylink] [Um análogo de desesperança]

Skylink

Squirrle!
Era um senhor extremamente tonto e vetusto, de velhos óculos cor de âmbar e andar entrecortado, que se inclinava para frente, arrastando os passos, devido ao movimento vertical que sua proeminente região abdominal insistia em realizar. Seu rosto era coberto por uma carapuça de poeira e barba, que não só escondia metade de sua expressão facial como também lhe dava um aspecto completamente caricato e abstrato. Sim, abstrato! Não havia nada mais significativo do que inquirir-lhe mentalmente sobre sua trajetória de vida, sobre suas antigas e certamente já amargas opiniões em relação aos estertores freqüentes que o mundo sempre nos trás.

No entanto, seus lábios grossos e rosados ainda se moviam, e sua fala era serena como a de um antigo capitão de almas. Seu espírito habitava em paz aquela velha carcaça mofada, e a energia que dele ainda se irradiava era motivo suficiente para nos manter presos, absorvidos pelo contraste do solene momento, conjecturando simplórios o quanto as peculiaridades de nossas próprias vidas nos permitiriam chegar até aquele estágio quase mítico.

Mas a símile da satisfação absoluta certamente estava longe de ter alguma relação real com aquele instante quase alegórico. O idoso professor atravancava-se entre chiados e gestos esquisitos enquanto revirava os olhos pelos cantos das salas, perscrutando algum tipo de misteriosa assombração, ou talvez tentando fugir dos rostos desinteressados de certos alunos; alunos que, a despeito da realidade, sugeriam vagamente fitar seu espírito com uma gravidade maior e mais sinistra do que o habitual, ainda que vazia.

Sua aula avançava pouco a pouco, algemando cada pessoa ali presente das mais diversas formas ao contexto polissêmico do epicentro que suas palavras atingiam. Seus olhos davam mostras de estar tomados por uma leve indignação pueril, como os olhos de uma simples criança, enquanto ele prosseguia apaixonadamente a explicação daquilo que constituíra a maior parte de sua vida até aquele ponto. Sabia, certamente, que um dia haveria de abandonar todo o seu legado, e se contentar em ser apenas mais uma mera nota do passado.

Porém continuava, e não dava mostras de enfado. O velho dragão ainda ostentava sua envergadura e suas asas sinistras sobre todos nós, e qualquer descuido seria suficiente para condenar um simples aluno ao eterno fracasso durante o breve período que sua vida durasse. Suas explicações seguiam então confiantes, eclodindo sobre pontos cada mais distantes e interessantes em relação ao vago universo reacionário da lógica humana.

Mas por mais que aquelas suas palavras simplórias fossem a grande verdade do momento, devido a uma série de analíticos bêbados e retardados que enxergavam nos cabelos grisalhos algum sinal oculto de sabedoria, sua queda certamente estava próxima. Não passaria de hoje, desse instante epicurista em que os membros do partido assistiam extasiados, destilando saliva pelos cantos da boca.

Entretanto, é estranho que esses tolos alunos fiquem a esmo ou numa concentração freneticamente exagerada e objetivamente inútil. Será que não percebem que não falo mais do que um ponto de vista, mais do que uma base construtiva para a enunciação momentânea de suas paixões? As minhas há muito já deixaram a terra, e talvez acreditar que alguma alma jovem ainda conseguirá levar meus sentimentos e pensamentos em relação ao mundo para o futuro... essa talvez seja a única coisa que me faça continuar, apesar deste cansaço que se acumula mais e mais a cada dia.

Ora, vejam! O investimento certamente foi o melhor possível! Por mais que esse estranho professor só fale coisas sem lógica, sem utilidade nenhuma para o presente, estes intelectuais franzinos e bitolados estão sendo absorvidos perfeitamente por ele! É provável que de agora em diante eles passem um bom tempo sem ir de encontro ao progresso e a ordem, por seus próprios motivos mesquinhos e inúteis; e é até possível que tenhamos uma adesão e uma aplicação muito maior nos próximos projetos do governo!

Curiosamente, parece que ele sabe o que lhe aguarda. Sabe da glória, sabe do reconhecimento, sabe do louvor que lhe darão. Seus passos curtos e decididos falam por suas próprias palavras, seu sorriso é, antes de qualquer coisa, sincero, quando afinal consegue elucidar todos os pensamentos instantâneos de sua mente e traduzi-los para nós. A platéia se levanta para o aplauso final, e um dos jovens mais entusiasmados com a genialidade do grande homem corre até ele para abraça-lo, enquanto algumas tornam-se apreensivas e apontam timidamente para um embrulho que ele carregava.

É fato, existem pessoas que sentem uma necessidade extrema de uma encenação teatral, tanto para a vida quanto para a morte. Não importa se sobre uma longa série de lamentos longamente decorados e ensaiados, ou ainda por uma carta suicida de motivos pífios, com os quais os outros tontos que formam a humanidade se entusiasmam gastando seu pouco tempo no mundo. É incrível que até mesmo uma peça medieval surte efeito sobre o imaginário humano, sobre a contextualização de desejo e intenção; e assim, uma espada, uma exclamação de ódio e uma exultação ferrenha formam a tríplice perfeita para uma diversão.

Este dois, porém, já vão tarde demais... A cena foi extremamente mal feita – o sangue era tão vermelho que nem parecia de verdade; e essa platéia contratada estava definitivamente mal organizada para uma fuga teatral ante uma suposta tragédia.












Para os curiosos:


Ahn, sim, o maníaco por teatro ficou lá parado observando a cena. E quando a polícia conseguiu agir, sua primeira atitude foi atirar em todos os que haviam permanecido por ali em pé.
 
O que dizer?

Muito bom cara. Você escreve bem, muito bem.

As reviravoltas, as contradições, as imagens como se fossem fotografias em minha mente, os pensamentos inusitados e um tanto interessantes fazem desse conto uma boa história.

Bah..um dia eu posto alguma coisa que eu escrevi por aqui...
 
Fazia um tempo que eu não lia um texto seu por aqui, Skylink. ^^
Adorei. Eu adoro as suas descrições, aliás. Consigo imaginar as coisas com uma clareza incrível.
Muito bom! xD
 
Desde o instante inicial até o final parece que minha imaginação ficou fixada nos olhos do homem. Texto mto bom, tão bom que nem parecia texto, pareciam imagens mostradas uma atrás da outra. MIl palavras que formam uma imagem, ou sei lá o que q isto signifique. :]
 

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