Eu nasci nos anos 60. Peguei a época dos militares, linha-dura, e não tínhamos nem mulher de peitod e fora. Quanto mais pornografia.
No máximo haviam os famosos "catecismos" do Carloz Zéfiro e um ou outro filme nacional erótico, sem sexo explícito.
E por incrível que pareça, esses filmes sem sexo explícito eram muito mais divertidos e excitantes que as produções pornôs de hoje.
É que esses filmes eram cinema mesmo. Eram pobres de recursos, sim, mas não haviam putas e garanhões se reproduzindo: eram atores e atrizes, gente com treinamento na arte de interpretar.
Ora, na minha época tinha Carla Camuratti, hoje tão respeitada como diretora!
Tinha Antonio Fagundes magrinho, barbudo, transando de mentirinha mas deixando a mulherada louca!
Haviam dezenas de atores e atrizes interessantes, mulheres lindas e uma ambientação cafona... mas com bastante insinuação, bastante desejo.
Nas produções estrangeiras, havia o chatíssimo Calígula, uma produção caprichada mas que gerou um filme incrivelmente chato... mas com uma sequência, a da orgia, que é clássica! Só sendo um morto pra não gostar dela.
Hoje, os filmes não tem mais graça.
Porque o filme erótico tem como objetivo fazer carícias na libido humana. Dar uma pegadinha mesmo!
O pornô já cai de boca no negócio e vai pras cabeças!
Antes havia um tom de descoberta, de mistério, de sacanagem escondida, feita sem que os nossos pais soubessem.
Havia um clima de cumplicidade entre a gente e a produção, como se o filme dissesse: "olha, vou te mostrar uma coisinha gostosa, vem cá, vem bater uma punhetinha, vem tocar umazinha sem preconceito, vem! Não tem ninguém olhando, olha que tetinha gostosa, olha que gemido real!"
Hoje, estamos reduzidos a meros filmes ginecológicos, com mulheres profissionais, siliconadas, que nem fingem gostar do que fazem. Percebe-se que elas mentem, que são cadelas treinadas (desculpem o trocadilho) pra dar a patinha, a bundinha e o resto.
E os homens são monstros sem expressão, sem tesão, sem paixão, que ficam com o mastro ereto a base de injeção de papaverina.
Na minha época, tudo era de mentirinha, mas era legal por ser assim, não dava pra gente o bolo todo. Só o glacê, só o caldinho, se a gente quisesse o resto da delícia, tinha que ir atrás, arrumar namorada, transar com o Paçoquinha da turma ou masturbar-se cheio de alegria.
Era um sexo democrático, justo, equilibrado, que burlava a repressão, que enganava o padre, que passava a perna nos nossos pais, que unia a turminha em cinemas secretos e que recebiam nossas masturbações coletivas, fazendo os bancos tremerem e entupindo os banheiros de papel higiênico.
A gente não tinha essas besteiras de sadomasoquismo, a gente achava gozado aqueles caras de preto, as mulheres amarradas e dependuradas que nem lustres. A gente rachava o bico de tanto rir com os machões levando atrás, aqueles caras machos virando mulherzinha de outro homem.
A gente detonava a mandíbula de tanto rir com os filmes do Zé Mojica (atualmente Zé do Caixão), quando ele usava cabritas, bodes, anões e gente feia e esquisita no sexo, porque a gente percebia que se tratava de uma gozação. E não era material pra punheta.
De vez em quando alguém viajava pra Holanda ou Alemanha e trazia revistas pornôs fantásticas, coisa interessante e bonita de se ver: piadas, contos, cheias de pornografia bem produzida e interessante.
As vezes aparecia uma revista mais pra nossa idade, com adolescentes transando. Pra nós não tinha problema nenhum porque não víamos diferença em tudo. Era só festa, era só sexo e se nós, pré e adolescentes, fazíamos sexo, troca-troca ou transávamos com as meninas, não víamos porque outras pessoas de nossa idade em outros países não poderiam.
E nas bancas haviam quadrinhos nacionais desenhados pelo Watson Portela, especialmente o gibi "Joãozinho", que contava a história daquele menino da piada que transava com a Mariazinha.
A gente achava normal, não tinha pudores, já que o própro Carlos Zéfiro já havia nos presenteado uma história com criança transando.
Era tudo fantasia, sabíamos a diferença entre o Real e o Imaginário.
Nos anos 80 veio a Abertura do Figueiredo a até o nome "abertura" tinha um tom de gozação.
Veio a revista Status e a mulherada com peitode fora, charges e cartoons franceses, erotismo gostoso, simpático, alegre.
Veio a Playboy, sucesso mundial, com mulheres lindas e exuberantes... E pela primeira vez uma revista oficial mostrou pelos pubianos da mulherada.
A gente fazia fila na revista de um amigo nosso, pra ver a cabeludinha liberada.
Então veio o filme Coisas Eróticas, a primeira produção pornográfica nacional oficial, com o dublador do Fred Flintstone gemendo e dizendo besteira, enquanto uma moça notoriamente nordestina o felava.
Daí pra frente desabou tudo, liberou geral.
Hoje...
Hoje tudo perdeu a graça.
Fico fácil, ficou simples, não tem mais proibição. E se tiver proibido, na Internet a gente acha qualquer coisa fácil.
Coisas das mais loucas, das mais bestas, das mais sujas, das mais nojentas.
As moças que transam são super-mulheres, malhadas, fortonas. Não são pessoas, são fêmeas, depósito de esperma, máquinas de sexo sem fim.
Morreu a Claudia, que nos nostrava a calcinha, nos beijava e sai correndo, pra gente correr atrás.
Acabou a Fernanda, a adolescente sabichona e carinhosa, que fazia na gente o que chamávamos de "chupetinha".
Se no passado foi a tia Erica, a nossa vizinha solteirona carente e que deixava a molecada louca com seus peitões.
Foi embora o "Claudia", viadinho chato e grudento, mas que dava a bunda pra gente porque era nosso amigo, e também nos ajudava a decidir nossa sexualidade e nos aliviar as tensões de ser homem.
Perdeu-se tia Olga, a cafetina amiga dos políticos e que nos apresentava lindas moças.
Hoje é tudo aberto e, ao mesmo tempo, proibido.
Hoje você vai no Par Perfeito, faz amizade com uma qualquer, marca um encontro, transa com ela e ela faz tudo: sexo convencional, anal, bukakke, trai o maridão, curte uns tapas, chama as amigas pra assistir, usa vibrador, chicote...
Hoje, você vai no Emule, digita umas palavras e vem filme pornô do mundo todo. Até degola de soldado russo tem.
Perdeu-se a magia, perdeu-se a simplicidade e foi-se embora a alegria.
Ficou isso aí.
Isso aí.