Como sabem sou novo no Fórum, e também nunca havia participado de qualquer tipo de lista de discussão, no entanto já tenho duas mensagens postadas fora daqui (A Mitologia Nórdica e Tolkien e O Senhor dos Anéis e Tolkien) que fiz para divulgar meu site (
www.valholl.hpg.ig.com.br) sobre Mitologia Nórdica, agora foram removidas certamente para este tópico do assunto que vem sendo debatido aqui. Confesso que estou meio perdido, somente agora tomei conhecimento desta discussão, e fico muito feliz que tenham tantos interessados ou curiosos no assunto.
Me dei ao trabalho de ler todas as mensagens, a começar pela primeira de Albeon do dia 24 de novembro de 2002, indo até a derradeira, tudo para me interar do que está sendo discutido.
Desculpando minha intromissão, vou me alongar nas palavras para dizer-lhes um pouco do que sei sobre o assunto e sobre o que foi discutido. Começando pelo que Albeon disse em sua primeira mensagem, que foi aceita por alguns e rebatida por outros.
Concordo quando ele disse que a tetralogia de Wagner O Anel dos Nibelungos foi uma das fontes de inspiração de Tolkien em sua obra mais famosa O Senhor dos Anéis, pois como ele frisou, temos a presença de um anel mágico como peça de intriga e base do roteiro, assim como o Um Anel de Tolkien. Mas a tetralogia de Wagner não é exatamente fiel aos mitos Nórdicos, como Albeon disse, pois apesar do autor alemão se basear nesses mitos, ele também deu cunho próprio a história do Anel, dando uma coerência melhor e enfatizando mais o anel como peça fundamental da intriga.
Fëaruin disse que existem outras fontes de inspiração na composição do enredo de O Senhor dos Anéis, eu concordo com este ponto, mas a maior fonte é sem sombra de dúvidas a Mitologia Nórdica. Não é simplesmente “uma simples semelhança de lutas por causa de anéis” como ela disse que atestam isso, a começar pelos seres da mitologia tolkiena, eles são exatamente os mesmo da Mitologia Nórdica, tais como elfos, anões, gigantes (troll no idioma nórdico), entre outros (em meu site fiz algumas correlações no link literatura em Influências).
Sobre outras influências, neste meio tempo ocorreu uma discussão, da comparação da queda de Lúcifer e a situação de Melkor/Morgoth, quero esclarecer tanto a Deriel quanto a Maglor que esse evento está SIM relatada na Bíblia no Velho Testamento no livro de Ezequiel, vejam esses trechos do Capítulo 28 (Versículo 13 ao 16), qualquer um que tiver uma Bíblia em casa poderá conferir:
“Estavas no Éden, jardim de Deus; toda a pedra preciosa era a tua cobertura: a sardonia, o topázio, o diamante, a turquesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro; a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado foram preparados.
Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas.
Perfeito era nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti.
Na multiplicação do teu comercio se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas.”
(Versão traduzida de João Ferreira de Almeida)
Poderão alguns ainda dizer que se trata da figura do rei Tiro, ou mesmo de Adão, mas para os teólogos e entendidos no assunto, essa passagem se refere realmente a da queda de Lúcifer (mesmo que em metáfora), sendo assim não é simplesmente um dogma católico ou cristão, e mesmo que pertença a livros apócrifos da Idade Média, também está na Bíblia como podem atestar.
Voltando porém a discussão central, concordo com Swanhild (no idioma Nórdico é Svanhild, que é a filha de Sigurð (textualizdo para Sigurd) o Siegfried (textualizado para Sigfrid) na mitologia Meridional (atual território da Alemanha), não estou te corrigindo, apenas digo isso caso não saiba), ela disse muito bem que a influencia está antes na mitologia através do ciclo de Nibelungen (textualizado para Nibelungos), mas ela deixou de citar uma outra fonte, a Þiðrekssaga (textualizando para Thidrekssaga), outra saga de origem da mitologia Setentrional (Escandinava). O Nibelungenlied (“Canção dos Nibelungos”) é a saga mais famosa de origem germânica, Mitologia Meridional (atual território da Alemanha). Como Swanhild disse as Eddas islandesas (nas baladas heróicas) e a Völsungasaga ou (Völsung Saga) são duas das principais fontes de influencia, junto com as duas anteriores, e eu digo, não somente em O Senhor dos Anéis mas em toda a obra de Tolkien. A história de Turim Turambar do Silmarillion por seu lado é totalmente baseada neste ciclo, essa sim inclusive no enredo, não que Tolkien tenha copiado a história do mito exatamente. Mas do contrário ao que Swanhild disse, as Eddas e a Völsungasaga não são centradas apenas na história de Sigurð (textualizado para Sigurd) o Siegfried do Nibelungenlied.
Há muitas outras sagas e mitos da Mitologia Nórdica dos quais Tolkien se baseou, entre elas o poema anglo-saxão Beowulf (que também foi citado por Smith de Wootton Major), que apesar de não ser propriamente da Mitologia Nórdica, faz várias alusões a essa mitologia. Um outro ciclo importante é o de Völsung (Wieland na Mitologia Meridional), presente na Edda Poética (baladas heróicas) e na Völsungasaga, que tem uma origem em comum com a lenda greco-romana de Dédalo. Porém, nada disso tira o mérito sobre os escritos de Tolkien, como disse Barlach, o Forte, e reitero dizendo como na ciência se diz, “na natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma”, isso também vale para a arte e para a literatura no caso especifico.
Uma correção na mensagem de Swanhild, quanto a origem incestuosa de Sigurð, ela não ocorre nem na tetralogia de Wagner e nem no ciclo de Nibelungen, quem é fruto de uma união incestuosa do casal Sigmunð (textualizado para Sigmund) e Signy, é seu irmão por parte de pai Sinfiotli, como relatado na Völsungasaga.
Para terminar convido a todos para visitarem meu site de Mitologia Nórdica, que é o de maior conteúdo em língua portuguesa já feito, onde poderão encontrar todas essas fontes citadas, exceto a Þiðrekssaga e Beowulf que infelizmente ainda não disponho e ficarei devendo numa futura atualização, assim poderão tirar suas próprias conclusões.
Obrigado pela atenção e desculpem mais uma vez a intromissão.
Ruben Pimentel, webmaster do site de Mitologia Nórdica Valhöll.