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[Discussão] Gente pobre, Fiódor Dostoiévski

Em italiano é só perché significando tanto why quanto because. Melhor assim, não precisa de um monte de porquês.
 
A minha edição de Gente Pobre é da Nova Aguilar, cuja tradução é indireta. Mesmo assim, segundo alguns entendidos, trata-se de uma boa tradução; destaco a observação feita no blog "Não gosto de plágio" da tradutora Denise Bottmann:
Um equívoco por muito tempo perpetuado entre nós é o de que a tradutora portuguesa Natália Nunes, incumbida da tradução das obras completas de Dostoiévski para a editora José Aguilar, teria trabalhado por interposição do inglês. Esse equívoco, eu mesma o reproduzi aqui algumas vezes, baseando-me em informações não verificadas.

Hoje constatei que Natália Nunes se baseou na tradução de Rafael Cansinos Assens, publicada em 1961 pela Aguilar espanhola (de propriedade dos irmãos de José Aguilar, proprietário da Aguilar brasileira).

Fique registrada a retificação.

Agora, voltando ao livro em si de Dostoiévski, trata-se da história que se passa em um dos bairros miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade vai trocando correspondência com uma jovem costureira, que é sua vizinha. Sendo demasiado pobres para se casarem, o amor de ambos ocorre todo e apenas por essas cartas, onde os dois personagens contam, um ao outro, os pequenos acontecimentos do dia-a-dia e onde relatam as suas vidas sofridas, refletindo individualidades tornadas insignificantes pela miséria.
 
Acabei de ler as duas primeiras cartas, uma dele e uma dela, e as impressões confirmam a sinopse. Ele fala muito no diminutivo (pombinha, invençãozinha etc.), quer bajular a menina (dar uma florzinha, uma balinha) o quanto pode o seu orçamento. Ela parece tratá-lo com um pouco mais de distância ("não, a cortina foi algo sem querer, não era nenhum tipo de sinal pra ti") e um pouco mais pé no chão. No entanto, fiquei me perguntando: quem é esse senhor? ele disse que vê ela contente e já pergunta: por onde tu andavas toda contentinha? (seria ciúmes? algum tipo de controle?) e na frase seguinte já diz que não adianta ficar triste. Quais as intenções desse senhor? Será que ela parece mais pé no chão, mas ele é quem está mais "ligado" nas coisas? Ou isso é coisada minha cabeça? Enfim, são questões que coloco ao texto agora.

Ah, trecho interessante quando ele fala do chá: "eu nem ligo pra essas coisas de chá, mas, pra manter as aparências, eu tomo".
 
Acabei de ler as duas primeiras cartas, uma dele e uma dela, e as impressões confirmam a sinopse. Ele fala muito no diminutivo (pombinha, invençãozinha etc.), quer bajular a menina (dar uma florzinha, uma balinha) o quanto pode o seu orçamento. Ela parece tratá-lo com um pouco mais de distância ("não, a cortina foi algo sem querer, não era nenhum tipo de sinal pra ti") e um pouco mais pé no chão. No entanto, fiquei me perguntando: quem é esse senhor? ele disse que vê ela contente e já pergunta: por onde tu andavas toda contentinha? (seria ciúmes? algum tipo de controle?) e na frase seguinte já diz que não adianta ficar triste. Quais as intenções desse senhor? Será que ela parece mais pé no chão, mas ele é quem está mais "ligado" nas coisas? Ou isso é coisada minha cabeça? Enfim, são questões que coloco ao texto agora.
Fiquei me fazendo as mesmas perguntas. Logo de início achei que fossem cartas assumidamente românticas, então fiquei surpreso quando ele negou esse propósito. Uma carta seguinte dela dá a entender que é ele que a sustenta (pensava que materialmente eram apenas presentinhos), e fiquei curioso para entender exatamente qual é a relação desses dois, e como tudo começou.

Confesso que não esperava me entreter tanto com esse gênero epistolar, sem ação no presente, mas com as únicas duas vezes que parei para ler já estou em 25% do livro, agora na longa carta em que ela conta o passado e liga alguns primeiros quebra-cabeças (a de 1º de junho).

E é realmente impressionante a maturidade que o Dostô já apresentava aos 24 anos.
 
Fiquei me fazendo as mesmas perguntas. Logo de início achei que fossem cartas assumidamente românticas, então fiquei surpreso quando ele negou esse propósito. Uma carta seguinte dela dá a entender que é ele que a sustenta (pensava que materialmente eram apenas presentinhos), e fiquei curioso para entender exatamente qual é a relação desses dois, e como tudo começou.

Confesso que não esperava me entreter tanto com esse gênero epistolar, sem ação no presente, mas com as únicas duas vezes que parei para ler já estou em 25%, agora na longa carta em que ela conta o passado e liga alguns primeiros quebra-cabeças.

Uma coisa que já me impressionou é a maturidade que o Dostô já apresentava aos 24 anos.
Legal. Eu não avancei muito porque usei meia horinha do almoço pra ler. Mas me irrita o jeito como ele trata ela, com tantos inhos e inhas, colocando-se "abaixo" dela. Sei não... haha
 
Legal. Eu não avancei muito porque usei meia horinha do almoço pra ler. Mas me irrita o jeito como ele trata ela, com tantos inhos e inhas, colocando-se "abaixo" dela. Sei não... haha
Haha é bem um sinal exagerado de humildade mesmo. Por sinal, esse perfil - homem pobre de meia idade, muito simples e resignado - parece ser bem recorrente em Dostoiévski. O pai de Pokrovski é um exemplo extremado, que leva a gente quase a chorar de empatia e dó. Me lembrou muito aquele alcoólatra miserável cuja família Raskólnikov ajuda, em Crime e Castigo.
 
Haha é bem um sinal exagerado de humildade mesmo. Por sinal, esse perfil - homem pobre de meia idade, muito simples e resignado - parece ser bem recorrente em Dostoiévski. O pai de Pokrovski é um exemplo extremado, que leva a gente quase a chorar de empatia e dó. Me lembrou muito aquele alcoólatra miserável cuja família Raskólnikov ajuda, em Crime e Castigo.
De fato, tem mesmo essas personagens que me despertam a desconfiança e depois são assim mesmo... boa lembrança! Talvez a escrita dele seja fruto das oscilações da paixão, misturadas com a própria miséria. Veremos...
 
Não estou tão adiantado como o @Eriadan, mas deu para perceber que, a despeito de toda penúria de recursos que enfrentava, Makar Diévuchkin age como um verdadeiro protetor da garota. Ela, por sua vez, também sempre se mostra disposta a ajudá-lo, sem se importar com os mexericos que tal relação poderia suscitar.

Assim, verifica-se que a pobreza dos personagens contrasta com a nobreza de seus sentimentos.
 
Sempre gostei de livros escritos em forma epistolar. Obras assim costumam me entreter bastante e raramente ficam focadas em detalhes inúteis e enfadonhos, geralmente é uma leitura bem agradável.
 
Na verdade eu odeio fofoca. :lol: Eu gosto do formato epistolar porque é direto ao ponto, não costumo gostar de livros que focam demais em coisas secundárias. Além disso eu gosto muito quando uma história é narrada em primeira pessoa, dá pra ter mais empatia com os personagens.
 
Na verdade eu odeio fofoca. :lol: Eu gosto do formato epistolar porque é direto ao ponto, não costumo gostar de livros que focam demais em coisas secundárias. Além disso eu gosto muito quando uma história é narrada em primeira pessoa, dá pra ter mais empatia com os personagens.
Hahaha, era brincadeira com a classe, apenas. :D
 
Estou na parte final da carta da Várvara, na qual ela conta o passado da sua vida, fala sobre seus pais e as circunstâncias que a levaram até ali.
 
Sei que é um aspecto bem secundário, mas afinal de contas eles têm um relacionamento romântico, ou é mais uma relação de amizade e mútua proteção?

Já estou em 70% do livro, e a situação de ambos só piora.

Uma coisa em que esse tipo de leitura me faz refletir - com bastante incômodo - é a incapacidade de muitos de nós, pessoas esclarecidas, de reconhecer os próprios privilégios e desenvolver empatia pelos necessitados. Não com isso necessariamente se tornar filantropo, mas ao menos apoiar políticas públicas que amenizem a desigualdade ou a penúria, mesmo que em ligeiro detrimento próprio.
 
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