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“Caso Queermuseu mostra que são tempos de intolerância. Da direita, mas também da esquerda”

Grimnir

Well-Known Member
E essa treta tretuda, hein?

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No último domingo, a exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que estava em cartaz há quase um mês no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada pelo banco após uma série de protestos nas redes sociais. Na visão dos manifestantes, a mostra fazia apologia à pedofilia e zoofilia além de ser ofensiva à moral cristã. A campanha pedindo o fechamento da mostra foi articulada principalmente pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e grupos religiosos.

A polêmica em torno da exposição, que apresentava trabalhos que discutiam diversidade de gêneros e de sexualidade, acabou acendendo o debate sobre os limites das expressões artísticas e a censura. Isso, no entanto, não parece ter pego de surpresa Cássio Oliveira, doutor em Estética e Filosofia da Arte pela UFMG. Para ele, o fechamento prematuro da mostra só foi praticado porque hoje nós temos um contexto de pouco apreço à liberdade de expressão, que ameaça o poder transgressor da arte.

Pergunta. Existe limite para a liberdade de expressão na arte?

Resposta. Em princípio, não existiria um limite. A arte deve e pode falar sobre tudo que ela quiser. Isso não significa que a liberdade de alguns artistas não seja limitada por alguns aspectos pontuais. Por exemplo, se você tem uma obra de arte que, para ser feita, vai causar algum tipo de transtorno em alguém ou algum ser, você precisa ponderar se vale a pena ou não. Vale a pena fazer uma obra de arte que fará alguém sofrer? Imagina uma instalação que vai colocar uma pessoa numa caixa duas semanas, onde ficará isolada e vai sentir angústia, porque quero representar angústia. Acho que nem tudo é possível e nem tudo pode ser feito. Você não pode matar alguém e falar que é uma obra de arte. Esses limites são bem pontuais e não foi o caso de Porto Alegre em que uma exposição inteira foi cancelada.

P. Uma das principais críticas dos grupos que pediram o fim da mostra foi que ela fazia apologia à pedofilia e a zoofilia. O que fez, inclusive, um promotor ir ao local verificar a acusação, o que não foi constatado.

MBL e logo se espalhou. Mas isso não confere com a obras. Quando você vê algumas das que causaram polêmica, como a da Adriana Varejão, não se trata de zoofilia ou pedofilia. Até mesmo um promotor foi ao local e disse que não era. Do ponto de vista legal, não se trata disso. Do ponto de vista estético, da crítica de arte tampouco. Existe uma mistificação sobre o que uma obra de arte pode dizer. E o MBL e os grupos que fizeram pressão para que a mostra fosse encerrada se aproveitaram disso. Divulgaram essa leitura como se fosse óbvia quando ela não é. Se a gente voltar na história da arte, vamos ver muitas obras que tratam de sexo e erotismo. Muito já se falou, por exemplo, da obra de Vladimir Nabokov, Lolita. O livro não é uma apologia à pedofilia, é um romance. Essa passagem do tema para ideia de apologia não faz sentido. Foi uma estratégia política de quem estava interessado em fechar a mostra e contrariar quem se identifica com a mostra. Acho que houve uma abordagem política que sobrepõe o valor estético. A interpretação pela via da política é: essa obra é degenerada, ela representa afronta aos valores ocidentais, logo ela é de esquerda. Aí a direita combate isso e tudo tende a se reduzir ao fator político.

P. Na sua opinião, o que houve foi censura ou boicote como alegam os movimentos contrários à exposição?

R. O resultado de toda essa polêmica e da decisão final foi censura. Não foi simplesmente um boicote. Ainda que a censura não tenha sido assumida como objetivo pelos que disseram que a mostra não deveria existir, isso já está implícito no simples fato de haver um salto entre afirmar que as obras são ruins ou que são criminosas e a ideia que você não deve exibir isso. O argumento possível é: essas obras são criminosas então não devem ser exibidas. No momento que esse argumento é desconstruído, porque é falacioso, a única coisa que resta é: essas obras me desagradam porque são provocativas, porque elas ferem valores meus, logo não deve ser exibida. Esse raciocínio, para mim, é um pensamento de censor. E ele só foi praticado porque nós temos um contexto de pouco apreço à liberdade de expressão. Particularmente não acho que o artista tenha a obrigação de falar com o grande público. Acho que ele pode esperar que o grande público procure decifrar as sutilezas da obra sem que ele tenha que render às formas expressivas muito comuns. Não acho que seja uma obrigação do artista fazer concessão ao público para que a obra seja mais acessível. Acho, no entanto, que movimentos organizados a partir do liberalismo deveriam ter a obrigação de atender à liberdade de expressão.

P. Um dos argumentos para pedir o fechamento da mostra foi que ela era aberta ao público infantil. Faltou classificação etária na mostra?

R. Sim, toda essa discussão poderia ser resolvida levantando a pauta da classificação indicativa. Não seria o caso de rever como as obras estão expostas se existe uma insatisfação importante do público? A classificação indicativa é um instrumento para resolver questões de desacordo à liberdade de expressão. Isso pouco se falou, não houve uma mobilização sobre esse tema. O que tivemos foi uma mobilização forte para que cancelasse a mostra. E que comemorou esse desfecho. Essas pessoas disseram: foi meu direito protestar e o banco fez bem em atender isso. Era possível defender a liberdade das obras serem expostas e ao mesmo tempo criar uma solução para essas pessoas que se sentem ofendidas quando vão apreciar essas obras. Por que não se falou em classificação indicativa? Por que essa mostra foi cancelada? Para mim é um sintoma de falta de liberdade de expressão e de um ambiente propício a censura.

P. Santander encerrar a mostra abre precedente para novos protestos contra a arte?

R. Acho que ela faz parte de uma série de acontecimentos relativos a falta de apreço à liberdade de expressão dos últimos tempos. Como foi o caso do festival audiovisual de Pernambuco, o Cine PE, em que cineastas de esquerda tiraram seus filmes da mostra porque não queriam que eles fossem exibidos com filmes de direita, ligados a perspectivas liberais e conservadoras. Eles têm todo o direito de não querer exibir seus filmes, mas veja como isso é contraditório. Você faz um filme e não vai exibi-lo por uma questão ideológica, que você não quer se misturar com alguém que tem uma ideologia diferente. Isso também é sintoma de uma trajetória recente e acho que a gente vai ter mais. Se continuarmos a ter uma realidade que divide as pessoas e cria condições políticas como a que estamos vivendo vamos, cada vez mais, ter casos assim. Acho que acompanha o humor da sociedade.
 
É, o Rodrigo Cássio resumiu bem as coisas. Confesso que fui criando uma preguiça de falar desse assunto. Quando você percebe que seu interlocutor não está minimamente interessado em fazer distinções simples ao se colocar frente uma obra de arte, fica difícil refazer o trabalho do zero pra só aí debater...

A única coisa que eu queria entender melhor é porque diabos estão acusando uma mostra destas de ter sido feitas às expensas do dinheiro do contribuinte. Ouvi dizer que ela foi financiada pelo mecanismo da Lei Rouanet. Ué: a Lei Rouanet opera a partir de deduções fiscais. Não existe investimento público. Não vejo como isso seria capaz de onerar o contribuinte. Claro que é uma grana que deixa de ser coletada pra, sei lá, construir hospitais, escolas e estátuas do Lula -- se bem que como o estado também deve promover um meio cultural rico, então acho que fica no elas por elas. Enfim. Não saquei direito como tá sendo a crítica feita neste sentido. Acho que muita gente não entende direito como a Lei Rouanet funciona e tá aí esbravejando.

De todo modo, é como eu disse na minha rede social: não teve crime pois faltou dolo específico capaz de configurar o delito da última parte do 208 do CP. Ou seja: só é vilipêndio a objeto de culto se existe o propósito específico e inequívoco de vilipendiá-lo. Se o propósito for o de fazer arte, fazer uma piada, fazer uma crítica ou sei lá mais o quê, o dolo é considerado como genérico e impede que a tipicidade se configure. Logo, sem crime. Sei que tem gente por aí, por exemplo o Olavo, fazendo cabriolas pra tentar encaixar a conduta no tipo penal, dizendo que se o conteúdo da obra é instrumento de vilipêndio e se ele não é neutralizado pela forma estética e blablablá. Tudo conversinha. A exigência penal é clara e que ótimo que é clara. Se formos seguir essas ideias de jerico, então abrimos uma brecha enorme pra que um festival de criminalizações estapafúrdias sejam pretendidas, com gente querendo colocar no xilindró quem fez piada ou então quem escreveu, sei lá, um poema satírico.
 
Ó título da matéria é bem tendencioso. Compara dois fatos bem díspares. Os cineastas não quiseram fechar a amostra por causa do conteúdo, só se retiraram, assim como seria direito de algum artista se retirar da exibição por conter obras com as quais ele/a não se identificava. Atletas americanos se negaram a participar das olimpíadas de Moscou de 1980, por boicote. Não exigiram o cancelamento das Olimpíadas por serem contra o comunismo.

Também acho a Lei Rouanet complicada, pois ela só existe por ser sabido que as empresas vão sonegar os impostos (afinal imposto é roubo, né?, sonegação é apenas uma devolução do seu dinheiro, seu direito). menos mal que esse dinheiro retorne em forma de cultura.
 
Acho que o ponto não é nem esse. Direito por direito as pessoas também têm de boicotar o que lhes pareça censurável, principalmente num âmbito de relações de mercado. Não foi censura o que ocorreu com o Queermuseu, o que também me parece importante ressaltar. Foi birra, dessas que espantam pelo moralismo -- a mesma que existiu em relação aos cineastas de esquerda que saíram durante exibição do filme. Concordo que é uma postura menos danosa, digamos assim, mas é artisticamente tacanha do mesmíssimo jeito. E não só. Lanço até a provocação: se esses cineastas que se levantaram e saíram tivessem algum poder decisório que fosse, vc acha mesmo que eles deixariam o filme sobre o Olavo integrar a programação do festival?
 
A única coisa que eu queria entender melhor é porque diabos estão acusando uma mostra destas de ter sido feitas às expensas do dinheiro do contribuinte. Ouvi dizer que ela foi financiada pelo mecanismo da Lei Rouanet. Ué: a Lei Rouanet opera a partir de deduções fiscais. Não existe investimento público. Não vejo como isso seria capaz de onerar o contribuinte. Claro que é uma grana que deixa de ser coletada pra, sei lá, construir hospitais, escolas e estátuas do Lula -- se bem que como o estado também deve promover um meio cultural rico, então acho que fica no elas por elas. Enfim. Não saquei direito como tá sendo a crítica feita neste sentido. Acho que muita gente não entende direito como a Lei Rouanet funciona e tá aí esbravejando.

Foi financiada diretamente com recursos públicos? Não, dado que a captação foi de recursos privados. Porém, uma vez que há isenção fiscal, o banco precisou captar menos recursos privados (caso tivesse que recolher imposto). Entendo que há algum recurso público (muito, mas muito menos que o montante final), pois a operação seria equivalente ao banco recolher imposto e o governo devolver o imposto como investimento. Definitivamente não foi uma exposição feita única e exclusivamente com recursos públicas. Mas há recursos públicos indiretamente.
** Posts duplicados combinados **
Acho que o ponto não é nem esse. Direito por direito as pessoas também têm de boicotar o que lhes pareça censurável, principalmente num âmbito de relações de mercado. Não foi censura o que ocorreu com o Queermuseu, o que também me parece importante ressaltar. Foi birra, dessas que espantam pelo moralismo -- a mesma que existiu em relação aos cineastas de esquerda que saíram durante exibição do filme. Concordo que é uma postura menos danosa, digamos assim, mas é artisticamente tacanha do mesmíssimo jeito. E não só. Lanço até a provocação: se esses cineastas que se levantaram e saíram tivessem algum poder decisório que fosse, vc acha mesmo que eles deixariam o filme sobre o Olavo integrar a programação do festival?

Acho que a principal diferença em relação ao caso dos cineastas, é que tudo o que o banco não quer é polêmica. Arrisco até a dizer que talvez a alta direção do banco não tenha se informado direito sobre o conteúdo da exposição (posso estar falando merda, não pesquisei sobre isso). Diferente de um banco, cinemas, museus, revistas, jornais gostam de uma certa polêmica, gostam quanto o assunto gera controvérsia.

Enfim, ainda no mesmo assunto, eu achei meio bizarro o video do provocador do Mamaefalei.


Não é uma exclusividade dos movimentos de esquerda, mas como o video trata desse grupo, vou comentar sobre ele. Eu achei que uma resposta natural à pressão dos conservadores seria uma pressão equivalente ou maior daqueles que gostariam sim de ver a exposição. Manifestações de apoio, exaltando a arte, a importancia da exposição, da liberdade de expressão e etc. No entanto, a manifestação acima foi contra a censura. Eu concordo que não houve censura estrito senso, pq seria necessária uma lei ou uma decisão do jurídico (como foi no caso recente contra um peça de teatro onde um transsex atua como Jesus - um claro caso de censura), mas, ao mesmo tempo, acho meio inocente pensar que o caso do Santander foi um perfeito exemplo de liberdade. Foi um caso de minorita organizada e barulhenta ganhando no grito, como a esquerda muitas vezes faz. E uma vez que o povo aí no video focou na narrativa da censura, acho que meio que se fudeu, pq o Arthur ficou lá na provocação mongol dele, enquanto o cerne da questão era outro. Liberdade de expressão requer expressão. Se vc quer a exposição, se organize e se manifeste.
** Posts duplicados combinados **
Justiça cancela apresentação de peça que traz Jesus como mulher trans

Isso é censura.
 
Parece que a alta cúpula do Santander não aprovou não, Grimnir. Veja o que diz o presidente da empresa:

http://www.gazetadopovo.com.br/idei...ia-desde-a-ditadura-7bbi4wi8x5ablvnf2uj2tujmo

Concordo contigo que a manifestação do MBL tá longe de ser um bom exemplo de liberdade de expressão, afinal de contas ela suprime outras formas de expressão diante da mostra, por exemplo a liberdade de crítica, haja vista que ela sabota o circuito crítico: se algo não é exposto, não é lido e portanto não é criticado.

Agora só quanto a isso do investimento público. Ainda que indireto, isso nos leva à velha questão sobre investimentos públicos no campo da arte: devemos financiar só o que agrade a maioria? Afinal de contas existiram pessoas que se viram ofendidas com a arte que dá umas cutucadas na mística cristã. Logo, se existe investimento público pelo menos indiretamente, parece a princípio razoável que as pessoas não queiram ver a máquina pública contribuindo com o que ofenda parcela (ao que tudo indica parcela considerável) da sociedade. O que pensam desse ponto?
 
Parece que a alta cúpula do Santander não aprovou não, Grimnir. Veja o que diz o presidente da empresa:

http://www.gazetadopovo.com.br/idei...ia-desde-a-ditadura-7bbi4wi8x5ablvnf2uj2tujmo

Concordo contigo que a manifestação do MBL tá longe de ser um bom exemplo de liberdade de expressão, afinal de contas ela suprime outras formas de expressão diante da mostra, por exemplo a liberdade de crítica, haja vista que ela sabota o circuito crítico: se algo não é exposto, não é lido e portanto não é criticado.

Agora só quanto a isso do investimento público. Ainda que indireto, isso nos leva à velha questão sobre investimentos públicos no campo da arte: devemos financiar só o que agrade a maioria? Afinal de contas existiram pessoas que se viram ofendidas com a arte que dá umas cutucadas na mística cristã. Logo, se existe investimento público pelo menos indiretamente, parece a princípio razoável que as pessoas não queiram ver a máquina pública contribuindo com o que ofenda parcela (ao que tudo indica parcela considerável) da sociedade. O que pensam desse ponto?

Não entendi seu comentário. Pelo conteúdo do documento interno, a alta cúpula tinha total consciência do conteúdo da exposição. Eles deram pra trás (e mentiram no comunicado público no FB) receando a integridade física das agências e do próprio espaço cultural (a história de que eles perderm 20 mil correntistas é mentirosa). E eu concordo com ele: Faltou a defesa ativa da exposição.

Sobre incentivo público, sinceramente eu não sei. Tendo a achar que não deveria ter incentivo algum. De qualquer forma, não tenho opinião formada.
 
Sobre a questão da censura: a ação do MBL não é censura estatal, nem é censura prévia, mas não há erro no uso do termo, que corresponde à ação em mais de um sentido.

Acho detestáveis as formas de propaganda e de atuação do MBL. A distorção de conceitos e a descontextualização que eles fazem são de tirar do sério. Aliás, poucas coisas têm tanto potencial nocivo quanto um grupo de imbecis equipado com linguagem e eloquência buscando resolver os problemas de um país.
 
Eu vejo tudo como uma grande briga de egos ideológicos, pois ao meu ver ninguém está realmente preocupado com as liberdades individuais.

As partes mais conservadoras atuaram com o intuito não apenas de alertar sobre o conteúdo, que eles acusam de ser imoral, mais com a vontade de que o conteúdo fosse realmente retirado de circulação, e conseguiram. Ai entraram os grupos mais a esquerda e ao invés de brigar, como já foi dito acima, pela reabertura e chamar a discussão pros lados da liberdade de expressão, resolveram simplesmente atacar diretamente as instituições religiosas e o MBL.

A verdade é que ninguém se importa com os direitos alheios, e sim com suas próprias vontades e visões de mundo perfeito, e isso só tem resultado em autoritarismo, e não em lugares mais liberais.
 
Cheguei a ter uma conta nesse banco uns dez anos ou mais na época que fui bolsista.

Focando o lado de artistas introduziria uma observação no que o professor tratou sobre a busca, talvez utópica, de avaliar a totalidade da arte dentro da lei (essa questão costuma dar pano para manga lá fora).

A lei que fiscaliza a arte em certos momentos não teria como saber nem interferir (áreas cinzentas). Isso porque a subversão e a rebeldia (incluindo perversão) tem sido matérias muito presentes em trabalhos já há séculos sem ter sido eliminada. Por exemplo, se um rei (uma discussão como a luta contra a pedofilia/zoofilia ou o cristianismo) já estiverem queimados na mão de um artista ele pode ser publicamente ambíguo em sua mostra ainda que tendo a clara intenção de derrotar ou quebrar uma lei. O efeito costuma ser um grande barulho, ainda que sem confirmação.

Certos pontos da história tendem a reunir uma maior número de forças subversivas. Rebeliões de escravos no império romano ou artistas sem dinheiro no Japão tinham poucos recursos, eram movimentos sociais com uma união de pessoas com interesses bastante marcados que podiam divergir tanto quanto o trabalhador alemão pré segunda guerra em relação ao trabalhador soviético de 1917. Nessas ocasiões históricas a onda social explora a ruptura sem necessariamente ter laços com a realidade, para afirmar um ponto.

Em um movimento de arte que busque representar segmentos populares marginalizados tão desiguais entre si alguns artistas teriam a idéia bem clara, outros nem tanto. Alguns podem fazer a obra já tendo de antemão a opinião da discussão seqüestrada (apesar de nunca descobrirem eles seriam artistas engajados em causas) enquanto outros fariam apenas por fazer.

De certeza há que os mecanismos para se descobrir tendências em obras são difusos porque oferecem pistas (por exemplo, aferir as filiações partidárias dentro de protestantes contra e a favor, dentro do evento, do Ministério da Cultura, etc...) e porque nem sempre o próprio artista sabe o que quer até mesmo artistas tarimbados.

O contexto é turbulento e vejo inclusive uns arroubos românticos nas raízes dele. Interessa ver como os artistas de movimentos sexuais absorvem ou evitam as armadilhas ou pontos fortes dos movimentos de arte anteriores.
 
Texto do Pablo Ortellado que saiu na Folha:

MBL promove intolerância e intimidação de adversários

Uma exposição sobre diversidade sexual no Santander Cultural em Porto Alegre, com obras de Leonilson, Adriana Varejão, Lygia Clark e Portinari foi fechada no último domingo (10) depois de uma campanha iniciada pelo MBL que a acusou de promover a pedofilia e a pornografia. O Santander decidiu suspender a exposição depois de uma chuva de mensagens de protesto e de ativistas de direita atacarem e agredirem verbalmente artistas e visitantes, chamando-os de tarados, pedófilos e pervertidos.

O MBL nasceu como um pequeno agrupamento liberal, originário do movimento estudantil e quando se lançou na vida pública, se dizia apartidário. Mas depois de convocar e liderar as manifestações anticorrupção, se converteu em uma ampla rede de ativistas de direita, uma página de Facebook com grande audiência e uma força política emergente que está estreitando vínculos com os partidos políticos tradicionais. Recentemente, trocou a ênfase do liberalismo pelas guerras culturais e tem empregado contra os adversários odiosas formas de agressão moral e intimidação.

As principais lideranças do MBL vieram do movimento estudantil de São Paulo e se encontraram em 2014 na organização da campanha a deputado estadual de Paulo Batista, o liberal do "raio privatizador". Inspirados pela esquerda cultural, queriam dar uma roupagem moderna e jovial ao liberalismo, tornando-o atraente para as novas gerações.

Quando ganharam proeminência pela primeira vez, em 2015, recusavam-se a se pronunciar sobre temas morais como o aborto ou legalização das drogas, evitando dividir o público que queriam atrair para o liberalismo. Mais tarde, porém, descobriram que as chamadas "guerras culturais" eram um ótimo instrumento de mobilização e que por meio do discurso punitivista e contrário aos movimentos feminista, negro e LGBTT podiam atrair conservadores morais para a causa liberal. Abraçaram então pautas como o aumento do encarceramento, o combate às cotas raciais e a Escola Sem Partido.

Assim, de face jovem que revigoraria o liberalismo brasileiro se converteram rapidamente numa espécie de tropa de choque conservadora. Nada mais sintomático dessa conversão do que ainda carregar o "livre" no nome ao mesmo tempo em que celebram a censura a uma exposição artística.

As táticas de intimidação que foram usadas na exposição em Porto Alegre não são novidade para o grupo. Eles tem sistematicamente agredido e intimidado jornalistas, professores, estudantes e qualquer tipo de adversário.

Uma organização jornalística que apura a veracidade de informações ("fact-checking") solicitou a fonte dos dados de uma campanha do MBL e recebeu como resposta a foto de um pênis de borracha com a inscrição "check this"; quando o ministro Teori Zavascki remeteu os processos de Lula para o STF, manifestantes ligados ao MBL foram até a porta da sua casa e o chamaram de "bolivariano"; uma professora que daria curso sobre sociologia dos movimentos sociais na USP teve que acionar a segurança para poder iniciar o seu curso depois que o MBL publicou sua foto e a acusou de fazer uma "pós-graduação em protestos"; pais de estudantes que ocupavam escolas em Curitiba tiveram que fazer vigílias depois que ativistas adultos ligados ao MBL iniciaram campanhas de "desocupação" e fizeram ameaças às crianças e adolescentes; jornalistas da CBN, UOL, Globo, Catraca Livre e Buzzfeed foram atacados e intimidados porque, para o MBL, faziam "fake news".

A estratégia é sempre a mesma. Quando encontram alguém que tomam por adversário, ao invés de fazerem a batalha das ideias, com contra-argumentos direcionados à persuasão do público, preferem desqualificar e intimidar.

O primeiro passo é produzir uma manchete sensacionalista para uma matéria no site Jornalivre e compartilhá-la pela página do grupo no Facebook, dando a senha para sua rede de seguidores começar a agir. Em seguida, o alvo recebe dezenas de ataques que podem ser apenas mensagens e emails de ódio, mas frequentemente incluem também ameaças de agressão —nos casos mais graves, como nas ocupações de Curitiba ou na exposição em Porto Alegre, ativistas intimidam os adversários no local diretamente. Também é comum que, em meio ao constrangimento, filmem a ação para expor os adversários nas redes sociais, celebrando a "vitória" e retroalimentando o circuito de ódio e intolerância.

O crescimento da organização depois dos protestos contra Dilma permitiu que criassem uma rede de ativistas com boa penetração no território brasileiro e seu domínio nas redes sociais tem feito com que seu passe seja disputado pelas forças políticas tradicionais, num arco que vai do PSDB ao DEM, passando pelo PMDB e pelo PPS. Nas últimas eleições fizeram alguns vereadores e conseguiram um bom número de cargos em administrações municipais e estaduais, além de se vincularem ao atual prefeito de São Paulo, o presidenciável João Dória (PSDB).

Aqueles que zelam pela democracia e estavam preocupados com a ascensão nas intenções de voto do ex-capitão do exército que despreza os direitos humanos, não vê problema com a tortura e dá declarações odiosas sobre gays, negros e mulheres, agora tem pelo menos mais um motivo para se preocupar.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/coluna...tolerancia-e-intimidacao-de-adversarios.shtml
 
As postagens do Feriado é de dar pena de tão baixas, tudo pela modus operandi do MBL Nunca vi as do Kata mas provavelmente devem ser no mesmo estilo.
 
Texto do Pablo Ortellado que saiu na Folha

E a direita liberal continua com zero representatividade. Aliás, quando o Novo começou a dar as caras no FB, lembro de ter perguntado para os caras quais eram as opiniões deles sobre drogas, aborto e etc, enfim, sobre temas diretamente relacionados às liberdades individuais. A resposta da página oficial foi que eles estavam focados, até o momento, somente na liberdade econômica, não versando sobre os outros temas. Achei curioso um partido querer entrar na política brasileira sem posições sobre o tema, mas enfim, deixei quieto. Eis que semana passado eu vejo um vídeo do vereador Leandro Lyra, do Novo, aqui do Rio de Janeiro, atacando a temática da exposição. Enfim, nada mais velho que o Novo.
 
E a direita liberal continua com zero representatividade. Aliás, quando o Novo começou a dar as caras no FB, lembro de ter perguntado para os caras quais eram as opiniões deles sobre drogas, aborto e etc, enfim, sobre temas diretamente relacionados às liberdades individuais. A resposta da página oficial foi que eles estavam focados, até o momento, somente na liberdade econômica, não versando sobre os outros temas. Achei curioso um partido querer entrar na política brasileira sem posições sobre o tema, mas enfim, deixei quieto. Eis que semana passado eu vejo um vídeo do vereador Leandro Lyra, do Novo, aqui do Rio de Janeiro, atacando a temática da exposição. Enfim, nada mais velho que o Novo.
Vou te dizer: dos que se dizem liberais, que eu conheço, você e o @Fëanor são os únicos que eu respeito. Coisa mais comum é o cara se dizer liberal e defender as maiores afrontas a liberdades civis. Eu defendo que o Estado tem papel essencial na economia de países como o Brasil e sou muito mais liberal que qualquer deles.
 
Última edição:
Achei engraçado o MBL mesmo, argumentando a exposição de criancinhas a conteúdo sexualmente explícito, pedofilia e não sei o que e com isso justificando o boicote.

Ora, se o MBL é um movimento liberal, tem que defender a maior liberdade dos indivíduos que não agrida aos direitos do outro. Portanto, bastaria defender que o banco restringisse o acesso à exposição a maiores de 18 anos, e não a interrupção da própria.

Quanto ao argumento anti-Lei Rouanet, pô, aí tem que protestar é contra toda e qualquer manifestação cultural patrocinada pela mesma, goste-se dela ou não. Pegar no pé de uma em específico sinaliza que você tem valores típicos de quem se ofende com a própria (leia-se conservadores), e não que você preza pela liberdade econômica do contribuinte obrigado a sustentar a mostra.

Mas é natural que o MBL acolha pautas conservadoras. Existe uma grande interseção liberal-conservadora dentro do espectro político, e faz parte da natureza dos movimentos políticos correr atrás de apoiadores/eleitores de orientação ideológica adjacente. Especialmente no caso do MBL, que é algo que não tem muito bem uma identidade permanente e uma estrutura muito rígida.

EDIT: E esse caso ilustra, de forma interessante, porque um governo ou um agente privado não pode levar a voz das ruas muito a sério como o eco de toda a população. O domínio das ruas e dos discursos públicos em geral tendem a ser instáveis e muito propenso a representar opiniões mais radicais que aquelas da média, especialmente em momentos politicamente tensos. A partir da hora em que um grupo domina, pode ser que o outro se cale junto com os moderados, gerando uma maioria silenciosa.

O Santander cancelou a exposição com medo de danos à sua imagem ante às manifestações de MBL, reaças e companhia, mas acabou também perdendo muitos clientes e sofrendo repercussão negativa com a decisão de fechar a exibição. No fim das contas, era melhor manter a mostra aberta, já que, se é para perder freguês de qualquer jeito, pelo menos se demonstraria colhões.
 
Última edição:
E a direita liberal continua com zero representatividade. Aliás, quando o Novo começou a dar as caras no FB, lembro de ter perguntado para os caras quais eram as opiniões deles sobre drogas, aborto e etc, enfim, sobre temas diretamente relacionados às liberdades individuais. A resposta da página oficial foi que eles estavam focados, até o momento, somente na liberdade econômica, não versando sobre os outros temas. Achei curioso um partido querer entrar na política brasileira sem posições sobre o tema, mas enfim, deixei quieto. Eis que semana passado eu vejo um vídeo do vereador Leandro Lyra, do Novo, aqui do Rio de Janeiro, atacando a temática da exposição. Enfim, nada mais velho que o Novo.

Liberalismo pro MBL é pagar menos imposto e só. Boa parte dessa "nova direita" que vem crescendo no Brasil, nada mais é que uma reação conservadora. Isso fica claro pelo blog Senso Incomum que volta e meia eu leio e escuto o podcast, e pelo que escreveu o Rodrigo Constantino, que se julga um puta liberal, e que foi atacado pelo próprio instituto liberal (Mas não por causa do que escreveu sobre a exposição)

Mas o mais estranho de tudo, foi ver que revistas como ISTOÉ e VEJA que claramente tem tem viés conservador, atacarem diretamente o movimento patrocinado por "MLB e movimentos religiosos". Infelizmente não posso likar as notícias aqui, pois foram circuladas na revista, e só tenho acesso no meu trabalho.

Outra coisa, essa mais relacionada ao tópico, a auto denominada Bancada Cristã em BH ta ganhando uma força boa na câmara e não tem medo nenhum em dizer que vai usa-la para garantir o que julga ser correto, nas palavras do vereador Jair Di Gregório “Se o secretário de Cultura (Juca Ferreira) trouxer a mostra, vamos para rua, junto com as famílias, para barrar. Pode nos taxar do que quiser. Pode falar que está censurando, o que for, mas não vai acontecer em BH de jeito nenhum”.

Enfim
 
Aqueles movimentos de 2013 foram um tiro no pé da democracia, "o gigante acordou" e com sono só fez merda. Surgiu o MBL, renasceu o conservadorismo no Brasil, o país regrediu.
 
Aqueles movimentos de 2013 foram um tiro no pé da democracia, "o gigante acordou" e com sono só fez merda. Surgiu o MBL, renasceu o conservadorismo no Brasil, o país regrediu.

Claro! Porque gente na rua protestando - em torno de pautas progressistas, diga-se - é péssimo pra democracia...
Tudo começou com os protestos em torno do aumento de tarifa dos ônibus. Criticava-se os cartéis, reivindicava-se o direito ao acesso à cidade.
Até então quem estavam nas ruas eram os mesmos de sempre. A militância dos partidos de esquerda e alguns movimentos sociais. O MPL surge a partir dessas bases.
O movimento ganhou enorme proporção e se alastrou como reação à operação de guerra que a polícia militar de São Paulo lançou contra os manifestantes no dia 12 de junho, tamanha a brutalidade. De uma hora pra outra, passou-se de algumas centenas de manifestantes às centenas de milhares e, um fato novo, mesmo cidades de pequeno porte aderiram aos protestos.
Em diversas partes, conseguiu-se revogar os aumentos de tarifa e outras agendas foram ganhando centralidade - notadamente a questão dos Mega Eventos, a Copa das Confederações que então ocorria e a Copa do Mundo e as Olimpíadas que estavam por vir. Denunciou-se os processos arbitrários de desocupação de dezenas de milhares de famílias, à mercê da especulação imobiliária e de governos a ela associados; e os comitês populares da Copa ganharam alguma visibilidade. Em meio a isso, criticava-se também a construção dos "elefantes brancos", as mortes de trabalhadores nas obras voltadas para o evento, entre outras coisas.
Outras questões com bastante apelo, como a corrupção e outras mais, também deram o tom dos protestos.
A questão é que, com a massificação havida, as pautas se tornaram difusas. Naturalmente, tinha muito de entusiasmo, de calor do momento, de despolitização, de um sentimento não elaborado de "somos contra tudo isso que está aí". E é claro que você tem a adesão de gente que nunca tinha pisado num protesto e de setores conservadores da população - e falo aqui desse conservadorismo difuso no âmbito dos costumes do qual participa, inclusive, a classe trabalhadora.
É claro que 2013 falhou em evoluir para um sentido mais orgânico e propositivo, sendo uma experiência que se esgotou em si mesma. Mas daí a negar o valor dessa experiência, na qual as bandeiras que prevaleceram eram marcadamente progressistas, me parece a típica arrogância intelectual de certa esquerda que quer negar às massas o papel de agentes de sua própria emancipação. De qualquer forma, os movimentos de 2013 começaram a entrar em colapso depois da morte do cinegrafista Santiago, o que acabou afastando as pessoas da rua... você deve se lembrar.
Certo petismo, de maneira geral, lida muito mal com as manifestações que eles não controlam. Os sindicados pelegos e os movimentos sociais encabrestados, de maneira geral, mantiveram-se afastados ou assumiram uma posição dúbia naquele processo. Teve blogueiro ligado ao PT celebrando a repressão da tropa de choque - o mesmo blogueiro, aliás, que admitiu ter manipulado imagens pra pintar um black block como neonazista e hoje diz que junho de 2013 pariu o MBL e a "onda conservadora"; teve nego dizendo que aquilo era o ovo da serpente do fascismo, que se estava desgastando o governo Dilma, fazendo o jogo da direita e toda aquela cantilena que já então era velha. A derrota da esquerda não foi gestada nas ruas, em 2013. Haja teleologismo...
 
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Mas daí a negar o valor dessa experiência, na qual as bandeiras que prevaleceram eram marcadamente progressistas, me parece a típica arrogância intelectual de certa esquerda que quer negar às massas o papel de agentes de sua própria emancipação.

Lembrei de uma certa capa de uma certa revista...
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E a direita liberal continua com zero representatividade. Aliás, quando o Novo começou a dar as caras no FB, lembro de ter perguntado para os caras quais eram as opiniões deles sobre drogas, aborto e etc, enfim, sobre temas diretamente relacionados às liberdades individuais. A resposta da página oficial foi que eles estavam focados, até o momento, somente na liberdade econômica, não versando sobre os outros temas. Achei curioso um partido querer entrar na política brasileira sem posições sobre o tema, mas enfim, deixei quieto. Eis que semana passado eu vejo um vídeo do vereador Leandro Lyra, do Novo, aqui do Rio de Janeiro, atacando a temática da exposição. Enfim, nada mais velho que o Novo.

Vou te dizer: dos que se dizem liberais, que eu conheço, você e o @Fëanor são os únicos que eu respeito. Coisa mais comum é o cara se dizer liberal e defender as maiores afrontas a liberdades civis. Eu defendo que o Estado tem papel essencial na economia de países como o Brasil e sou muito mais liberal que qualquer deles.

Liberalismo clássico não dá audiência. E digo liberalismo clássico porque talvez seja o que mais se aproxima de um entendimento amplo de liberdades (em sua dimensão negativa: liberdade de, não liberdade para), colocando liberdades econômicas, políticas e sociais num mesmo nível. Há vertentes mais recentes e radicais que colocam a liberdade econômica acima das outras e, no frigir dos ovos, acabam dando espaço para essas visões que jogam as liberdades sociais para escanteio. É nessas que o conservadorismo vulgar se alia com o liberalismo de boteco que tanto vemos por aí, e que pode ser sumarizado pelo MBL.
 

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