Meia Palavra
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Sob o pseudônimo de Currer Bell, Charlotte Brontë (1816 – 1855) publicou seu romance intitulado Jane Eyre e alcançou sucesso imediato, gerando muitas especulações sobre sua verdadeira identidade e sexo. Neste romance, além da excepcionalidade (considerado sua obra prima), Charlotte inseriu no mundo literário um novo tipo de personagem feminino, o que não mais assume o estereótipo submisso, frívolo e instável, mas o que é forte, que tem necessidades artísticas e intelectuais, que não se contenta com as possibilidades limitadoras impostas a sua vida. Por esse motivo e por certa semelhança da narrativa com a vida da própria escritora, tende-se a ver a obra por um viés feminista ou biográfico, mas estes nem sempre são considerados pertinentes.
Ainda criança, Jane é maltratada pela orfandade e pela necessidade de caridade. E a caridade, naquele tempo, era vista com maus olhos, significava rebaixamento. Estamos na época das poorhouses/workhouses, nas quais eram encerrados mendigos, órfãos, pedintes, loucos ou qualquer um que perambulasse pelas ruas causando “transtorno”. Em Paris, por exemplo, a esmola chegou a ser proibida por lei, por ser considerada um fomento à vagabundagem. E dentro deste contexto, Jane Eyre é vista como sendo (na casa da tia, onde morou até ser mandada para uma escola caritativa) pior do que uma serviçal, é igualada a um “rato”. Adulta, consegue “tomar conta de si mesma” e torna-se tutora da protegida do Sr. Rochester, apaixonando-se pelo último. Mas todo esse sofrimento (e o que enfrentará depois), a impotência e a vulnerabilidade de Jane Eyre, são artisticamente contrabalançados com sua força espiritual. Ela, mesmo sendo solitária no mundo, pobre e mulher, recusa-se a sofrer passivamente e insiste na sua auto-afirmação como indivíduo digno.
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Ainda criança, Jane é maltratada pela orfandade e pela necessidade de caridade. E a caridade, naquele tempo, era vista com maus olhos, significava rebaixamento. Estamos na época das poorhouses/workhouses, nas quais eram encerrados mendigos, órfãos, pedintes, loucos ou qualquer um que perambulasse pelas ruas causando “transtorno”. Em Paris, por exemplo, a esmola chegou a ser proibida por lei, por ser considerada um fomento à vagabundagem. E dentro deste contexto, Jane Eyre é vista como sendo (na casa da tia, onde morou até ser mandada para uma escola caritativa) pior do que uma serviçal, é igualada a um “rato”. Adulta, consegue “tomar conta de si mesma” e torna-se tutora da protegida do Sr. Rochester, apaixonando-se pelo último. Mas todo esse sofrimento (e o que enfrentará depois), a impotência e a vulnerabilidade de Jane Eyre, são artisticamente contrabalançados com sua força espiritual. Ela, mesmo sendo solitária no mundo, pobre e mulher, recusa-se a sofrer passivamente e insiste na sua auto-afirmação como indivíduo digno.
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