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Reino Unido vota por deixar a UE

As falhas da UE parecem espelhar o que ocorre nas regiões que importaram o modelo de recuperação do pós-guerra (Europa, Japão, etc...) aonde cresce em maior ou menor velocidade uma tendência hegemônica que replica os problemas não solucionados do sistema administrativo americano, infelizmente.

Geograficamente falando podemos referir como aparecimento de "food desert", uma região aonde não se encontra comida saudável disponível. Todavia esse termo é simplesmente um sintoma ou faceta de um problema disseminado que inibe o valor da experiência pessoal/individual aonde a destruição do poder do voto do eleitor produza o típico psicopata que cresce no condomínio de luxo sem carências físicas porém vazio de significado, o autêntico deserto de alimento da alma.

O duro é ver que o esquecimento do período das grandes guerras se deu num grupo inteiro enriquecido que detém títulos, propriedades, etc, e cujas experiências nada tem a ver com as dificuldades dos jovens atuais, os quais se encontram cercados de dívidas educacionais, com pesadelos para adquirir casa própria como há muito não se via, sem perspectiva de como encontrarão solução para sustentarem a renda da velhice quando a doença chegar.

Mesmo que o RU e a UE empobreçam, se isso favorecer uma reformulação e um fortalecimento dos debates das questões reais então pode valer cada centavo perdido. Acho que por isso vi uma distribuição bem variada num gráfico dos votantes. Todo mundo deseja maior foco, mais clareza e menor dependência de pessoas distantes que nunca se vê na vida.
 
Hoje os europeus em grande maioria, ao menos curtiram muito uma nova saída britânica: a da Inglaterra da Eurocopa.

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Quanto ao futuro da UE, que diga-se de passagem foi fundada sem a presença do RU, acredito que o bloco vai reaprender a viver novamente sem ele. A desestabilização de momento é inevitável, mas sinceramente não acredito na ruína total a curto e médio prazo como querem alegar alguns. Só o tempo irá dizer.
 
Alguns pontos:
  • Como o Caio bem ressaltou, resumir a questão à xenofobia ou nacionalismo é de uma simplificação grotesca. Sim, nacionialismo e até xenofobia desempenham algum papel, mas de caráter mais marginal. Além disso, não dá pra colocar "nacionalismo" como algo homogêneo: existem nacionalismos e nacionalismos. Pode ser tanto uma posição extremada (lembrem-se do bigodinho alemão) quanto um valor mais "suave", de caráter cívico e que não se coloca numa ordem hierárquica (nós acima deles). Mas acontece que, como quem acompanha movimentos sociais com alguma atenção já notou, as vozes mais estridentes chamam mais a atenção. O mongolão xenofóbico vai ser o primeiro a aparecer, gritando palavras de ordem na rua e sendo seguido por outros acéfalos da mesma estirpe. E isso passa a falsa impressão de que esse tipo de comportamento é padrão, predominante, quando não é.
  • Nesse sentido de um nacionalismo mild é que se colocam aspectos bastante importantes, como o que o Scruton menciona no vídeo que o Calib postou. É absolutamente normal que o cidadão comum sinta-se incomodado com a imposição de normas alienígenas, que contrastem significativamente com hábitos e sistemas nacionais. Por isso a burocracia da UE incomoda tanto o inglês, inclusive muito mais do que os habitantes dos demais países europeus (vejam o vídeo do Scruton). E é por isso que o Reino Unido sempre foi tão relutante em adentrar a UE (e quando dentro nunca esteve realmente contente). O que me leva ao próximo ponto, de cunho mais econômico:
  • O baque do Brexit é grande, mas não tão grande quanto seria caso fosse a saída de um país totalmente integrado à União. O UK sempre foi um membro mais marginal, e sua saída agora tem mais implicações políticas do que propriamente econômicas. Os desdobramentos econômicos tem a ver principalmente com o nível em que o comércio dos países será afetado e com o grau de incerteza que vai permanecer no ar. Mas esses elementos estão eles mesmos ligados aos próximos desenvolvimentos políticos:
  • Agora fica na mão da UE decidir como irá tratar com o UK, e isso poderá ser fundamental para sua vida ou morte. Se decidir punir o UK por sua saída, irá amargar mais no lado econômico, mas pode garantir sua unidade política futura. Se resolver ser condescendente com o UK não deve sofrer tanto com uma retração econômica, mas poderá enviar um sinal para os demais membros de que a saída não é um caminho tão ruim.
  • Só quero concluir dizendo que enquanto a UE era mais ligada a uma ideia de facilitar o comércio e o fluxo de pessoas, a coisa era promissora. Mas conforme o monstrinho cresceu, ganhou vida própria e chegou ao nível de sandice de estabelecer uma moeda única. Se a união monetária já pode ser problemática dentro de um mesmo país onde encontram-se regiões muito díspares econômicamente, o que dizer disso para um continente inteiro, onde não somente os países são muito diferentes entre si, mas as próprias regiões desses países apresentam extremos de desenvolvimento? Os delírios de grandeza da UE estão cavando sua própria cova. O problema é que levam junto milhões de pessoas que só querem seguir suas vidas.
 
Sim, é um tiro no pé do Leviatã globalista, mas ainda não é o bastante para exorcizar o Mammom que assola a Europa há um ou dois séculos.

A União Europeia nasceu de um conceito de integração que jamais foi além do puramente econômico, e foi dentro de referenciais essencialmente econômicos, financeiros de globalização que ela se desenvolveu, expandiu suas garras burocráticas, fez reféns as soberanias populares das nações europeias. Nunca foi uma integração pan-nacional aos moldes da Cristandade medieval, do Sacro Império Romano-Germânico, da Roma antiga, ou para viajar um pouco menos, do Congresso de Viena e da Santa Aliança. Não era uma aliança geopolítica, nem mesmo 'política' no sentido pútrido dos políticos profissionais de toda nação capitalista ocidental. Era um acordo comercial, ou pan-comercial, um conglomerado de interesses privados, de megafortunas, de Rockfellers e Rotschilds de sobreviverem em um mundo globalizado menos suscetíveis às tempestades de mercado, talvez até como uma futura forma de resistência política a ingerências extra-europeias.

Mas mesmo considerando aquilo que a UE foi, a que ela se propunha, e não aquilo que ela jamais foi ou pretendeu ser, ou seja, deslocando o discurso das suas diferenças para com outras grandes ligas e associações plurinacionais da Europa, ela falhou. Não foi capaz de resistir a essas mesmas marés, chafurdou no lodo das esperanças de elites desesperadas por salvar suas propriedades dos últimos naufrágios sistêmicos e a amargar, além da perda de soberania, os duros golpes que um Leviatã tecnicista, burocrático, 'especialista', infligiu contra a democracia de todas as nações europeias.

Claro que quem sentiu mais profundamente tanto as esperanças desse macro-projeto nascido de mentes que buscavam impôr sobre as mentalidades e sobre a sociedade não apenas o globalismo econômico mas também o globalismo ideológico, a preparar o terreno mental e social para o primeiro, foram as gerações mais velhas, a geração X, ainda mais das classes mais baixas, dos trabalhadores, marginalizados, dos que arranham a face perfeita e primeiro-mundística da Europa com seus escarros. Foram os trabalhadores os mais atingidos. Como se não bastasse ter seus valores vilipendiados pela aplicação gradual de experimentos de engenharia social mais e mais sofisticados como 'preparação', foram os trabalhadores que tiveram de arcar com o 'custo europeu'. Foram os trabalhadores que ajudaram a financiar essa megaestrutura burocrática de administração de recursos alheios, investimentos escusos e eleição imoral de prioridades. Foram eles que assistiram, passivos e ignorantes (de que outra forma se manteriam passivos se não pela ignorância), à sua depauperação progressiva, o crescimento de sua miséria quando covardemente ao Estado Social dos reformistas se substituiu o Estado neoliberal dos reformistas, quiçá dos mesmos reformistas. Foram os trabalhadores a suportar o peso da austeridade fiscal que lhes enrabou a renda, as perspectivas de vida, os sonhos com educação, dignidade social, carreira, enfim, de uma vida.

Então é mesmo de emputecer ver gente até de esquerda, contrariando toda análise política minimamente honesta ou simplesmente racional, e reduzir simiescamente toda a questão a xenofobia, nacionalismo, intolerância ou outra merda de categoria narrativa que a mídia globalista, hegemônica decidir inventar para deslegitimar até mesmo a democracia direta para preservar seus sonhos molhados de coisas que eles mesmos dizem que abominam. Fazer isso enquanto se recusa a analisar concretamente as relações de forças políticas, o estado atual do capitalismo na Europa, a situação real dos trabalhadores e das classes médias, as dificuldades incomensuráveis trazidas pelas grandes reformas, ingerências supraestatais e confisco gradual da liberdade e da soberania. É patético, e até demeritória para a questão que deveria ser mais objetivamente considerada, um movimento de massas qualquer jogar a análise política no lixo em função de slogans midiáticos simplistas e desconsiderar que a defesa da União Europeia é uma aberração monstruosa para qualquer ser que se diga de esquerda. Chega a lembrar a época das divergências dentro do socialismo, uns criticando o 'nacionalismo' com base em uma notória deficiência de dialética, cegueira política, enquanto outros conheciam vitória atrás de vitória porque, dialeticamente, superaram, subssumiram as dificuldades e fizeram a Revolução.

É imperdoável a um marxista tanto quanto a um liberal. A UE não é um amálgama entre socialismos totalitários (conforme os liberais despejam rios de lágrimas sobre) ou Édens do livre-mercado, até porque não é possível haver tal amalgama, decorrem de metafísicas distintas e opostas como de opções políticas, decisões políticas fundamentais. Ela foi e continua sendo uma monstruosidade que faz o serviço da subserviência, da domesticação, da escravidão ao mesmo imperialismo global de sempre, que se satisfaz em devorar soberanias, riquezas, liberdade, vida, fé, tradição e a regurgitar miséria, barbárie, caos. Os que acusam o nacionalismo xenófobo são burros o bastante para se esquecerem que a sua causa, o imperialismo que traz a guerra que traz as crises migratórias massivas, é a mesma bandeira, a mesma engrenagem que fez os mecanismos de controle e tutela econômico-administrativa da UE funcionarem até hoje.

Conforme a lição do brilhante (e nazista) teórico Carl Schmitt: a Europa trocou a responsabilidade política pelas engrenagens técnicas, trocou a humanidade pelo que há de mais abstrato, tecnicista e desumano. Trocou o homem pela máquina, a máquina burocrático-administrativa responsável pela neutralização dos riscos humanos da liberdade política através da neutralização da política. Agora paga o preço. Se há liberdade para os povos, esperança de algum destino para a Europa, nascerá do fim da neutralização, da morte dos grandes projetos que desumanizam o homem, que lhe retiram o poder de decisão, a capacidade fundamental de ser plenamente homem. Virá dos escombros da União Europeia. Que se esfacele.
Krlh, como sempre arrasando camarada.

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Um problema que percebo no apoio da geração de líderes iguais a Merkel (incluo Obama e Lula) em favor da atual política dos acordos é que ao assumir que o tratado entre os países do bloco funcione como uma autoestrada para acelerar a circulação todos ignorem o problema que a instalação de um estrada levanta.

Para quem acompanha notícias de licitações, as estradas são muito importantes mas se implantadas de forma desleixada elas podem destruir comunidades inteiras, podem cortar bairros e literalmente isolar e eliminar a vida própria de uma região quando é mal instalada, sem consultas, sem compensações, etc (pra não falar da ecologia local)... Por sinal a pressão política exterior sobre as leis de fronteiras em relação a situação dos refugiados é um sintoma. Dentre outros efeitos diretos a competitividade interna pode não ser interessante (nem sempre por razões mais pessoais como reserva de mercado), muitas vezes o país não está preparado ou tem programas próprios com outras prioridades. Se for acreditar só na mídia a pessoa vai achar que é só porque os ingleses estão seguindo a tradição de isolacionistas, mas não é bem assim, o RU realmente tem a peculiaridade geográfica insular mas eles não gostam historicamente de prejudicar os negócios do comércio interior ao mesmo tempo em que se voltam para fora tanto é que se interessaram em ter um império enorme. A falha está na União passar por um momento de fragilidade econômica e se surpreender imaginando que todo mundo deva o tempo todo abraçar a idéia e modo de vida globalista.
 
Estava pensando: a votação também é muito mal feita. Não tem como não ser por plebiscito, uma vez que, numa democracia, o poder teoricamente vem do povo, e participar ou deixar de participar de blocos internacionais interfere na soberania nacional. Mas...

Como deixam uma eleição tão impactante e potencialmente incerta para ser decidida num único referendo, num único dia, por maioria simples? Podem ocorrer problemas no registro de eleitores, acontecer enchentes no momento exato da votação, políticos ligados à votação podem ser assassinatos dias antes do pleito...

A grande diferença é que uma eleição elege representantes políticos temporariamente, enquanto que uma decisão como o Brexit, além do peso bruto do que está sendo posto em jogo, tem efeito duradouro e possivelmente irreversível.

Há vantagens e desvantagens em permanecer na UE, de tal forma que os britânicos poderiam antes pressionar pela saída a ponto de obter (ainda mais) opt-outs do bloco, ou mesmo conseguir mudar a estrutura essencial do mesmo.

Seria interessante, por exemplo, se o plebiscito, ao invés de ser por maioria simples, lançasse mão de uma "banda morta". Por exemplo, abaixo de 40% dos votos, o Reino Unido permanece definitivamente na UE. Entre 40% e 60%, mantém-se o status quo, mas fica determinada a realização de uma segunda consulta popular num prazo de cerca de 2 anos. Acima de 60%, Brexit.

Num caso como o de quinta, haveria enorme pressão sobre Bruxelas - outros países tenderiam a realizar plebiscitos ou referendos nos mesmos moldes, com resultados que tenderiam a ser parecidos. A tendência é que, para se manter, Bruxelas concordasse com a realização de reformas que devolvessem aos países-membros parte de sua autonomia perdida e que tornassem sua estrutura de governança mais transparente e mais democrática, mais acessível para a população.

Sir Roger Scruton resumindo a questão em 20 min.


Gostei muito do argumento dele sobre a common law: realmente, é um diferencial anglo-saxão que tem uma série de vantagens no processo de edição de leis e que torna o sistema deles bem diferente dos continentais, gerando essa sensação de estranhamento.

Mas sobre a imigração, parece ser uma divisão de geração. Jovens, que votaram mais fortemente a favor da permanência, provavelmente têm bem menos rejeição a estrangeiros provenientes de outros países da União Europeia, especialmente se eles constituírem mão-de-obra qualificada. Eles já vivem em um mundo mais global e não têm esse apego à região que seus pais e avós desmonstram ter.
 

Muito se debateu na mídia que o assissnato da parlamentar que defendia o lado "pró-permanência" pudesse causar uma comoção nacional que poderia minar a campanha Brexit e criar uma onda positiva do lado oposto que solidificaria a permanência, mas pelo que se viu isso não teve influência.

Quanto ao valor do plebiscito, foi algo realizado com razoável antecedência para ser minimamente debatido e muito bem discutido nos meios de comunicação e o voto dos eleitores é do tipo facultativo que apresentou um dos melhores índices de comparecimento voluntário dos últimos tempos.

Entendo que um plebiscito que decide uma séria emancipação é algo que tem um peso diferenciado em relação a uma tradicional eleição de cargos majoritários, porque vai decidir algo importante com efeitos a longo prazo, mas todo processo precisa no final ter um lado vencedor e aí reclamar das regras estabelecidas depois do resultado final não adianta mais. Ficou a lição pro lado perdedor ter se empenhado mais para evitar a derrota.
 
Muito se debateu na mídia que o assissnato da parlamentar que defendia o lado "pró-permanência" pudesse causar uma comoção nacional que poderia minar a campanha Brexit e criar uma onda positiva do lado oposto que solidificaria a permanência, mas pelo que se viu isso não teve influência.

Quanto ao valor do plebiscito, foi algo realizado com razoável antecedência para ser minimamente debatido e muito bem discutido nos meios de comunicação e o voto dos eleitores é do tipo facultativo que apresentou um dos melhores índices de comparecimento voluntário dos últimos tempos.

Entendo que um plebiscito que decide uma séria emancipação é algo que tem um peso diferenciado em relação a uma tradicional eleição de cargos majoritários, porque vai decidir algo importante com efeitos a longo prazo, mas todo processo precisa no final ter um lado vencedor e aí reclamar das regras estabelecidas depois do resultado final não adianta mais. Ficou a lição pro lado perdedor ter se empenhado mais para evitar a derrota.

Claro que deve ter influenciado algo a favor dos votos remain. Mas outros fatores arbitrários devem ter tido igual ordem de grandeza a favor do leave.

É evidente que seria muito pior, agora, o Parlamento britânico jogar o resultado do último referendo no lixo e mudar a regra - seria estragar o país mais estável do mundo nos últimos 300 anos. Só tentei imaginar um modelo no qual, qualquer que fosse o resultado, amenizaria as enormes perdas devido às incertezas geradas, seja por levar a um novo acordo entre as partes, seja por aumentar o tempo de adaptação.
 
Eterna Thatcher, tá no ranking dos melhores líderes do século XX junto com Reagan e Churchill.

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Já até rola algumas comparações na mídia entre a Theresa May e a M. Thatcher, apostando que teremos a "Dama de Ferro 2.0" mas até que assuma o cargo, só o tempo dirá se ela será dura na queda como a sua antecessora.
 

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