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Leandro Narloch: Parem de acreditar em escola pública de qualidade

Beren

Wannabe Rider
O mais intrigante na ocupação das escolas em São Paulo não é o personalismo dos manifestantes e de seus apoiadores – que se alvoroçaram contra uma proposta de separação de estudantes por faixa etária, mas ficaram bem quietinhos quando Dilma cortou o orçamento do Fies, do Pronatec e do ProUni.

O pior é a crença cega em “escolas públicas de qualidade”. Eles estão há um século rezando e fazendo procissões para que a Escola Pública de Qualidade desça dos Céus à Terra. Há um século seus pedidos dão em nada. No entanto, como seguidores de uma seita fanática, não largam a fé.

Pois deveriam. Escolas públicas, para darem certo, exigem boas pessoas. Políticos, professores e diretores que pensem apenas no bem comum, e não nos seus próprios interesses.

Se uma política pública exige que as pessoas se comportem como santos, pode acreditar: não vai dar certo. As pessoas até são naturalmente benevolentes, mas não são madres-teresas em tempo integral. O desenho de uma política precisa se basear em pessoas reais, não em seres imaginários.

No sistema atual, o cidadão que recebe o serviço não pode deixar de pagar por ele ou procurar uma escola concorrente caso esteja insatisfeito. Os contribuintes são obrigados a pagar pelo serviço mesmo que não gostem dele ou não o utilizem.

Já os professores e diretores são remunerados por uma entidade distante – o Estado – e não pelos clientes diretos. Sabem que não terão prejuízo se faltarem dezenas de vezes por ano ou se os pais ficarem insatisfeitos. Não têm incentivo para inovar, cortar custos, pensar em produtos diferentes. Podem se dar ao luxo de fazer greves que duram um, dois, três meses. Se um aluno desistir de ir à escola, isso é até uma boa notícia para o diretor, que terá um problema a menos com que se preocupar.

E os políticos que coordenam o serviço não precisam melhorar o sistema – apenas fazer parecer, a cada quatro anos, durante a campanha eleitoral, que deram um jeito nas escolas. Ou falar banalidades na televisão que toquem o público mais que as banalidades dos candidatos concorrentes. É como se o síndico do prédio fosse encarregado da educação dos filhos dos moradores. Uma loucura.

Com incentivos assim, não dar certo é a regra. As notícias de jornal não deveriam tratar de escolas que decepcionaram, mas dos raros casos em que o desempenho é satisfatório. O mistério é descobrir por que algumas escolas públicas funcionam, e não o contrário.

Os manifestantes que ocuparam as escolas parecem acreditar que conseguirão convencer todos os políticos, professores e diretores a agir apenas pelo bem comum. Embriagados pelo protagonismo, gastam a voz em discursos morais sobre a importância da educação e da necessidade de “cada um fazer a sua parte”, e outros clichês.

Desculpem cortar o barato, mas já passou da hora de desistir de escola pública de qualidade. Se dependermos apenas de incentivos morais, e não de incentivos financeiros, não vai dar certo. Não adianta mudar os políticos. Não adianta gastar ainda mais em educação. É preciso mudar os incentivos.

Em vez de gastar tanto em escolas ineficientes e professores que mais faltam do que aparecem, é melhor transferir o dinheiro diretamente para a família de alunos pobres, em forma de vales, ou pelo menos passar as escolas para gestores privados.

Os pais (e não uma autoridade) decidem qual linha pedagógica preferem e qual escola escolherão para os filhos. As escolas passam a responder aos pais – e a concorrer entre si por estudantes.

Já é assim em muitos países. Nos Estados Unidos, as escolas charter (escolas tocadas por ONGs ou associações comunitárias e bancadas com dinheiro público) têm notas acima da média até mesmo quando estão em áreas pobres, que historicamente decepcionam nos índices de escolaridade. Há 180 escolas assim em Nova York; 6 mil nos Estados Unidos.

Um estudo da Universidade Stanford mostra que 53% dos alunos de escolas charter são pobres, contra 48% de escolas públicas; e 29% são negros, contra 16% em escolas públicas. Estudantes negros estudando em escolas charter leem, em média, 29 dias a mais por ano e estudam matemática 36 dias por ano a mais que estudantes de escolas públicas tradicionais.

Esse modelo não é novidade no Brasil. O governo de Goiás já está criando um sistema de escolas charter. O ProUni não é nada mais que privatização da educação: em vez queimar dinheiro em universidades públicas perdulárias que param em greve quase todo ano, melhor financiar bolsas de estudo em faculdades privadas.

Essas alternativas não são uma solução livre de falhas. É preciso evitar a “falácia do nirvana”, segundo a qual há uma solução perfeita para todos os problemas do mundo. No Chile, o sistema de voucher nem sempre incentiva a concorrência entre escolas, porque os pais muitas vezes preferem escolas mais próximas de casa que as melhores da cidade. E não se pode descartar a possibilidade de corrupção entre os políticos e os gestores privados.

Além disso, o sistema privado é diverso. Como hotéis ou marcas de biscoitos, há escolas e faculdades privadas excelentes e picaretas. As melhores universidades do mundo (Harvard, Oxford, Cambridge, Yale, Stanford) são entidades privadas que ganham uma boa dose de recursos públicos. Assim como uma penca de “uniesquinas” de baixa qualidade.

Mesmo assim, o sistema está está léguas à frente do padrão tradicional de escolas públicas. Como podem receber doações privadas, as escolas charter americanas se esforçam para manter a reputação e evitar reclamações. Algo que jamais passaria pela cabeça da maioria dos diretores de escolas públicas brasileiras.

@lnarloch

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/cacad...-de-acreditar-em-escola-publica-de-qualidade/
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Olha, particularmente, achei bem interessante esse posicionamento, mas como eu ando longe da realidade da Escola Pública, me sinto sempre no desfalque sobre como opinar. Se aplicarmos a regra do 'teoricamente funcionaria' nesse caso, também temos que pensar que 'teoricamente' o modelo atual também funcionaria, a questão é mais prática, será mesmo que conseguiríamos estabelecer um sistema que fosse mais difícil de burlar/se beneficiar do que o atual?

Invoco o @Kainof para a discussão já que ele é professor de escola pública, e invocaria mais gente, se lembrasse quem é professor, mas não lembro, sorry.
 
Nem sabia que o tópico existia.

Dei aula por um curto período de tempo nesta nefasta instituição e só tenho a dizer que, para haver escola pública de qualidade, era preciso demolir tudo (moral e socialmente falando, não literalmente) e começar de novo!

Pior lugar que já conheci e onde já trabalhei. Talvez zonas de bombardeio, hospitais públicos ou mesmo cadeias sejam piores. Mas tirando esses, nunca vi lugar tão nefasto na vida.
 
Particularmente, eu sou muito favorável aos modelos de vouchers e charter schools. O que o Narloch fala sobre mudar os incentivos é o ponto crucial da questão. E nesse caso mudar os incentivos envolve necessariamente mudar a configuração da relação cidadão-estado-escola. Vouchers e charter schools são boas opções nesse sentido. Não são perfeitas (nada é), mas têm tudo para funcionar muito melhor que nosso modelo atual. O problema é vencer a resistência (sobretudo do status quo e da ideologia) pra colocar isso em prática.
 
Eu acho a ideia interessante, pois não vejo muito sentido em fixar burocraticamente salário, relação alunos/professor, modo de se trabalhar certo conteúdo e mais outras coisas em realidades completamente diferentes.

Por outro lado, há alguns problemas num ambiente não regulamentado:

- A escola mais procurada teria a capacidade de escolher os melhores alunos - e já sair na vantagem, havendo algum tipo de avaliação de desempenho;

- A princípio, ela poderia cobrar por cima do voucher, também filtrando alunos e encarecendo o sistema educacional;

- A localização geográfica é capaz de promover a segregação (isso, porém, ocorre em qualquer paradigma);

- Há o risco de, deixando-se a abertura ecfechamento de estabelecimentos educacionais ao puro capricho da livre iniciativa, alguma região ficar sem atendimento.

Dito tudo isso, acho que algumas coisas podem ser feitas para mitigar esses problemas:

- Sistema centralizado de matrícula: os pais, so invés de procurarem a escola em questão, deveriam ir diretamente à Secretaria de Educação local providenciar a matrícula de seus filhos. Haveria a possibilidade de escolher três ou mais opções e o preenchimento das vagas dar-se-ia por ordem de chegada. Isso impediria a realização de exames de seleção e a prática de cobranças adicionais. Além disso, o governo local pode obrigar as escolas cadastradas a, por exemplo, oferecer merenda escolar.

- Exame de desempenho que premie as escolas que baterem metas e puna e descrendecie, em último caso, as que não atingirem certo patamar de qualidade. Metoldologia de conceituação deveria ser focada no "efeito-escola": se o aluno mudar de escola dentro do sistema, mede-se se a escola nova conseguiu ou não melhorar seu desempenho, e o estabelecimento ganha pontos por isso.

- Oferta de transporte público ou escolar: para mitigar a segregação geográfica, deve-se assegurar que a criança tenha condições de se deslocar de onde mora para qualquer escola do sistema.

- Manutenção de algumas escolas públicas ou, no mínimo, de infraestrutura educacional de propriedade pública, sobretudo em áreas mais vulneráveis, de modo a estabilizar a oferta.

Há ainda a questão da liberdade de ensino x coesão nacional, que é extremamente ideológica e encrencada e que, por isso, eu pulo.

Mas enfim, o governo, que é quem financia diretamente o sistema de ensino, pode e deve impor condições para o recebimento do voucher, que não deve ser um mero subsídio às famílias. Concentrando ele as verbas por meio dos impostos, ele é quem detém o poder de barganha, e abdicar de usá-lo tende a encarecer o sistema. Além disso, um ambiente fortemente desregulado tenderia a aprofundar desigualdades sem que esse fosso em si seja útil na melhoria da qualidade absoluta, o que acabaria indo de encontro com as atribuições para as quais a educação pública é concebida: criar uma consciência de cidadania, reduzir a desigualdade de oportunidades e preparar a próxima geração da sociedade para produzir.

Fëanor disse:
O problema é vencer a resistência (sobretudo do status quo e da ideologia) pra colocar isso em prática.

Uma opção política seria, num primeiro momento, oferecer autonomia de gestão aos próprios professores atuais do estabelecimento, fixando-se o valor do voucher de tal forma que a verba a priori seja a mesma.
 
Temos um problema típico da revista Veja: base de argumentação totalmente absurda e desconectada da realidade para chegar numa conclusão ainda mais absurda e sem valor prático nenhum.

Os argumentos, abaixo discutidos, surgiram, provavelmente, da cabeça do autor. A conclusão imediata, que necessariamente exige mais elaboração (mas ainda assim o autor a profere de forma absolutamente irresponsável), é: não tem como funcionar. (???) Ele deveria ter se limitado a propor o sistema de vouchers para não falar tanta besteira; que sim, pode trazer benefícios, mas que conta com alguns problemas estruturais, em parte já citados no post acima do @ExtraTerrestre

- Os protestos tiveram pautas românticas e desconectadas da realidade

Não. O autor leu as reivindicações? Teve algum contato com os manifestantes? Teve algum contato com alguma coisa? Como que ele, na condição de jornalista, sai falando sobre algo que não tem nenhuma base para falar? Nem sequer esteve em campo. Isso é totalmente antiprofissional, para não dizer antiético! Deveria ser cassado! Se ele pegar como base matérias que outros jornalistas merda como ele publicam, ou seja, basicamente do universo da grande mídia brasileira, realmente vai se deparar somente com uns depoimentos e reivindicações no estilo "acho que a educação deveria ser de qualidade".

A pauta principal foi se opor ao FECHAMENTO de algumas escolas, fechamento este que foi proposto pelo governo Alckmin. Isso é objetivo, e não subjetivo. Ou a escola fecha ou não fecha.

Ao redor dessa pauta principal, surgiram inúmeras pautas menores, particulares de cada escola. Isso indica um problema antigo na estrutura educacional brasileira: a escola e as suas comunidades não tem autonomia de gestão, apesar de terem soluções para os problemas. Concordamos que uma escola é necessariamente um elemento mais da comunidade local do que do estado geral? Sendo assim, a necessidade crítica de responder as necessidades de determinadas comunidades não ocorre, resultando em falhas gravíssimas. Algumas escolas precisam de mais segurança, outras de mais oficinas extracurriculares, outras de expediente integral, e por aí vai. A essência do problema da educação pública básica brasileira está nessa extrema burocratização de soluções e propostas de mudança.

- Necessidade impreterível de verdadeiros santos para a escola pública dar certo

Cara...Tem o que discutir disso? Bom, vou tentar. Um fato irrefutável é que todos queremos educação de qualidade, desde o mais pobre até o mais rico. Concordamos? Essa "boa vontade" pode, e deve ser o combustível necessário para resolver essa questão. E é, em muitos casos.

Infelizmente necessitamos urgentemente de uma reforma estrutural, pois a máquina do estado está tão ineficiente que sufoca até mesmo essa boa vontade absolutamente generalizada na população. Com a correta regulamentação, é possível entrar em sinergia com essa força. Isso não tem nenhuma relação com a privatização das escolas que, em si, não resolve nenhum problema pois substitui a relação de participação comunitária por "solução contratada pelo capital": ou seja, não aproveita desse combustível.

Dei aula por um curto período de tempo nesta nefasta instituição e só tenho a dizer que, para haver escola pública de qualidade, era preciso demolir tudo (moral e socialmente falando, não literalmente) e começar de novo!

Pior lugar que já conheci e onde já trabalhei. Talvez zonas de bombardeio, hospitais públicos ou mesmo cadeias sejam piores. Mas tirando esses, nunca vi lugar tão nefasto na vida.
Moça, vc está falando besteira e reforçando um forte preconceito da sociedade a troco de não quero nem imaginar o que. Na condição de profissional da educação, como vc mesma deve saber mas não citou, o problema de educação no Brasil não se restringe a escolas públicas. A reclamação (justa) dos professores de escola pública é em relação ao salário, pois as tais condições nefastas estão presentes também em escolas particulares não elitizadas (sobre elitizadas, falo de escolas tradicionais, como Bandeirantes, etc).

A exemplo a crise absoluta de autoridade dos professores em escolas particulares pequenas, onde os mesmos respondem diretamente pelo desempenho dos alunos sem terem à disposição ferramentas efetivas para controlar esse desempenho. Este problema não somente demonstra que liberalismo sem regulamentação não funciona para a nossa realidade, como também indica uma falha de participação da comunidade para gerir uma escola particular no modelo "comprei uma solução, quero o meu resultado".

Ao invés de, com um tom nojento, alimentar preconceitos e irracionalidades ao redor de um problema já naturalmente delicado, vc pode LISTAR os tais problemas nefastos para que eles possam ser trazidos à luz da discussão racional.
 
O Amon já falou quase tudo.

O raciocínio do do jornalista é tão simplista, que pode ser colocado pra qualquer área pública, como por exemplo saúde e transporte, distribuição de energia e água, entre outros.

E outra, educação pública de qualidade não é um mito que alguns buscam cegamente, e sim um modelo que funciona em muitas economias.

Ele cita o nível superior e os incentivos do governo, mas se esquece que as universidades públicas são as mais procuradas e bem avaliadas do país, onde foi que tais incentivos governamentais melhoraram o sistema de ensino superior?

Outro ponto é julgar que o serviço por ser privado será de melhor qualidade pelo simples fato de ter concorrência e teoricamente um pressão do consumidor. Veja bem, o sistema de telefonia, que pode ser até bem superior que já foi um dia (quando era estatal) mas está longe de ser um serviço de qualidade.

Tentar tratar problemas desse calibre com soluções tão simplistas assim, só tende a gerar outros problemas e não solucionar nada. O que falta ao país é tratar o assunto com mais seriedade, e fazer políticas robustas e sérias para tratar o problema e não os sintomas. Melhorar o sistema educacional no Brasil será um trabalho árduo que exigirá muito esforço.




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Por outro lado, há alguns problemas num ambiente não regulamentado:

Apenas um detalhe: não vi no texto no Narloch proposta para tirar toda a regulamentação da educação.

- A escola mais procurada teria a capacidade de escolher os melhores alunos - e já sair na vantagem, havendo algum tipo de avaliação de desempenho;

- A princípio, ela poderia cobrar por cima do voucher, também filtrando alunos e encarecendo o sistema educacional;

- A localização geográfica é capaz de promover a segregação (isso, porém, ocorre em qualquer paradigma);

- Há o risco de, deixando-se a abertura ecfechamento de estabelecimentos educacionais ao puro capricho da livre iniciativa, alguma região ficar sem atendimento.

Temos que lembrar que a coisa toda demanda um certo tempo de ajuste. Não irão surgir escolas privadas do dia para a noite para suprir o novo sistema. Então é preciso fazer uma transição gradual. Com um sistema de vouchers já disseminado, a tendência é um aumento da concorrência que mitigue esses problemas levantados. Talvez não os elimine por completo, mas aí temos que saber em que medida eles continuariam a ser problemas fundamentais e em que medida o sistema melhorou em frente ao que existia antes. E, claro, eventualmente buscar melhorar as falhas existentes. Nenhum sistema deve ser congelado no tempo.


- Sistema centralizado de matrícula: os pais, so invés de procurarem a escola em questão, deveriam ir diretamente à Secretaria de Educação local providenciar a matrícula de seus filhos. Haveria a possibilidade de escolher três ou mais opções e o preenchimento das vagas dar-se-ia por ordem de chegada. Isso impediria a realização de exames de seleção e a prática de cobranças adicionais. Além disso, o governo local pode obrigar as escolas cadastradas a, por exemplo, oferecer merenda escolar.

Sou simpático à ideia da merenda. Sobre a matrícula, tenho minhas dúvidas. Pode funcionar, sobretudo num caráter de transição. Mas a manutenção desse sistema pode diminuir os incentivos fornecidos por uma concorrência "mais pura". Seria preciso colocar na balança todos os possíveis benefícios e problemas, e talvez até fazer experiência com a coisa.


- Exame de desempenho que premie as escolas que baterem metas e puna e descrendecie, em último caso, as que não atingirem certo patamar de qualidade. Metoldologia de conceituação deveria ser focada no "efeito-escola": se o aluno mudar de escola dentro do sistema, mede-se se a escola nova conseguiu ou não melhorar seu desempenho, e o estabelecimento ganha pontos por isso.

Também pode ser interessante, mas existem os problemas clássicos com as metas em avaliações escolares: sistemas que tendem a focar no resultado dos exames de avaliação, critérios inerentemente subjetivos de avaliação, possibilidade de "acordos" entre escolas e responsáveis pelo sistema de avaliação, para listar alguns.

Não digo que não funcionaria. Mas esse ponto é bem complicado.

- Manutenção de algumas escolas públicas ou, no mínimo, de infraestrutura educacional de propriedade pública, sobretudo em áreas mais vulneráveis, de modo a estabilizar a oferta.

Essa parte pode ser interessante não só pelo motivo levantado, mas até para efeitos de comparação dos sistemas.

Mas sobre o motivo das áreas vulneráveis propriamente dito, isso pode ser mitigado pela sua outra ideia do transporte escolar. Isso seria especialmente relevante em áreas de baixa densidade demográfica.

Além disso, um ambiente fortemente desregulado tenderia a aprofundar desigualdades sem que esse fosso em si seja útil na melhoria da qualidade absoluta, o que acabaria indo de encontro com as atribuições para as quais a educação pública é concebida: criar uma consciência de cidadania, reduzir a desigualdade de oportunidades e preparar a próxima geração da sociedade para produzir.

Será? Será que, como no caso da renda, o mais importante não é elevar o nível mínimo da qualidade? Aliás, não vejo como o nível da desigualdade se aprofundaria: a atual desigualdade educacional já é extremamente profunda. Eu acho que num cenário de maior concorrência o nível mínimo poderia aumentar consideravelmente, enquanto que a barra superior dificilmente se deslocaria muito (já temos escolas privadas de alto nível).

Uma opção política seria, num primeiro momento, oferecer autonomia de gestão aos próprios professores atuais do estabelecimento, fixando-se o valor do voucher de tal forma que a verba a priori seja a mesma.

Consegue desenvolver mais? Não sei se entendi o que você quis dizer.


A pauta principal foi se opor ao FECHAMENTO de algumas escolas, fechamento este que foi proposto pelo governo Alckmin. Isso é objetivo, e não subjetivo. Ou a escola fecha ou não fecha.

Eu não vi ele dizendo qual era a pauta principal das mobilizações. O que ele levantou foi um "sentimento comum", que sequer é exclusividade das mobilizações de agora: veja que ele fala que as pessoas estão nessa "há um século...". O que ele critica como "desconectacdo da realidade" é o sonho genérico com escola pública de qualidade.

- Necessidade impreterível de verdadeiros santos para a escola pública dar certo

Cara...Tem o que discutir disso? Bom, vou tentar. Um fato irrefutável é que todos queremos educação de qualidade, desde o mais pobre até o mais rico. Concordamos? Essa "boa vontade" pode, e deve ser o combustível necessário para resolver essa questão. E é, em muitos casos.

Infelizmente necessitamos urgentemente de uma reforma estrutural, pois a máquina do estado está tão ineficiente que sufoca até mesmo essa boa vontade absolutamente generalizada na população. Com a correta regulamentação, é possível entrar em sinergia com essa força. Isso não tem nenhuma relação com a privatização das escolas que, em si, não resolve nenhum problema pois substitui a relação de participação comunitária por "solução contratada pelo capital": ou seja, não aproveita desse combustível.

Mas qual a correta regulamentação? Qual o sistema que canaliza essas supostas forças da boa vontade para o melhor uso, a maior eficiência?

A questão é que nenhum sistema pode depender da boa vontade das pessoas. Boa vontade sequer implica boa gestão ou qualidade de resultados.


A exemplo a crise absoluta de autoridade dos professores em escolas particulares pequenas, onde os mesmos respondem diretamente pelo desempenho dos alunos sem terem à disposição ferramentas efetivas para controlar esse desempenho. Este problema não somente demonstra que liberalismo sem regulamentação não funciona para a nossa realidade, como também indica uma falha de participação da comunidade para gerir uma escola particular no modelo "comprei uma solução, quero o meu resultado".

Isso não demonstra falha de "liberalismo sem regulamentação", porque essas escolas não atuam num ambiente de "liberalismo sem regulamentação".



O raciocínio do do jornalista é tão simplista, que pode ser colocado pra qualquer área pública, como por exemplo saúde e transporte, distribuição de energia e água, entre outros.

Sistemas públicos de provisão de bens e serviços tendem a enfrentar dificuldades comuns e problemas de incentivos muito semelhantes. Teoria da Escolha Pública e Escola Austríaca falam bastante sobre isso, e o argumento não se torna simplista simplesmente por poder ser aplicado para outras áreas públicas.


E outra, educação pública de qualidade não é um mito que alguns buscam cegamente, e sim um modelo que funciona em muitas economias.

Funciona, mas até que ponto? Quão sustentável no longo prazo? Será que esses modelos podem ser replicados? Ou talvez eles dependam da características inerentemente locais? E em comparação com os sistemas privados?


Ele cita o nível superior e os incentivos do governo, mas se esquece que as universidades públicas são as mais procuradas e bem avaliadas do país, onde foi que tais incentivos governamentais melhoraram o sistema de ensino superior?

As universidades públicas em geral tendem a funcionar muito melhor do que as escolas públicos, isso é verdade, e tem a ver com vários fatores, como:
- Elas ganham rios de dinheiro, sobretudo quando comparado com as escolas. O dinheiro que vai para o ensino superior é muito desproporcional àquele que vai para o ensino fundamental.
- Isso permite remunerar melhor os profissionais, o que ajuda a melhorar o desempenho.
- As áreas de excelência nas universidades públicas tendem a estar relacionadas com aquelas onde há pesquisa, o que cria uma outra dimensão de competição e incentivos próprios que não são comparáveis com o que pode acontecer numa escola.

Dito isto, é preciso ter em mente que, mesmo nossas universidades públicas sendo o que há de melhor no ensino por aqui, isso não significa que elas sejam boas. No padrão atual nacional elas se destacam, mas num cenário amplificado (internacional) elas deixam a desejar.

Se eu te falar pela minha experiência própria, eu vou te dizer que tanto na UFMG, onde estou dando aulas, quanto na UFV, onde já lecionei, existem problemas tão básicos quanto eu ter que comprar, do meu próprio bolso, giz e marcador de quadro branco pra poder dar aula. Por outro lado, outro dia fui palestrar no IBMEC e fiquei surpreso com a estrutura deles. Aliás, não é incomum gente de lá entrar na pós-graduação de economia da UFMG, desbancando alunos de instituições públicas. Ou seja, na minha restrita experiência, observo que não é nem tão ao céu, nem tão à terra.

Claro, os indicadores gerais de avaliação em geral vão apontar para as universidades públicas como melhores. Mas dá para comparar a quantidade de recursos e a estrutura operacional destas com as universidades privadas?


Outro ponto é julgar que o serviço por ser privado será de melhor qualidade pelo simples fato de ter concorrência e teoricamente um pressão do consumidor. Veja bem, o sistema de telefonia, que pode ser até bem superior que já foi um dia (quando era estatal) mas está longe de ser um serviço de qualidade.

"Pelo simples fato de ter concorrência"? A concorrência como fator indutor de maior qualidade é não só um consenso econômico, como tem amplo apoio empírico. A menção que você faz ao sistema de telefonia já prova isso: por um lado, você admite que a qualidade é bem superior ao que era. Por outro, nota que está longe de ser de qualidade, apenas não menciona porque isso ocorre: falta de mais concorrência; setor muito regulado, com uma Anatel dificultando a vida de novas entrantes; modelo de privatização que não foi executado de modo a realmente deixar o mercado operar em bases concorrenciais.

Tentar tratar problemas desse calibre com soluções tão simplistas assim, só tende a gerar outros problemas e não solucionar nada. O que falta ao país é tratar o assunto com mais seriedade, e fazer políticas robustas e sérias para tratar o problema e não os sintomas. Melhorar o sistema educacional no Brasil será um trabalho árduo que exigirá muito esforço.

Mas modelos de charter schools e vouchers não são "simplistas". Não sei porque você parece pensar que são. Acho que você está sendo um pouco... simplista.


No mais, fica também uma dica de leitura: artigo da The Economist falando sobre como as escolas privadas estão crescendo em países pobres, oferecendo educação acessível a pessoas de baixa renda e preenchendo espaços que o estado falhou em atender.
 
Apenas um detalhe: não vi no texto no Narloch proposta para tirar toda a regulamentação da educação.

Sim, mas, já conhecendo a temática e o autor, resolvi aprofundar a discussão.

Temos que lembrar que a coisa toda demanda um certo tempo de ajuste. Não irão surgir escolas privadas do dia para a noite para suprir o novo sistema. Então é preciso fazer uma transição gradual. Com um sistema de vouchers já disseminado, a tendência é um aumento da concorrência que mitigue esses problemas levantados. Talvez não os elimine por completo, mas aí temos que saber em que medida eles continuariam a ser problemas fundamentais e em que medida o sistema melhorou em frente ao que existia antes.
E, claro, eventualmente buscar melhorar as falhas existentes. Nenhum sistema deve ser congelado no tempo.

Eu já li algo a respeito dos sistemas de escolha escolar chileno e holandês, nos quais ficou patente o aparecimento de pelo menos alguns dos problemas que eu citei.


Sou simpático à ideia da merenda. Sobre a matrícula, tenho minhas dúvidas. Pode funcionar, sobretudo num caráter de transição. Mas a manutenção desse sistema pode diminuir os incentivos fornecidos por uma concorrência "mais pura". Seria preciso colocar na balança todos os possíveis benefícios e problemas, e talvez até fazer experiência com a coisa.

Mas eu não sei se a descentralização é uma estratégia mais "concorrencial", porque aí a tendência é cada escola fixar seu nicho de mercado, usando todo tipo de mecanismo para filtrar os alunos. O produto que deve ser oferecido é educação básica a uma criança comum, imprevisível, a um certo custo, seja o gênio do bairro, seja o menino com 3 passagens na Febem. E o governo tem que especificar o que ele está contratando, como o próprio faz em licitações e mesmo a iniciativa privada quando abre concorrências.

Também pode ser interessante, mas existem os problemas clássicos com as metas em avaliações escolares: sistemas que tendem a focar no resultado dos exames de avaliação, critérios inerentemente subjetivos de avaliação, possibilidade de "acordos" entre escolas e responsáveis pelo sistema de avaliação, para listar alguns.

Não digo que não funcionaria. Mas esse ponto é bem complicado.

Isso é um problema mesmo: o surgimento de escolas-cursinho cuja única meta é ensinar os alunos a pontuarem bem nos exames - um dos problemas de parte da atual iniciativa privada. Não sei como isso poderia ser mitigado, talvez com uma ligeira alteração, ano a ano, no estilo de algumas questões, de modo a "pegar" as escolas-cursinho pela inflexibilidade de raciocínio dos alunos.

Essa parte pode ser interessante não só pelo motivo levantado, mas até para efeitos de comparação dos sistemas.

Mas sobre o motivo das áreas vulneráveis propriamente dito, isso pode ser mitigado pela sua outra ideia do transporte escolar. Isso seria especialmente relevante em áreas de baixa densidade demográfica.

É, mas é claro, por outro lado, que há um limite absoluto de deslocamento possível, por exemplo, se o sistema for estadual. Aí é algo a se pensar

Será? Será que, como no caso da renda, o mais importante não é elevar o nível mínimo da qualidade? Aliás, não vejo como o nível da desigualdade se aprofundaria: a atual desigualdade educacional já é extremamente profunda. Eu acho que num cenário de maior concorrência o nível mínimo poderia aumentar consideravelmente, enquanto que a barra superior dificilmente se deslocaria muito (já temos escolas privadas de alto nível).

A permissão de cobranças adicionais, por exemplo, poderia fazer com que os pais mais ricos dentre os pobres pagassem uma graninha a mais para matricular seus filhos numa escola menor. Isso geraria algumas instituições que tivessem apenas os mais pobres dentre os alunos, que no geral têm piores condições de vida até no quesito de oportunidades culturais.

Quem já deu aula sabe a importância de bons alunos para "puxar" o nível da turma para cima.

Consegue desenvolver mais? Não sei se entendi o que você quis dizer.

Um dos medos dos professores é que as escolas sejam passadas para gestores privados, perdendo eles a estabilidade e o controle sobre sua própria atividade, etc.

Uma estratégia política para quebrar a resistência seria uma fase transitória em que os primeiros agentes aos quais o controle da escola seja oferecido fossem os próprios docentes da escola pública. O governo diz "faz o seguinte, vocês que dão aula aí, organizem-se numa OS numa cooperativa que eu passo a escola para o nome de vocês."

Os professores teriam medo, pois a longo prazo sabe que a estabilidade está ameaçada, e também porque isso poderia gerar disputas fratricidas pelo controle das escolas. Mas também teriam a oportunidade de enxergar algum custo desnecessário e chegar à conclusão: "cortando isso aqui, eu posso aumentar meu salário".

Além disso, sendo essa proposta de amplo conhecimento do público em geral, existiria uma pressão, ainda que subjetiva, da sociedade, no estilo "quem não deve não teme". É de se esperar que, se o corpo docente e a diretoria forem realmente constituídos de gente competente, eles se sintam atraídos pela ideia de autonomia, e não o contrário.

Para terminar, o Ranza tem um ponto: sistemas completamente públicos, como o finlandês ou os asiáticos, são os mais admirados do mundo, então é antropologicamente possível que existam escolas estatais de qualidade. A Suécia teve um declínio enorme em suas notas no PISA conforme a voucherização avançou (não se sabe, porém, se há uma relação causal), mas a Holanda está relativamente bem qualificada. O Chile aparece melhor que os outros sul-americanos, mas o teste é dos anos 2000 e os vouchers começaram com o Pinochet, o que torna o teste extremamente inconclusivo.
 
Última edição:
A permissão de cobranças adicionais, por exemplo, poderia fazer com que os pais mais ricos dentre os pobres pagassem uma graninha a mais para matricular seus filhos numa escola menor. Isso geraria algumas instituições que tivessem apenas os mais pobres dentre os alunos, que no geral têm piores condições de vida até no quesito de oportunidades culturais.

Mas aí estamos assumindo que as escolas podem cobrar preços diferentes para pessoas diferentes. Se as escolas não puderem discriminar preço de acordo com o cliente, isso não ocorre, a não ser por baixo dos panos. Aí é papel da comunidade vigiar, o que não é difícil.

E não precisamos nos limitar à ideia de vouchers: se formos para a ideia das charter schools, as evidências que o Narloch traz são opostas a isso, por exemplo.


Um dos medos dos professores é que as escolas sejam passadas para gestores privados, perdendo eles a estabilidade e o controle sobre sua própria atividade, etc.

Uma estratégia política para quebrar a resistência seria uma fase transitória em que os primeiros agentes aos quais o controle da escola seja oferecido fossem os próprios docentes da escola pública. O governo diz "faz o seguinte, vocês que dão aula aí, organizem-se numa OS numa cooperativa que eu passo a escola para o nome de vocês."

Os professores teriam medo, pois a longo prazo sabe que a estabilidade está ameaçada, e também porque isso poderia gerar disputas fratricidas pelo controle das escolas. Mas também teriam a oportunidade de enxergar algum custo desnecessário e chegar à conclusão: "cortando isso aqui, eu posso aumentar meu salário".

Além disso, sendo essa proposta de amplo conhecimento do público em geral, existiria uma pressão, ainda que subjetiva, da sociedade, no estilo "quem não deve não teme". É de se esperar que, se o corpo docente e a diretoria forem realmente constituídos de gente competente, eles se sintam atraídos pela ideia de autonomia, e não o contrário.

Ok, agora ficou mais claro. Sim, é um caminho. Sou totalmente a favor de transições desse tipo do que de mudanças repentinas e sem diálogo.

Para terminar, o Ranza tem um ponto: sistemas completamente públicos, como o finlandês ou os asiáticos, são os mais admirados do mundo, então é antropologicamente possível que existam escolas estatais de qualidade. A Suécia teve um declínio enorme em suas notas no PISA conforme a voucherização avançou (não se sabe, porém, se há uma relação causal), mas a Holanda está relativamente bem qualificada. O Chile aparece melhor que os outros sul-americanos, mas o teste é dos anos 2000 e os vouchers começaram com o Pinochet, o que torna o teste extremamente inconclusivo.


Antropologicamente possível é algo bem distinto de antropologicamente replicável.

Temos que ter muito cuidado com quaisquer casos analisados. A Finlândia, por exemplo, geralmente é tida como modelo de educação pública de qualidade, mas dificilmente se levam em conta outros fatores. Por exemplo, existem evidências de que o desempenho Finlandês pode estar relacionado a outras questões como:
i) características fenotípicas, que explicariam ao mesmo tempo o elevado desempenho escolar mas a ausência de "gênios" (The most plausible answer to the question of the cause of the high Finnish performance on PISA which has so fascinated Western news media in recent years is that Finns have higher intelligence and lower psychoticism than other European peoples. However, their relatively low psychoticism, and restricted range intelligence, would also neatly explain the relative dearth of Finnish Nobel laureates in science);
ii) as vantagens do idioma (estudantes finlandeses que falam sueco mas não finlandês possuem desempenho pior no PISA, mesmo sendo mais ricos).​
Ainda, o sistema finlandês é bastante descentralizado, as escolas públicas são diversificadas, há competição por alunos entre distritos, e o nível de autonomia permite inclusive que as escolas possam demitir professores de baixo desempenho. Alguém aí já pensou nisso sendo aplicado às nossas escolas públicas?

Sobre a Suécia, tem evidências de que o sistema de vouchers, ao aumentar a competição, melhorou o desempenho de escolas públicas na década de 90 (e existem vários outros artigos provando a ligação entre competição e qualidade em outros contextos [1, 2, 3]). O declínio dos anos mais recentes, por outro lado, dificilmente pode ser atribuído aos vouchers. Na verdade, controlando pela dimensão da competição local ensejada pelo sistema de vouchers, observa-se que de fato não é culpa desse sistema.

Existem resultados positivas pra Colômbia e outros países em desenvolvimento, e também sugestões de que esse tipo de programa deve ser direcionado para pessoas mais pobres, e não para todos os estudantes.

Enfim, até o momento não vi nenhum contexto em que vouchers foram prejudiciais. E ainda tem a alternativa das charter schools. São possibilidaeds, que eu acho que valeriam a pena serem exploradas. Só não pode continuar do jeito que está.
 
Eu não vi ele dizendo qual era a pauta principal das mobilizações. O que ele levantou foi um "sentimento comum", que sequer é exclusividade das mobilizações de agora: veja que ele fala que as pessoas estão nessa "há um século...". O que ele critica como "desconectacdo da realidade" é o sonho genérico com escola pública de qualidade.
Ué. Pra mim ficou particularmente claro, especialmente nesse trecho:

Os manifestantes que ocuparam as escolas parecem acreditar que conseguirão convencer todos os políticos, professores e diretores a agir apenas pelo bem comum. Embriagados pelo protagonismo, gastam a voz em discursos morais sobre a importância da educação e da necessidade de “cada um fazer a sua parte”, e outros clichês.

Fica evidente que ele está "diminuindo" a pauta dos manifestantes para algo sem efeito como exigir boa vontade de todos - ou, usando as suas palavras, para um sonho genérico com escola pública de qualidade - quando a pauta estava absolutamente bem definida. Não se trata de um sonho genérico manifesto, mas sim de uma ação positiva.

Mas qual a correta regulamentação? Qual o sistema que canaliza essas supostas forças da boa vontade para o melhor uso, a maior eficiência?
Não cabe a mim esse trabalho de definição. Vou utilizar um expoente dessa análise, tomada como base a realidade brasileira: Vitor Paro. Coloquei em anexo também um da Ângela Martins que mostra, de uma forma resumida e sucinta, a evolução histórica desse conceito de gestão autônoma para escolas.

Emprego o termo autonomia para aludir à liberdade na dimensão coletiva, em que todos os sujeitos que fazem a escola, professor, funcionários, pais, alunos, participam na tomada de decisão nas esferas pedagógica, administrativa e financeira. É o empenho dos sujeitos em coletivo na apoderação e no revestimento do poder para participação das decisões da unidade escolar. Além disso, a autonomia da escola pública não implica em liberdade absoluta, ou seja, possui um caráter restrito, uma vez que a unidade escolar está dependente "das definições mais gerais que definem o sistema educacional". Assim, a autonomia alude a "capacidade que a instituição tem de gestar segundo suas próprias normas no cumprimento das suas finalidades sociais; não sendo possível, portanto, que a escola pública tenha projeto político independente, cabendo-lhe em sua proposta pedagógica e nos processos de avaliação, concretizar as linhas gerais da política educacional nacional, estadual e municipal."

A questão é que nenhum sistema pode depender da boa vontade das pessoas. Boa vontade sequer implica boa gestão ou qualidade de resultados.
Isso não foi dito, conforme vc mesmo apontou. Canalizar boa vontade difere totalmente de depender de boa vontade.

Isso não demonstra falha de "liberalismo sem regulamentação", porque essas escolas não atuam num ambiente de "liberalismo sem regulamentação".
Vc está correto. Vou mudar as palavras:

A exemplo a crise absoluta de autoridade dos professores em escolas particulares pequenas, onde os mesmos respondem diretamente pelo desempenho dos alunos sem terem à disposição ferramentas efetivas para controlar esse desempenho. Este problema aponta que a falta de regulamentação específica e delegação da autoridade estatal para solução do problema de educação para insitituições privadas destaca os seguintes ítens:

1) incapacidade do mercado de avaliar o desempenho educacional do aluno inserido na lógica compra-resultado
2) exposição dos profissionais de educação a situações inadequadas do ponto de vista trabalhista

Eu.... assumo que vc conhece o significado da palavra cassar?
 

Anexos

  • v36n3a08.pdf
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  • a_gestao_da_educacao_vitor_Paro.pdf
    156,4 KB · Visualizações: 0
  • aautonomia_ed.pdf
    235,5 KB · Visualizações: 0
:bump: Por que este tópico morreu na praia?

Pq invoquei o Kaykay e ele me ignorou :'(

Ué, pra mim, ele foi antiprofissional e antiético. Tá certo que é um blog, mas ainda assim, digno de atenção.

Por mim é cassado sim :lol:

Posso estar engando, mas a meu ver, o texto não é uma notícia sobre as manifestações, é um texto de opinião, acho que não dá pra exigir esse tipo de rigor, não. Ele usou as manifestações como ferramenta argumentativa para conectar o tema à realidade daquele momento, e aprimorar a relevância de sua crítica ao ensino público, apenas isso. Não acho que isso seja lá antiético nesse caso, pode ser superficial, simplista (no tratamento da manifestação), mas antiético achei pesado, ainda mais para configurar crime e ser cassado..
 
Temos que ter muito cuidado com quaisquer casos analisados. A Finlândia, por exemplo, geralmente é tida como modelo de educação pública de qualidade, mas dificilmente se levam em conta outros fatores. Por exemplo, existem evidências de que o desempenho Finlandês pode estar relacionado a outras questões como:
i) características fenotípicas, que explicariam ao mesmo tempo o elevado desempenho escolar mas a ausência de "gênios" (The most plausible answer to the question of the cause of the high Finnish performance on PISA which has so fascinated Western news media in recent years is that Finns have higher intelligence and lower psychoticism than other European peoples. However, their relatively low psychoticism, and restricted range intelligence, would also neatly explain the relative dearth of Finnish Nobel laureates in science);
ii) as vantagens do idioma (estudantes finlandeses que falam sueco mas não finlandês possuem desempenho pior no PISA, mesmo sendo mais ricos).​
Ainda, o sistema finlandês é bastante descentralizado, as escolas públicas são diversificadas, há competição por alunos entre distritos, e o nível de autonomia permite inclusive que as escolas possam demitir professores de baixo desempenho. Alguém aí já pensou nisso sendo aplicado às nossas escolas públicas?

Sobre a Suécia, tem evidências de que o sistema de vouchers, ao aumentar a competição, melhorou o desempenho de escolas públicas na década de 90 (e existem vários outros artigos provando a ligação entre competição e qualidade em outros contextos [1, 2, 3]). O declínio dos anos mais recentes, por outro lado, dificilmente pode ser atribuído aos vouchers. Na verdade, controlando pela dimensão da competição local ensejada pelo sistema de vouchers, observa-se que de fato não é culpa desse sistema.

Existem resultados positivas pra Colômbia e outros países em desenvolvimento, e também sugestões de que esse tipo de programa deve ser direcionado para pessoas mais pobres, e não para todos os estudantes.

Enfim, até o momento não vi nenhum contexto em que vouchers foram prejudiciais. E ainda tem a alternativa das charter schools. São possibilidaeds, que eu acho que valeriam a pena serem exploradas. Só não pode continuar do jeito que está.

Mas escola publica de qualidade não é um triunfo da Finlândia, o triunfo é ser a melhor educação do mundo, porém escolas públicas de qualidade é realidade em muitos países na Europa, como Alemanha, Inglaterra, França, Áustria para não citar os países nórdicos. Ou seja, uma educação majoritariamente publica não é um absurdo, ou um caso isolado, ela é plausível. O autor disse que escola pública exige boas pessoas, políticos e etc,porém uma boa escola particular também, pois este é um bem que as pessoas não deixarão de consumir mesmo que a qualidade seja ruim, e para criar uma concorrência que atenda aos modelos dos manuais de micro, teria que ter um numero bem grande de instituições oferecendo o serviço (e já existem muitas), para que a demanda sofra influencia suficiente sobre a oferta. Veja no caso do ensino superior, você citou o IBMEC como um exemplo de instituição particular e seus benefícios, porém utilizou um ponto fora da curva, pois esta instituição escolhe muito bem quem estuda lá, principalmente por ter uma mensalidade inicial que beira os 2 mil reais. Quando você pega a média, você ve um monte de faculdade meia boca, com estruturas péssimas que se utilizam de planos do governo para lucrar uma graninha.

Quanto a outra resposta, ela começou a ficar grande demais, e ainda faltava muito pra escrever, fiquei com preguiça, se um dia nos encontrarmos, podemos confabular.
 
Amon Gwareth disse:
Moça, vc está falando besteira e reforçando um forte preconceito da sociedade a troco de não quero nem imaginar o que. Na condição de profissional da educação, como vc mesma deve saber mas não citou, o problema de educação no Brasil não se restringe a escolas públicas. A reclamação (justa) dos professores de escola pública é em relação ao salário, pois as tais condições nefastas estão presentes também em escolas particulares não elitizadas (sobre elitizadas, falo de escolas tradicionais, como Bandeirantes, etc).

Há realmente um problema na educação que é generalizado a todas as escolas, inclusive as particulares. No entanto, quando trabalhei em escola pública, não havia nem giz. Esperavam que a gente trouxesse livros, giz e apagador de casa. Detalhe é que o primeiro salário só receberíamos 3 meses depois do início das aulas, por sermos eventuais.

Com que dinheiro a gente ia viver e, pior ainda, trazer material de casa pra fazer essas coisas?

Agressões físicas como aluno quebrar nariz de outro, aluno querer ficar pelado na minha frente, aluno me assediar por eu ser jovem (eu tinha 20 anos), etc. Isso em pouco mais de um mês.

Acontece na particular? Sim. Minha irmã ainda estuda, e está numa escola particular. Mas ela nunca falou de quebrarem narizes lá dentro, ou ainda ficarem nus na frente de professoras mulheres.

A meu ver o problema da escola pública é a chamada "progressão continuada" que dá muito certo em países civilizados, onde as pessoas tem educação de berço. Aqui no Brasil? Sinto muito.

A exemplo a crise absoluta de autoridade dos professores em escolas particulares pequenas, onde os mesmos respondem diretamente pelo desempenho dos alunos sem terem à disposição ferramentas efetivas para controlar esse desempenho. Este problema não somente demonstra que liberalismo sem regulamentação não funciona para a nossa realidade, como também indica uma falha de participação da comunidade para gerir uma escola particular no modelo "comprei uma solução, quero o meu resultado".

Quando eu dei aulas na escola pública, me disseram que eu "não segurava a classe", ou seja, que faziam bagunça e eu não sabia "me impor". Se eu dava uma advertência ou ainda uma suspensão, ou vinha pai e mãe falar um monte ou aluno vinha dizer q "não ia acontecer nada".

Independente de isso ser estrito de escola pública ou não, era o que ocorria lá. Se o problema da educação é da educação como um todo, na escola pública, principalmente a estadual, chega a ser pior, pois reiterando, nem material a gente tinha pra dar aula.

Isso foi em 2006. Não sei como está hoje.

Ao invés de, com um tom nojento, alimentar preconceitos e irracionalidades ao redor de um problema já naturalmente delicado, vc pode LISTAR os tais problemas nefastos para que eles possam ser trazidos à luz da discussão racional.

Meu tom é realmente "nojento" porque não guardo nenhuma saudade desse lugar que serve muito para perpetuar ciclos de violência. tanto verbal e moral quanto física, do que para ensinar algo de verdade, ou mesmo aprender.
 
Antropologicamente possível é algo bem distinto de antropologicamente replicável.

Temos que ter muito cuidado com quaisquer casos analisados. A Finlândia, por exemplo, geralmente é tida como modelo de educação pública de qualidade, mas dificilmente se levam em conta outros fatores. Por exemplo, existem evidências de que o desempenho Finlandês pode estar relacionado a outras questões como:
i) características fenotípicas, que explicariam ao mesmo tempo o elevado desempenho escolar mas a ausência de "gênios" (The most plausible answer to the question of the cause of the high Finnish performance on PISA which has so fascinated Western news media in recent years is that Finns have higher intelligence and lower psychoticism than other European peoples. However, their relatively low psychoticism, and restricted range intelligence, would also neatly explain the relative dearth of Finnish Nobel laureates in science);
ii) as vantagens do idioma (estudantes finlandeses que falam sueco mas não finlandês possuem desempenho pior no PISA, mesmo sendo mais ricos).​
Ainda, o sistema finlandês é bastante descentralizado, as escolas públicas são diversificadas, há competição por alunos entre distritos, e o nível de autonomia permite inclusive que as escolas possam demitir professores de baixo desempenho. Alguém aí já pensou nisso sendo aplicado às nossas escolas públicas?

Esse primeiro estudo aí eu achei bem bizarro. Não que eu tenho preconceito em relação à pesquisa sobre a possibilidade de uma relação entre traços de personalidade (e desempenho cognitivo) x características feno- (e possivelmente geno-)típicas de uma população.

Sei que foi mais um caso motivador do que qualquer outra coisa, mas é bizarro correlacionar número de prêmios Nobel com traços possivelmente inatos de personalidade dos finlandeses. O próprio artigo cita que o país foi largamente rural até a Segunda Guerra (na verdade, até décadas depois dela), além de que ele sofreu muitos revezes, como uma guerra civil logo após a independência, a Segunda Guerra Mundial (o mais afetado dentre todos os nórdicos), ser país-tampão na Guerra Fria, a crise econômica profunda com a quebra da URSS (com quem comerciava bastante), etc. É historicamente um país bem mais instável que Suécia, Noruega ou Dinamarca, além de ser mais periférico que esses outros três. Então, com essa sobra de fatores socioculturais, fica estranho preferir pular para uma explicação fenotípica.

Sobre a Suécia, tem evidências de que o sistema de vouchers, ao aumentar a competição, melhorou o desempenho de escolas públicas na década de 90 (e existem vários outros artigos provando a ligação entre competição e qualidade em outros contextos [1, 2, 3]). O declínio dos anos mais recentes, por outro lado, dificilmente pode ser atribuído aos vouchers. Na verdade, controlando pela dimensão da competição local ensejada pelo sistema de vouchers, observa-se que de fato não é culpa desse sistema.

Existem resultados positivas pra Colômbia e outros países em desenvolvimento, e também sugestões de que esse tipo de programa deve ser direcionado para pessoas mais pobres, e não para todos os estudantes.

Enfim, até o momento não vi nenhum contexto em que vouchers foram prejudiciais. E ainda tem a alternativa das charter schools. São possibilidaeds, que eu acho que valeriam a pena serem exploradas. Só não pode continuar do jeito que está.

Sobre o Chile, a maioria dos estudos tende a conferir mesmo um aumento da média com a adoção do sistema, mas por lá a evidência de cream skimming de professores e de alunos também aparece em vários estudos, como esse aqui. O sistema lá aumentou a disparidade entre as diferentes escolas e diminuiu a diversidade interna de alunos dentro das próprias - o que é fácil acontecer num país que, como o nosso, tem indicadores de desigualdade dentre os maiores do mundo.

E isso é algo a se corrigir, porque, se a igualdade não for possível, um dos objetivos de o governo financiar a educação dos mais pobres é justamente promover o acesso a oportunidades - enfim, é uma distribuição de renda muito fácil de ser aceita por todas as classes, até porque, como provam as próprias origens do sistema pública de educação como conhecemos, a escolarização guarda um certo caráter de investimento com retorno positivo para todos.
 
Como qualidade de aluno também tem a ver com qualidade de escola um texto do assunto:

Undoing the Dis-Education of Millennials
By Adam J. MacLeod | November 9, 2017, 9:06 EST
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I teach in a law school. For several years now my students have been mostly Millennials. Contrary to stereotype, I have found that the vast majority of them want to learn. But true to stereotype, I increasingly find that most of them cannot think, don’t know very much, and are enslaved to their appetites and feelings. Their minds are held hostage in a prison fashioned by elite culture and their undergraduate professors.

They cannot learn until their minds are freed from that prison. This year in my Foundations of Law course for first-year law students, I found my students especially impervious to the ancient wisdom of foundational texts, such as Plato’s Crito and the Code of Hammurabi. Many of them were quick to dismiss unfamiliar ideas as “classist” and “racist,” and thus unable to engage with those ideas on the merits. So, a couple of weeks into the semester, I decided to lay down some ground rules. I gave them these rules just before beginning our annual unit on legal reasoning.

Here is the speech I gave them.


********************************

Before I can teach you how to reason, I must first teach you how to rid yourself of unreason. For many of you have not yet been educated. You have been dis-educated. To put it bluntly, you have been indoctrinated. Before you learn how to think you must first learn how to stop unthinking.

Reasoning requires you to understand truth claims, even truth claims that you think are false or bad or just icky. Most of you have been taught to label things with various “isms” which prevent you from understanding claims you find uncomfortable or difficult.

Reasoning requires correct judgment. Judgment involves making distinctions, discriminating. Most of you have been taught how to avoid critical, evaluative judgments by appealing to simplistic terms such as “diversity” and “equality.”

Reasoning requires you to understand the difference between true and false. And reasoning requires coherence and logic. Most of you have been taught to embrace incoherence and illogic. You have learned to associate truth with your subjective feelings, which are neither true nor false but only yours, and which are constantly changeful.

We will have to pull out all of the weeds in your mind as we come across them. Unfortunately, your mind is full of weeds, and this will be a very painful experience. But it is strictly necessary if anything useful, good, and fruitful is to be planted in your head.

There is no formula for this. Each of you has different weeds, and so we will need to take this on the case-by-case basis. But there are a few weeds that infect nearly all of your brains. So I am going to pull them out now.

First, except when describing an ideology, you are not to use a word that ends in “ism.” Communism, socialism, Nazism, and capitalism are established concepts in history and the social sciences, and those terms can often be used fruitfully to gain knowledge and promote understanding. “Classism,” “sexism,” “materialism,” “cisgenderism,” and (yes) even racism are generally not used as meaningful or productive terms, at least as you have been taught to use them. Most of the time, they do not promote understanding.


In fact, “isms” prevent you from learning. You have been taught to slap an “ism” on things that you do not understand, or that make you feel uncomfortable, or that make you uncomfortable because you do not understand them. But slapping a label on the box without first opening the box and examining its contents is a form of cheating. Worse, it prevents you from discovering the treasures hidden inside the box. For example, when we discussed the Code of Hammurabi, some of you wanted to slap labels on what you read which enabled you to convince yourself that you had nothing to learn from ancient Babylonians. But when we peeled off the labels and looked carefully inside the box, we discovered several surprising truths. In fact, we discovered that Hammurabi still has a lot to teach us today.
One of the falsehoods that has been stuffed into your brain and pounded into place is that moral knowledge progresses inevitably, such that later generations are morally and intellectually superior to earlier generations, and that the older the source the more morally suspect that source is. There is a term for that. It is called chronological snobbery. Or, to use a term that you might understand more easily, “ageism.”

Second, you have been taught to resort to two moral values above all others, diversity and equality. These are important values if properly understood. But the way most of you have been taught to understand them makes you irrational, unreasoning. For you have been taught that we must have as much diversity as possible and that equality means that everyone must be made equal. But equal simply means the same. To say that 2+2 equals 4 is to say that 2+2 is numerically the same as four. And diversity simply means difference. So when you say that we should have diversity and equality you are saying we should have difference and sameness. That is incoherent, by itself. Two things cannot be different and the same at the same time in the same way.

Furthermore, diversity and equality are not the most important values. In fact, neither diversity nor equality is valuable at all in its own right. Some diversity is bad. For example, if slavery is inherently wrong, as I suspect we all think it is, then a diversity of views about the morality of slavery is worse than complete agreement that slavery is wrong.

Similarly, equality is not to be desired for its own sake. Nobody is equal in all respects. We are all different, which is to say that we are all not the same, which is to say that we are unequal in many ways. And that is generally a good thing. But it is not always a good thing (see the previous remarks about diversity).

Related to this: You do you not know what the word “fair” means. It does not just mean equality. Nor does it mean something you do not like. For now, you will have to take my word for this. But we will examine fairness from time to time throughout this semester.

Third, you should not bother to tell us how you feel about a topic. Tell us what you think about it. If you can’t think yet, that’s O.K.. Tell us what Aristotle thinks, or Hammurabi thinks, or H.L.A. Hart thinks. Borrow opinions from those whose opinions are worth considering. As Aristotle teaches us in the reading for today, men and women who are enslaved to the passions, who never rise above their animal natures by practicing the virtues, do not have worthwhile opinions. Only the person who exercises practical reason and attains practical wisdom knows how first to live his life, then to order his household, and finally, when he is sufficiently wise and mature, to venture opinions on how to bring order to the political community.

One of my goals for you this semester is that each of you will encounter at least one idea that you find disagreeable and that you will achieve genuine disagreement with that idea. I need to explain what I mean by that because many of you have never been taught how to disagree.

Disagreement is not expressing one’s disapproval of something or expressing that something makes you feel bad or icky. To really disagree with someone’s idea or opinion, you must first understand that idea or opinion. When Socrates tells you that a good life is better than a life in exile you can neither agree nor disagree with that claim without first understanding what he means by “good life” and why he thinks running away from Athens would be unjust. Similarly, if someone expresses a view about abortion, and you do not first take the time to understand what the view is and why the person thinks the view is true, then you cannot disagree with the view, much less reason with that person. You might take offense. You might feel bad that someone holds that view. But you are not reasoning unless you are engaging the merits of the argument, just as Socrates engaged with Crito’s argument that he should flee from Athens.

So, here are three ground rules for the rest of the semester.



1. The only “ism” I ever want to come out your mouth is a syllogism. If I catch you using an “ism” or its analogous “ist” — racist, classist, etc. — then you will not be permitted to continue speaking until you have first identified which “ism” you are guilty of at that very moment. You are not allowed to fault others for being biased or privileged until you have first identified and examined your own biases and privileges.

2. If I catch you this semester using the words “fair,” “diversity,” or “equality,” or a variation on those terms, and you do not stop immediately to explain what you mean, you will lose your privilege to express any further opinions in class until you first demonstrate that you understand three things about the view that you are criticizing.

3. If you ever begin a statement with the words “I feel,” before continuing you must cluck like a chicken or make some other suitable animal sound.

********************************

To their credit, the students received the speech well. And so far this semester, only two students have been required to cluck like chickens.



Adam J. MacLeod is an associate professor of law at Jones School of Law at Faulkner University in Montgomery, Alabama.
http://newbostonpost.com/2017/11/09/undoing-the-dis-education-of-millennials/

3. If you ever begin a statement with the words “I feel,” before continuing you must cluck like a chicken or make some other suitable animal sound.
:rofl:
 

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