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Os 8 Odiados (The Hateful Eight, 2015)

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O oitavo filme de Quentin Tarantino se passa em Wyoming após a Guerra de Secessão, onde John "The Hangman" Ruth (Kurt Russell) escolta Daisy "The Prisoner" Domergue (Jennifer Leigh) para Red Rock, onde a mesma será julgada por assassinato. No caminho eles encontram outro caçador de recompensas, Major Marquis "The Bounty Hunter" Warren (Samuel L. Jackson), além de Chris "The Sheriff" Mannix (Walton Goggins). Uma nevasca os obriga a buscar abrigo em uma parada de carruagens, onde eles encontram mais quatro estranhos: Bob "The Mexican" (Demian Bichir), Oswaldo "The Little Man" Mobray (Tim Roth), Joe "The Cow Puncher" Gage (Michael Madsen), e o ex-general Sanford "The Confederate" Smithers (Bruce Dern). Através de decepções e traições, os oito logo descobrem que talvez eles não consigam chegar à Red Rock.

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Trailer:

Ficha:
Os 8 Odiados (The Hateful Eight)
Diretor: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Estrelas: Samuel L. Jackson, Kurt Russel, Jennifer Leigh, Tim Roth, Walton Goggins, Demian Bichir, Michael Madsen, Bruce Dern, Zoë Bell, Channing Tatum
Estréia: 25/12/2015 (16/01/2016 no Brasil)
IMDb: http://www.imdb.com/title/tt3460252/
 
Já pela abordagem retrô com clima de faroeste já fiquei curioso pra ver e por ser um filme do Tarantino mais ainda...
 
Qual o personagem do Channing Tatum? E sério, que que esse cara tem além da beleza? Não consigo gostar dele...
 
Eu adoro filmes do Tarantino, e obviamente quero muito assistir o The Hateful 8. Só que, não sei porque... Tô com a sensação de que esse vai ser muito mais um Kill Bill Vol. 2, do que um Bastardos Inglórios, Pulp Fiction ou mesmo um Kill Bill Vol. 1... Não sei porque tenho essa sensação quando assisto aos trailers...
** Posts duplicados combinados **
Aliás, sobre o plot desse filme, de tentar lucrar com a entrega de um "procurado", e livrá-lo do enforcamento no final... Serve pra lembrar como o Tarantino não consegue parar de fazer múltiplas homenagens constantes e infinitas ao The Good, The Bad and the Ugly:

 
Ai, que agora apareceu um webrip em hd e to doidão pra ver logo... Em um monte de lugar daqui já esta passando desde sexta, mas é tudo longe... Hj começou a passar num cinema perto mas por enquanto só dublado :mad: Quinta-feira que as sessões legendadas devem aparecer (a não ser animações, nesse cinema eles sempre acham um horário pra passar com o áudio original, pelo menos)...

Edit: Pronto, acabou meu conflito: A imagem ta uma bosta, mó enganação. É um sinal! hehe esperarei até quinta :)
 
Última edição:
Muito legal. Gostei muito.
No final das contas, achei um filme abaixo do Django, mas que me dá mais vontade de assistir mais vezes.
 
Como não tenho o menor problema/pudor/frescura com cópia dublada, não esperei, vi e gostei.

Depois de Django, é bom ver que num intervalo de apenas 3 anos entre os dois filmes, o Tarantino pegou gosto pelo faroeste. Se emendar mais um novo lançamento em breve vou adorar.
 
Uma crítica que achei interessante reproduzir

"Os Oito Odiados": 8 motivos para amar ou odiar o novo filme de Tarantino
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Cena de "Os Oito Odiados", do diretor Quentin Tarantino Divulgação

O oitavo filme de Quentin Tarantino como diretor, "Os Oito Odiados", chega ao Brasil nesta quinta-feira (7) (veja salas e horários) depois de ter dividido a crítica em sua estreia nos Estados Unidos.

No longa, que se passa alguns anos depois da Guerra Civil americana, um grupo de desconhecidos é obrigado a passar a noite em uma estalagem isolada durante uma nevasca. Entre os presentes estão os caçadores de recompensa Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e John Ruth (Kurt Russell). Este último está transportando uma foragida da justiça, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), e logo desconfia que alguém no grupo está ali para libertá-la. A tensão logo sairá do controle para desembocar em uma situação bem tarantinesca.

Apesar da premissa interessante, nem todo mundo continua fã incondicional do diretor de "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction" depois de assistir ao filme, e o longa alcançou uma média em torno de apenas 70% de aprovação em sites como o Metacritic e o Rotten Tomatoes, que reúnem e quantificam as avaliações dos críticos de cinema dos principais jornais e veículos do mundo.

Na redação do UOL, não foi diferente: teve quem aplaudisse e quem torcesse o nariz para o longa. Na impossibilidade de chegar a um acordo, listamos quatro motivos para amar e quatro motivos para odiar "Os Oito Odiados". Sirva-se à vontade e deixe o seu veredito na área de comentários abaixo.
4 motivos para amar "Os Oito Odiados"

O elenco

Se tem uma coisa que Tarantino sabe fazer como ninguém é escalar o seu time - um mix de velhos conhecidos da casa com atores consagrados, mas ligeiramente esquecidos. Nesse quesito, "Os Oito Odiados" é uma festa: tem Samuel L. Jackson em seu melhor papel em um filme de Tarantino desde "Pulp Fiction", tem Tim Roth e Michael Madsen emprestando o charme vintage de "Cães de Aluguel", tem Kurt Russell com credenciais que são a cara do diretor (astro de ação meio decadente, ex-talento mirim da Disney, anti-herói de filmes de John Carpenter, sósia de Elvis Presley em "3000 Milhas para o Inferno"...). Mas nada disso adiantaria não fosse o talento único de Tarantino para dirigir seu elenco, especialmente nos longos e intrincados diálogos que já se tornaram sua marca registrada.

A trilha sonora

Assim como bons olhos para escolher atores, Tarantino tem também uma sensibilidade ímpar para trabalhar as trilhas em seus filmes, garimpando e costurando pérolas da soul music, do pop radiofônico e das próprias trilhas de outros filmes antigos, fazendo-as servir ao clima que deseja dar à cena. Neste "Oito Odiados" ele passa a batuta para o compositor Ennio Morricone, que talvez você possa não conhecer de nome, mas certamente vai reconhecer "de ouvido" se já assistiu a um clássico de faroeste na vida. É essa música instrumental, ora sutil e minimalista, ora mais dinâmica e épica, que acompanha o público do começo ao fim do filme, ajudando a criar a atmosfera de suspense e ameaça à espreita que o roteiro - em que ninguém é exatamente o que parece ser - exige.

O passado --e o futuro-- do cinema

Não se engane pelo cenário e os personagens: há muito mais que uma homenagem aos filmes de faroeste de Sergio Leone e John Ford em "Os Oito Odiados". Como tudo no "metacinema" de Tarantino, há também citações a outros clássicos do cinema e da literatura, às histórias de mistério de Agatha Christie e do detetive Sherlock Holmes e a diretores como Alfred Hitchcock e Robert Altman. Sua paixão e dedicação pela história do cinema é tamanha que ele mandou praticamente "ressuscitar" um formato esquecido de negativo de cinema, o Ultra Panavision 70, para gravar e projetar o novo longa do jeito que imaginou. Se as salas de cinema não fecham as portas de uma vez por todas e se rendem a formatos bem mais cômodos - como as projeções digitais e serviços de "cinema em casa" como o Netflix -, é a caras como ele e Martin Scorsese que você deve agradecer.

Porque parece "Cães de Aluguel"

De uns tempos para cá, parece que releitura virou pecado. Primeiro, os fãs xiitas de "Star Wars" reclamando que o novo "O Despertar da Força" é cópia do original, "Uma Nova Esperança". Agora, bastaram as primeiras sessões de "Os Oito Odiados" para parte da crítica e do público desdenhar do filme como mais do mesmo: "Ele já fez isso em 'Cães de Aluguel'..." Bem, "Cães de Aluguel", de 1992, foi o primeiro longa de Tarantino e apontado pelo próprio como um de seus melhores trabalhos. Então por que, 24 anos depois, mais experiente e maduro, ele não pode revisitar algo que deu certo, mudar alguns ingredientes e servir numa nova embalagem? Sim, o filme usa o mesmo recurso de confinar personagens em uma sala enquanto um mistério vai sendo aos poucos revelado/desvendado, mas até aí podemos dizer o mesmo de "Festim Diabólico" (1948), de "12 Homens e uma Sentença" (1957), de "O Anjo Exterminador" (1962), de "Assassinato em Gosford Park" (2001) e até de "Jogos Mortais" (2004), ora bolas!

4 motivos para odiar "Os Oito Odiados"


Porque parece "Cães de Aluguel" --só que pior

Você já sabe que "Os Oito Odiados" foi comparado a "Cães de Aluguel", um dos melhores filmes de Tarantino. Mas isso não é necessariamente bom. De fato, os melhores momentos do novo longa emergem da repetição da fórmula do primeiro filme do diretor: alguém não é exatamente quem diz ser e os personagens tentam não perder a cabeça enquanto especulam quem é o traidor, antes que tudo acabe em um inevitável banho de sangue. A repetição já dá indicações sobre como as coisas vão se desenrolar, tirando um pouco da graça, mas isso não seria um problema se a execução nos reservasse pequenas revelações e bons momentos. Só que as soluções dadas aqui pelo diretor não têm metade da elegância do filme de 1992.

O didatismo excessivo

Até chegar ao ápice, "Os Oito Odiados" é bem quadrado em seu formato, dividido em capítulos, e com diálogos didáticos, que apresentam ao espectador quase toda a história pregressa dos personagens principais, ou ao menos versões delas. Até aí, até que não incomoda tanto. Mas, quando o mistério está prestes a ser revelado, a ação é interrompida por uma explicação minuciosa de tudo que havia sido ocultado até o momento, em forma de flashback, com direito a narração do próprio Tarantino, para assegurar que o público não perca nada de importante. OK, sabemos que é uma referência a filmes de mistério no estilo Agatha Christie, mas faz pouco sentido revelar tudo antes mesmo do nosso Poirot ter descoberto a verdade.

A misoginia

Quando o filme começa, ficamos com a impressão de que Daisy (Jennifer Jason Leigh) será um dos pontos centrais da trama, já que ela é o motivo que leva quase todos os personagens à estalagem isolada onde se encontram. Mas, conforme a história avança, ela nunca assume uma posição ativa. É sempre objeto, principalmente da violência e desprezo dos outros personagens, prontos a arrastá-la para lá e para cá com uma corrente e espancá-la gratuitamente, transformando-a em um caricatural saco de pancadas --olho roxo, dentes quebrados, rosto coberto de sangue... Não ficamos sabendo nem mesmo quais os crimes terríveis cometidos por ela, que justificam o alto preço oferecido por sua cabeça, e até seu final será menos digno do que o dos outros personagens, embora logo fique claro que ninguém vai se dar bem ali.

A violência pela violência

Quando "Os Oito Odiados" termina, tem-se a impressão de que Tarantino tentou entregar um comentário sobre a bizarra colcha de retalhos que forma a sociedade norte-americana atual, as consequências da escravidão, o racismo e as ressonâncias que a Guerra Civil tem até hoje. Mas a crítica nunca toma uma forma coesa e todo seu potencial escapa pelos dedos do diretor quando o filme finalmente se torna o banho de sangue prometido desde o começo. No final, dissolvem-se as referências aos faroestes e filmes de mistério e tudo se resolve como em um terror B: com carnificina e sadismo, em um nível excessivo até para um filme de Tarantino. A premissa que sobra é: se você colocar um bando de pessoas perversas em um mesmo espaço, elas vão acabar se matando. O único mistério é como - e esse como não justifica as quase três horas de sangue e alguns diálogos espertos. Sobra um niilismo cansativo e autorreferente.
 
Eu li essa reportagem e não concordo com o lance do didatismo. Achei o flashback super importante e a narração dele deu um toque dos filmes de mistério, aliás como a própria reportagem fala. Então, wtf.

Em todo caso, achei bom o filme. Uma das coisas que eu fico com o pé atrás nos filmes dele é esse lance do "cool", tudo tem que ser cool o tempo todo, e nesse filme isso ficou um pouco de lado. Por isso gostei mais do que achei que gostaria kkkk
 
Gostei demais da crítica do Pablo:
Capítulo 1 (sem spoilers): O Segredo da Cabana...

Em certo momento de Os Oito Odiados, o personagem de Samuel L. Jackson conta uma extensa e detalhada história que, verdadeira ou não, tem o claro propósito de provocar uma reação forte em seu interlocutor – uma história que lida com raça, abuso sexual e violência. Trata-se de um instante revelador, quase metalinguístico, que claramente funciona como uma referência à carreira de seu criador, que, como sua criação interpretada por Jackson, obviamente se diverte ao construir narrativas que não apenas despertam controvérsias, mas parecem interessadas em atraí-las.

A metalinguagem, diga-se de passagem, surge já no título do filme, que, oitavo longa da carreira do diretor, faz uma referência ao fato no número que contém (e que não condiz com a quantidade de “odiados” da história em si) e também, claro, ao remeter a Fellini 8 ½ (que Tarantino já havia homenageado em Pulp Fiction, não nos esqueçamos). Dividido em capítulos como tantas outras obras do realizador, Os Oito Odiados acompanha o caçador de recompensas John “O Enforcador” Ruth (Russell), que conduz a prisioneira Daisy Domergue (Leigh) até a cidade na qual será executada. No caminho, eles encontram o também caçador de recompensas Major Marquis Warren (Jackson), que lutou pela União (obviamente) durante a Guerra Civil, e o xerife Chris Mannix (Goggins), que participou do conflito do lado da Confederação. Como se isto já não gerasse tensão suficiente, o grupo é obrigado, pela tempestade de neve que os cerca, a buscar abrigo em uma cabana no meio do nada e que já encontra-se ocupada pelo general confederado Sandy Smithers (Dern), pelo carrasco britânico Oswaldo Mobray (Roth), pelo taciturno Joe Gage (Madsen) e pelo mexicano Bob (Bichir). Como este é um trabalho de Tarantino, não demora muito até que o sangue comece a jorrar.

Concebido basicamente como um filme de câmara (pensem em Festim Diabólico, 12 Homens e uma Sentença ou no episódio “Fly” de Breaking Bad), Os Oito Odiados é um longa que basicamente exige uma atmosfera claustrofóbica – e, portanto, é fascinante que Tarantino e o diretor de fotografia Robert Richardson tenham decidido rodá-lo não apenas em 70mm, mas com lentes anamórficas que acabam resultando numa razão de aspecto de 2.76:1 que parece prometer um espetáculo visual em planos gerais e locações amplas que nunca se concretiza. Isto não quer dizer, porém, que Os Oito Odiados não seja esteticamente brilhante, pois é – a começar por sua habilidade em conseguir atingir o tom claustrofóbico necessário através dos quadros fechados e da brancura opressiva da neve que cerca a cabana e da ventania ruidosa e constante que jamais nos deixa esquecer da natureza hostil que matará qualquer um que se aventure a sair dali. (Além disso, o fato de lidar com personagens confinados junto a um inimigo desconhecido em meio à neve permite que Tarantino faça outra referência cinematográfica, desta vez a O Enigma de Outro Mundo – uma referência que se torna mais escancarada graças à presença de Kurt Russell e da utilização de trechos da trilha composta por Morricone para aquele filme e que aqui surgem justamente numa cena-chave envolvendo o ator.)

Da mesma forma, é intrigante perceber como a imensa razão de aspecto traz desafios ao designde produção, já que exige um cuidado ainda maior com os detalhes da cabana, que acabam surgindo ao fundo mesmo em planos fechados (e nos abertos, claro, precisam ocupar áreas bem maiores do que o normalmente necessário). Assim, não só a geografia restrita da cabana traz um imenso número de elementos (jarras com guloseimas, utensílios pendurados nas vigas que percorrem o teto, prateleiras tomadas por potes e garrafas, etc) como ainda se revela como uma combinação de pousada e saloon em um aposento único, sem divisórias, que consegue sugerir ambientes diversos apenas através da diferença na luz e de correntes e ganchos suspensos aqui e ali.

Povoado pelas marcas registradas de Tarantino, o longa traz vários planos com split focus(elementos próximos e distantes da câmera se encontram nítidos, embora o espaço entre eles não esteja), um recurso ainda mais importante na fotografia anamórfica, que normalmente tem profundidade de campo reduzida; divisão em capítulos; cronologia quebrada com uso deflashbacks; referências à fictícia marca de cigarro (aqui tabaco) Red Apple; e, claro, uma quantidade absurda de diálogos. Contrariando a convenção cinematográfica do “não conte; mostre”, o realizador usa as falas para revelar diversos incidentes do passados dos personagens, cortando para flashbacks que os ilustram em apenas um breve momento (e justamente quando não temos certeza sobre a verossimilhança do que é dito, em mais uma ironia tarantiniana). No entanto, em vez de prejudicar o filme, esta abordagem de Tarantino o enriquece ao manter o espectador no presente, transformando-o em mais um dos ouvintes dos casos narrados.

Aliás, se há algo que se torna patente durante a projeção (e da própria carreira do cineasta) é que Tarantino adora o processo narrativo em si, divertindo-se, por exemplo, ao repetir informações já marteladas, ao levar o público a rever certas passagens a partir de pontos de vista diferentes e ao antecipar elementos que outros realizadores manteriam em segredo (a base do “Capítulo 4”, por exemplo). Além disso, o diretor demonstra seu talento invejável para criar sequências de tensão palpável ao sugerir explosões de violência minutos antes que estas ocorram de fato – e reparem como ele usa a velha melodia de “Noite Feliz” para construir esta atmosfera ao levar certo personagem a retornar ao início da canção sempre que erra uma nota. Para completar, é notável como o mestre Ennio Morricone compreende as intenções de Tarantino, fugindo de temas típicos do western para, em vez disso, apostar em temas sombrios hábeis em evocar coisas terríveis ainda por vir.

Claro que o excesso aparente de diálogos pode soar como autoindulgência do cineasta (algo que não é exatamente raro em sua filmografia), mas é difícil negar que, ao investir basicamente metade da obra apenas para apresentar seus personagens, ele potencializa os conflitos entre estes, já que precisamos conhecer suas personalidades para compreendermos de fato a natureza de suas desavenças. E é claro que o elenco aprecia a oportunidade: Kurt Russell, por exemplo, confere uma decência surpreendente ao seu caçador de recompensas, o que torna sua brutalidade para com Daisy ainda mais chocante (especialmente se considerarmos gestos pontuais de delicadeza, como ao limpar seu rosto durante o jantar), ao passo que Walter Goggins mantém o público sempre incerto com relação à honestidade do xerife Mannix. E se Tim Roth diverte ao imitar Christoph Waltz e Bruce Dern explora bem sua cena mais importante, Demian Bichir e Michael Madsen fazem o que podem com personagens menos relevantes, conferindo vida suficiente a estes para despertar nosso interesse.

No entanto, não há dúvida de que o centro de Os Oito Odiados é mesmo composto pelas performances de Samuel L. Jackson e Jennifer Jason Leigh. Buscando se afirmar numa época em que negros em posição de autoridade eram mais raros do que risadas em um filme de Adam Sandler, o major Marquis Warren é um homem inteligente, mas inquestionavelmente cruel. Habituado a ter que sobreviver diante do racismo de praticamente todos que o cercam, ele encontra, na violência (para não mencionar outros subterfúgios), uma arma não só para se firmar, mas também para se vingar, sendo curioso também como acaba sendo transformado pela história em uma espécie de detetive de Agatha Christie (e Os Oito Odiados tem sua parcela de O Caso dos Dez Indiozinhos, embora o fato de todos os personagens aparentemente terem algo a esconder remeta também a Assassinato no Expresso do Oriente).

O que nos traz à Daisy Domergue de Jennifer Jason Leigh, que rouba o filme de todos os seus colegas do sexo masculino. Inteligente, irreverente e com um toque de insanidade que a transforma no elemento mais imprevisível do filme, Daisy é também o saco de pancadas favorito do longa, já que surge em cena já com o olho esquerdo roxo e é submetida a todo tipo de brutalidade durante as quase três horas seguintes. Porém, ao mesmo tempo que isto a torna vulnerável (atraindo a simpatia do espectador), permite também que constatemos sua força, já que ela jamais se deixa abalar pelos golpes que leva – ao contrário: faz questão de demonstrar para seus algozes que ainda está longe de chegar ao seu limite.

E é esta postura firme que a transforma em uma figura tão memorável e forte, estabelecendo-a como mais uma das excepcionais personagens femininas do universo criado por Tarantino.

O que, claro, não a torna menos odiosa do que seus companheiros naquela sufocante cabana de madeira.



Capítulo 2 (com spoilers): ... É que Representa um País

Um dos recursos clássicos ao criar uma alegoria reside em empregar um microcosmos como representação do macro; o particular como símbolo de algo mais amplo; o detalhe como substituto do geral. É o que permite, por exemplo, que a trajetória da família Corleone remeta à própria História dos Estados Unidos e que a Máfia na trilogia de Coppola surja como um comentário sobre o Capitalismo – e também é o que transforma Os Oito Odiados em algo maior do que simplesmente um exercício niilista.

Sim, em uma leitura puramente superficial, o filme de Quentin Tarantino parece se satisfazer apenas em colocar diversos personagens desprezíveis em um mesmo espaço por algumas horas até que suas naturezas os conduzam à destruição mútua, mas um olhar um pouco mais cuidadoso indica uma intenção mais ambiciosa por trás da narrativa construída pelo cineasta.

Ora, em maior ou menor grau, a filmografia de Tarantino constantemente lida com questões políticas e/ou sociais como o preconceito, seja este manifestado através do racismo ou do sexismo – e, não à toa, suas tramas costumam girar em torno de personagens em busca de vingança, permitindo que suas dores pessoais funcionem como espetáculos sangrentos de catarse coletiva através da possibilidade de reparação contra nazistas (Bastardos Inglórios), misóginos (À Prova de Morte) ou escravagistas (Django Livre). Assim, não é surpresa que por trás da trama aparentemente simples de Os Oito Odiados haja uma discussão consideravelmente mais complexa.

Em primeiro lugar, analisemos os indivíduos que o cineasta coloca naquela cabana: há um negro (o major Warren) e um representante da Confederação racista (o general Smithers); há um sujeito que supostamente enriqueceu ao se tornar sócio de uma empreitada (Joe Gage) e o pobre condutor da carruagem que é obrigado a trabalhar mais do que todos (O.B. Jackson); há o representante da Lei (John Ruth) e aquela que ameaça a Ordem (Daisy); e há, finalmente, o britânico que simboliza aqueles que colonizaram a América (Oswald Mobray) e o mexicano que representa a natureza colonialista do país recém-formado (Bob). Logo descobrimos, também, como o general Smithers massacrou um batalhão de soldados negros, como o major Warren massacrou um contingente de índios, como Minnie (a dona da cabana, que era negra) odiava mexicanos e como todos parecem confortáveis em espancar ou ameaçar Daisy, a única mulher do grupo.

Não requer muita imaginação, portanto, para constatar como o espaço dividido por todas aquelas pessoas de origens diferentes é uma representação da própria “América” (como os norte-americanos gostam de chamar os Estados Unidos) - palco, ainda hoje, de demonstrações crescentes de intolerância contra todo tipo de minoria: negros, gays, latinos, mulheres e, de forma cada vez mais óbvia, muçulmanos. Assim, quando Os Oito Odiados intitula seu derradeiro capítulo como “Homem Negro, Inferno Branco”, a conotação racial é inquestionável (mesmo que o branco também se refira à neve que cerca os personagens). E tampouco é acaso que o racista Mannix e o negro Warren se unam para executar Daisy, sugerindo que a aliança estabelecida pelo sexo é mais forte do que a discórdia baseada em suas raças.

De maneira similar, a natureza belicista da “América”, uma nação construída através de guerras constantes, é criticada logo após o fade final, quando a voz de Roy Orbison é ouvida cantando “There Won’t Be Many Coming Home” e que traz versos que confirmam a intenção alegórica de Tarantino:

Listen all you people
Try and understand
You may be a soldier
Woman, child or man
But there won’t be many coming home
(…)
Look real closely at the soldier
Coming at you through the haze
He may be the younger brother who ran away
And before you kill another
Listen to what I say
Oh, there won’t be many coming home.”


E é neste contexto que finalmente compreendemos a importância da carta atribuída a Abraham Lincoln: mencionada várias vezes durante a projeção, ela só é lida na íntegra após a sádica execução de Daisy, revelando-se um comentário irônico sobre a brutalidade que testemunháramos nas últimas três horas. “Ainda temos um longo caminho a percorrer”, escreve “Lincoln”, completando de forma otimista: “Mas, de mãos dadas, chegaremos lá”.

Enquanto Mannix lê estas palavras, Tarantino recua sua câmera para revelar o corpo suspenso de Daisy que, claro, ainda se encontra algemado ao braço decepado de John Ruth.

Certamente não era exatamente isso que o esperançoso “Lincoln” tinha em mente ao usar a expressão “de mãos dadas”.

E se considerarmos que, neste contexto, a própria Daisy poderia ser vista como um símbolo da “América” (disputada por grupos em constante batalha a ponto de se tornar um corpo coberto de sangue), só restará uma constatação final:

Quentin Tarantino é um gênio.

A segunda parte do texto (a com spoilers) ele adaptou e publicou no roger ebert.

Realmente acho que esse foi o filme mais simbólico do diretor, desses que você vai apanhar mais e mais coisas em repetidas vistas...

Gostei demais (atuações excelentes, visuais de tirar o fôlego, trilha impecável do Morricone, mistério, clima tenso, sangue à baldes :lol: ) mas quero ver de novo e esperando que da próxima vez o filme pareça um pouquinho mais conciso.

A atuação e a entrega toda da Jennifer Jason Leigh superou minhas expectativas, espero que dessa vez ela, finalmente, leve um oscar #hopeful
 
PUtz......... fui ver esse filme todo animado chego lá... dublado........... vou ter que ver outra vez.
 
É o oitavo filme pq consideram Kill Bill como um filme só?

1992 Reservoir Dogs
1994 Pulp Fiction
1997 Jackie Brown
2003 Kill Bill vol 1
2004 Kill Bill vol 2
2007 Death Proof
2009 Inglourious Basterds
2012 Django Unchained
2015 Hateful Eight
 
É o oitavo filme pq consideram Kill Bill como um filme só?

1992 Reservoir Dogs
1994 Pulp Fiction
1997 Jackie Brown
2003 Kill Bill vol 1
2004 Kill Bill vol 2
2007 Death Proof
2009 Inglourious Basterds
2012 Django Unchained
2015 Hateful Eight

Sim, mas engraçado que o próprio filme faz uma brincadeira com isso.

hateful_eight_cast_0.jpg

Na verdade, eram "The Hateful Nine", porque tinha um escondido debaixo da estalagem.
 
Mas o cocheiro não era "hateful". Era "joyful" u.u
O pior que é mesmo. O poster do filme entrega quais são os 8, deixando o James Parks de fora:

Ver anexo 68616
Mas os créditos iniciais tem o nome do Channing Tatum, e por isso eu sabia que ele ainda ia aparecer, mesmo que eu tenha ido pro cinema sem ter lido ou visto absolutamente nada do filme.
 

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