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Que Horas Ela Volta? (Brasil, 2015)

Sua nota para o filme:


  • Total de votantes
    14

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
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Sinopse: A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica.

Direção: Anna Muylaert

Elenco: Regina Casé, Camila Márdila, Michel Joelsas

Trailer

IMDb

Assistir a “Que horas ela volta” na Europa: passar vergonha pelo Brasil

"Mas é verdade que no Brasil tem gente que não levanta para pegar um copo de água?" "É verdade que existe empregada que não pode sentar na mesa?" Infelizmente, digo para eles, é

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“Val, me traz um copo de água”, por favor?

“Val, você pode colocar a mesa, por favor?”

“Val, você pode tirar a mesa, por favor?

Val, você pode trazer um sorvete para a gente?”

Esse tipo de pedido é repetido sem parar em “Que horas ela volta”, o filme gênio de Anna Muylaert estrelado com maestria por Regina Casé.

Val, por favor! Val é a empregada da casa, uma pessoa “praticamente da família”. Val é uma escrava.

A familia de classe média alta brasileira, sentada na mesa, faz os pedidos, e Val vem e volta. Algumas vezes eles estão sentados na mesa da cozinha, ao lado da Val, mas pedem para ela: “você pode pegar água?” Ela abre a geladeira. Os membros da familia, pai artista, mãe fashionista e filho adolescente gente boa, parecem incapazes. Eles não se movem. Eles não levantam a porra da bunda da cadeira. No meio do filme a vontade é entrar na tela e bater neles.

Estou em um cinema em Kreuzberg, Berlim, e eu sei que é assim na vida real no meu país. A platéia, formada por brasileiros e alemães, dá risos nervosos. Desconfio que os risos nervosos sejam mais de brasileiros como eu, que conhecem bem essa situação e sabem que a escravidão existe no Brasil de uma maneira sinistra. E de uma forma que a gente ainda não foi capaz de acabar.

Vez ou outra eu falo nervosa para o alemão: “é assim mesmo”.

Na saída, encontro uma amiga brasileira, tambem acompanhada de namorado europeu e ela me diz: “deu um pouco de vergonha”. Concordamos que a vergonha é total.

No café, eu explico para ele. “É assim, não, não na minha família, não com os meus amigos, mas sim, eu conheço gente assim.” “Eu sei, se você está dizendo eu acredito. Mas quem na Europa vai acreditar que essa situação é real? Acho que vão pensar que a diretora é genial, mas que criou uma historia surrealista muito boa, não que isso seja real. Porque isso é muito bizarro. Isso é inconcebível.”

Cara de vergonha. E repito, pela milésima vez em dois anos: “é assim mesmo! É absurdo! Mas é assim mesmo!”

Lembro de um ex de esquerda que brincava no inicio dos anos 2000: “ é bom morar no Brasil porque aqui temos escravos”. E gargalhava. Isso antes do politicamente correto chegar e, graças a deus, acabar com esse tipo de humor podre.

Na minha vida passada recente, eu tinha empregada duas vezes por semana em São Paulo só para catar a minha bagunça. Não sou de família rica. Sou de família de classe média média com momentos de dureza, mas na casa da minha avó sempre teve empregada. Quando eu era bebê meus pais tiveram empregada que dormiu em casa. Eu tive babás por alguns momentos.

O alemão fala: lembro que a minha mãe dizia que o sonho dela, se ganhasse na loteria, era ter uma empregada domestica.”

Conto para uma alemã mãe de três filhos que muitas crianças brasileiras não ajudam em casa, não fazem nada, pedem tudo para a babá. Ela diz: “não acredito, mas elas são muito ricas, não?”. “Não, são classe media como você”. Ela faz cara de choque e diz: “fulana, vem aqui ouvir a história que a Nina está contando, você não vai acreditar.”

Uma criança alemã não pede um copo de água, ela abre a geladeira e pega. Elas não pedem um sanduíche, elas fazem. Tenho dois enteados alemães, sei do que estou falando.

Há um ano e meio não, não tenho faxineira. Sim, a minha casa vive uma zona. Sim, eu cozinho. Sim, eu lavo louça, sim, eu lavo as minhas roupas e as estendo em um varal. Tentem. É muito fácil. Eu juro.

Esse não é um texto vira lata falando que, oh, veja bem, a Europa é tão superior. É apenas para dizer que talvez de longe a gente enxergue melhor certas coisas.

E eu sei mais que nunca que o jeito que patrões como os da Val vivem é inaceitável.

E eu sei mais que nunca que a escravidão existe sim no Brasil, onde descolados levam babás vestidas de branco para brincar com os filhos na praia do Arpoador enquando eles fumam um e falam de arte.

Pronto. Falei.

E obrigado Anna Muylaert, por abrir a porta do armário e mostrar essa realidade para o mundo.
 
Assisti ontem. Muito bom. O estranho é o cinema estar cheio de senhoras da classe média natalense, todas gargalhando como se o filme fosse um besteirol americano (ou estavam achando engraçado por estarem se vendo na tela, vai saber).

Recomendo.
 
Li a sinopse do roteiro e achei legal, mas Regina Cazé pra mim, nem tomando 1 litro de Estomazil desce! Fazer o quê? O "Ixxxxquentaaa" congelou qualquer possível vontade de eu ver algo estrelado por ela.
 
Ela é uma boa atriz, Fúria. Deixe de preconceito. Ser péssima apresentadora não interfere na carreira dela de atriz.

Não é preconceito, não gosto mesmo e isso vem bem antes desse programa. Já vi várias participações dela em novelas e filmes.

"Cambalacho" dos anos 80 por exemplo foi uma novela que curti bastante onde ela aparece razoavelmente bem, mas já naquela época já achava ela fraca como atriz. E se ela fosse boa pelo tempo de carreira que tem, deveria ter hoje no mínimo 20 ou mais novelas da Globo no currículo e não apenas 5 e dentro dessas 5 apenas em Cambalacho ela teve um visibilidade minimamente destacável.

Mas tudo bem, não é porque acho ela fraca que quer dizer que eu torço contra. Se se esse filme puder colaborar pra uma grande mudança positiva na carreira dela, eu sinceramente vou torcer muito que esse filme faça muito sucesso.
 
Última edição:
Parti do princípio já citado: assistir filme com a Regina Cazé, pqp!
Mas após a leitura dessa crítica, achei que seria interessante e tive minha expectativa superada por essa produção nacional, que eu diria ser uma das melhores dos últimos tempos. O drama central, a vida da empregada doméstica Val na casa dos patrões e a chegada da filha Jéssica que ela praticamente não conheceu não se separa dos dramas secundários; A briga do jovem de classe média que não precisa de dedicar a nada além dos estudos para o vestibular, a "novariquez" da mãe - presente em sequencias incontáveis, o descontento do pai com o que se fez da vida e é claro, a servidão desmedida da Val que cumpre com força os requisitos da boa empregada que faz parte da família. Na receita, uma Val apaixonada pelo que faz, cria o filho dos patrões como seu próprio sem ver as necessidades chegando até a filha que não viu crescer e quando essa, já crescida chega a São Paulo para o concorrido vestibular tira da casa o aspecto de paz em que a família caminha desde sempre, fazendo com que a película protetora de cada um escorra de sua cara sem piedade. Nas sequencias em que o abuso* da patroa a personagem da Jéssica fica evidente, recordava as lições que aqui são ensinadas as domésticas: "Menina bonita em casa de patroa não presta." Abre concorrência e o machismo desenfreado que ainda habita as casas grandes se aproveita disso. "Filho de empregada é jardineiro" E como pode pensar em prestar vestibular ao invés de ajudar a mãe no serviço que rende o pão? A questão que o filme trás a tona, é que a "sensação" da escravidão ainda passa desapercebida e a gente, esperto, se finge de morto pra ficar melhor, pois quem não tem empregada doméstica que é quase da família não tem que dizer nada...
Em alguns pontos o filme faz jus a pequena grandeza do cinema nacional e o público obediente a esse conceito, ri as gargalhadas de cenas onde a doméstica tenta a custo tornar apresentável o jogo de chá que ela mesma escolheu para presentear a patroa sem se dar conta que talvez a sua Val, também tenha os mesmos anseios quando lhes compra um presente modesto. Na sequencia final, esse mesmo jogo furtado pela Val em sua despedida devolve com um tapa nada sutil as risadas que a custa dele foram arrancadas, pois só ele representa tão mais para a Val empoderada da necessidade de criar no neto a imagem a da filha que lhe foi negada pela busca e manutenção do emprego do que representaria uma fala sem cortes sobre a necessidade de ver o outro não como a si próprio, mas, como ele almeja ser visto .


* Abuso aqui é nojo, intojo, é aff.
Ex."Tenho abuso de gente chata, mas sou chata pacarai."
 
Quando a Jéssica diz que pretende entrar na FAL (ou FAU) acara da patroa é bem aquilo: "uma nordestina filha de empregada pensando em entrar na faculdade?"

Pura ficção. Isso não existe.
 
tem um site que eu acompanho já há uns 10 anos que faz previsões para o oscar, primeiro os que serão indicados, depois os que possivelmente ganharão. costuma acertar (como qualquer site especializado), o que pode ser uma boa notícia para o brasil. acabei de ver lá e que horas ela volta por enquanto aparece na lista de prováveis indicados a filme estrangeiro:

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claro, ainda é cedo e muita tendência dessa época simplesmente se evapora lá para o período das indicações (a votação vai de 30 de dezembro até 8 de janeiro na edição desse ano), até porque vários países ainda não escolheram o filme para enviar. mas já é algo, tem anos que o brasil nem aparecia nessas listas de previsões.

ah, sim. indiewire também está colocando o filme entre os que podem ser indicados >> http://www.indiewire.com/article/2016-oscar-predictions-best-foreign-language-film-20150921

(será que com essa possibilidade de oscar a globo passa a cerimônia inteira ao invés de ficar passando flashes ao vivo enquanto transmite o big brother? :disgusti: )

ps: ainda não vi o filme :rofl:
 
Durante uma entrevista com Gene Siskel, crítico de cinema americano, ele declara que fazer filmes pacifistas, anti-guerra, é impossível, sempre resvala para uma apreciação da guerra - pensando em estética e apresentação.

http://archives.chicagotribune.com/.../the-touch-that-transcends-violence-and-death

No caso da representante dos patrões, a posição antagonista do filme, apesar de não ser um maniqueísta, complexo, é visto como algo normal, sem problemas.
 
Regina Casé carregou o filme "nas costas", apesar de Camila Márdila convencer e Michel Joelsas jogar um pouco de carisma o filme sofreu com atores medianos. A história é MUITO boa, mas a condução de Anna Muylaert faltou coragem.
 

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