Talvez o principal motivo seja de política econômica, mais precisamente de política monetária: sem uma moeda nacional, o governo de um país perde a capacidade de fazer esse tipo de política. Isto é, ele é incapaz de controlar a quantidade de moeda em circulação e as taxas de juros. Junto com isso vêm outras perdas de possibilidades intervencionistas, como a atuação sobre a taxa de câmbio ou o uso de bancos domésticos públicos como emprestadores de última instância. Em geral, essas perdas de discricionariedade política são grandes o suficiente para impedir governantes de adotarem a dolarização, que por isso tende a ocorrer em casos extremos.
Há porém a necessidade de se fazer uma distinção entre um processo de dolarização oficial, isto é, um processo conduzido pelo governo, que passa a aceitar o dólar como moeda primária (ou única) na economia; e um processo descentralizado, autônomo, onde o governo não realize intervenções a favor ou contra esse movimento (como no
Panamá), o que eventualmente pode resultar na utilização de várias moedas diferentes ao mesmo tempo (caso do
Zimbábue), ainda que apenas uma ou algumas poucas sejam as mais utilizadas.
Os resultados podem ser variados a depender desses aspectos, mas também de outros, como a dimensão da economia do país, sua estrutura bancária e a liberdade de fluxos de capital. Em geral, processos descentralizados (não-intervencionistas) tendem a ter sucesso em controlar a inflação, sobretudo quando a transição se dá em momentos de crise. Alternativas mais centralizadas e que ocorrem em países onde as demais características do sistema bancário-monetário são mais rígidas tendem a ser mais fracassadas e/ou transitórias. O caso da Argentina, por exemplo, não foi de uma verdadeira dolarização, no sentido de adotar a moeda, mas sim um sistema de paridade forçada, isto é, a manutenção de uma convertibilidade de 1 para 1 entre o peso e dólar, mantida à força com as reservas do governo, que secaram ao longo do tempo na tentativa de sustentar esse sistema. No caso do Equador, diferentemente do que o
@Grimnir falou, até onde eu sei o negócio funcionou relativamente bem. Os preços se estabilizaram e o país apresentou um desempenho econômico muito melhor desde que adotou o dólar, em 2000, do que aquele que verificou ao longo da década de 1990. Mas a
dolarização de lá está em perigo sobretudo por questões políticas.
Enfim, há sim casos de sucesso de países que dolarizaram sua economia, e o processo pode trazer vários benefícios, como o já mencionado controle da inflação, maior integração econômica e financeira com mercados internacionais, e um freio sobre políticas monetárias (o que para alguns é algo ruim, o que não é o caso para um liberal como eu), além de requerer também maior controle fiscal (o que pode ser o fator de risco que ameaça a dolarização do Equador). Mas não dá para simplesmente sair incautamente extrapolando experiências de um ou alguns países para outros: há de se levar em conta as idiossincrasias de cada país e também ter em mente que a dolarização sozinha não é remédio para todos os males, e sua eficácia irá depender de vários outros fatores.