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Melhores leituras de 2014.

Mavericco

I am fire and air.
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Os meus (mas sinto que é possível que o 5 seja substituído por uma súbita leitura de final de ano...):

  1. Pulphead, John Jeremiah Sullivan.
  2. Nominata Morfina, Fabiano Calixto.
  3. Literatura e sociedade, Antonio Candido.
  4. O mundo codificado, Vilém Flusser.
  5. O tupi e o alaúde, Gilda Mello e Souza.

1 especialmente pelo custo-benefício e pela surpresa. Já estava em minha lista de leituras, só que era daquele tipo de livro que apodreceria por lá sem problema algum. Até que o descubro por 12 dilmas na FNAC e me encanto. A perícia técnica e a profundidade do pensamento, este último especialmente advindo da forma como Sullivan arma as situações (por exemplo, contar a história de seu irmão que foi eletrocutado num show com sua banda, ficando em coma por um tempo e depois apresentando um comportamento esquisitíssimo — isso é realizar uma reflexão esplêndida sobre a tenuidade da vida e da própria morte): não tenho dúvidas em dizer que foi o melhor livro do ano.

Sobre o 2, livro de poemas, eu posso dizer, por hora, que temos uma experiência estética completa e vasta. Se você quer delicadeza lírica, vai encontrar, mas se quer o lado mais escatológico da coisa, também vai encontrar. O livro pode te fornecer momentos pés no chão, ou pés fincados, bem fincados na merda, até momentos de surrealismo puro. Isso tudo explorando a forma do poema em prosa, que praticamente não grassou em nossa literatura (e certo modo em literatura alguma), e que é usado de forma inteligente, isto é, a forma poema em prosa é trabalhada e elevada ao nível de fonte semântica.

3 talvez sendo a obra central de Antonio Candido. A visão extremamente lúcida do nosso maior crítico é exposta com elegância e clareza. Uma literatura como sistema, união funcional de escritores, meios de reprodução, leitores, críticos... Candido dificilmente poderia ser mais claro. E contudo, ainda hoje existe um ranço de incompreensão para o que Candido disse que, olha, vou te contar, viu!... É um tal de querer reduzir seu método a um método puramente sociológico que só vendo. Além disso, Candido consegue expôr uma espécie de micropanorama da literatura nacional, cobrindo períodos como o Colonial e períodos como o de 1900 a 1945. Ao lado do Formação, um livro imprescindível, não tenham dúvidas ― e com custo-benefício melhor.

4 pois Flusser mal entrou e já se tornou meu filósofo preferido. Nem tanto por suas ideias, que a mim, leitor um tanto quanto raso de filosofia, me parecem muito bem postas e sólidas, mas pela forma como as expõe. Claro. Didático. Límpido. O mundo seria um lugar melhor se todos tivessem a consciência estilística de Flusser, capaz de gerar, no mínimo, um genuíno prazer na leitura, vejam só vocês, de Filosofia!

Do 5, destaco dele mais uma vez a solidez e a elegância com que a tese é defendida. O estilo de escrita é maravilhoso. A forma como Gilda analisa o argumento de Haroldo de Campos é exemplar, ou seja, ela consegue imergir muito bem nas ideias expostas e justamente por isso finca seus próprios argumentos de maneira honesta e aberta ao diálogo.
 
Eu vou fazer o post com devidos comentários mais além lá no bró e depois copio e colo aqui, mas o top5 eu tenho certeza que não mudará, então já vou listar aqui:

1. The First Fifteen Lives of Harry August (Claire North)
2. Dept. of Speculation (Jenny Offill)
3. A História do Amor (Nicole Krauss)
4. Stoner (John Williams)
5. The Love Affairs of Nathaniel P. (Adelle Waldman)

História do Amor saiu no Brasil pela Companhia, pode ser um pouco mais difícil de encontrar porque não é lançamento, mas Companhia é amor e os livros raramente se esgotam então podem ir fundo, mesmo. Coisa mais linda. Stoner, como comentei lá no tópico de lançamentos 2015, chega em janeiro aqui no Brasil pela Rádio Londres.

Harry August é muito bom, bom demais - recomendo sem piscar para quem curte sci-fi, e de boas, até para quem não gosta. A Diana disse que uma editora brasileira já comprou os direitos de publicação, só não sabe qual é (ela sabe que não é a Aleph hehe). Ficar de olho, logo deve pintar por aí.

Dept. of Speculation e The Love Affairs ainda não vi notícia sobre publicação no Brasil. No caso do Love Affairs, ok, autora estreante yadda yadda yadda. Mas o Dept. of Speculation está saindo em tudo quanto é lista de melhores do ano e não vi nenhum comentário das editoras daqui sobre ele, o que é uma pena. Dois livros super legais que só ficam acessíveis para quem lê em inglês =/
 
1 - As Crônicas de Artur

Da mitologia de Artur só conhecia As Brumas de Avalon e do autor Bernard Cornwell nada conhecia. Imaginem minha agradável surpresa ao começar a ler as primeiras páginas desta trilogia.

O autor escreve de tal forma que minha mente toma os ocorridos descritos nos livros como histórias que de fato aconteceram em nossa dimensão. Me senti sentado próximo a uma fogueira ouvindo os contos do próprio Derfel.

A história me cativou tanto que a altura de certo triste incidente meu coração se encheu de uma tristeza tão profunda que era como se os personagens envolvidos me fossem parentes chegados. Cada vez que pegava o livro para ler era transportado para seu mundo e isto é o que mais aprecio em uma obra, por isto elejo-a minha melhor leitura deste ano.

7223.
 
1.Pulphead, John Jeremiah Sullivan

1 especialmente pelo custo-benefício e pela surpresa. Já estava em minha lista de leituras, só que era daquele tipo de livro que apodreceria por lá sem problema algum. Até que o descubro por 12 dilmas na FNAC e me encanto. A perícia técnica e a profundidade do pensamento, este último especialmente advindo da forma como Sullivan arma as situações (por exemplo, contar a história de seu irmão que foi eletrocutado num show com sua banda, ficando em coma por um tempo e depois apresentando um comportamento esquisitíssimo — isso é realizar uma reflexão esplêndida sobre a tenuidade da vida e da própria morte): não tenho dúvidas em dizer que foi o melhor livro do ano.
Pensei que o Pulphead fosse ruim. O que foi que mudou do censo pra cá?

Quanto aos meus... Esse ano não foi muito bom de leituras (nem quantidade nem qualidade). Acho que os dois mais marcantes foram os que li com o clube de leitura daqui, o Drácula e Ligações perigosas, ambos ótimos (só perdem pontos por algumas passagens machistas que dá pra relevar). Da poesia foi mesmo o Mallarmé, mas foi mais uma amostra, acho.

As leituras de não-ficção, também foram fracas. Destaque para "Identidade e diferença" que dá uma base boa sobre identidades e inclui o elemento político no capítulo do Tomaz Tadeu da Silva. O do Bakhtin é só uma proposta de ensino de gramática que vá além do decorar regras e envolva a literatura e o do Sobral sobre Bakhtin é muito bom como introdução, mas tem uns exemplos meio estranhos e fracos.

A compensar ano que vem... =/
 
Li pouquinho esse ano... mas do pouco que li, bastantes leituras foram verdadeiras pérolas:


Noturo Indiano e Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi.
Gostei demais desses dois, são leituras rápidas e envolventes, têm um certo tom de mistério (principalmente no primeiro) e deixam os personagens vivendo com vc depois de terminado o livro (impossível esquecer o pereira)... quero ler mais do autor com certeza!


Um Útero é do Tamanho de um Punho, de Angélica Freitas.
já se falou muito desse livro, então digo apenas que, pessoalmente, esse foi um desses que, durante a leitura, reacendeu meu interesse não só por poesia, mas pela leitura em geral ^^


Sunset Park, de Paul Auster
Sempre quis conhecer o autor, então quando vi esse por 9,90 na loja da fnac, peguei de imediato... e a leitura veio certa, como que de encomenda, para mim - indetifiquei-me demais com o protagonista, com sua natureza falha... ganhou bastante significado pra mim, já quero reler e ler outros do autor!


O Grande Jogo de Billy Phelan, de William Kennedy

Adorei ter conhecido esse autor, a composição do livro é tão bacana, todo ágil, com uns pensamentos instantâneos dos personagens às vezes se intrometendo na voz do narrador. E como o livro faz parte de um ciclo de histórias, o ciclo de Albany, você percebe que o autor cria várias histórias que tangenciam a principal, histórias que irão aparecer como tema principal nos outros livros! Super bacana! Ele constrói toda uma mitologia do local e seus habitantes...


O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger
Não tenho palavras para esse livro, só :grinlove:


Mrs Dalloway, de Virginia Woolf
o melhor dela até agora (li os primeiros 4 romances, este incluso, e mais da metade dos contos), é uma maravilha narrativa, delicioso percorrer a narrativa inundada pelo fluxo de consciência leve, fluido da autora... felicidade define :amor:
 
A minha melhor leitura do ano, foi de longe o "Era uma vez, há muito tempo atrás..." da Brigid Pasulka :amor:
Não é uma historia de final feliz É uma história incrivelmente delicada e triste, mas eu super recomendo a leitura!
 
como prometido, copiando e colando aqui o post do bró

Antes do top5 em si, vamos lá para algumas menções especiais:


storiedlifeofaj-203x300.jpgLIVRO QUE EU RECOMENDARIA PARA QUALQUER BOOK NERD: The Storied Life of A. J. Fikry (Gabrielle Zevin)

Ok, se fosse filme provavelmente você o encontraria na prateleira de comédias românticas da locadora e algumas pessoas podem torcer o nariz para isso, mas… que história mais gostosinha! E que legal aquela ideia das recomendações de leitura do protagonista para a filha – meio que fiquei com inveja por não ter pensado nisso para meus filhos e agora planejo copiar na cara dura, há.

The_goldfinch_by_donna_tart-193x300.pngCAPA MAIS BONITA: The Goldfinch (Donna Tartt)

Beijão para a Companhia das Letras que manteve a capa gringa para a versão brasileira do romance mais recente da Tartt. Queria dizer também que ele esteve no meu top5 durante boa parte do ano e se ficou de fora foi por muito pouco. Se o tamanhão te assusta, por favor, leia esse texto da Camila do Livros Abertos lá no Facebook.

casaamores-198x300.jpgLIVRO QUE DEVERIA VIRAR FILME: The House of the Impossible Loves (Cristina Lopez Barrio)

Sabe aquele livro que o apelo visual é tão forte que você chega a sonhar com alguns detalhes dele? E fica pensando em como seria lindo um filme mostrando todas as imagens criadas na história? Então. The House of the Impossible Loves pode ter lá suas derrapadas, mas ainda acho que foi um dos livros que mais evocou cenas lindas das minhas leituras desse ano.

Ok, agora sim para o top5 das melhores leituras. Até pensei em fazer um de piores como fiz no ano passado, mas bleh, no final das contas acho que não odiei tanto livro assim para fechar uma lista. Então ficamos só com…

TOP5 MELHORES LEITURAS DE 2014 (fora de ordem porque convenhamos, já é difícil escolher só cinco)

firstfifteen-195x300.jpg1. The First Fifteen Lives of Harry August(Claire North)

Sou uma pessoa mais feliz cada vez que alguém vem me procurar dizendo que leu este livro por causa de indicação minha e adorou. Como já disse por aqui, não sou de cair de amores por um livro logo de cara. Mas já nos primeiros parágrafos de Harry August você percebe que tem em mãos algo diferente. O estilo da autora te prende do começo ao fim. Não só pelo enredo ou por “ser bem escrito” (odeio esse termo?), mas pelas ideias que apresenta. É até por isso que eu sugiro a leitura do livro mesmo para quem não é especialmente fã de sci-fi. Ainda não saiu no Brasil (o que é uma pena, quanto mais gente tivesse acesso a um livro bacana como esse, melhor).

O post onde falo mais detalhadamente sobre o livro está aqui.

2. Dept. of Speculation (Jenny Offill)

51u7-hHF1fL._SY344_BO1204203200_-200x300.jpgO gostoso de ler é que você não precisa gostar de só um tipo de livro, ou buscar só uma coisa em uma obra. Harry August me ganhou pelas ideias, certo? Dept. of Speculation foi pela emoção. É um livro que mexe com o leitor, não tem como evitar. Já escutei de mais de uma pessoa que leu “Fiquei com raiva do marido” – e olha, eu passei uma semana louca da vida com o Fábio por causa do marido de Dept. of Speculation. “Por que você estragou meu brinquedo favorito?”, pergunta a esposa em determinado momento. Assim, fora de contexto, isso não diz nada – mas acredite, parte o coração enquanto você está lendo. Ainda não saiu no Brasil (o que é uma vergonha para as editoras daqui, já que esse livro está aparecendo em tudo quanto é lista de melhores livros de 2014 lá fora).

E eu não escrevi um post só para ele, mas aqui tem algum comentário a mais sobre o romance.

3. A História do Amor (Nicole Krauss)

historiaamor.jpgVou dizer que só pelo capítulo que descreve o caminho que um livro fez até chegar nas mãos de um sujeito eu já teria colocado A História do Amor no meu top5. Mas ele é muito mais. E é lindo, com imagens que mesmo tempos depois de ter lido você ainda fecha os olhos e consegue visualizar como se estivesse lá. E personagens tristes e que amam tanto, tanto. Eu ainda quero voltar para esse livro depois de ler Bruno Schulz, sinto que perdi algumas coisas por não conhecer a obra do autor (embora um volume de obras completas esteja me encarando há mais de um ano aqui da estante). Saiu no Brasil pela Companhia das Letras em 2006.

Escrevi mais detalhadamente sobre ele aqui.

4. Stoner (John Williams)

stoner-186x300.jpgJohn Williams é o único homem da lista, vale lembrar. E não, não está preenchendo cota nem nada, é um livro que realmente me tocou. No começo não estava entendendo muito bem onde Williams queria chegar, mas a partir do momento que você se dá conta da natureza de Stoner (o protagonista), vai ficando cada vez mais difícil abandonar a leitura. Vai chegar aqui no Brasil agora em janeiro de 2015 pela editora Rádio Londres – editora nova, com uma proposta bacana de justamente pegar esses títulos que passaram batido pelas editoras grandes e nunca foram publicados por aqui.

Escrevi mais detalhadamente sobre ele aqui.

5. The Love Affairs of Nathaniel P. (Adelle Waldman)

loveaffairs-198x300.jpgEu odiei o protagonista com todas as minhas forças, mas volta e meia lá estava eu, relendo trechos do livro meses depois de ter terminado a leitura. Sabe, aquela coisa de “SIIIIM, É ISSO!!!”. Aliás, aproveitando para dizer: percebi que os livros que mais gostei esse ano eu não tive coragem de deletar do kindle, mesmo sabendo que os trechos que grifei continuam lá. Nathaniel P. é um deles. Gostei tanto que estou sempre consultando a Amazon para ver se não saiu algo novo da Waldman – sim, nesse nível. Ainda não vi nada sobre publicação de tradução no Brasil, fico torcendo para que saia logo por aqui.

Escrevi mais detalhadamente sobre ele aqui.
 
Pensei que o Pulphead fosse ruim. O que foi que mudou do censo pra cá?

Quanto aos meus... Esse ano não foi muito bom de leituras (nem quantidade nem qualidade). Acho que os dois mais marcantes foram os que li com o clube de leitura daqui, o Drácula e Ligações perigosas, ambos ótimos (só perdem pontos por algumas passagens machistas que dá pra relevar). Da poesia foi mesmo o Mallarmé, mas foi mais uma amostra, acho.

As leituras de não-ficção, também foram fracas. Destaque para "Identidade e diferença" que dá uma base boa sobre identidades e inclui o elemento político no capítulo do Tomaz Tadeu da Silva. O do Bakhtin é só uma proposta de ensino de gramática que vá além do decorar regras e envolva a literatura e o do Sobral sobre Bakhtin é muito bom como introdução, mas tem uns exemplos meio estranhos e fracos.

A compensar ano que vem... =/

Parece que achar o Pulphead uma bosta é a impressão inicial de todos os leitores :hihihi:

Havia a princípio achado que o Sullivan tava sendo só pós-moderninho da silva ssauro. Que nada. O problema é que o ensaio é um tipo de texto revolucionário e inconvencional até hoje. A maior parte dos instrumentos ensaísticos do Sullivan já estavam em Montaigne -- essa coisa de focar na experiência individual, contar histórias e tal. O fato de serem fragmentados não é novidade nenhuma pra qualquer narrativa jornalística. Então o escudo cristalino da pós-modernidade associado ao fútil não tem cabimento. O cara manda bem. Sabe contar uma história boa pra caramba -- tanto no âmbito, por exemplo, dos detalhes, que o James Wood nota na introdução, quanto na estrutura narrativa geral, que é bem conduzida e faz com que o leitor se prenda mesmo quando o Sullivan tá falando de uma viagem que fez pra Disney junto com um vizinho que só queria fumar maconha -- e sabe chegar a reflexões bem estruturadas -- nesse caso do ensaio sobre a Disney, o vizinho viciado em maconha que quer fumar numa viagem em família e, né, na Disney, não é só pra parecer descolado ou algo do tipo; ele tem uma função narrativa importante pois serve de complemento à obsessão, à dependência, à busca por uma viagem absurda e irreal. A mesma coisa que a Disneylândia, conforme o Sullivan argumenta.
 
bom, todo mundo sabe que o meu gosto é meio peculiar, pessoal que frequenta a área de literatura normalmente curte mais os clássicos e afins, eu gosto mesmo é de livros de fantasia e ficção histórica, então meu top do ano ficou assim:

4. As Mentiras de Locke Lamora - Scott Lynch
primeiro livro da série Nobres Vigaristas, é um livro bem surpreendente. A história se passa em Camorr, cidade situada em um mundo bem construído e interessante com suas construções de Vidrantigo, canais, pontes, ilhas e suas luas, descrições bem detalhadas e uma história cheia de reviravoltas; o autor escolheu uma forma bem peculiar de contar a história, ao melhor estilo Patrick Rothfuss, ele conta acontecimentos presentes, com interlúdios sobre fatos passados, nos fazendo ver como o personagem principal, Lamora, se desenvolveu e chegou nos dias de hoje, personagens cativantes e intrigantes ao mesmo tempo, teve certos momentos que tive vontade de gritar enquanto lia o livro, de nervoso, de ansiedade, enfim.

3. Outlander - A Viajante do Tempo - Diana Gabaldon
Já tinha tido bastante indicações sobre essa série no grupo de Livros de Fantasia e Aventura do qual participo, porém como eu sabia que só tinha a edição antiga da Rocco, dificílima de encontrar, nem me empolguei muito... isso mudou quando a SdE Brasil anunciou que ia lançar, fui correndo comprar pra ler antes de assistir a série e não decepcionou. Ficção histórica, mas com uma pitada de fantasia, que leva Claire a viajar no tempo, para a Escócia no ano de 1743, lá ela passa por uma série de "aventuras". Pra quem já lê há bastante tempo, o livro provavelmente vai ter bastante deficiências, mas eu fiquei encantada especialmente com a narrativa dos costumes escoceses, das paisagens locais, etc.

2. Trilogia Boudica - Manda Scott
Não dava pra escolher só um livro, na verdade a série tem 4 livros e é uma reclamação recorrente minha de que a Bertrand Brasil tá se enrolando pra lançar o quarto livro, mesmo assim, não me arrependo de ter lido. A série narra da história da Boudica, uma guerreira celta que ficou conhecida como a mulher que quase conseguiu acabar com a invasão romana na Bretanha. A autora fez uma pesquisa extensa sobre a invasão romana, porém teve que preencher muitas lacunas com ficção, uma vez que todos os textos da época contam a história pelo lado dos romanos, porém a criatividade da Manda entrou maravilhosamente bem pra fechar essas lacunas também com uma pitada de "magia" (nada ao estilo de Marion Zimmer Bradley). Pra quem gostar, eu recomendo também "Os Corvos de Avalon", esse de autoria da MZB, conta a mesma história, mas de forma diferente, eu gostei das duas, mas a série da Manda realmente me cativou.

1. Jonathan Strange & Mr. Norrell - Susanna Clarcke
Eu sei que tem bastante gente por aqui que já leu esse livro há tempo e que ele não é nenhum lançamento ou novidade, mas como eu li esse ano, sim, ele entra como nº 1 nas melhores leituras que eu fiz no ano. As opiniões sobre ele são bem divergentes, quem gosta, gosta muito e quem não gosta nem consegue acabar de ler, mas pra mim, esse livro foi uma grata surpresa, pela forma como ele chegou às minhas mãos. A forma de escrever da Susanna me lembrou muito a Jane Austen, foi um livro que me trouxe todo tipo de emoções: angústia, alegria, medo, alívio. Recomendo demais pra quem não leu ainda, e pra quem vai começar a ler, não desanime! As primeiras 200p. são meio lentinhas mesmo, mas vale a pena insistir!
 
Última edição:
Bom, este foi um ano de leituras irregulares para mim, mas considero que muitas delas vieram no momento certo. Por isso, minha lista começa com...

1. Carl Jung - Curador Ferido de Almas, de Claire Dunne
O livro é basicamente uma biografia, dividida em três partes: Ferido, que vai desde o nascimento à crise neurótica pós-rompimento com Freud; Curador, que expõe como o próprio médico se recuperou e desenvolveu a psicologia analítica para ajudar mais pessoas; e Almas, sobre o período posterior em que ele desenvolve as teorias marcantes de sua área, como a sincronicidade, o inconsciente coletivo, etc., bem como sua influência cultural. É um bom livro introdutório à psicologia analítica, e Dunne permite que Jung use a "própria voz", semelhante à forma de Mate-me por Favor.

2. O Homem e seus Símbolos, de Carl Jung (org.)
Devorei esse livro logo após terminar o primeiro. Os textos escritos por seus colaboradores, como Marie-Louise von Franz e Aniela Jaffé, fazem você ficar com mais apetite pelo estudo dos arquétipos. Todos os quatro autores - mais Jung - procuram ser claros ao transmitir o que sabem e o que acreditam que possa se desenvolver futuramente no campo da análise jungiana e mesmo dos estudos sobre Arte. É de espantar o eruditismo de todos os envolvidos.

3. Operação Massacre, de Rodolfo Walsh
Imaginei que estivesse fora de catálogo, até que a Companhia das Letras anunciou desconto de 50% em vários livros. Conheço Walsh dos contos de Daniel Hernández, revisor editorial que às vezes trabalha como detetive. Quando comecei a ler Operação Massacre, quem disse que eu conseguia parar? Devorei-o como fiz também com A Sangue Frio, de Truman Capote. Aliás, a obra de Walsh é o verdadeiro primeiro romance de não-ficção aqui - foi publicada um ano antes do livro de Capote. Numa mistura de relato jornalístico e thriller - quase algo à la Frederick Forsyth, mas mais contido -, Walsh conta a história de um grupo de pessoas que é escolhida aleatoriamente em Buenos Aires, acusadas de estarem envolvidas em uma tentativa de golpe de estado. São todos fuzilados. Todos mortos? Nem todos. E os vivos? Mortos ambulantes. Walsh, em plena ditadura militar, vai atrás de cada um dos envolvidos, das famílias deles, faz pesquisas para contestar na Justiça a sentença dada aos acusados... É uma história que mantém o leitor com o coração na mão.

4. Apóstolo Paulo, de Sarah Ruden
Não lembro se foi Rudolf Bultmann ou Albert Schweitzer quem disse que "o problema do Jesus Histórico é que ele se molda às expectativas de quem pesquisa". Fato é que o mesmo poderia ser aplicado à Sarah Ruden com sua tentativa de redimir o Apóstolo Paulo das acusações seculares feitas contra o teor de muitos de seus ensinamentos. No entanto, o caso que ela desenvolve expondo o contexto da obra paulina em relação aos demais textos publicados no mesmo período ou que expõem práticas mencionadas em Paulo mas apenas explicadas por um conhecimento linguístico maior do grego - e a autora é tradutora do idioma - lançou uma luz extraexegética sobre o autor. Alguns podem até questionar se ela acertou, mas ela mostrou a diferença que faz o trabalho de qualquer um envolvido em language arts, seja filólogo (ouviu, vlogueira?) ou tradutor.

5. Um Copo de Cólera, de Raduan Nassar
Curto, grosso, dolorido. :lol:
Nunca tinha lido nada de Nassar até ficar curioso em saber porque ele era tão especial. Bom, pense em um homem e uma mulher e no constante embate entre anima/animus e ego. As saúvas que corroem a cerca também corroem a empatia, a segurança de cada um deles e entre eles. É um mundo que oprime - uma lição que eu já tinha aprendido com Cormac McCarthy e sua prosa seca e dura. Dá pra ler rapidinho, e vale muito a pena.

Menções:
- Há tempos não lia ficção científica, então resolvi ler Os Próprios Deuses e O Fim da Eternidade, de Isaac Asimov - ambos muito bons, e Fundação que me aguarde!
- Também gostei de 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Arthur Clarke, mas apesar de ter gostado do livro, não achei surpreendente, mas recomendo-o mesmo assim.
- Ensaios de Amor, de Alain de Botton, um romance à la O Mundo de Sofia, também me prendeu bastante.
- O Dia da Coruja, de Leonardo Sciascia, faz você sentir o que é uma omertà de verdade, colocando o leitor no clima sufocante da Itália pós-II Guerra Mundial.
- Hors concours para Ubik, de Philip K. Dick - e olha que eu achava O Homem do Castelo Alto sua magnum opus. (You know nothing, Jon Snow.)
 
Bem, lá vai. Estou com preguiça de escrever muito. Nem liguem.

1- As Tragédias Gregas (Ésquilo, Sófocles, Eurípides)
Vou trapacear aqui e eleger As Tragédias Gregas como um todo porque a leitura delas fazia parte um projeto pessoal meu, porque elas são metade das minhas leituras do ano, porque são fodas. E ponto.
1. Os persas – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 72 p
2. Os sete contra Tebas – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 63 p.
3. As suplicantes – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 80 p.
4. Prometeu cadeeiro – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 73 p.
11. Ifigênia em Áulis – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 95 p.
12. As fenícias – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 97 p.
13. As bacantes – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 76 p.
15. Medeia – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 73 p.
16. Hipólito – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 79 p.
17. As troianas – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 76 p.
22. Agamêmnon – Ésquilo – trad. Mário da Gama Kury – 81 p.
23. Coéforas – Ésquilo – trad. Mário da Gama Kury – 55 p.
24. Eumênides – Ésquilo – trad. Mário da Gama Kury – 52 p.
28. Édipo rei – Sófocles – trad. Mário da Gama Kury – 100 p.
30. Édipo em Colono – Sófocles – trad. Mário da Gama Kury – 98 p.
31. Antígona – Sófocles – trad. Mário da Gama Kury – 62 p.
32. Electra – Sófocles – trad. Mário da Gama Kury – 80 p.
35. Ájax – Sófocles – trad. Mário da Gama Kury – 78 p.
36. Filoctetes – Sófocles – trad. Trajano Vieira – 131 p.
38. Hécuba – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 71 p.
39. Alceste – Eurípides – trad. Mário da Gama Kury – 72 p.

2- Claraboia (José Saramago)
Um grata surpresa. Achei que por ser o primeiro romance dele seria fraquinho e tosco, mas ele já era muito seguro como romancista desde o início. Recomendo para fãs hardcore e leitores casuais. Não tem todos os trejeitos que o tornariam famoso depois, como as longas frases e a pontuação simplificada, mas a sementinha está lá. XD

3- Eneida (Virgílio)
A obra tem seus altos e baixos, e alguns momentos de tédio. A tradução em prosa do Spalding pode ter contribuído para este fator. Ainda quero ler em versos. Seja como for, as cenas de guerra são primorosamente bem narradas. Uma aula para escritores do gênero (ouviu, Spohr? ouviu, Draccon?).

4- As brasas (Sándor Márai)
Já lá se vai quase um ano desde que li o livro então não tenho a impressão dele muito fresca. Mas foi uma impressão muito boa na época. rsrs. Bonito, meio nostálgico, e fininho. Vale uma conferida.

5- Chung-Li: a agonia do verde (John Christopher)
Outra grata surpresa. Um livrinho que comprei num sebo por R$ 1,66 sem saber o que esperar, apenas porque estava barato mesmo. A história é despretensiosa mas bem contada, e as personagens são cativantes. Conta a história de uma praga que mata todas as gramíneas do planeta e de como isso afeta o mundo com fome e caos. Nesse contexto, a gente acompanha um grupo de amigos tentando sair de Londres e refugiar-se numa fazenda "secreta" que eles conhecem. No caminho eles aprontam altas confusões e coisa e tal. Tem um clima meio Walking Dead de cada-um-por-si, só que sem zumbis rsrs. Super vale a pena. :joinha:
 
3- Eneida (Virgílio)
A obra tem seus altos e baixos, e alguns momentos de tédio. A tradução em prosa do Spalding pode ter contribuído para este fator. Ainda quero ler em versos. Seja como for, as cenas de guerra são primorosamente bem narradas. Uma aula para escritores do gênero (ouviu, Spohr? ouviu, Draccon?).

E esses dois escrevem poesia épica, por acaso? :coxinha:
 
Minha lista:

01 - Armas, Germes e Aço: Os Destinos das Sociedades Humanas(Jared Diamond)

Eu adoro história e esse tema específico me é muito interessante. O livro é bem detalhado e bem abrangente geograficamente falando. Nele o autor mostra o motivo pra algumas sociedades terem conseguido dominar outras, mesmo quando numericamente inferiores, como os europeus na América. E desmascara a teoria racista de que os europeus seriam naturalmente superiores, como quando os descendentes dos vikings que se instalaram na Groenlandia foram derrotados pelos inuits que chegaram depois.

02 - O Silêncio dos Inocentes (Thomas Harris)

Porque sim. Hannibal é o melhor vilão literário desde sempre. A inteligência, a capacidade dele de notar pequenas coisas e o sadismo são muito bem desenvolvidos nele, o personagem é cativante.

03 - A Tormenta de Espadas (George R. R. Martin)

O melhor livro da série até agora. Quem mereceu morrer morreu, quem não mereceu morreu também.

04 - O Sol é para Todos (Harper Lee)

Li pro Clube de Leitura do fórum, mas já tinha lido antes. Não lembrava do final. A Escoteira é um personagem cativante, é a prudência do grupo. Adorei o personagem do Atticus, se parece muito comigo em algumas coisas. Seu senso de moral, seu respeito pelos direitos humanos quando parece que ninguém mais se importa é digno de louvor. Ótimo livro.

05 - Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso (Jared Diamond)

Esse livro é muito atual. O que acontece quando esgotamos nossos recursos naturais? Pergunte aos habitantes da Ilha de Páscoa que derrubaram toas as árvores da ilha e acabaram sucumbindo. Nele o autor dá vários exemplos de povos que não souberam manejar bem seus recursos naturais, fato que levou a sua extinção por causa disso. Mas esses povos viviam isolados, não tinham contato com outros povos que pudessem ajudar, nesse tempo de globalização a aldeia é global, mas estamos isolados, não há nenhum povo de fora que possa nos ajudar, só nós mesmos.
 
Dois livros clássicos marcaram minhas leituras em 2014.
A saber, Drácula de Bram Stoker e O Sol é Para Todos de Harper Lee, como estou sem saco pra escrever um pouco mais apenas digo que quem não leu, deva ler qualquer um dos dois em qualquer ordem!! Vale e muito o tempo perdido!!
 
Bom, esse ano foi o de Mikhail Bakhtin, essa descoberta intelectual incrível na minha vida. No final do ano tive uma grata surpresa com o jurista e teórico político Carl Schmitt, de quem ouvi falar muito bem sobre suas ideias originais mas nunca havia lido.

Também foi o ano em que comecei a coleção das obras de Dostoievski pela Editora 34 e li muita coisa inédita, principalmente da fase inicial do escritor. Mas como foi um ano mais filosófico-estético, mais de construção e aprofundamento teórico que de contemplação artística mesmo, eu não vou fazer mais que mencionar obras propriamente literárias.

Mas vamos ao Top 5:

1- Estética da criação verbal (Mikhail Bakhtin)

Esse livro é na verdade uma coletânea de vários escritos de Bakhtin, a maioria prólogos (como os dois do livro sobre Dostoievski), capítulos fragmentários de obras inconclusas (como o do cronótopo, inclusive sobre Goethe) e textos curtos (alguns interessantíssimos), mas o grosso do livro é o seu ensaio 'Do autor e da personagem na atividade estética', texto filosófico extremamente complexo para quem não toca em fenomenologia há tempos. Trata-se de uma fenomenologia estética que nada mais é que a aplicação de conceitos filosófico-estéticos bakhtinianos ao ato propriamente estético, ou antes, uma aplicação estética da filosofia do ato de Bakhtin.
Esse texto foi uma revelação pra mim, tanto que enquanto o lia o materialismo de Bakhtin parecia menos e menos claro (precisei ler Marxismo e Filosofia da Linguagem depois para me convencer), e pude estabelecer uns nexos interessantíssimos entre vários pontos da fenomenologia estética de Bakhtin e a antropologia ortodoxa, bem ao espírito do livro do Pondé, de analogias estruturais, mas essa impressão fortíssima acabou cedendo mais diante do encanto pelas ideias estéticas de Bakhtin, seu dialogismo, a carnavalização, toda a análise metalinguística das obras literárias e discursos orais, o cronótopo. O valor que muitas dessas ideias tinham (e tem) para mim quanto a um princípio para estudos culturais e religiosos permanece um tesouro insondável. Foi uma excelente introdução ao pensamento do grande filósofo do dialogismo.

2- Problems of Dostoevsky's Poetics (Mikhail Bakhtin)

Esse livro veio bem após ler diversas obras novas de Dostoievski e veio bem a calhar, o li juntamente com o livro acima em uma época em que as questões estéticas e estruturais que Bakhtin levantava sobre Dostoievski já me espetavam de curiosidade.
O que era um espeto de curiosidade virou um furor de leitura apaixonada. Devorei o livro, acabei com as quase 400 páginas de um livro teórico em inglês de tanto que amei as ideias de Bakhtin, seja sobre o romance polifônico (a primeira e segunda partes do livro) em contraponto à tradição ocidental moderna da arte monológica, seja as pesquisas maravilhosas sobre os gêneros satíricos (menipeia) e seu espírito carnavalesco que estão na base da origem dos gêneros romanescos, bem como sua visão de mundo alegre e irônica (terceia parte). A quarta parte, metalinguística, é bem mais técnica e difícil e exigiu uma leitura mais detalhada, atenta, cuidadosa e amorosa, dialógica, buscando mesmo ouvir o que o autor queria dizer e conversar com ele.
Livro fantástico, de mudar vidas, de virar uma cabeça.

3- Political Theology (Carl Schmitt)

Já uma surpresa mais tardia, os livros de Carl Schmitt são um complemento, na teoria política, aos estudos culturais e estéticos de Bakhtin. Correspondente de Walter Benjamim, Leo Strauss, opositor de Jürgen Habermas e uma influência indireta do movimento alemão da Revolução Conservadora, Schmitt é um jurista e teórico político alemão com ideias e abordagens únicas. Com base na sua sociologia dos termos jurídicos (que mais aparenta uma genealogia aos moldes estruturalistas), Schmitt desnuda nesse livro o fundamento de um ratio propriamente político, ou seja, a fundação metafísica da soberania.
Sendo um livro sobre a soberania, Schmitt diz que 'soberano é aquele que decide na exceção', ou seja, no moderno Estado democrático, a lei não pode ser o fundamento último da soberania, como querem os positivistas jurídicos como Kelsen, mas que para além da lei a soberania se funda na decisão tomada quando as instâncias normais de resolução de conflitos e governo, ou seja, o aparato técnico-administrativo do Estado, é ameaçado em seus fundamentos por ameaças internas ou externas. Logo, mesmo para além da lei e da constituição, no estado de perigo ou de exceção, é soberano o responsável pela decisão nesse momento crucial, de definição e limite. Tese extremamente polêmica que poderia ser interpretada como defesa do totalitarismo mas que, apesar de seu uso, por Schmitt, para apoiar tanto Hitler quanto o antigo presidente da República de Weimar, Hindenburg, revela um aspecto essencial da soberania, já revelado por Thomas Hobbes e o qual a teoria liberal do Estado não consegue reconhecer pelo seu racionalismo abstrato inerente.

Segundo ele, 'todos os conceitos da moderna teoria do Estado são conceitos teológicos secularizados', o que implica em dizer que havia um fundamento religioso tradicional na teoria do Estado (direito divino dos reis, monarquia tradicional) que se vai secularizando, recuando na sua responsabilidade como decisão. Conforme mais instâncias reguladoras se vão polemizando e enfraquecendo na luta contra uma instância oposta (direito divino vs. direito natural, doutrina religiosa vs. metafísica racionalista, metafísica vs. economia, economia vs. tecnologia), mais recua a responsabilidade pela decisão, que se compartimentaliza em instâncias mais automáticas, técnicas, assim favorecendo o enfraquecimento do político, sua cisão, decadência, transferências particularistas e politização de elementos isolados da sociedade de maneira mais desagregada e desumana.

Um livro chocante, original, permeado de ideias e abordagens inovadoras, tremendas, extremamente importantes para se pensar a política na décade de 30 como hoje.

4- Crítica e profecia, a Filosofia da Religião em Dostoievski (Luiz Felipe Pondé)

Esse livro é importante pelo mesmo motivo do livro de Bakhtin sobre Dostô, e meio que me preparou para ele. É particularmente caro pra mim porque foca no aspecto propriamente religioso da obra dostoievskiana, o que sempre foi importante, valioso pra mim. Todos aqui sabem que eu me converti à Ortodoxia muito por causa de Dostoievski e esse livro explica bem o como, embora sem finalizar no porquê. Livro muito erudito, repleto de citações e fontes retirados de fenomenólogos, sociólogos, estudiosos da religião e até (babei aqui) dos Santos Padres da Igreja. O livro examina algumas questões-chave da intelectualidade contemporânea, como os labirintos da filosofia analítica, o neo-ateísmo e diversas críticas a representações unilaterais da obra de Dostoievski, depois ele explora a antropologia e teologia ortodoxas para intuir a principal fonte religiosa do pensamento de Dostoievski, o maximalismo religioso da Ortodoxia bizantino-eslava e suas práticas ascético-místicas (o hesicasmo), bem como suas diferenças do cristianismo ocidental. Pondé explora aqui as relações entre Ortodoxia e o pensamento religioso de Dostô conforme expostas pelo teólogo ortodoxo contemporâneo, o russo Paul Evdokimov. A seguir examina as teorias de Bakhtin sobre a obra de Dostô, e só então, armado desses e outros referenciais teóricos e metodológico-comparativos, começa a analisar as grandes obras e expor de que forma o pensamento religioso ortodoxo do escritor russo se aproxima, dialoga, questiona, critica e profetiza sobre os rumos intelectuais e sociais de uma Rússia, uma Europa, de um mundo pós-cristão, monológico e esquecido de Deus que o romance polifônico busca revelar nas profundezas da psique de seus personagens, em seus questionamentos existenciais.
Obra maravilhosa, mas particularmente valiosa pelos insights movidos por uma leitura leve, gostosa, muito fácil de entender e acompanhar, sendo muito crítica mas ao mesmo tempo uma deliciosa introdução, e rigorosamente moderada, da importância da religião para Dostoievski em sua visão de mundo.

5- Antologia do pensamento crítico russo (Org. Bruno Barretto Gomide):

Esse livro é uma antologia de uma série de textos críticos de grandes luminares da crítica literária russa, o que, na Rússia, significa uma radiografia acurada e simbólica do pensamento social, religioso e cultural da Rus do século XIX. Desde os primeiros respiros de um Karamzin, a polêmica Carta Filosófica de Tchadaiev, os escritos místico-políticos, profundamente embebidos tanto da filosofia idealista alemã quanto da consciência religiosa ortodoxa dos eslavófilos Aleksei Khomiakov e Ivan Kirieivsky, as brigas dos socialistas utópicos e niilistas, ocidentalizantes de maneira geral, até os aportes de grandes escritores como Dostoievski, Puchkin, Gogol, Droboliubov, Tolstoi e a grande síntese literário-filosófica do grande Vladimir Soloviov.
O livro é uma preciosidade, uma introdução magnífica à vida intelectual e tradição crítica russas.
 
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