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Livros x Adaptações

  • Criador do tópico Calib
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Calib

Visitante
'Taí uma coisa que nunca li e nunca me interessou: Sherlock Holmes...
Acho que saturei dele com tantas séries e filmes que fizeram.
 
'Taí uma coisa que nunca li e nunca me interessou: Sherlock Holmes...
Acho que saturei dele com tantas séries e filmes que fizeram.

Sei lá, seria como deixar de ler os Evangelhos porque já fizeram "n" versões deles, mesmo musicais. :lol:

Concordo com o Bruce, uma coisa é ler os livros outra bem diferente são as versões cinematográficas, que, pra variar, deixam sempre a desejar.
 
Concordo com o Bruce, uma coisa é ler os livros outra bem diferente são as versões cinematográficas, que, pra variar, deixam sempre a desejar.

Não concordo muito com essa última frase, @Spartaco , pois acho que é preciso dar uma chance tanto ao original quanto à adaptação. Pra mim, sempre serão obras diferentes.
 
Não concordo muito com essa última frase, @Spartaco , pois acho que é preciso dar uma chance tanto ao original quanto à adaptação. Pra mim, sempre serão obras diferentes.

Bruce, eu sei que exagerei um pouco, pois não podemos generalizar, mas numa grande parte das vezes, o filme, por melhor que seja feito, não consegue trazer todos os detalhes e as nuances que o escritor quer nos passar e que, com a leitura, podemos usufruir.
 
Bruce, eu sei que exagerei um pouco, pois não podemos generalizar, mas numa grande parte das vezes, o filme, por melhor que seja feito, não consegue trazer todos os detalhes e as nuances que o escritor quer nos passar e que, com a leitura, podemos usufruir.

Tem vezes em que eu acho que o filme consegue ser até melhor que o livro nesse aspecto, :lol: Pra citar alguns exemplos:
- "Os Homens que não Amavam as Mulheres", do David Fincher. "N" vezes melhor que aquela egotrip do Stieg Larsson;
- "Drive", do Refn, criou um heroi trágico nietzchiano em contraponto ao heroi trágico camusiano do texto original de James Sallis;
- o "Cassino Royale" do cinema é melhor que o texto vazio original de Fleming;
- o final de "O Despertar de uma Paixão" cria um desenvolvimento de personagem muito mais profundo que o original de Maugham; and so it goes.

Acho que o problema reside no que o sujeito pretende fazer na tela. Essa nuance que você citou é possível vermos em diretores realmente devotados para o que fazem, como Scorsese, Bergman, Tarkóvski, Kurosawa, entre outros. (Aliás, vide que o "Trono Manchado de Sangue" de Kurosawa é melhor que qualquer adaptação de "Macbeth" ao pé da letra, seja Orson Welles ou Roman Polanski.) É possível, sim, transmitir essas nuances e fazer o público se envolver com detalhes e percepções, jogar com a inteligência do público, mas, infelizmente, é difícil ver isso no grande circuito. Mesmo assim, é preciso dar um voto de confiança a certos diretores quando eles se dispõem a adaptar uma grande obra ou algo do nosso agrado.
 
Tem vezes em que eu acho que o filme consegue ser até melhor que o livro nesse aspecto, :lol:

Caro Bruce, creio que este tópico não é o mais correto para discutirmos esse assunto.

No entanto, para encerrar da minha parte, entendo que, por melhor que seja o diretor, este dá o seu toque pessoal à história que está filmando e, por isso mesmo, na maioria das vezes, acaba não sendo fiel ao livro e, deste modo, diferindo (pouco ou muito) do mesmo.
 
Caro Bruce, creio que este tópico não é o mais correto para discutirmos esse assunto.

No entanto, para encerrar da minha parte, entendo que, por melhor que seja o diretor, este dá o seu toque pessoal à história que está filmando e, por isso mesmo, na maioria das vezes, acaba não sendo fiel ao livro e, deste modo, diferindo (pouco ou muito) do mesmo.

O leitor faz isso. :lol: Mas de fato, este não é o tópico certo para isso.
 
Vocês têm noção de que falar que blablablá Shakespeare deveria saturar também não me fazer querer ler Sherlock, né? Porque para mim Shakespeare não saturou nem nunca há-de saturar. É por isso que ele é um clássico inquestionável.
Mas não é apenas a saturação, mas também que o Conan Doyle ainda precisa competir com uma infinidade de coisas boas que eu não li e que ponho acima nas minhas preferências, de modo que eu provavelmente morrerei sem ler Sherlock. E era isso. Faz parte da vida. XD
 
Gosto de encarar adaptações como obras a parte, não estabelecendo nelas a obrigação de mostrar quaisquer aspectos semelhantes aos visto na obra da qual foi adaptada.

Sempre que uma adaptação é lançada, observo pessoas discorrerem longos textos em como houveram alterações e como esta "blasfêmia" (é como é encarado em alguns casos) deixaram a adaptação ruim.

Não discordo que deva haver comparações no sentido de "No livro é assim e funciona, no filme é diferente e não funciona", mas o mais comum são críticas no sentido de que é ruim simplesmente porque é diferente, sem levar em consideração se aquela diferença faz sentido na adaptação.

Acredito que levar em conta esta separação "obra/adaptação" seja bastante saudável, pois possibilita vislumbrar uma mesma obra ser representada sobre diferentes perspectivas e em diferentes mídias, aproveitando-as separadamente por seus próprios méritos.
 
Concordo com você @Heberus Stormblade.
Ainda assim poucas são as adaptações que me agradam porque sempre fazem algo muito inútil ou alteram alguma peça fundamental da psique do personagem, ai eu não curto.
Agora, certas alterações fazem sentido. Um exemplo: Watchmen.
Em Watchmen tem todo um sub plot que leva a criação do monstro que destrói NY no final que nem tinha cabimento colocar no filme.
 
Um filme que acho que é superior ao livro é O Silêncio dos Inocentes. Graças a atuação do Anthony Hopkins. Mas em geral mesmo o livro é superior. Vou usar os livros do Thomas Harris (@Bel não esqueci do tópico, pode deixar que crio em breve) como exemplo. Nos livros se permite citar a fundo o que os personagens estão pensando (no filme é difícil fazer isso sem um narrador). Nos livros é dito que Hannibal estava escutando as Variações Goldberg. Se eu não conheço essa música eu não tenho como saber que música ele está ouvindo a não ser que mostrem escrito em algum lugar.

Tinha mais coisa pra dizer, mas o sono não me deixa pensar.
 
Mas então. A literatura tem essa vantagem de poder ser altamente psicológica, de ficar esmiuçando a psique humana, de atentar para todos os pormenores por longas e longas páginas etc. como um Proust e um Joyce fazem, mas isso não quer dizer que ela seja melhor per se. O cinema por sua vez tem a vantagem de materializar as coisas e todo o recurso sonoro também, da voz à música, que no papel poderiam tomar laudas e mais laudas de descrição (coisa que pode ser enfadonha nas mãos erradas). Daí que no cinema não funcione bem um livro em que a tônica seja o estilo do autor, a sutil ironia, ou as digressões do narrador (casos emblemáticos, para mim, são o Saramago e o Machado de Assis que perderam quase todo o apelo no cinema); mas tampouco funcionam bem na literatura certas narrativas muito rápidas e simples em que predomine a ação sobre todo o resto. Com raras exceções, quando isso se dá, a gente acaba lendo roteiros de cinema à la Vianco ao invés de um romance propriamente dito. Ou outros lixos muito superficiais no estilo como, sei lá, 50 tons de cinza.

Eu confesso que também tenho a tendência a condenar as adaptações de livros para o cinema - mea culpa, mea maxima culpa. Mas não chego ao ponto de alguns que acham que um filme ruim "macula" a obra original. E estou melhorando nesse aspecto. Hehe.

São mídias diferentes; cada qual com suas vantagens naquilo a que se propõem. Nas mãos erradas, qualquer uma das duas pode e tende a dar maus frutos. Nas mãos certas, pura arte. Eu, como acho que seja o caso da maioria aqui, prefiro literatura por diversas razões, dentre as quais o eu ser um grammar whore e me deliciar com um troço bem escrito, elegante, complexo; um troço que me ensine novos modos de escrever, seja uma palavra em desuso, seja uma sintaxe rebuscada, ou um neologismo inteligente. Gosto quando o cara demonstra domínio sobre os recursos da sua língua, e não falo só de parnasianismo e quejandos para o quais muitos viram a cara: não precisa ser só um Bilac, e nem é bom que seja só um Bilac. Pode ser um Manoel de Barros, um Saramago, um Mia Couto, um Shakespeare, um Guimarães Rosa. Cada um ao seu modo usando a língua ao seu bel-prazer (o que é diferente de estuprá-la por ignorância). E esse prazer eu não tenho similar no cinema, ou não tenho a percepção necessária para o sentir no cinema e gozar da mesma forma. Porque enfim eu sou um cara das Letras.

Então, enquanto não tivermos em mente que cinema e literatura são mídias diversas, e enquanto continuarmos a avaliar uma pelos critérios da outra, vamos ficar sempre frustrados com o resultado dos filmes (já que é sempre o filme que se baseia no livro, e só num caso em um milhão é que se dá o inverso).
 
Daí que no cinema não funcione bem um livro em que a tônica seja o estilo do autor, a sutil ironia, ou as digressões do narrador (casos emblemáticos, para mim, são o Saramago e o Machado de Assis que perderam quase todo o apelo no cinema) [...]

Isso me lembra de um capítulo do Thomas Foster em um de seus livros sobre "Como Ler Literatura..." em que ele comenta sobre o narrador-personagem e como é difícil, por vezes, fazer uma transposição clara ou mesmo ler suas intenções. O exemplo que ele dá é "Vestígios do Dia", com Anthony Hopkins e Emma Thompson, produzido pela Ivory-Merchant, produtora conhecida por adaptações de obras relevantes da literatura inglesa. O filme, baseado no romance de Kazuo Ishiguro, conta a história de um mordomo que sai de férias em décadas para ir atrás da antiga governanta que ele conheceu no passado, interpretada pela Emma Thompson. Os dois trabalharam para Lord Darlington (Edward Fox) em um período turbulento, entre a primeira e a segunda guerras mundiais. No romance, tudo é narrado a partir pelo mordomo, que está mais preocupado em realizar suas tarefas que em se preocupar com os problemas alheios, sejam os de Miss Kempton - visivelmente apaixonada por ele - ou do mundo - Darlington foi um dos responsáveis por convencer o governo inglês de que Hitler não era uma ameaça, o que posteriormente revelou-se falso. Pois bem, o tom do romance é próximo do cômico, pois Ishiguro quer usá-lo como um reflexo da leniência da aristocracia em olhar para além de seus interesses imediatos. Assim como o mordomo, os lordes parecem estar alheios ao que acontece no mundo. Contudo, o filme vai por um caminho diferente: usando as mesmas falas, as mesmas situações, mantendo o foco em Stevens - como no livro -, tudo se encaminha para um drama sobre o não-dito, sobre arrependimento pela oportunidade perdida. Curiosamente, amo ambas as obras, mas sou obrigado a admitir que a versão cinematográfica não conseguiu reproduzir o tom da obra original, embora eu me pergunte constantemente se isso é um demérito à adaptação, pois que, apesar de fiel até onde possível, se revela uma outra leitura, que não deixa de ser relevante pra um público que talvez não conheça muito bem a história da primeira metade do século XX no Reino Unido.

Quanto ao Saramago... a ver se "O Homem Duplicado" de Dennis Villeneuve - ótimo diretor, aliás - fará jus à obra.

Eu, como acho que seja o caso da maioria aqui, prefiro literatura por diversas razões, dentre as quais o eu ser um grammar whore e me deliciar com um troço bem escrito, elegante, complexo; um troço que me ensine novos modos de escrever, seja uma palavra em desuso, seja uma sintaxe rebuscada, ou um neologismo inteligente.

Apesar de também amar literatura, depois que virei cinéfilo comecei a reparar que o cinema também é uma excelente mídia para a "contação de histórias", com "n" idiossincrasias e estilos que podem causar efeitos semelhantes àqueles passados por autores clássicos. É lógico que, assim como na literatura, é preciso "garimpar" algo com esse alcance, com esses efeitos.
 
Última edição:
Mas então. A literatura tem essa vantagem de poder ser altamente psicológica, de ficar esmiuçando a psique humana, de atentar para todos os pormenores por longas e longas páginas etc. como um Proust e um Joyce fazem, mas isso não quer dizer que ela seja melhor per se. O cinema por sua vez tem a vantagem de materializar as coisas e todo o recurso sonoro também, da voz à música, que no papel poderiam tomar laudas e mais laudas de descrição (coisa que pode ser enfadonha nas mãos erradas). Daí que no cinema não funcione bem um livro em que a tônica seja o estilo do autor, a sutil ironia, ou as digressões do narrador (casos emblemáticos, para mim, são o Saramago e o Machado de Assis que perderam quase todo o apelo no cinema); mas tampouco funcionam bem na literatura certas narrativas muito rápidas e simples em que predomine a ação sobre todo o resto. Com raras exceções, quando isso se dá, a gente acaba lendo roteiros de cinema à la Vianco ao invés de um romance propriamente dito. Ou outros lixos muito superficiais no estilo como, sei lá, 50 tons de cinza.

nesse sentido acho que o que pesa no caso das adaptações é que normalmente (pelo menos para filmes fora do circuito independente) parece que as pessoas responsáveis pela produção acabam subestimando um pouco a capacidade de quem está assistindo de absorver algumas informações sem que necessariamente tenha que estar representado em forma de fala (seja como um diálogo, um voice-over ou sei lá o que). exemplo: o lado bom da vida. no livro, a aproximação das personagens principais se dá praticamente através de silêncios. tem aliás um momento muito bacana com os dois no mar em que um não diz nada para o outro. no filme, até o olhar do protagonista para os seios da garota viram fala "eu vi que você estava olhando para meus seios". isso é subestimar o público, e também um pouco o trabalho dos atores que estão trabalhando com você. naquele mesmo ano tinha o amour do haneke que, curiosamente, provocava muito mais as emoções de quem assistia ao filme ao mesmo tempo que era quase todo só silêncio. ou seja: se os profissionais envolvidos são bons, eles conseguem passar sentimentos, pensamentos, e outros tantos elementos abstratos sem ter que necessariamente recorrer à fala.

e aí é engraçado pensar (pelo menos em termos dessa "fala" como muleta) em casos como shakespeare, que todo mundo vê como essencial, indiscutível e etc. e caramba, são textos para teatro: só falas e rubricas, só. nesse sentido acho que as adaptações (quando fieis, é óbvio) prestam um grande serviço ao texto, porque no final das contas eles foram elaborados justamente para isso. penso aqui no muito barulho por nada do whedon (saiu ano passado), de como o texto é fantástico, mas de como ver pessoas dando suas visões para o que seriam aquelas cenas (um benedict meio paspalho todo cheio de si achando estar seduzindo beatrice ao exibir o corpo, por exemplo) fazem toda a diferença. não é que shakespeare não seja bom (duh!) é só que a obra ganha novas cores. até porque aí tem a entonação, que pode mudar completamente o sentido de uma frase. um exemplo (ainda em shakespeare) para mim é uma cena em que hamlet conversa com polonio. no texto temos:

LORD POLONIUS
What do you read, my lord?
HAMLET
Words, words, words.

e só. no filme, fica assim:


nós já sabemos que hamlet está fingindo sua loucura nesse momento, como leitores podemos até imaginar uma avacalhação como essa do branagh no último "words", mas é completamente diferente imaginar e ver de fato o hamlet fazendo isso. ainda nessa cena, uma das minhas falas favoritas:

LORD POLONIUS
My honourable
lord, I will most humbly take my leave of you.
HAMLET
You cannot, sir, take from me any thing that I will
more willingly part withal: except my life, except
my life, except my life.

De novo, só o texto (embora, convenhamos, que beleza de texto, heim?), mas olha como faz toda a diferença ouvir as mesmas palavras só que com entonação e mesmo com a expressão do ator:


então acabamos chovendo no molhado: são mídias diferentes, o modo como recebemos a mensagem é diferente, e temos vantagens e desvantagens para ambos os casos. o negócio é que eu acredito que é possível fazer uma boa adaptação cinematográfica de modo que o filme não fique devendo nada para o livro, e aqui não falo só de teatro. por exemplo, o iluminado tem um monte de mudanças no enredo comparado com o livro do king, e mesmo assim é muito bom (e eu adoro o livro do king). intocáveis (o filme francês de 2011) é lindo e tocante - o livro é um porre (sério, não deu para seguir em frente com aquele narrador). argo é tenso bagarai mesmo com as liberdades hollywoodianas do affleck, o livro é chato. o livro submarino é legal, mas o filme do ayoade foi uma das coisas mais apaixonantes que vi no ano passado (cheguei a escrever um post comparando um com o outro). enfim, me parece um caso em que fica óbvio que não dá para levar tudo tão a ferro e fogo: por mais que tenhamos a postura inicial de imaginar que livros são mais profundos (consequentemente, "melhores"), se você parar para pensar vai conseguir puxar alguns exemplos em que o filme conseguiu até ser superior.

outros exemplos de boas adaptações (mesmo que não sigam de modo fiel aos livros): coração satânico, blade runner, no country for old men, entrevista com o vampiro (prefiro o filme ao livro, btw), ligações perigosas, a estrada, desejo e reparação, clube da luta, deixa ela entrar (não a versão americana que eu não vi então não posso falar), além de alguns casos já citados aqui no tópico, como watchmen.

edit: acabei de ver que tá dando treta e os videos não estão começando do ponto que marquei. o primeiro é 1:17, o segundo 2:20 (se eu não me engano)
 

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