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[BLOG] Quando privatizarem a USP, quero comprar um banheiro e batizar de “Saka’s”

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
O Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou sentença que determinava que a Universidade de São Paulo devolva R$ 1 milhão doados pela família do banqueiro Pedro Conde à Faculdade de Direito do Largo São Francisco. A família pediu de volta o dinheiro após protestos terem impedido que o auditório da faculdade, reformado com esses recursos, fosse batizado com o nome do falecido banqueiro. A informação sobre a decisão judicial é da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo.

O acordo havia sido firmado em 2009, quando o atual ex-reitor, João Grandino Rodas, era diretor da Sanfran. Mas a pressão dos alunos levou a faculdade a voltar atrás. A Justiça disse na sentença de 2012 que os doadores não sabiam que era necessário o aval da congregação (conselho) para ter a “homenagem'' aceita. Os parentes do falecido banqueiro também pediram indenização por danos morais, uma vez que o caso ganhou repercussão na época, abrindo o debate sobre a relação público e privado e sobre o financiamento da instituição.

A USP afirma que havia se comprometido a apresentar a proposta de batismo e não dado certeza de que isso ocorreria.

Creio que este episódio é bastante paradigmático do momento em que vive uma das mais importantes universidade do continente.

A USP é pública, não está à venda – pelo menos, ainda não, apesar de um grupo de fundações privadas aproveitarem-se do conhecimento produzido com recursos públicos, entregando migalhas em contrapartida.

Doações são vias de mão única, caso contrário configura-se uma relação comercial, de compra e venda de espaço publicitário. Se faculdades particulares vendem seus espaços de aula, com nomes de bancos, empreiteiras, restaurantes, personagens fictícios de desenhos animados, a decisão é delas. No caso da USP, é de todos nós.

Um doador pode impôr condições para a doação? Sim, claro, o dinheiro é dele.

Pode pedir que os recursos sejam usados na pesquisa contra malária. Ou em projetos de extensão para a comunidade. Ou na construção de uma biblioteca. Aí cabe à universidade de acordo com suas regras (e, na falta delas, em decisão de seus colegiados) decidir se aceita ou não as condições. E, voluntariamente, optar por uma homenagem ao doador. Não estou dizendo que intenção da família doadora foi comprar espaço na USP. Mas verificando que o resultado para a universidade acabou sendo este.

Até porque o que está em jogo não é aceitar ou não doações privadas – que são bem-vindas, mas a quem pertence um centro público de produção e difusão de conhecimento e quem faz as suas normas. O coletivo, com discussões democráticas, ou alguns iluminados, falando em nome de todos?

Isso sem contar decisões sobre como será financiada a sua produção de conhecimento, que é fundamental para o nosso desenvolvimento.

O poder público tem a obrigação constitucional de manter a universidade pública, gratuita e de qualidade. E garantir que este acesso não seja dado a alguns poucos beneficiários, como tem sido feito até hoje, mas aumente o número de vagas para abraçar, com qualidade, quem realmente não pode pagar as escorchantes mensalidades de uma boa instituição privada.

As carpideiras do mercado vão se lamuriar com isso, afirmando que o caminho mais fácil é a privatização da USP, através da cobrança de mensalidades na pós-graduação, de taxas na graduação, de venda de espaços publicitários, de produção de pesquisa voltada apenas à necessidade das empresas, em suma, de otimização da gestão educacional.

A colocação de uma placa como contrapartida obrigatória é simbólica desse processo, portanto fundamental. É um marco e, portanto, deve ser combatido.

Ora, a USP já não se tornou um burgo ao se fechar para a cidade, tempos atrás, com um muro alto em seu campus principal que impede aos contribuintes de fora de sua comunidade acadêmica terem acesso àquela enorme área verde nos finais de semana?

E, já que deu as costas à cidade fisicamente, seguir ignorando a sociedade que a mantém é apenas uma emenda.

Fonte
 
Que besteira. Perde a USP, que fica sem o dinheiro. Parece que tem um abismo entre uma doação para reforma de auditório com a contrapartida da homenagem e uma doação para pesquisa que imponha uma agenda para a universidade. Sei lá, o caso não pareceu nem um pouco emblemático ou um prenúncio da privatização. Pareceu mais é faniquito dos alunos.
 
Ué, contraditório o texto, pois o próprio Sakamoto inicialmente explica porque não há nada demais na questão do batismo, afinal admite que "um doador pode impôr condições para a doação" pois "o dinheiro é dele", e cabe a universidade "decidir se aceita ou não as condições". Mas repentinamente, sem maiores justificativas, ele aponta que só depois a universidade deve "voluntariamente, optar por uma homenagem ao doador", como se fosse autoevidente que o batismo não pudesse estar nas condições acima mencionadas - parece julgar autoevidente justamente aquilo que é esperado que defendesse no texto.

As "carpideiras do mercado" vão defender, entre outras coisas, a produção de pesquisa voltada apenas à necessidade de empresas? Nunca vi ninguém defendendo isso, por mais pró-mercado que fosse. Sinto cheiro de caricatura e espantalho. Pra variar.

E a USP não é aberta ao público nos finais da semana por causa do dito muro alto? O muro só está lá no fim de semana?! Pensava que o motivo era o fato da entrada ser controlada nos fins de semana... Curioso (mas já de praxe em textos desse tipo) essa preferência por atacar aspectos da realidade cuja importância se dá mais em níveis "poéticos" do que lógicos (no caso, o muro, cuja figura exerce certo apelo à imaginação). Talvez porque sem esse recurso a crítica mostre ainda mais às claras sua pouca substância.
 
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Ué, contraditório o texto, pois o próprio Sakamoto inicialmente explica porque não há nada demais na questão do batismo, afinal admite que "um doador pode impôr condições para a doação" pois "o dinheiro é dele", e cabe a universidade "decidir se aceita ou não as condições". Mas repentinamente, sem maiores justificativas, ele aponta que só depois a universidade deve "voluntariamente, optar por uma homenagem ao doador", como se fosse autoevidente que o batismo não pudesse estar nas condições acima mencionadas - parece julgar autoevidente justamente aquilo que é esperado que defendesse no texto.

Pelo que entendi, pode impor condições no que se refere às pesquisas (grifo meu):

Um doador pode impôr condições para a doação? Sim, claro, o dinheiro é dele.

Pode pedir que os recursos sejam usados na pesquisa contra malária. Ou em projetos de extensão para a comunidade. Ou na construção de uma biblioteca. Aí cabe à universidade de acordo com suas regras (e, na falta delas, em decisão de seus colegiados) decidir se aceita ou não as condições. E, voluntariamente, optar por uma homenagem ao doador. Não estou dizendo que intenção da família doadora foi comprar espaço na USP. Mas verificando que o resultado para a universidade acabou sendo este.
 
Um doador pode impôr condições para a doação? Sim, claro, o dinheiro é dele.

Pode pedir que os recursos sejam usados na pesquisa contra malária. Ou em projetos de extensão para a comunidade. Ou na construção de uma biblioteca. Aí cabe à universidade de acordo com suas regras (e, na falta delas, em decisão de seus colegiados) decidir se aceita ou não as condições. E, voluntariamente, optar por uma homenagem ao doador. Não estou dizendo que intenção da família doadora foi comprar espaço na USP. Mas verificando que o resultado para a universidade acabou sendo este.

Utilizo a mesma citação da @Clara V. para levantar outra questão. Onde que uma doação mediante a condição do batismo com o nome do doador configura uma "compra" do espaço? Eu não consigo acompanhar essa etapa lógica do raciocínio do Sakamoto. Se os doadores "compararam" então eles podem usar privadamente o espaço? É isso? Ah não é? Então não é compra.

Aguardo respostas.
 
O problema todo foi a imposição do nome do doador, mas não dá pra afirmar categoricamente que houve compra do espaço público, concordo com o @Grimnir. Mas será que cabe dano moral à família do doador? Faltou foi diálogo entre as partes.
 
O problema todo foi a imposição do nome do doador, mas não dá pra afirmar categoricamente que houve compra do espaço público, concordo com o @Grimnir. Mas será que cabe dano moral à família do doador? Faltou foi diálogo entre as partes.

Concordo, falta de comunicação total. Essa polêmica de "USP a venda" acho uma bobagem sem tamanho. Pelo que entendi a doação foi feita sob a condição, como um acordo de cavalheiros, de o auditório ser nomeado em homenagem ao doador.
Porém a USP parece não ter se comprometido com isso. Essa relutância em nomear o auditório em homenagem ao doador acho muito desnecessário.
O cara chega e fala, tenho 1 milhão que dou pra vocês se colocarem meu nome no auditório, e a universidade ao invés de dar graças a Deus fica criando caso. Desnecessário.
 
É uma coisa aparentemente insignificante. Por um milhão, batiza-se e pronto. Mas existe o contexto em que se desenrola e os desdobramentos na questão da memória: a associação de uma figura do sistema financeiro ao auditório de uma instituição de ensino - e o Largo São Francisco, com toda sua representação - carrega simbolismos, e não por acaso ocorre num momento em que a educação é realmente pensada exclusivamente para o mercado de trabalho. (Não que exista, obrigatoriamente, por parte da USP e mesmo do doador, uma deliberação para reforçar essa relação de finalidade entre ensino e mão de obra. Mas o ato em si revela o quão internalizada encontra-se essa concepção, que caminha a passos largos para se tornar algo pronto e dado, portanto inconteste).

Pensando historicamente, tais gestos aparentemente banais terminam, com a soma de outros, a naturalizar muitos processos e, assim, construir um determinado tipo de memória escorregadia de questionamentos. A gente pode citar o cinema e seus filmes que representam latinos, africanos e asiáticos em situações de humor inocente, mas que terminam por propagar exotismos e, consequentemente, sentimentos de superioridade; podemos lembrar, também, que após a abertura política, um loteamento na periferia de São Paulo teve as ruas batizadas com nomes de torturados e desaparecidos políticos, enquanto rodovias importantes e avenidas centrais guardaram homenagens aos salvadores generais presidentes; ou ainda o Parque da Juventude (SP), construído sobre os escombros do massacre da ex-penitenciária do Carandiru. Esses pequenos exemplos, embora de contextos diversos, guardam relação de como se dá, de maneira aparentemente ingênua, a construção da memória - que é campo político.

O batismo, portanto, além de expor seu tempo, edifica uma memória sobre o auditório e sobre o banqueiro.

Essa reflexão de educação-mão de obra é possível, mas não é única. Tanto que o Sakamoto, também partindo do desprendimento vaidoso do gesto banqueiro, questionou não apenas o batismo, que é um sintoma febril, mas outros movimentos que realmente existem - apesar de não se deter sobre eles - como a mercantilização do ensino e a distância da academia para a sociedade - seja na forma de estrutura física, seja como, em diversos casos, no que se refere a produção de conhecimento.
 
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Entendo o que você disse @Cantona, mas acho que nesse caso é uma questão de a universidade medir suas prioridades no momento. Quanto se precisava desse dinheiro?
Essa soma seria suficiente para aplacar a questão filosófica da velada associação que se criaria entre universidade e mercado de trabalho, e representativa o bastante para se desconsiderar as implicações desse simbolismo negativo do ponto de vista da educação acadêmica como que submissa ao mercado?
O banqueiro tem o direito de oferecer, num gesto de caridade auto promocional, uma doação vinculada a condição de ter seu nome homenageado de alguma forma pela instituição, assim como cabe a instituição analisar os prós e contras e aceitar ou recusar a oferta.
Nesse caso, creio que houve uma grave falha de comunicação nesse sentido, que acabou terminando dessa forma.

Porém, seu post foi muito elucidativo. Entendi melhor o caráter crítico do texto e contexto no qual foi colocada a questão de a USP estar "a venda".
 
É bom lembrar que, apesar de seu orçamento bastante apertado, a USP tem o maior orçamento das instituições estaduais paulistas de ensino superior, mais de R$ 5 bilhões para manter todas as suas faculdades e institutos. Parece grana para dar e sobrar, mas imagine o tanto de salários, obras, projetos, etc. em toda a USP, incluindo Leste, Ribeirão Preto, Piracicaba, Bauru, Pirassununga... No entanto, é bom lembrar que a destinação de verba para a USP e suas irmãs Unesp, Unicamp e CEETEPS é via ICMS, que vem batido sucessivos recordes de arrecadação. Não vou me aprofundar agora porque minha mãe está chamando pra almoçar ( :lol: ), mas é um dos argumentos onde os movimentos batem para conseguir melhores condições para a universidade.
 
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