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A "Marcha da Família" 2014

Cantona

Tudo é História
Notícia que cabe muito bem em "Planeta Bizarro":


A marcha do retrocesso
Na contramão da história, defensores da volta dos militares ao poder convocam a população para a reedição da Marcha da Família com Deus

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" (...) Às vésperas dos 50 anos do golpe militar, grupos de extrema-direita estão organizando para o sábado 22 o ato: “Marcha da Família com Deus II – O Retorno”. A manifestação é uma tentativa da reedição da passeata que, em 19 março de 1964, reuniu mais de 500 mil pessoas no centro da capital paulista contra o governo do presidente João Goulart (1919-1976). Organizada à época por setores conservadores da sociedade, empresários e donas de casa, a revolta dos paulistas era uma resposta às reformas de base do governo Jango, como era conhecido o presidente Goulart, que previam medidas econômicas e sociais de caráter nacionalista, com uma maior intervenção do Estado na economia. As mobilizações, que ficaram conhecidas como “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, um misto de protesto com procissão católica, antecederam o golpe militar de 1964, que, poucas semanas depois, abriu o período ditatorial brasileiro.

A marcha atual foi convocada pelas redes sociais, recebeu apoio de lideranças evangélicas e de setores ligados à extrema direita. O grupo diz contar com a simpatia do filósofo Olavo de Carvalho e até de Denise Abreu, a petista que mandou na aviação civil no governo Lula e ficou famosa por sua predileção por charutos. Até a tarde da quinta-feira 13, porém, a passeata contava com apenas 983 pessoas confirmadas no Facebook. “Essa convocatória é mais um erro histórico”, afirma o teólogo Fernando Altemayer, professor da PUC-SP. Sem meias palavras, o professor avalia que a versão 2014 da Marcha com Deus é tão sem nexo que as principais bandeiras do ato remontam um Brasil que envergonha os cidadãos de bem. “Ninguém de bom senso irá a uma convocação dessas. Será uma bola de sabão”, avalia Altemayer.

Segundo os organizadores da reedição da Marcha, o objetivo da passeata é o de lutar a favor da intervenção militar constitucional, pela dissolução do Congresso Nacional e intervenção em todos os governos estaduais e municipais e nos seus respectivos legislativos no combate à corrupção e à subversão. “Amigos patriotas, vamos todos juntos comemorar essa data tão importante para o nosso País! Cinquenta anos que o povo saiu às ruas pedindo democracia, justiça, liberdade e, acima de tudo, dizendo ‘não ao comunismo’”, diz a chamada para o evento nas redes sociais. Uma das militantes pró-marcha é a professora Ana Paula Logulho. Ela diz acreditar, de verdade, que a passeata irá “salvar o Brasil”. Paradoxalmente, a ativista diz que detesta política. “Toda e qualquer pessoa, independentemente de raça, credo, cor, escolha, será bem-vinda à Marcha da Família. Não é o momento de intrigas pessoais e muito menos de fazer política. A intenção é salvar o Brasil”, afirma. As páginas da internet ligadas à organização do evento divulgam uma lista de locais escolhidos para a concentração no dia 22. A maioria dos pontos são endereços do Exército ou da Polícia, mas há também locais públicos. Em São Paulo, o protesto anticomunista foi convocado para as 15h, com saída na Praça da República, em direção à Praça da Sé. No Rio de Janeiro, o evento partirá no mesmo horário da Candelária.

(...)"


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Fonte

Que coisa! FEBEAPÁ revive! Se Stanislaw Ponte Preta fosse vivo, certamente diria que - "A maior inflação nacional [continua sendo] a de estupidez".

Pelo menos, a coisa se restringe ao tosco-bizarro de uma meia dúzia que parou no tempo. Gestos como esse só reforçam o caráter caricato de quem deseja novamente salvar o Brasil.
 
Olha, sejamos coerentes: cada um faz passeata pelo que bem entende. País livre patati patatá...
Eles também devem achar um absurdo parada gay, marcha das vadias, black blocs e outras tantas coisas.
Se o troço é tosco e vai ficar às moscas, se a marcha será inofensiva e um fracasso, nem sei por que dar ibope e divulgá-la ainda mais. :P
 
Olha, sejamos coerentes: cada um faz passeata pelo que bem entende. País livre patati patatá...
Eles também devem achar um absurdo parada gay, marcha das vadias, black blocs e outras tantas coisas.
Se o troço é tosco e vai ficar às moscas, se a marcha será inofensiva e um fracasso, nem sei por que dar ibope e divulgá-la ainda mais. :P

É verdade, Calib. Eu penso que em outro momento, um "evento" como esse, se divulgado, ocuparia apenas uma nota de rodapé. Mas, próximo de completar 50 anos, tudo que remete ao golpe civil-militar ganha destaque.

E relendo a matéria, faço uma mea-culpa: apesar da caricatura e planfetismo da passeata, a desimportância deve ser relativizada, por esse mesmo contexto em que se insere. Afinal, através dela podemos revisitar a primeira marcha e reler o golpe de 64. E assim vamos descobrir que os empresários financistas dos milicos e diversas figuras políticas que se calaram - e fizeram calar - naqueles tempos, ainda estão aí, firmes e fortes. O que nos leva à apatia que em alguns momentos atinge a nossa Comissão da Verdade, apesar da pressão de setores da sociedade civil, etc, etc.
 
Última edição:
“Essa convocatória é mais um erro histórico”, afirma o teólogo Fernando Altemayer, professor da PUC-SP. Sem meias palavras, o professor avalia que a versão 2014 da Marcha com Deus é tão sem nexo que as principais bandeiras do ato remontam um Brasil que envergonha os cidadãos de bem. “Ninguém de bom senso irá a uma convocação dessas. Será uma bola de sabão”, avalia Altemayer.

Que fofo! "Cidadãos de bem". Quando essa expressão é usada pelos conservadores, é um absurdo. Quando é usada contra os conservadores, é uma obviedade. É aquela ela filosofia: "Você é livre para falar o que quiser, contanto que não me ofenda".
 
O problema escancarado para mim, tanto na """tentativa""" atual quanto no logro de 64 é o credo exacerbado que esse povo coloca na integridade geral dos militares.

Por que eles seriam confiáveis assim? Eu já custo a confiar em quem não tem armas... e em quem detém o monopólio, em alta escala, da violência física?

E mais, vamos analisar o que eles fizeram da última vez. Deram o golpe como uma intervenção para livrar o Brasil do "perigo vermelho" e prometendo o retorno, em pouco tempo, da tal normalidade democrática.

Demoraram 7 anos, a contar da constituição da mesma, para derrotar a pífia Guerrilha do Araguaia (evidentemente, uma demora de conveniência, a la "matar o Bin Laden" quando a legitimidade do Obama estava em cheque). E mesmo depois digamos, de 1975, onde não havia mais NENHUM perigo de guerrilha.

Ou seja, a tal intervenção para restaurar a ordem democrática acabou virando um projeto de poder de 21 anos! E os grandes projetos de infraestrutura - para o bem ou para o mal - não deixam mentir que as pretensões dos militares quanto a um projeto nacional eram bastante altas, indo bem além de uma moralização da política. A derrubada de um governo democraticamente eleito descortinou um projeto de poder - da mesma forma que eles alegavam, e alegam, que a esquerda queria/quer fazer.

Não posso afirmar nada sobre a integridade ou não dos fardados que ocuparam a presidência da República, reconheço. Mas a corja corrupta que eles ajudaram a perpetuar no poder com cargos no Executivo ou nos Estados e nas cidades importantes através dos cargos biônicos é o que existe de mais atrasado na política nacional. José Sarney, Paulo Maluf, família Magalhães, Eliseu Rezende... ou seja, de alguma forma, o regime roubou sim. E muito.

Chegaram a ventilar, dentro do regime, a hipótese de explodir um gasômetro na avenida Brasil, resultando de longe no maior atentado terrorista da história, com dezenas de milhares de mortes, só para desacreditar os opositores.

E ainda há o "acidente" que matou o Castelo Branco, que de todas as mortes de políticos da história do Brasil, eu credito como a mais suspeita - bem mais que a de Getúlio e algo mais que as de Jango, JK e Ulisses.

Enfim, acho que não dá para confiar diretamente o controle do destino do País a quem tenha poder bélico. Por mais que haja pessoas bem-intencionadas dentro das Forças Armadas, sempre haverá os oportunistas, e a união do poder militar com o político tem um elevado potencial tirânico.
 
Bom era na ditadura, quando não tinha corrupção. Ah, não?
Um ponto de vista tortuoso negligencia valores essenciais para justificar preferência pelos anos de chumbo. O pior é que é uma visão errada, também: houve muitos escândalos no período dos generais presidentes
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Tanques invadem as ruas do Rio, em 31 de março de 1964: como paladinos pretensiosos da moral, militares queriam “acabar com a subversão” e “combater a corrupção”

Elder Dias

“No tempo do militarismo é que era bom, pelo menos não tinha corrupção.” Quem não tropeçou nessa frase nos últimos anos ou não tem Facebook, ou não frequenta roda de bar nem salão de beleza, ou não recebe visita em casa. Em tempos de descoberta de escândalo em cima de escândalo em todos os Poderes e em cada uma das esferas de todos eles, tornou-se senso comum comparar o atual estado ético da sociedade brasileira — principalmente na questão público-política — ao da época em que os generais mandavam no País.

Uma visão obviamente caolha, ao negligenciar valores essenciais, como a liberdade de expressão, sufocada durante os anos de chumbo do regime. Mas, pior, uma visão errada também: a corrupção correu solta durante os anos de militarismo e os próprios comandantes que tomaram o poder prometendo acabar com a praga foram forçados a admitir que pouco (ou nada) poderiam fazer contra ela.

Ao assumir o poder após anos de tribulação, havia duas “bandeiras de luta” a que se comprometia o novo regime (o que, aliás, é curioso, pois ditadura não tem de dar satisfação a ninguém): uma era livrar o País do “mal do comunismo”; outra, combater a corrupção — o que, na verdade, não era nenhuma promessa inédita. Naquela que viria a ser a última eleição que o Brasil teria para presidente pelas próximas três décadas, o jingle do então candidato da conservadora UDN à Presidência, Jânio Quadros, virou um clássico das campanha: “Varre, varre, varre, varre, varre vassourinha/ Varre, varre a bandalheira/ Que o povo já está cansado/ De sofrer desta maneira/ Jânio Quadros é a esperança/ Desse povo abandonado/ Jânio Quadros é a esperança/ Desse povo abandonado...”

Claro, Jânio ganhou. E decepcionou. Assim como ganharia e decepcionaria Fernando Collor de Mello em 1989, depois de proclamado o “caçador de marajás” em uma indefectível capa da revista “Veja”. Ambos, Jânio e Collor, como intrépidos salvadores da pátria, fizeram crer que venceriam a corrupção. Como se fosse só estalar um dedo ou acionar uma lâmpada de Aladim. Ocorre que a corrupção nunca bateu asas e voou do Brasil. Pelo contrário, sentou praça com a comitiva de Pedro Álvares Cabral e gostou da terra. Apesar de não ser exclusividade tupiniquim, é tão endêmica — embora mais nociva — quanto o mosquito da dengue ou a cachaça. Poderia ser controlada, com doses anti-impunidade.

No hiato entre as duas eleições presidenciais, a turma verde-oliva avocou a prerrogativa de extinguir a aberração. E o “estalar de dedo” foi o execrado Ato Institucional nº 5 (AI-5), editado em 1968 e que se tornou o marco mais simbólico do que houve de pior no período ditatorial. Dando poderes extraordinários ao Presidente da República, suspendeu garantias e se sobrepôs à Constituição de 67 — já promulgada para servir ao regime militar, ressalte-se. Mas além das aberrações contra os direitos políticos e civis, o instrumento tinha também um item no mínimo pretensioso: seu Artigo 8º queria varrer a corrupção punindo os acusados com a perda de bens: “O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.”

“Fácil” como a Transamazônica

Um relato bem didático e sintético do que os militares fizeram para combater foi feito pelo historiador Carlos Fico, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e está no livro “Como Eles Agiam: os Subterrâneos da Ditadura Militar” (Record, 2001). Por exemplo, para executar o trabalho relativo ao tal Artigo 8º, foi criada a Comissão Geral de Investigações (CGI). Para vencer a vilã corrupção, seus membros passaram a atuar como super-heróis justiceiros por todo o País. Era como fazer a Rodovia Transamazônica: da mesma forma que seria “só” rasgar aquela mata com as máquinas do desenvolvimento, os paladinos da moralização ética precisariam “apenas” fazer cumprir aquele item do poderoso AI-5. Fácil.

Fácil até começar. Conforme relata o livro de Carlos Fico, para moralizar o país as 20 subcomissões da CGI tiveram de lidar com casos de corrupção tão diversos como o aumento de salários da magistratura e de membros do Tribunal de Contas do Paraná e o atraso de salários da rede municipal de ensino de São José do Mipibu (RN); o adubo superfaturado comprado pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais e a alta do preço da carne em Manaus; cobrança de taxas escolares indevidas no Espírito Santo e irregularidades na administração da Federação Baiana de Futebol.
Mas a população se envolveu. Assim como quando se multiplicou em “fiscais do Sarney” — o então presidente que, por ironia, se tornou um dos frutos mais viçosos que o período da ditadura ofereceria à política brasileira — pelo fim da inflação, acreditava que o fim da corrupção viria com a saga planejada pelos militares. “A força do discurso moral de combate à corrupção gerava simpatia em setores da sociedade, que encaminhavam, espontaneamente, denúncias à comissão”, relata Fico.

O problema é que os super-heróis do regime exorbitavam. Cometiam excessos variados e chegavam a se achar tão poderosos quanto a alta cúpula do governo, a ponto de criar atritos com diversos órgãos federais. Governadores se sentiram perseguidos.

Resultado de tudo: os militares acabaram se tornando prisioneiros da própria artimanha. Ainda no relato do historiador, em cinco anos (de 1968 a 1973) foram 1.153 processos. Destes, mil foram arquivados. Outros 58 viraram proposta de confisco e 41, alvo de decreto presidencial. Dez anos depois, a comissão era extinta, com o AI-5, pelo general-presidente Ernesto Geisel. Sem resultado concreto algum, ou porque os processos se mostravam mal fundamentados — e, então, vulneráveis a uma análise jurídica mais criteriosa — ou porque havia uma paralisação por conta de... injunções políticas. Ou seja, o mesmo motivo que, até hoje, continua impedindo a apuração e a punição de casos envolvendo grandes nomes do poder.

Cúpula do regime militar admitiu que corruptos se beneficiaram do regime

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O presidente era Ernesto Geisel. E seu interlocutor, naquele dia, no prédio que abrigou o Ministério da Agricultura, era o almirante Faria Lima. A este, o comandante-em-chefe do Brasil admitiu, ao ser questionado se era mesmo hora de fazer a abertura política: “A corrupção nas Forças Armadas está tão grande que a única solução para o Brasil é fazer a abertura”, desabafou Geisel. Uma declaração fortíssima, registrada no livro “História Indiscreta da Ditadura e da Abertura” (Record, 1999), do historiador Ronaldo Costa Couto, doutor pela Universidade de Sorbonne, em Paris.

Outra declaração, esta resgatada por Carlos Fico em seu livro “Como Eles Agiam: os Subterrâneos da Ditadura Militar”, mostra que os chefes do poder militar fizeram seu mea-culpa já no início do regime. “O problema mais grave do Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”, admitiu o ministro Estevão Taurino de Resende, o primeiro presidente da Comissão Geral de Investigação (CGI), que caçava tanto os que considerava subversivos como os supostos corruptos nos primeiros anos do regime. Era ele que tinha de dar conta — conforme escreveu Armando Falcão, outro ministro, mas da Justiça, no governo Geisel, em seu livro “Tudo a Declarar” (Nova Fronteira, 1989) — dessa parte da política de Castelo Branco, o primeiro presidente da ditadura civil-militar no Brasil, que tinha sido chefe do Estado-Maior do Exército nomeado pelo deposto João Goulart e se tornou um dos líderes do movimento golpista.

No texto “Falso Moralismo”, publicado na “Revista de História” (2009), a cientista política Heloísa Murgel Starling, diz que não havia medida para coibir os desregramentos, já que a própria ditadura suprimia os limites a quem quer que se colocasse no alto do poder. “Havia privilégios, apropriação privada do que seria o bem público, impunidade e excessos.” O general Gleuber Vieira, em depoimento aos professores Celso Castro e Gláucio Ary Dillon Soares, em 1994, publicado depois no livro “A Volta aos Quartéis — Memória Militar Sobre a Abertura” (Relume-Dumará, 329 páginas), diz que na ditadura “houve deslizes de que eu mesmo, na época, tomei conhecimento”, embora ressalte o período como “de austeridade como poucos na história republicana”.

É bem verdade que a atitude de parte dos militares pareceu ser genuína, apesar de ingênua, na busca da solução do drama da corrupção no País. Não contavam eles que alguns dos colegas de farda pudessem se envolver em casos — o que levava à paralisação de processos de apuração dos fatos, para não respingar na imagem idônea que precisava passar o regime. Se os generais presidentes não ficaram ricos, o mesmo não se pode dizer de muitos e muitos civis (e militares) que estiveram às bordas do poder. Fortunas foram erguidas durante os anos do “milagre econômico”; suspeitas de superfaturamento pairam até hoje sobre obras como a Ponte Rio–Niterói, ainda que não houvesse instrumentos tecnológicos para uma apuração mais acurada; e foram, ainda, muitos os episódios de corrupção que vazaram para a imprensa apesar de todo o fechamento da estrutura comunicacional, como os casos Luftalla (1977), Jorge Atalla (1979), Econômico (primeira parte, na década de 70) e Coroa Brastel (1985), entre vários outros.

Por fim: para comprovar a existência da corrupção na ditadura, bastaria admitir que houve tortura e que tenha sido acobertada pelo regime. Para torturar, desfigurar corpos, mutilar outros e tirar vidas sem deixar margem para questionamentos, era preciso “legalizar” procedimentos. A tortura deixava de ser tortura com a anuência e cumplicidade de agentes dos diversos poderes (peritos, policiais, delegados, juízes, gestores, parlamentares etc.). Ou seja, o que uns faziam para justificar evasão de divisas, outros usavam para evasão de corpos. É “menor”, essa corrupção?

O sagrado direito de não precisar de super-herói

É um tanto estranho uma terra com mais de 500 anos nas costas viver uma democracia ainda recente. Mais do que isso, o atual é o mais longo período verdadeiramente democrático no Brasil. Como diria um ex-presidente, nunca antes na história deste País houve um tempo com tal qualidade de verdadeira democracia como agora. É tão democrático que se pode inclusive pedir a volta da ditadura, escrever sobre isso e postar nas redes sociais.

Tentem imaginar o inverso. Escrever, na época do general Emílio Garrastazu Médici umas poucas e boas sobre a tal Revolução de 64 e exigir a volta dos direitos políticos plenos e o fim do regime. E puxar uma convocação, via redes sociais, para uma passeata, ou ao menos um rolezinho, contra a turma fardada. Chega a ser surreal — e é mesmo.

A frase “bom era na época dos militares” carrega uma série de incongruências históricas e sociológicas, a tal ponto de não ser possível acreditar que alguém realmente pense que possa ser assim. Falar sobre “menos corrupção” apontando para a ditadura é como ignorar uma montanha de defeitos na antiga namorada para justificar uma birra com a atual por uma imperfeição que ambas carregam.

O que incomoda, na verdade, é sabermos que temos uma democracia assim, imperfeita. Assim também era a democracia no começo dos anos 1960, quando havia a ascensão dos movimentos sociais juntamente com uma temperatura cada vez mais alta da Guerra Fria. Isso catalisou a saída dos militares dos quartéis para os palácios e retardou, em meio século, o progresso da democracia no Brasil: menos de 20 anos após sair do regime de exceção do Estado Novo, em 1945, o País voltava a ser tomado de assalto.

A democracia é a pior forma de governo, sem contar todas as demais que já foram experimentadas, dizia o primeiro-ministro britânico Winston Churchill. E na democracia brasileira que temos é preciso conviver com gente questionável que cresceu na política exatamente no período não democrático: assim foi com Antonio Carlos Magalhães, assim é com Paulo Maluf, José Sarney e tantos outros, que souberam jogar o jogo dos militares, cresceram durante o regime e entraram com muito poder na fase pós-ditadura, a ponto de distribuírem as cartas. A ponto de existir Pedrinhas no meio do caminho de toda uma Nação.

O problema do Brasil não é a democracia: é a corrupção. Melhor até: não é nem a corrupção — que existe em qualquer local do planeta —, mas a impunidade à corrupção. Pedir o retorno do militarismo como resposta à corrupção na democracia é o mesmo que ver o bode em cima do sofá da sala e tirar o sofá. E para combater a corrupção nada melhor do que instituições fortes. Ano a ano depois de mais uma redemocratização, elas estão sendo construídas e ajudando a estabelecer novos paradigmas. Foi assim que houve o impeachment de um presidente, a transição tranquila de governo para um ex-preso político e a condenação de parlamentares em um caso de corrupção. Nada disso foi perfeito, mas tudo foi melhor do que antes. Porque, desta vez, nada foi feito por super-heróis, por seres messiânicos, mas pelo que há de melhor em uma democracia: suas sagradas instituições, os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Fonte: http://www.jornalopcao.com.br/posts...a-ditadura-quando-nao-tinha-corrupcao.-ah-nao
 
3) Nos tempos da ditadura não tinha tanta corrupção - Tinha sim, tanto ou mais quanto hoje mas a impressão de que ela era menor se deve basicamente ao fato de que a brutal censura exercida sobre os meios de comunicação impediam que as maracutaias viessem a tona. E a corrupção da ditadura tinha uma faceta variadíssima. Envolvia a extorsão de empresas privadas para que elas participassem de "vaquinhas" para financiar grupos paramilitares (CCC, GAP, por exemplo) que mantinha esconderijos clandestinos para prender e torturar opositores do regime. Quem não contribuía perdia contratos governamentais ou acabava arrastado aos cárceres como "simpatizantes do comunismo". Vários escândalos de proporções milionárias surgiram no período, das clássicas operações de fraudes em licitações para obras, compras de equipamentos e superfaturamento (Transamazônica, Ponte Rio Niterói, Usinas Atômicas, Ferrovia dos Carajás, etc), os rumorosos escândalos envolvendo a Caixa de Pecúlio dos Militares (CAPEMI) que ganhou licitação fajuta para extrair madeira no Pará e o pagamento de gordas propinas aos operadores que viabilizavam os contratos de dívida externa mediante uma lauta comissão de, na média, 10% sobre cada contrato firmado entre o governo brasileiro e os bancos. Em 1984 o jornalista J. Carlos de Assis escreveu alguns livros mostrando os escândalos do período militar. Um deles, o mais famoso, “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/83”, revela essa corrupção. Alguns capítulos: Caso Halles, Caso BUC, Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin, Caso TAA. Uma festa generalizada com o dinheiro público. Nada mal para quem disse que iria moralizar o Brasil quando destituíram o presidente Goulart acusando seu governo, entre outras coisas, de abrigar corruptos. Uma vergonha em verde oliva!

Fonte: http://palavrasaotempo.blogspot.com.br/2013/04/ditadura-militar-mitos-e-fatos-de-algo.html
 
"Não é o momento de intrigas pessoais e muito menos de fazer política. A intenção é salvar o Brasil”
Pelo visto o movimento descarta a via política e o propósito seria um novo golpe (com bandeiras e propósitos do antigo) com um possível apoio dos militares que no momento atual dificilmente acontecerá. Que seja o Joaquim Barbosa ou um general seja quem for, mas o processo terá que ser democrático e na política através do voto: assim sendo, qualquer outra via a coisa se torna criminosa (atenta contra os princípios constitucionais democrático) e faltando com a verdade. Criar um factoide do "perigo comunista" torna a manifestação tola/infantil sem o menor senso de realidade. Aliás, o processo de criminalização da política tem o aval de uma parte considerável da grande imprensa e o apoio de uma parcela da população que enxerga no político o mal do país, culpa dos políticos? Culpa nossa por participar pouco das decisões dos nossos eleitos? Li um artigo que faz a seguinte pergunta" Qual o país que queremos? " Vale como reflexão de um pensar mais crítico por todos nós. Não quero ser salvo por essa nova Marcha. Não, muito obrigado!
 


[...] Isso catalisou a saída dos militares dos quartéis para os palácios e retardou, em meio século, o progresso da democracia no Brasil: menos de 20 anos após sair do regime de exceção do Estado Novo, em 1945, o País voltava a ser tomado de assalto.

E esse é um dos mais fortes argumentos contra a posição de quem deseja a tal "intervenção militar constitucional" (e fazendo estupenda força, é claro, para pressupor que todos os perigos de que eles falam são reais, e nas proporções de que eles falam):

Rolando isso, então com 90% de chance vai vir a repetir tudo de novo. Um retardamento de mais uns 50 anos em toda a história, contando tanto o tempo em que eles vão ficar no poder quanto, em seguida, o tempo para que as instituições democráticas reamadureçam. Não é melhor deixar o País ter uma experiência distinta, e assim acumular um novo amadurecimento?

Afinal, uma das premissas da democracia é aquela da responsabilidade do povo sobre suas decisões. Quanto mais o povo tem liberdade de escolha, e quanto mais claro fica o vínculo de responsabilidade por aquelas, mais eficiente é a democracia enquanto forma de governo.
 
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Em 19 de março 1964, as mulheres foram protagonistas da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, dias antes do golpe que depôs o presidente João Goulart e mergulhou o Brasil na sua longa ditadura civil-militar.

Em sua maioria, elas eram oriundas das classes médias e lançaram-se às ruas para responder ao apelo de setores conservadores, que lhes solicitavam assumir o papel de “donas-de-casa e mães de família”, salvando, assim, a pátria do comunismo. A consequência foi o apoio político-emocional ao golpe.

“No geral”, apontam as pesquisadoras Santana, Freire e Costa, “elas trabalhavam organizadas em pequenos grupos, fazendo reuniões, disseminando sua ideologia, divulgando suas tarefas e convocando especialmente outras mulheres através de programas de rádio, escrevendo e enviando telegramas, cartas e panfletos exaltando e defendendo valores e crenças cristãs e alertando contra a ameaça comunista. A imagem simbólica criada para o Comunismo identificava-o, não como um sistema político-econômico, mas como uma doutrina vinculada à destruição dos valores cristãos, da família e da propriedade. Esse discurso anti-comunista encontrou eco na classe média, que, insegura, via a possibilidade da perda de suas propriedades e dos valores burgueses já introjetados.”

Agora, às vésperas da celebração de 50 anos do golpe, há quem queira reeditar a Marcha. E o que está em questão obviamente não é apenas uma efeméride. Seus organizadores têm pautas bastante atuais: pensam em construir um país “ficha limpa” e livre de corrupção e, para isso, pedem a intervenção dos militares. Junto com aquela senhora amiga do cineasta rico “pra caralho” que discutiu com o Batman no Leblon, eles também acreditam que esteja em curso uma revolução de esquerda — embora esse termo tenha sofrido uma grande mutação desde 1964.

Outros slogans são o “direito à vida desde a concepção”, o “direito à família” e “à liberdade religiosa”, bastante semelhantes ao utilizados por aqueles que acreditam que também estejamos a um passo de uma “ditadura gay”, apoiada pelas “feminazis”. A imagem que convoca tal mobilização também é simbólica: traz a bandeira do Brasil ao fundo e, à frente, uma mulher, um homem e uma criança obviamente brancos. O homem está segurando a bíblia e, assim sendo, é o líder do grupo. E a mulher, como em 1964, é novamente convocada a assumir seu papel “natural” de mãe e esposa.

Dizem-se ameaçados por eles, os comunistas, feministas, movimento LGBT. “Querem acabar com o nosso modo de vida e temos que reagir”. “Estamos vivendo a ditadura da minoria sobre a maioria”, clamam. O que está por trás é óbvio: a manutenção de privilégios de quem não quer ceder nada àqueles que estão posicionados hierarquicamente abaixo na sociedade.

Assim, a qualquer movimento de abertura da sociedade, como uma discussão pela extensão de direitos — por exemplo, do casamento homossexual ou do aborto —, respondem com o seu fechamento. O mesmo vale para o enfrentamento à corrupção: no lugar de repensarmos a democracia brasileira, escolhem negá-la e reivindicam a saída autoritária.

Ao contrário do que afirma seu discurso, querem restringir toda possibilidade efetiva de transformação da sociedade. O mesmo vale para os que organizam milícias contra indígenas no Mato Grosso do Sul. Ou que felicitam-se pelo governo federal não ter distribuídos mais terras e gritam contra as cotas para negros no ensino e no funcionalismo públicos. Ou acham que os garis cariocas não tinham motivos para entrarem em greve e que as vítimas de violência sexual não devem receber a pílula do dia seguinte. E que defendem em rede nacional de televisão que pessoas sejam linchadas em praça pública.

A Marcha em si pode ser um evento bastante limitado, mas ela representa o pensamento de uma parcela significativa da sociedade brasileira. Ao nacionalismo, junta-se o discurso odioso da supremacia branca, hetero, masculina e burguesa, instrumentalizado por certas igrejas.

O alento é que há resistências. Uma delas, também em formato de Marcha, dessa vez antifascista, sairá às 15h30 do próximo sábado, 22/03, da Praça da Sé, em São Paulo. Contra o autoritarismo, a liberdade. O horizonte utópico permanece aberto, a despeito de propagandas contrárias.


Fonte
 
A Marcha em si pode ser um evento bastante limitado, mas ela representa o pensamento de uma parcela significativa da sociedade brasileira. Ao nacionalismo, junta-se o discurso odioso da supremacia branca, hetero, masculina e burguesa, instrumentalizado por certas igrejas.

Isso é importante lembrar, tem sim muita gente que apoia coisas assim, é só olhar os comentários nas internete quando aparece esse tipo de notícia.

No entanto:

Junto com aquela senhora amiga do cineasta rico “pra caralho” que discutiu com o Batman no Leblon,...

:rofl:

Já pensou alguém que acabou de chegar no Brasil, e está por fora das notícias, lendo uma frase dessa? :ahn?:
 
Ditadura foi melhor período que Brasil teve, diz organizador de marcha

O regime militar, período de repressão que vigorou no país, de 1964 a 1985, "foi o melhor período que o Brasil teve", na opinião do organizador de uma das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, que serão realizadas neste sábado (22) em São Paulo.

"Foi o melhor período que o Brasil teve em todos os sentidos: em educação, em moral das pessoas, em respeito por tudo, pelas leis, regras, normas sociais", afirma Piero Pagni, 60.

O empresário está à frente da organização da marcha que vai partir às 15h do obelisco do Ibirapuera, na zona sul da capital, e terá como destino o Comando Militar do Sudeste, no mesmo bairro.

Até sexta-feira (21), pouco mais de 400 pessoas tinham confirmado, por meio das redes sociais, presença no evento. O número é superior ao planejado pelo empresário."Espero que não tenha mais do que 200 pessoas porque não quero fazer bagunça na frente do quartel", diz.

A organização da marcha pretende entregar uma carta, pedindo a intervenção militar no governo federal.

"Não vejo outra forma de o Brasil readquirir moral e respeito pelos outros. Hoje em dia não se tem respeito pela propriedade, por autoridade. No meu restaurante, não posso impedir ninguém de entrar de boné. Chega! Virou uma baderna", fala.

Pagni, que participou das manifestações de junho do ano passado, diz que não houve ditadura no país.

"Por tudo que estudei sobre as ditaduras na Argentina, Coreia do Norte, Espanha, Cuba, Venezuela, Rússia, no Brasil nunca houve uma ditadura. Houve sim um governo militar que os socialistas reclamam por terem sido perseguidos e torturados por praticarem atos subversivos", fala.
Fonte

:gotinha:

Deve ter começado já a marcha, alguém tem notícias?
Será que o Paganus tá lá?

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