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Copa 2014 O dia em que o Brasil disse NÃO à Copa

ricardo campos

Debochado!
In Memoriam
Pedro Moreira | pedro.moreira@zerohora.com.br
Eram 15h30min quando estourou o corre-corre de funcionários e o sobe e desce de elevadores no prédio da CBF no Rio de Janeiro. Isolado em seu gabinete, Giulite Coutinho recebia pelo rádio a confirmação de que seu maior projeto pessoal no comando da entidade desmoronava em definitivo. O governo militar de João Figueiredo acabara de anunciar que o país não sediaria a Copa do Mundo de 1986 após a desistência da Colômbia.

Era 10 de março de 1983.


- O plano era viável, inclusive pelos aspectos sociais, econômicos e promocionais. Resta a consciência de que cumprimos com o nosso dever. Vamos acatar a decisão do governo - diria aos repórteres, horas depois, um sorumbático Giulite, deixando a sala da entrevistas após dois minutos de fala sem sequer sentar-se.

Imprensada pelo definhamento do modelo nacional-desenvolvimentista, a ditadura do general Figueiredo sentia os efeitos da segunda crise mundial do petróleo. Começava a mergulhar na crise da dívida externa e recém havia assinado um acordo de austeridade com o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevendo corte de gastos e aumento de tributos. Pipocavam mobilizações contra o arrocho de salários, a anistia estava aprovada, a abertura política era discutida, o movimento pelas Diretas estava prestes a eclodir, o Partido dos Trabalhados (PT) criava corpo, Leonel Brizola estava de volta com força: enfim, chegava o ocaso dos militares no poder. E não havia clima para comprar a ideia de sediar o Mundial de 1986.

Na verdade, o núcleo duro do governo nunca chegou a trabalhar com a possibilidade de receber a Copa. Mesmo que Giulite - um "homem da revolução" com bons contatos entre os militares -lutasse muito e clamasse ajuda aos ministros próximos a ele. Mesmo que mais de 100 deputados federais assinassem um abaixo-assinado defendendo a realização do evento, Figueiredo estava irredutível. Para justificar a decisão à população, o general encomendou um estudo ao ministro do Planejamento, Delfim Netto. Entre as conclusões, além da situação econômica, o preço dos ingressos incompatíveis com o poder aquisitivo de classes mais baixas e a preocupação em não comprometer o governo seguinte deixavam claro o que deveria ser feito. Como o presidente não era afeito ao contato com a imprensa, ficou a cargo do porta-voz, o diplomata Carlos Átila, comunicar à nação o ponto final no assunto.

- O levantamento era apenas desencargo de consciência. O Brasil não estava preparado e não tinha condições de fazer, seria só descascar o abacaxi para a Fifa. E o presidente já estava começando a se irritar com o Giulite. Distribuí a nota impressa e fiz comentários com os jornalistas. Mas todo dia tinha um míssil entrando pela janela, esse foi dos menos complicados - relembra Átila, 75 anos, presidente do Tribunal de Contas da União na década de 90 e atualmente consultor em direito administrativo e produtor de cachaça.
Havelange quase caiu da cadeira
Mesmo com tudo apontando para a impossibilidade de receber a Copa de 1986, uma pesquisa do Instituto Gallup publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo dias antes revelava 60% dos entrevistados defendendo a luta do país pelo Mundial. As especulações haviam se iniciado cinco meses antes do anúncio lido por Átila, quando o presidente da Colômbia desistiu oficialmente de receber a competição. No comando de um país envolto em uma crise até maior do que a vivida pelo Brasil, Belisário Betancur Cuartas criticou as extravagâncias exigidas pela Fifa, que não teriam sido acordadas quando o país foi definido como sede, em 1974. E tranquilizou seus compatriotas quanto a uma eventual perda de prestígio do país: tudo seria compensado por Gabriel Garcia Márquez, premiado com o Nobel de literatura em 1982. Para Belisário, sediar a competição seria um ?esbanjamento imperdoável?.

Anunciada a decisão colombiana, não tardou até que o presidente da Fifa, o brasileiro João Havelange, estivesse sentado à frente do general Figueiredo em um gabinete de Brasília.

? Ele disse que a Fifa pensava no Brasil. Aí o presidente disse: dinheiro público para fazer Copa, de jeito nenhum, o orçamento está completamente comprometido. O Havelange quase caiu da cadeira ? relembra Átila.

A postura de Figueiredo tinha um tanto de desespero. Na prática, a caneta que assinava a liberação de verbas no país tinha um novo dono: o FMI. E os militares não iriam bater de frente com aqueles que passaram a ter a chave do cofre.

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O homem da Fifa
João Havelange presidente da Fifa na época

Figueiredo na maior irritação
Dirigentes, jogadores e técnicos lamentaram a escolha. Ernesto Guedes, então treinador do Inter, disse à Folha de S.Paulo crer que "teríamos lucros, principalmente no que se refere ao intercâmbio de ideias na parte técnico-tática". No mesmo jornal, Sócrates, um dos principais jogadores do país e líder da Democracia Corintiana, lamentava que o Planalto tivesse optado por uma decisão política e econômica em detrimento do aspecto social.

Em ZH, a editora de economia, Eunice Jacques, celebrava a opção de Delfim de abrir mão da mania de grandeza que havia levado o país à pindaíba. Empresários e deputados se dividiram entre críticas e elogios. Mas também houve discordâncias na imprensa. Colunistas da revista Placar, os jornalistas Juca Kfouri e Alberto Helena Jr. criticaram a falta de arrojo e a desconsideração da opinião popular.

O setor do empresariado mais descontente foi o da hotelaria. Carlos Átila recorda um momento de tensão entre Figueiredo e Henri Maksoud, dono do hotel Maksoud Plaza, em São Paulo:

- Houve uma altercação. Na semana seguinte ao anúncio, nos hospedamos lá, e o Henri Maksoud foi muito inconveniente, quis insistir que precisava da Copa.

O presidente ficou na maior irritação, disse que não adiantava, chamou o chefe do cerimonial e disse para nunca mais nos hospedarmos lá. Figueiredo só não deu um tapa na cara dele porque se conteve. Ele era muito explosivo.

Secretário-executivo do Ministério da Fazenda à época, o economista Maílson da Nóbrega defende a decisão. Ao mesmo tempo, entende que o presidente Luís Inácio Lula da Silva agiu certo ao arrematar, em 2007, a Copa de 2014.

? Embora organizar a Copa sirva para coordenar alguns investimentos, acelerar outros e aumentar a autoestima do país, em 83 seria um desastre. Seria desprezar a dura realidade econômica e uma demonstração de alheamento à situação pela qual o país passava. Já em 2007, o país estava no auge do prestígio internacional, Lula se consolidava como líder responsável e o país ampliava os programas sociais.

O Brasil era o queridinho dos mercados, exemplo para a América Latina.

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O ditador que disse não
João Figueiredo

Derrota que abalou Giulite
Calou fundo a Giulite Coutinho perder a batalha pela Copa. Empresário de sucesso, o presidente da CBF apostou alto na ideia. Além disso, menos de um ano antes o dirigente havia passado por uma das maiores derrotas da Seleção Brasileira, para a Itália, no Mundial de 1982.

Falando por telefone enquanto assistia a um treino do América-RJ no estádio que hoje leva o nome de Giulite, o atual presidente do clube, Léo Almada, 76 anos, lembra que o episódio fez com que o então presidente da CBF começasse a se afastar do esporte:

- Quase como um irmão para mim, ele era um brasileirão, de capacidade empresarial e política muito grande. Construiu a Granja Comary e saiu da CBF deixando dinheiro em caixa. Mas ficou muito abatido e foi se afastando um pouco do esporte. Ele sabia que o Brasil tinha condições de fazer uma Copa melhor.

Além de comandar a CBF de 1980 a 1986, Giulite também foi presidente do clube carioca. Morreu em 2009.

- O Giulite era uma pessoa muito arbitrária, ligado à revolução e amigo do Delfim. Não era de muitas amizades, muito ensimesmado e convivia com as próprias opiniões. Foi um jato de água fria, ele sonhava muito com isso, foi uma decepção para ele a perda da oportunidade - recorda Reginaldo Mathias, também ex-presidente do América-RJ, que conviveu durante anos com o dirigente da CBF.

Dois meses depois da desistência oficial do Brasil, a Fif a optari a pelo México, palco em 1970, como sede da competição em 1986. Em um intervalo de 16 anos, os mexicanos receberiam dois Mundiais. E Giulite teria de esperar até 2007 para ver o Brasil ganhar o direito de sediar uma Copa.

- Ele está vendo o sonho dele realizado lá de cima - profetiza Léo Almada.

Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/esportes/copa-2014/pagina/nao-a-copa.html

As condições do país hoje são melhores do que na década de 80, mas seria interessante uma Copa com aquela geração de jogadores + Telê jogando em casa. Mas o homem dos cavalos disse: Não!
 
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Jamais que a Copa teria apoio no governo do Figueiredo que eu me lembro odiava futebol e que de quebra tinha uma fase célebre "Prefiro cheiro de cavalo, do que cheiro de povo".
 
Claro que não tinha condições, os milicos já tinham quebrado o país, e as consequências dessa megalomania foram sentidas por mais de 20 anos na economia. Só começou a mudar mais timidamente no governo FHC e de forma mais contundente no governo Lula.
 
Só começou a mudar mais timidamente no governo FHC e de forma mais contundente no governo Lula.

:jornal:

Imagino como seria o Furia da Cidade no universo paralelo em que o Maracana recebeu Maradona e o Azteca nao.
Sera que sua postura com o Maracana mudaria?

Copa de 86 com Maradona campeão no Maraca seria fodasso demais. Teríamos que aguentar ele zoando os brasileiros até a bilionésima milésima encarnação e o estádio ficaria eternamente zicado como palco de conquistas dos nossos maiores rivais do continente.
 
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