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O trote, um ritual bárbaro ainda vigente nas universidades do Brasil

ricardo campos

Debochado!
In Memoriam
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No dia 28 de março do ano passado, Alexandre Coutinho, que estreara havia pouco como aluno de exatas da USP, voltava para seu quarto no alojamento de estudantes do campus de São Carlos, no interior de São Paulo. No caminho foi abordado por um grupo de veteranos que, empolgados com uma festa, quiseram ‘brincar’ com o calouro. Eram oito. Encurralaram Alexandre em um canto, tiraram as calças dele e se esfregaram pelados contra seu corpo, o tocaram e o humilharam, conforme o relato do rapaz de 23 anos.

Naquele dia, ele começou uma peregrinação de escritório em escritório da faculdade. "Quando ninguém me ouviu fui na delegacia e me falaram que o crime mais perto daquilo que ocorreu era estupro. Na mesma noite vazaram para a imprensa o Boletim de Ocorrência", explica o jovem. Alexandre decidiu abandonar as aulas um mês depois. "Estudar na USP era meu sonho, meus pais são apenas alfabetizados", diz. "A partir da denúncia vieram as represálias. Eles amenizaram a história, falaram que estavam bêbados, que só foi uma brincadeira. Mas essa foi a versão que deram para a polícia, na faculdade era outra coisa. Comecei a sofrer depressão e iniciei tratamento psiquiátrico".

Na noite de 28 de agosto, exatos cinco meses depois, Alexandre pegou um revólver que tinha comprado por mil reais "para se proteger em casa" e apareceu no alojamento à procura daqueles oito veteranos. Deu uma coronhada em um dos estudantes, que tentou tirar sua arma e disparou várias vezes em diferentes direções. Fugiu por 45 quilômetros em um bicicleta e ficou foragido duas semanas até que se entregou para a polícia. Aquele episódio mudou sua vida, virou um ativista nas redes contra os trotes, está se preparando de novo para o vestibular e responde em liberdade a um processo que pode custar a ele três anos de cadeia. "O que eu fiz não foi correto, acabei fazendo besteira depois de tanta frustração, mas eu tentei fazer tudo dentro da lei e a lei não me apoiou", conta ele.

O caso de Alexandre foi o último a colocar os trotes nas manchetes dos jornais do país. Meses antes, no mesmo campus, 50 simpatizantes da Frente Feminista de São Carlos fizeram uma manifestação contra o Miss Bixete, um concurso no qual os veteranos obrigam as estudantes a desfilar e, entre outras coisas, tirar a camisa, chupar um picolé o dançar até o chão. Ritual que é depois publicado na internet. Os veteranos responderam ao ato hostilizando as meninas enquanto simulavam relações sexuais com bonecas infláveis ou mostravam seus genitais. “Jogaram cerveja, copos e duas bombas em nossa direção. Houve empurrões, tentativa de agressão, assédio às meninas, e um grupo que no final da manifestação perseguiu algumas de nós com pedaços de pau”, conta Monique Amaral, já formada pela UFSCar. Com isso, novas manchetes. “Os rapazes foram reconhecidos e a punição foi o pagamento de algumas cestas básicas. Muitas de nós, no entanto, seguiram todo o ano letivo sendo assediadas e hostilizadas nos corredores da universidade e nas redes sociais”, lembra Amaral.

Após o protesto, muitas de nós, no entanto, seguiram todo o ano letivo sendo assediadas e hostilizadas nos corredores da universidade e nas redes sociais.

A poucos dias do início do novo curso, as calouradas, ilegais no papel para a maioria das universidades, já começaram. Os trotes, comuns em muitos países do mundo, são vistos como um ritual de integração, mas no Brasil atingiram níveis de violência não tão comuns. Mesmo assim, uma ampla lista desses abusos continua sem resolução conhecida.

No ano passado, uma aluna da Universidade do Sudoeste da Bahia foi obrigada a chupar os testículos de um boi e acabou no hospital com a boca sangrando. Também no ano passado, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, um aluno foi amarrado a um poste fantasiado de Hitler, enquanto uma outra menina foi pintada de preto simulando a mítica escrava Chica da Silva. Em 2008, onze calouros foram queimados com uma substância ácida durante um trote na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais. Procuradas, as universidades, que tinham condenado publicamente os atos e anunciado sanções, ou não responderam ou não souberam informar qual foi a punição dos responsáveis. Nenhuma conhecida.

No ano passado, uma aluna da Universidade do Sudoeste da Bahia foi obrigada a chupar os testículos de um boi e acabou no hospital com a boca sangrando.

A impunidade acabou virando regra.

Já era assim em 1999, quando o estudante de medicina Edison Tsung Chi Hsueh apareceu afogado em uma piscina depois de uma noite intensa de trotes e o STF resolveu o caso assim: “Ainda que fossem veementes todos os depoimentos (e não o são) em afirmar que houve excessos, violência, agressões e abusos no ‘trote’, não se mostram suficientes para sustentar a acusação de homicídio qualificado imputada aos réus, por não existir o menor indício de que o óbito da vítima tenha resultado dessas práticas”. Caso arquivado.

“Eu sofri muito pelos trotes. A minha faculdade estava em uma cidade pequena, Guaratinguetá, onde o sistema de alojamento em repúblicas facilitava bastante o trote”, lembra o já engenheiro Henrique Mendonça, de 30 anos. “No primeiro ano você era tratado pior que um escravo. O clima acaba sendo muito militar. Um dos trotes que eles faziam era Miss B, ali os veteranos das principais repúblicas organizavam um desfile onde os bixos (calouros) desfilam pelados para todo o mundo ver e são julgados por uma equipe de travestis que trazem da cidade. Ao descobrir o que era, eu escapei, mas por ter fugido sofri trotes muito piores. Perdi meu quarto e fiquei dormindo na sala por mais de um mês com todas as minhas coisas, além de ganhar uma lavagem por dia, onde te pegam pelas pernas e botam sua cabeça no vaso sanitário enquanto dão a descarga". As 'aventuras' de Mendonça daquela época também incluem uma noite internado no hospital por um coma alcoólico, após ser obrigado a beber durante horas.

Essa agressividade vai evoluindo a cada turma porque quem sofre essa agressão acaba criando um impulso de aplicar essa mesma prática no próximo integrante do grupo.

Apesar de ter sido em 2003, Mendonça conta com detalhe cada uma dessas brincadeiras. “Lembro de cada um dos meus trotes. Hoje em dia não tenho contato nenhum com as pessoas da minha faculdade, muito menos com os veteranos da minha república. Com certeza, foi um trauma", disse.

Para as mulheres, mesmo a agressividade sendo menor que com os homens, a conotação é sempre sexual. Monique Amaral, que participou do protesto contra o Miss Bixete em São Carlos, resume assim as experiências que viveu com seus veteranos: “Nós éramos alvos a serem ora caçados e ridicularizados, ora caçados e, se possível, consumidos. Andar na rua livremente era algo vetado pela agressão verbal, que se esforçava para destruir ainda mais a autoestima, e estar nas festas era estarmos disponíveis. Em tom de brincadeira e ritmo de festa, naquele momento eles estavam tentando nos dizer como deveríamos nos comportar e quais espaços poderiam ser cedidos a nós em quais condições".

Uma das professoras do campus de São Carlos explica a reação das suas alunas ao protesto de Amaral e suas amigas. “Não entenderam a causa. Criticavam as meninas e diziam que essas feministas que protestavam contra o Miss Bixete eram as mesmas que mostravam nos peitos na Marcha das Vadias. É difícil porque a normalização dos trotes acaba vindo dos próprios alunos”, relata Rosângela Ferreira.

Para José Roberto Leite, especialista em medicina comportamental, o professor também tem uma grande responsabilidade em uma prática que ele considera doentia. “Integrar o novo indivíduo nesse grupo já constituído é a ideologia por trás do trote. Mas o que acontece é que o líder, que já tem um caráter agressivo, propõe algum absurdo e tudo mundo aceita. E essa agressividade vai evoluindo a cada turma porque quem sofre essa agressão acaba criando um impulso de aplicar essa mesma prática no próximo integrante do grupo”, explica o professor. Leite destaca o clima de impunidade que se vive nas faculdades a respeito dos trotes. “Temos um exagero sem punição nenhuma por parte das instituições. Os próprios professores acham que isso faz parte do ritual de entrada e não avaliam que essas atitudes correspondem, muitas vezes, a uma mente doentia.

Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/31/sociedad/1391206610_121778.html
 
Cara, trote pra mim eh babaquice pura.

A galera vem com esse papo furado de integracao. Integracao o que faz eh calourada, as festas e ateh mesmo os apertos pre-prova. ISSO promove integracao. Esse lance do 'ritual de iniciacao' eh outro argumento vazio. Ninguem precisa ser 'iniciado'. Se o sujeito chegar na faculdade e achar que eh a mesma coisa do ensino medio, em dois tempos vai mudar de ideia. O sistema eh completamente diferente e nao precisa ser nenhum genio - nem receber tratamento de choque - pra isso.

Acho muito bacana a iniciativa que algumas universidades tem do trote solidario que fazem uma festa ou algo assim pra arrecadar fundos pra alguma instituicao ou algo do tipo. Agora, essas brincadeiras violentas e BABACAS que esses idiotas fazem... Eh simplesmente absurdo.
 
A desculpa dos trouxas: "estávamos bêbados"; "foi uma brincadeira".
Praticamente culpa da vítima, né? Que não aceita "se integrar" nem aceita "brincar".

O caso mais chocante foi o do aluno que morreu na piscina e o juiz que não viu nada, afirmando que:
"...houve excessos, violência, agressões e abusos no ‘trote’, não se mostram suficientes para sustentar a acusação de homicídio qualificado imputada aos réus, por não existir o menor indício de que o óbito da vítima tenha resultado dessas práticas”. Caso arquivado.

Pqp!
Fico pensando em como os pais do garoto ficaram. :osigh:
 
Sei lá se o trote em si é um absurdo, mas o fato é que virou uma besteira sem tamanho. Só que não acho que existam muitas formas de prevenir esses problemas, né? As universidades podem proibir a realização dos trotes, mas só conseguirão controlar o que acontece dentro dos seus limites físicos. Ela podem também punir os veteranos, mas isso só parece viável mediante denúncia com algum tipo de prova.
 
Trote solidário ainda vai, mas aqueles trotes violentos não tem nem graça; quando sai do âmbito de ser algo "numa boa", é complicado msm.
 
Eu ameacei chamar a polícia no "meu" trote. Trancaram os portões às 22h e não deixavam os calouros saírem, foi tenso, mas eu consegui.
 
Sei lá se o trote em si é um absurdo, mas o fato é que virou uma besteira sem tamanho.

Eu tô tão acostumado a só ouvir falar em trote babaca, que mal considerei a possibilidade de trote 'legais' ou 'normais', Grimnir. Mas concordo contigo.

Aqui na Inglaterra, por exemplo, uma semana antes das aulas começarem tem altas atividades de interação entre veteranos e calouros. Pelo menos na universidade que eu estou, não notei nenhum tipo de abuso, os veteranos foram gente boas demais até. E eles são os responsáveis pela organização de todos os eventos de integração que ocorrem nessa semana.

O que chegou mais perto de um 'trote' foi quando reuniram todos os calouros, colocaram uma música... E de repente saíram atirando um pó colorido pra tudo que era canto sujando TODO MUNDO, calouros e veteranos, sem distinção. Depois da surpresa eles inclusive nos ofereciam o pó pra jogar uns nos outros. A intenção era festejar e não humilhar ninguém, sendo essa a principal diferença que eu observei.

Tudo bem que podia ter gente que não estava a fim de se sujar e isso pode ter sido uma sacanagem e tals, eu concordo. Mas, ainda assim, o jeito como eles conduziram a brincadeira foi completamente diferente de tudo que eu já vi no Brasil, onde, geralmente, é um bando de veterano idiota gritando um monte de ordens pros calouros como se o fato de terem entrado um ano antes na faculdade conferisse a eles alguma autoridade sobre os novatos.
 
Última edição:
Nunca participei de trote por achar uma babaquice.
Felizmente, este ano não haverá trote na Letras (por conta de umas tretas que houve ano passado), e eu não precisarei passar por antissocial mais uma vez.
 
Eu já tomei e dei trote. Nunca teve problemas, nunca teve violência, me respeitaram quando eu era caloura e eu respeitei quando era veterana. Por isso, da minha experiência, posso dizer que gosto do trote.

Quando eu vejo esses abusos (que não sei como tem gente que aceita), parece que é de outro planeta, porque ao meu redor não tem essas coisas, não.
 
Um dia desses eu tive uma discussão com umas pessoas no grupo da UFRN no Facebook. Me chamaram de politicamente correto, ditador e de outras coisas só porque eu sou contra os trotes. Aqui teve uma reunião para decidirem a proibição dos trotes violentos e se implementavam o trote solidário, mas nem tive notícia do que decidiram e nem fui na reunião.

No grupo chamaram de rito de passagem, de tradição (que não podia acabar, mas quando eu perguntei quando começou essa tradição milenar a tradição era não ter trote quase me ofereceram em sacrifício). Em nenhum momento eu fui ignorante ou agressivo, mas a contra-resposta fez parecer que eu tava querendo matar em praça pública quem era a favor dos trotes.
 
Última edição:
  • Amei
Reactions: Bel
E se o trote que parece voluntário carrega uma mensagem subliminar de crítica e repúdio a quem se nega a participar obrigando inconscientemente a participar? Poderia ser classificado como violento?
Ah, nem sei se isso se classifica como trote. Pega o exemplo da @Bel . O cara não quer raspar a cabeça nem pra doar cabelo pra pessoas com câncer (vamos supor que não haja nada na vida dele que o impeça de raspar, como um emprego). É direito dele escolher não ajudar. Na UFF de Macaé, o trote solidário é levar alimentos e roupas pra um asilo. Quem não quer participar, quem não quer ajudar o próximo, tem esse direito. Ele deve ser hostilizado por conta disso? Não. Ele deve ser excluído por conta disso? Não. Mas que essa atitude vai causar uma puta má impressão e afastar as pessoas naturalmente, isso vai, e não é por maldade.
Não configura trote.
 
Ah, nem sei se isso se classifica como trote. Pega o exemplo da @Bel . O cara não quer raspar a cabeça nem pra doar cabelo pra pessoas com câncer (vamos supor que não haja nada na vida dele que o impeça de raspar, como um emprego). É direito dele escolher não ajudar. Na UFF de Macaé, o trote solidário é levar alimentos e roupas pra um asilo. Quem não quer participar, quem não quer ajudar o próximo, tem esse direito. Ele deve ser hostilizado por conta disso? Não. Ele deve ser excluído por conta disso? Não. Mas que essa atitude vai causar uma puta má impressão e afastar as pessoas naturalmente, isso vai, e não é por maldade.
Não configura trote.

Acho que o Morfs tava falando mais de um trote 'comum', Tek. Tipo, o cara nao quer raspar a cabeca porque nao quer raspar, simplesmente. Mas nao vao fazer nada com a cabelo dele, a acao nao tem nenhum cunho solidario como no exemplo que voce citou, eh soh pela 'zoeira'. Dai ele nao raspa e mesmo assim, mesmo sendo uma parada completamente inutil, ele fica 'queimado' como o cara que nao participou do trote. Essa 'pressao' pra participar do trote sempre existe, mesmo que ele seja algo mais tranquilo e, pelo que eu entendi, essa que eh a critica do Morfindel.
 
E se o trote que parece voluntário carrega uma mensagem subliminar de crítica e repúdio a quem se nega a participar obrigando inconscientemente a participar? Poderia ser classificado como violento?
O cotidiano está cheio dessas situações onde há pressão para se fazer algo inútil e há "mensagem subliminar de crítica e repúdio a quem se nega a participar". Se for para repudiar o trote por causa disso, que se repudie o próprio convívio social de forma geral. E se no trote essa pressão parece exagerada, é por causa das pessoas específicas que realizam o trote e não uma propriedade intrínseca desse tipo de situação.
 
Ocorre que a idéia de sucesso e insucesso nos estudantes que aplicam trotes abusivos é tendenciosa e egoísta.

Estabelecem um grupo que se arroga o monopólio de serem os únicos guardiões da idéia de "boa integração" e fazem parecer que a pressão é obrigatória que é característico da imaturidade que eles apontam existir nos bixos e bixetes. Quando na verdade é uma via de duas mãos e o comportamento da vítima pode atrair o criminoso que se esconde em quem abusa.

A faculdade deve ensinar aos alunos a postura ética e profissional. Imagina se Boeing e Embraer decidissem não trabalhar juntas ao ganharem uma licitação para fornecerem peças para um mesmo governo... Mas elas podem passar por cima de "insultos" passados piores do que um convite de festa pra poder trabalhar, lucrar e expandir o nome num projeto.

Na minha visão o organizador que ameaça retaliar depois de convite recusado de trote é um mau sinal. Pode ser um bebê indigno que talvez seja melhor não ter nas relações porque trabalha movido a ciúme, vingança e obsessão que pode prejudicar não apenas o serviço, mas qualquer atividade simples.

É o que se chama plantar inimigos aonde eles não existem (que o abusador do trote faz com perfeição). Porque existem duas formas de se ter um inimigo, a primeira é quando eles atacam e a segunda forma é quando a pessoa declara sem avisar ninguém que o outro virou inimigo (imaginário) porque não lhe fez o gosto ou se comportou segundo a forma subjetiva que ele imagina ser ideal.

A pessoa que fala "não" pode justamente ser aquela que estava certa, mas abusadores entendem de um jeito infantilizado a resposta. Então vem as armas, minimização da conseqüência, eufemismo e tudo mais que existe numa visão túnel aonde "só exista uma única forma de ser feliz".
 
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