• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Cadê a literatura policial brasileira?

Bruce Torres

Let's be alone together.
Cadê a literatura policial brasileira?
Raphael Montes

Semana passada, numa conversa, um amigo me veio com a pergunta: cadê a literatura policial brasileira? Ainda que eu já tivesse bebido alguns chopes, entendi o que ele quis dizer: cadê a tradição de romances policiais no Brasil? Cadê os escritores policiais? Cadê os prêmios, os eventos, os workshops, as palestras? Cadê os leitores? Cadê?

O gênero policial é um dos mais populares no mundo. Com frequência, obras de mistério estão na lista de mais vendidos. Nos Estados Unidos e na Europa, há centenas de feiras voltadas para o gênero, há prêmios para romances publicados e para inéditos, além de associações de autores, clubes de leitura, revistas especializadas e grandes seções exclusivamente dedicadas a policiais. Por consequência, há escritores. O que acontece nas bandas de cá?

A primeira narrativa policial brasileira foi publicada em capítulos pelo jornal A Folha em 1920. Chamava-se O mistério e foi escrita a oito mãos por Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Medeiros e Albuquerque e Viriato Corrêa. A partir daí, vários autores se aventuraram no gênero; alguns com afinco, outros com certa vergonha. Lamentavelmente, ainda impera por aqui certa noção de que literatura policial é subliteratura, algo menor. Trata-se de um engano.

Em países periféricos, é comum que o enredo das narrativas policiais seja pretexto para uma análise da sociedade, um instrumento de reflexão das relações de poder. Ao mesmo tempo, há autores que buscam tramas mais universais, com foco na arquitetura da trama, ainda sem perder de vista a identidade local. De um modo ou de outro, os prêmios e a crítica têm reconhecido a qualidade dessas histórias: é possível, sim, escrever uma narrativa de suspense, sem prejuízo da linguagem ou da densidade do texto e das personagens. Apesar disso, por muito tempo, a força das investidas não foi suficiente para emplacar uma “escola brasileira de policial”.

Estudiosos defendem que a literatura de mistério dialoga diretamente com o romance urbano e, por isso, a frágil presença do gênero em nossa tradição literária se deve à tardia formação das grandes cidades. Há certa pertinência no argumento. Num país de dimensões continentais como o nosso, é uma pena que seja tão difícil encontrar uma narrativa detetivesca que não se situe no Rio ou em São Paulo.

Ao mesmo tempo, a imagem desgastada da polícia brasileira e a descrença na eficiência de nossos sistemas penal e judiciário dificultam a criação de heróis tradicionais, com valores firmes de justiça e ordem social. Por isso, muitos autores optam por romances protagonizados por detetives particulares ou escrevem uma espécie de romance policial “sem polícia”. São raros os exemplos de romances policiais protagonizados por um oficial da lei (hoje, temos principalmente Luiz Alfredo Garcia-Roza, com seu delegado Espinosa, e Joaquim Nogueira, com o investigador Venício).

Apesar dos percalços, a situação está mudando. Além de Rubem Fonseca, um mestre do gênero desde os anos 70, diversos autores passaram a escrever literatura policial, como Marçal Aquino, Patrícia Melo, Flávio Carneiro, Alberto Mussa e Felipe Pena, entre outros. Nomes fortes como Jô Soares, Tony Bellotto, Verissimo, Mário Prata e Nelson Motta também investiram na criação de tramas policialescas. Nos anos 90, Luiz Afredo Garcia-Roza venceu os prêmios Nestlé e Jabuti com seu romance de estreia, O silêncio da chuva. E mais importante: manteve uma produção periódica com aventuras do delegado Espinosa. Nesse cenário, uma literatura policial brasileira começou efetivamente a se definir. E, como num ciclo natural, o maior número de autores deu repercussão ao gênero e fez crescer o interesse da imprensa, das feiras literárias e, mais importante, dos leitores.

Ano passado, por exemplo, aconteceu o Pauliceia Literária, um evento literário paulistano em que um dos temas discutidos foi literatura policial, com autores como Patrícia Melo e Scott Turow. O gênero também foi capa do Caderno 2 do Estadão. Pessoalmente, tive a felicidade de ter Suicidas, meu romance policial de estreia, finalista de dois prêmios importantes ― o São Paulo de Literatura e o Machado de Assis da Biblioteca Nacional.

De todo modo, ainda é pouco. Existe um ambiente propício para a consolidação de uma literatura policial brasileira, mas tudo é muito disperso e frágil. É preciso haver mais eventos, mais prêmios, mais palestras, mais intercâmbio e mais autores dedicados ao gênero. Minha primeira participação neste blog é um convite a todos para tomarem parte neste ótimo momento da literatura policial. E é também um apelo. Escritores policiais, cadê vocês?

* * * * *
Raphael Montes nasceu em 1990, no Rio de Janeiro. Advogado e escritor, publicou contos em diversas antologias de mistério, inclusive na revista americana Ellery Queen Mystery Magazine. Suicidas (ed. Saraiva), romance de estreia do autor, foi finalista do Prêmio Benvirá de Literatura 2010, do Prêmio Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional e do Prêmio São Paulo de Literatura 2013. Dias perfeitos, seu próximo suspense, será publicado em março de 2014 pela Companhia das Letras. Atualmente, o autor realiza trabalhos editoriais, ministra palestras sobre processo criativo e escreve o projeto de uma série policial para TV.

Fonte: http://www.blogdacompanhia.com.br/2014/02/cade-a-literatura-policial-brasileira/
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Obs.: Lembro que em um tópico aqui mesmo teve uma discussão sobre o apelo regionalista brasileiro e aí criticaram a falta de personagens à la James Bond, Hercule Poirot, Miss Marple, etc. em nosso país. Pessoalmente falando, não vejo sentido nessa crítica quando leio alguns autores policiais brasileiros - Garcia-Roza (apesar de não gostar muito dele) ou Rubem Fonseca. Mas confesso que ando desatualizado sobre o tema, a quantas anda o romance policial brasileiro. Alguém anda acompanhando o gênero? Tem indicações ou recomendações, sejam elas contemporâneas ou passadas? Acha que a crítica tem sentido?
 
Obs.: Lembro que em um tópico aqui mesmo teve uma discussão sobre o apelo regionalista brasileiro e aí criticaram a falta de personagens à la James Bond, Hercule Poirot, Miss Marple, etc. em nosso país.
ué, comassim? mandrake (fonseca) e bellini (belloto) n contam?

em policial eu sempre sempre recomendo os 2 acima como atuais. também a não editora lançou alguns ficção d polpa na área, especialmente a edição crime.

estou com o livro do montes aqui p ler, mas como é um tto robusto ainda estou procrastinando, mas acho q esse ano sai.
 
Bah sei lá. Depois dum Rubem Fonseca o cara tem que se puxar muito pra fazer literatura policial decente no Brasil. A menos que a gente se satisfaça com enlatados à la Hollywood altamente inverossímeis.
 
Tinha lido essa coluna também e pesquisei sobre o livro do Raphael Montes. Quase comprei, mas uma descrição dele como um "Manoel Carlos com sangue" me fez deixar pra depois.

Ainda não li o Fonseca e, pra falar a verdade, dos poucos livros brasileiros que li, acho que nenhum era romance policial, então não sei bem se o que se tem por aqui vale a pena. Tenho O seminarista em casa, talvez dê uma lida em breve.

Alguém conhece algum bom romance policial que se passe no RS?
 
ué, comassim? mandrake (fonseca) e bellini (belloto) n contam?

em policial eu sempre sempre recomendo os 2 acima como atuais. também a não editora lançou alguns ficção d polpa na área, especialmente a edição crime.

estou com o livro do montes aqui p ler, mas como é um tto robusto ainda estou procrastinando, mas acho q esse ano sai.

http://forum.valinor.com.br/topico/...-e-um-bom-escritor.124940/page-3#post-2524260

Se bem que é Sejong, o Buckaroo Banzai, né? :lol:

Contudo, já ouvi outras pessoas reclamando sobre esse mesmo ponto.

Bah sei lá. Depois dum Rubem Fonseca o cara tem que se puxar muito pra fazer literatura policial decente no Brasil. A menos que a gente se satisfaça com enlatados à la Hollywood altamente inverossímeis.

Se bem que diziam o mesmo de romances históricos, mas vide Tabajara Ruas, Letícia Aquele-Nome-Esquisito, e o Samir Machado de Machado.
 
  • Haha
Reactions: JLM
É diferente. Me refiro principalmente à falta de know-how do procedimento policial. Eu, por exemplo, se eu que sou um zé-ninguém quisesse escrever um romance policial, eu acabaria copiando o modelo do cinema americano ou de outros romances. Ia ficar uma bosta, com certeza. Hehe.

O mesmo já não digo de romances históricos.
 
Existe uma certa escassez de bons romances policiais no Brasil sim e logicamente é algo que nem deveria já que nosso país na teoria tá longe de ser um lugar monótono pra inspirar uma boa estória ou a ponto de precisar se inspirar num modelo de sucesso como Agatha Christie.

mas eu achei interessante esse trecho abaixo desse texto que o Bruce Torres postou, talvez esse seja um dos motivos...

Ao mesmo tempo, a imagem desgastada da polícia brasileira e a descrença na eficiência de nossos sistemas penal e judiciário dificultam a criação de heróis tradicionais, com valores firmes de justiça e ordem social. Por isso, muitos autores optam por romances protagonizados por detetives particulares ou escrevem uma espécie de romance policial “sem polícia”.
 
É diferente. Me refiro principalmente à falta de know-how do procedimento policial. Eu, por exemplo, se eu que sou um zé-ninguém quisesse escrever um romance policial, eu acabaria copiando o modelo do cinema americano ou de outros romances. Ia ficar uma bosta, com certeza. Hehe.

O mesmo já não digo de romances históricos.

Mas aí entra uma questão ignorada por boa parte dos nossos escritores: pesquisa de campo e imersão. Se alguém quer escrever sobre procedimentos policiais, precisa conseguir no mínimo uma boa fonte de informações na polícia, além de visitar delegacias, conversar com policiais, ler os relatórios policiais divulgados, assistir a julgamentos, participar de júris e ler muitas colunas policiais. Na Parte dos crimes do 2666, o Bolaño apresenta os procedimentos policiais no México de forma totalmente crível, por exemplo, sem hollywoodismos e cheios de problemas e contradições, e duvido que a situação do acesso a esse tipo de informações seja muito mais fácil no México do que é aqui. Por exemplo, se alguém quisesse escrever um romance baseado no caso Eliza Samudio, podia começar lendo o relatório final da Polícia, e lendo as centenas de matérias que saíram a respeito. Dá uma boa ideia, sim, de como as coisas funcionam. Mas, assim como fazia o Bolaño, talvez as nossas histórias policiais fossem histórias de fracassos, e não aquele padrão de resolução de mistério.
 
Sei que é possível, Jacques. Por isso mesmo eu disse que o sujeito teria que se puxar muito.
É algo que eu não teria saco de fazer porque o gênero não me empolga muito, não. :no:
 
Será o mesmo motivo pra seriados policiais brasileiros não fazerem sucesso aqui?

Pode até ser..

Sei lá acho que os candidatos a novos escritores desse gênero deviam fazer pelo menos um "estágio" com o mestre do jornalismo policial Gil Gomes.

E sério e sem nenhuma brincadeira.,, esse cara não sendo escritor foi o que mais narrou histórias policiais no rádio brasileiro, além de ter participado e acompanhado de perto várias investigações, diligências policiais tem conhecimento e experiência de sobra pra passar material farto pra muita gente e que inclusive até hoje ele ainda está na ativa e eu ouço no rádio todo dia.
 
só pra quem n conhece a bio do rubem fonseca:
Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Nacional de Direito da então Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em 31 de dezembro de 1952 iniciou sua carreira na polícia, como comissário, no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Muitos dos fatos vividos naquela época e dos seus companheiros de trabalho estão imortalizados em seus livros. Aluno brilhante da Escola de Polícia, não demonstrava, então, pendores literários. Ficou pouco tempo nas ruas. Foi, na maior parte do tempo em que trabalhou, até ser exonerado em 6 de fevereiro de 1958, um policial de gabinete. Cuidava do serviço de relações públicas da polícia.

Na Escola de Polícia destacou-se em Psicologia. Em julho de 1954 recebeu uma licença para estudar e depois dar aulas desta disciplina na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.

Contemporâneos de Rubem Fonseca dizem que, naquela época, os policiais eram mais juízes de paz, apartadores de briga, do que autoridades. Rubem Fonseca via, debaixo das definições legais, as tragédias humanas e conseguia resolvê-las. Nesse aspecto, afirmam[quem?], ele era admirável. Escolhido, com mais nove policiais cariocas, para se aperfeiçoar nos Estados Unidos, entre setembro de 1953 e março de 1954, aproveitou a oportunidade para estudar administração de empresas na New York University. Após sair da polícia, Rubem Fonseca trabalhou na Light até se dedicar integralmente à literatura.
(da wikipédia)
 
Vai ver que é mais fácil fazer autoficção - Daniel Galera e Ricardo Lísias que o digam. :lol:

Agora falando sério, foi uma coisa que eu vi o José Louzeiro - outro que escreveu crônicas policiais - dizer: a literatura contemporânea brasileira perdeu o interesse pela vida alheia, não quer ir atrás da história do Outro. E eu concordo, penso que nos tornamos "coxinhas" com isso.
 
Não conheço nada de literatura policial brasileira mas me lembrei de Luiz Alfredo Garcia Roza.
Ele tem vários romances (com o detetive Espinosa) publicados pela Companhia das Letras, naquela série de romances policiais que publica vários títulos da P.D.James e do Dennis Lehane.

Booktrailer de "Fantasma":



Entrevista com o autor falando, entre outras coisas, da influência de Edgar Alan Poe (O Homem da Multidão) no livro que escreveu:



E um programa do Itaú Cultural, que achei por acaso, justamente sobre Literatura Policial brasileira (o link da continuação do debate aparece no final do vídeo), é com o Luiz Alfredo Garcia Roza e outro escritor, Joaquim Nogueira, alguém já ouviu falar dele? =/

 
Última edição:
Pois é, Clara, o Garcia-Roza é um dos exemplos citados pelo Montes no texto. Já li dois dele e, no meu caso, não desceu, mas mais porque o apelo do autor é psicológico, não necessariamente o procedimento policial em si - nada contra, mas é que quando li eu me senti enganado, rs.
 
Pois é, Clara, o Garcia-Roza é um dos exemplos citados pelo Montes no texto. Já li dois dele e, no meu caso, não desceu, mas mais porque o apelo do autor é psicológico, não necessariamente o procedimento policial em si - nada contra, mas é que quando li eu me senti enganado, rs.

É verdade, fala do Garcia Roza e do Joaquim Nogueira também..
E eu entendi quando diz que se sentiu "enganado", já que procura mais do procedimento policial, nas histórias desse Joaquim Nogueira talvez tenha mais disso, já que ele (o autor) foi delegado.
Será que as histórias dele são bacanas? Não pareceu, pelo trecho que ele leu no debate.
Mas é claro que posso estar enganada, um trecho só não diz muita coisa sobre um livro. :think:.
 
Parece que o universo resolveu cobrar a conta. Depois da onda de sorte que envolveu o escritor carioca Raphael Montes em seus 23 anos de vida, veio uma súbita maré de azar. Semana passada, o ar-condicionado do seu quarto queimou (pois é, neste verão). Depois, a mãe ficou doente. Em seguida, ele terminou o namoro. E o teto do banheiro desabou.

Mas Raphael não está reclamando. Para compensar o apocalipse doméstico, vem mais coisa boa por aí. Finalista dos prêmios São Paulo, em 2013, e Machado de Assis, em 2012, com seu primeiro romance, “Suicidas” (Benvirá), ele lança seu segundo livro, “Dias perfeitos”, em março pela Companhia das Letras. E a edição deve trazer na capa um tremendo elogio do escritor americano Scott Turow.

“Raphael certamente redefinirá a literatura policial brasileira e vai surgir como uma figura da cena literária mundial”, escreveu Turow, como revelou a coluna de Ancelmo Gois, no GLOBO.

O escritor carioca conheceu o americano e a mulher dele no ano passado durante o evento “Pauliceia literária”. Os três saíram para jantar duas vezes. E foi a mulher de Turow quem se interessou primeiro pelo rapaz, leu seus dois livros e os recomendou ao marido, que também encerrou as leituras entusiasmado. Ao saber disso, Raphael, orgulhoso da própria cara de pau, pediu um texto para usar no livro. A resposta chegou na semana passada, sem que nem seus editores na Companhia das Letras soubessem. Foi a mesma cara de pau, aliás, que levou o jovem autor a ser chamado para a “Pauliceia”. Ainda desconhecido, Raphael escreveu para a curadora do evento, Christina Baum, apresentou-se, mandou seu primeiro livro e ganhou o convite.

O novo livro, ele lembra, nasceu a pedido da mãe. Quer dizer, quase isso.

— Ela queria que eu escrevesse uma história romântica. E é uma história de amor. Mas de um amor obsessivo — conta.

“Dias perfeitos” trata de um psicopata apaixonado que sequestra uma mulher e parte com ela em viagem pelo Brasil. O livro foi escrito no quarto andar de um prédio de esquina em Copacabana, onde Raphael mora. Mais especificamente na mesma mesa em que ele estuda para concursos públicos e joga pôquer com os amigos. O quarto, repleto de livros, policiais ou não (“Deve haver uns mil”, ele diz), foi decorado para ter um clima noir. Por isso os móveis de madeira. As estantes, pontuadas por pequenas imagens, de Sherlock Holmes a São Bento, são muito organizadas: de um lado ficam os clássicos; de outro, o maior, os romances policiais, divididos por país de origem. Uma outra estante, menor, é dedicada a autores brasileiros como Rubem Fonseca e Patrícia Melo.

— Acho que rola uma vergonha de ser autor policial. O último que admitiu isso foi o Luiz Alfredo García-Roza. Depois dele, não teve ninguém com alguma repercussão — afirma Raphael. — A literatura policial hoje é uma mescla (de gêneros). Se você fica arraigado à ideia do romance policial clássico, com uma morte, número restrito de suspeitos, pistas ao longo do livro e no final uma revelação, nem eu faço romance policial. Meu desejo é escrever livros policiais mais universais.

A agente literária Luciana Villas-Boas, que cuida da obra de Raphael, lembra a veia empreendedora de seu autor:

— Ele põe todo mundo para trabalhar. Nas minhas correspondências com a Companhia das Letras, muitas vezes me refiro a ele como “nosso autor-trator”, porque ele vai abrindo caminho, e todo mundo tem que correr atrás.

O jovem foi parar em uma das principais casas editoriais do país graças à escritora Carola Saavedra, que recomendou “Dias perfeitos” para a Companhia das Letras. Só que a essa altura, um leilão com cinco grandes editoras já estava encaminhado. Quase imediatamente, a Companhia fez uma oferta “bastante boa, mas que ainda foi melhorada”, nas palavras de Luciana. A editora acabou levando o livro por um adiantamento de cinco dígitos.

Rejeição no começo da carreira

Como todo escritor, Raphael Montes não foi sempre um autor disputado. O carioca escreveu “Suicidas” — um relato horripilante sobre nove jovens que se reúnem para se matar em um jogo de roleta russa — nos seus dois últimos anos no Colégio São Bento e no primeiro da faculdade de Direito. Mandou o original para cinco grandes editoras em 2009. Três se recusaram a publicar o romance. As outras duas não responderam até hoje.

Raphael não diz se a Companhia das Letras estava entre as cinco. De todo modo, o autor inscreveu “Suicidas” no Prêmio Benvirá de 2010. Foi para a final, perdeu, mas a editora quis publicar a obra mesmo assim. E o livro acabou chegando à final dos prêmios São Paulo (2013) e Machado de Assis, da Biblioteca Nacional (2012). De todo modo, qualquer que tenha sido o posicionamento das editoras antes, a situação agora é outra.

— O Raphael é um autor moderno, que tem essa plataforma on-line com seus leitores. Lá fora, isso pesa a favor na hora de publicar ou não. Num post recente dele em nosso blog, as pessoas citavam vários jovens autores policiais brasileiros dos quais eu nunca tinha ouvido falar. Acho que esse livro já chega colocando essa questão: será que não existe uma nova literatura brasileira de suspense que não está recebendo visibilidade? — questiona o diretor editorial da Companhia, Luiz Schwarcz, que resolveu rodar uma tiragem de 10 mil exemplares do novo livro de Raphael, mais que o dobro da média para jovens autores.

Um número nada mau para quem, até os 12 anos, não gostava de ler. Foi nessa idade que, numa colônia de férias, sua tia-avó lhe emprestou “Um estudo em vermelho” e “A volta de Sherlock Holmes”, de Arthur Conan Doyle. Ali, Raphael resolveu que queria ser escritor. Quer dizer, isso é o que ele lembra (bem antes dessa idade, sua madrinha, lia Agatha Christie para ele).

— Comecei a escrever logo depois. Meu primeiro conto foi sobre uma professora que mata os alunos. O segundo, sobre um menino de 12 anos perseguido por um pedófilo. Minha mãe me chamou até para conversar — conta ele, rindo.

Raphael então passou a rabiscar contos no caderno, que passava para os amigos da classe, que, por sua vez, pediam mais. O primeiro romance, ele escreveu aos 13 anos (“Não mandei para ninguém, porque é uma porcaria”). Era sobre um ilusionista que serrava mulheres ao meio.

Foi o amor pela literatura policial que fez o escritor escolher o Direito como carreira. Raphael conta que queria ser criminalista, mas se decepcionou com o direito penal. Depois que “Suicidas” fez sucesso, enquanto estagiava em um escritório de advocacia, ele pensou em abandonar a faculdade. E chegou a largar o estágio para ir à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Mas aí os pais se meterem no caminho.

Por isso, Raphael Montes vem estudando para concursos públicos. Se passar, diz, terá estabilidade para escrever um livro a cada ano e meio. A família Montes dá força e lê os livros. A mãe, porém, às vezes diz que vai dormir de porta fechada.

http://oglobo.globo.com/cultura/rap...sa-da-literatura-policial-brasileira-11608188
 
Achei interessante esse trecho:

— Acho que rola uma vergonha de ser autor policial. O último que admitiu isso foi o Luiz Alfredo García-Roza. Depois dele, não teve ninguém com alguma repercussão — afirma Raphael. — A literatura policial hoje é uma mescla (de gêneros). Se você fica arraigado à ideia do romance policial clássico, com uma morte, número restrito de suspeitos, pistas ao longo do livro e no final uma revelação, nem eu faço romance policial. Meu desejo é escrever livros policiais mais universais.

Penso que isso ocorre mais no Brasil que em qualquer outro lugar - acho que tirando o Harlan Coben com "Não Conte a Ninguém", Jean-Christophe Grangé com "Rios Vermelhos" e os romances noir de James Elroy, da safra contemporânea mundial eu não vejo muito essa mescla.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.404,79
Termina em:
Back
Topo