2014
Janeiro (288 p.)
1. Os persas – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 72 p.
2. Os sete contra Tebas – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 63 p.
3. As suplicantes – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 80 p.
4. Prometeu cadeeiro – Ésquilo – trad. Jaa Torrano – 73 p.
Gente, que tradução gostosinha essa do Jaa Torrano. Das quatro tragédias. É altamente poética sem deixar de ser inteligível por si só; não tem o mesmo problema que o Trajano Vieira apresenta em alguns momentos, de ser preciso um esforço extra para a compreensão do texto. E não só isso: cada tragédia é antecedida de um estudo bastante extenso (entre 30-50 páginas, que chega a ser mais longo do que a própria peça) pelo mesmo tradutor, que esclarece tintim por tintim quem são as personagens, o contexto dos eventos e a visão religiosa do poeta, inclusive as opções que ele fez de certos termos (como o "cadeeiro" do Prometeu
Demóstes, ao invés dos comuns "acorrentado" ou "agrilhoado"). Esse cara mata a pau. Dei uma olhadinha ainda por cima nas traduções do Gama Kury (que lerei em breve, enfim...) e já vi que fica um tanto aquém do Torrano, além de adicionar elementos que não havia no original para mastigar tudo pro leitor. Só a título de exemplo: tem uma hora em que o Ésquilo se refere ao Xerxes como "dareiogenes". O Torrano traduz como "de Dario gerado", e o Kury como "filho do antigo rei Dario". Ou seja: adiciona a informação de quem diabos era Dario, o antigo rei. E também não há correlação entre as linhas: um trecho aleatório de 10 versos que peguei para comparação revela que o Torrano mantém o número de versos idêntico ao original, enquanto o Kury espichou os dez versos em quinze... Isso sem falar que as introduções do Kury são bem sucintas e - claro - o tradutor tenta dar conta dos três tragediógrafos (Ésquilo, Sófocles, Eurípides) e do comediógrafo Aristófanes. Seria um esforço sobre-humano manter o mesmo nível de profundidade nos estudos de todos eles. O Kury é o faz-tudo que satisfaz um leitor ocasional; o Torrano é o especialista que traduz para o leitor mais exigente. O que o nosso mercado editorial precisa é de um Torrano para esmiuçar as obras do Sófocles e do Eurípides também, e lançar tudo bonitinho e organizadinho. ^_^