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Maior doadora de leite materno do Brasil processa Danilo Gentili após piada

Fúria da cidade

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Conhecida por ser a maior doadora de leite humano do Brasil, a técnica de enfermagem Michele Rafaela Maximino, 31, entrou na semana passada com uma ação de ressarcimento por danos morais contra o humorista Danilo Gentili, do programa “Agora é Tarde”, da Rede Bandeirantes.

No programa do último dia 3, o comediante fez piadas em rede nacional utilizando uma foto dela sem autorização. Gentili chegou a comparar Michele com o ator pornô Kid Bengala. “Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala.”

Ao ser exibida uma foto de Michele no programa no momento em que ela fazia a ordenha para doar o leite, o comentarista Marcelo Mansfield, colega de palco de Gentili, ainda afirmou que não era uma “espanhola, mas uma América Latina inteira”.

Michele, moradora da pequena cidade de Quipapá, na zona da mata de Pernambuco, diz que pretende parar de doar leite pois se sente humilhada. “As pessoas nas ruas têm me chamado de vaca, vaca do Gentili. Parabenizar pelo meu ato, ninguém faz, mas xingar é o que mais acontece nas ruas depois da piada na TV”, reclama.

Segundo Michele, que conseguia retirar até dois litros de leite por dia, a repercussão negativa prejudicou até a sua produção de leite. Atualmente, ela conta que consegue retirar apenas 600 ml por dia. Ela já chegou a doar mais de 351,8 litros para unidades de saúde.

Michele é mãe de duas crianças – Gabriel, 3, e Mariana, 1 ano e quatro meses – e doa o seu leite desde que a caçula tinha apenas sete meses. Ela conta que Mariana ainda é alimentada por ela que diariamente estereliza os potes, faz a ordenha e congela o leite para fazer a doação. Ela e o marido ainda rodam 80 km para levar o leite até o Hospital e Maternidade Jesus Nazareno, em Caruaru. “É um ato de amor para salvar outras vidas”, comenta Michele. A filha dela também nasceu prematura e foi aí que ela descobriu a importância da doação de leite humano.

A diretora geral da maternidade Flora Raquel de Freitas Araújo confirma que a produção de leite de Michele chegou a ser responsável por 90% do estoque do banco de leite da maternidade, que foi criado em 2007. Ela ressalta que como a doadora está abalada psicologicamente o estoque reduziu no último mês. “Em setembro, ela doou 39 litros e agora em outubro conseguiu 17”, lamenta a diretora da unidade hospitalar.

Flora Raquel diz que o hospital está dando ajuda psicológica para Michele. “O programa de TV fez um desserviço em rede nacional ao relacionar a mama de uma mulher que amamenta ao ato sexual. Acho que eu e todas as mulheres que assistiram ficaram ofendidas”, diz a diretora do hospital, que é o maior da rede pública de Pernambuco em número de partos. Por mês acontecem, em média, 500 partos na unidade.

Conforme mostrou o Maternar no post ‘Mães de leite´ salvam vida de bebês prematuros nas UTIs, a doação de leite materno ajuda a salvar diariamente vida de bebês prematuros que não podem ser alimentados por suas mães.

O advogado de Michele, Cláudio Lino, diz que ação foi ingressada na 2ª Vara Cível do Fórum de Olinda no dia 22 de outubro. “O humor ultrapassou dos limites. Expor uma mãe de família com termos chulos, como relacionar a doação de leite com a masturbação fere a dignidade dela”, diz o advogado. “Ela mora em uma cidade pequena e tem sido motivo de piadas.”

A assessoria de imprensa da Rede Bandeirantes informou que a emissora não se posiciona sobre questões jurídicas. Já a assessoria do comediante não retornou os telefonemas feitos pelo Maternar.

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Michele com os filhos Gabriel, 3, e Mariana; ela é a maior doadora de leite humano do Brasil (Foto: Divulgação)

Fonte

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Por menos que isso o Ratinho em conjunto com o SBT foram condenados pela justiça por imbecilidade semelhante contra um grupo de naturistas. E não teve choro: tiveram que pagar.

O tempo passa, mas tem gente que não aprende.
 
Ah, bem menos....e ainda não vi a OFENSA. Foi uma piada, sobre o excesso de leite. O Marcelo ainda foi mais infeliz, mas mesmo assim....muita chatice por parte dela, e do povo em geral.

Aliás, o povo brasileiro está cada dia mais besta.
 
Ah, bem menos....e ainda não vi a OFENSA. Foi uma piada, sobre o excesso de leite. O Marcelo ainda foi mais infeliz, mas mesmo assim....muita chatice por parte dela, e do povo em geral.

Aliás, o povo brasileiro está cada dia mais besta.

E eu não vi onde está a GRAÇA da "piada".

O pior desses caras que se autodenominam "humoristas" não está no fato de fazerem piadas politicamente incorretas, mas no fato de serem absurdamente sem graça.
Precisam urgentemente fazer um intensivo e assistir Monty Phyton, ler Stanislaw Ponte Preta e Qorpo Santo, pra saber como fazer uma piada inteligente e engraçada.
Mas nem assim acho que figuras do naipe do Gentili, Rafael Bastos e (infelizmente) muitos outros, vão aprender algo.
O problema tá no cérebro de coalhada mesmo.
Deles e de quem acha graça nesses troços ou mesmo as pessoas que dizem não ver nada demais nisso.
Não vêem porque não é no koozinho delas. =/
 
Se ela se sentiu lesada pelos comentários exibidos em cadeia nacional e principalmente pelo fato de sua foto ter sido exibida sem prévia autorização, o processo é absolutamente justificável.

"Humor" é uma questão complicada quando se baseia em comentários ofensivos a um determinado grupo de pessoas (Como portugueses, por exemplo), pois pode soar engraçado para a maioria das pessoas (até mesmo para algumas dentro do grupo alvo), mas haverá aqueles que se sentirão pessoalmente ofendidos. Imagine "humor" baseado em comentários ofensivos a uma pessoa em especifico.

Não acredito que censurar este tipo de "humor" seja o caminho, mas é necessário que haja bom senso por parte daqueles que o fazem.

Humor tem como objetivo divertir pessoas, e neste processo não é necessário que esteja incluso o ato ofender algumas.
 
Acho um exagero, se for só o "“Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala.” (não vi o programa no dia). Coisa de gente chata e/ou que quer atenção.

Aliás, como descobriram que ela é a maior doadora de leite materno do Brasil? Quem a divulgou?
 
Foi a piada mais o uso não-autorizado de imagem.

EDIT: É aquela coisa: pertença a uma minoria, faça algo de útil - zoeira na certa. Esteja por cima, banque o humorista - se torna o intocável.

:yep:
Aí é só ficar de mimimi que não pode fazer piada politicamente incorreta, que está sendo perseguido, censurado e essas viadagens todas pra esconder a falta de inteligência e talento.

E depois, muito fácil fazer piada com a fulana desconhecida lá do interior.
Cadê culhão pra fazer esse tipo de piada escrota com o Sarney, o Collor ou o Bolsonaro?
Bate medinho, né?
 
Acho um exagero, se for só o "“Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala.” (não vi o programa no dia). Coisa de gente chata e/ou que quer atenção.

Aliás, como descobriram que ela é a maior doadora de leite materno do Brasil? Quem a divulgou?

Você acha exagero comparar a doação de leite com a masturbação? Acha mesmo que ela só está sendo chata e querendo atenção?

E que diferença faz ela ser a maior doadora de leite? O CQC já havia feito piada com a amamentação no passado:
http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/06/cqc-anti-amamentacao-vai-pra-pqp.html

Acho que o simples fato de você comparar um ato necessário como esse com a masturbação, especificamente com toda uma indústria pornográfica que coisifica o sexo, esse simples fato já é o bastante pra ser algo inaceitável, desprezível. Ainda mais no caso de uma doadora de leite materno. Pois aí envolvem dois lados da moeda: tanto o dela, que se oferece em prol do desenvolvimento dessas crianças, quanto do lado daquelas mães que, por uma razão ou outra, não podem fornecer leite pros seus filhos.

Exagero? Chatice?

O @Bruce Torres falou algo a respeito disso no facebook que achei interessante: humoristas na boiada dum Danilo Gentili não tem culhões pra fazer piada com os opressores. E quando fazem, eles redundam em outros estereótipos e outras formas de discriminação, bem na esteira de você querer combater a homofobia e chamar o Bolsonaro de viadão.

Mas o Gentili não está nem aí. Esse tipo de humor já fez crosta. Qualquer coisa é só usar o coitadismo, a falta de humor, a patrulha politicamente correta e uma série de asneiras. Porque é muito fácil falar de liberdade de expressão quando você a usa como instrumento de opressão. É um pressuposto abstrato. Está resguardado na Constituição; mas a Constituição é um idílio. Se uma boa parcela da população sequer sabe desse tipo de garantia, imagine na hora de usar! Aí fica fácil...

Quero crer que o século XXI repensará pesadamente suas formas de humor, de entretenimento, de alegria. Não porque uma piada pode causar a difamação pública de fato. Não precisamos chegar a tanto para nos indignarmos. Podemos pensar no desgaste cotidiano, na quebra de empatia, na chacota, no escárnio, na construção de culturas de depredação pública que instrumentos como o humor historicamente construíram e constróem. E é nesse sentido que o humor, a comédia, funciona como tragédia. Pois a tragédia não é necessariamente aquilo que acontece de repente e devasta. Ela é aquilo que acontece diariamente e que, quando percebemos que não é mais engraçado (o nome disso é, no máximo, percepção da tragédia), se torna trágico. Especialmente porque não percebemos.
 
Já falei no Facebook e falo aqui de novo: o stand up brasileiro é uma vergonha. Ele se firma na contínua exploração de estereótipos por correr atrás da risada fácil. São os mesmos referentes o tempo todo - "loira burra", "baiano preguiçoso", "gaúcho viado", "mulher que não sabe dirigir", "bicha louca", etc. -, mas ninguém pensa em contestá-los, em lançar uma luz que subverta-os quando contrastados com a realidade. Ora, isso seria atacar as crenças de seus espectadores, que acham graça em algo que eles já ouviram e repetem "n" vezes, que tomam como dogma - e eles não querem ser contestados, não. Eles querem que continue sendo explorado esse nicho porque a eles isso é conveniente e confortável - o público não precisa refletir e não corre o risco de se sentir ofendido caso venha a entender a piada.

EDIT: Lembrei do Louis C.K. discorrendo sobre tentar ameaçar um garoto que machucou a filha dele. Ele deixa claro que quem é imbecil naquela relação é justamente ele, por estar ameaçando uma criança. Ele podia zombar da criança o quanto quisesse, mas ele prefere deixar claro que ele é o "problema" ali. Monty Python fazia isso com as autoridades, não com os cidadãos. O stand up americano procura zombar da elite, não de quem está por baixo, de quem está marginalizado. A comédia, lá na Grécia Antiga, era uma ferramenta de questionamento social. Veja Shakespeare, também - embora "O Mercador de Veneza" esteja datado. Pegue "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu" - paródia do gosto comercial alheio das massas. Os filmes do Mazzaropi que expunham uma verve cômica sobre a imagem do caipira mas que chamavam a atenção para problemas sociais maiores - aliás, "O Puritano da Rua Augusta" é um dos melhores exemplos de filme que trata da dificuldade da dinâmica inter-gerações. A figura do "malandro" em nossa cultura era prezada pela forma como ele zombava do status quo opressor - hoje, é mera caricatura irresponsável. Resumindo: nós temos "n" recursos à mão e diversas influências pra fazer algo interessante, uma comédia inteligente, e continuamos "a chutar cachorro morto"? Existe um termo interessante chamado "comédia de costumes" - era uma zombaria das falhas e brechas e problemas inerentes à dinâmica social de então. Pelo visto, vivemos num Paraíso pois não sentimos a necessidade de zombar com a nossa dinâmica atual.
 
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A falácia do politicamente correto

Quando se trata de humor, considero-me um sujeito relativamente experiente. Como já escrevi anteriormente, tenho um bom conhecimento sobre o stand-up, sua história e seus principais expoentes e já li bastante sobre o tema. Além disso, quem acompanha meus textos ou já teve aula comigo sabe que sou até mesmo capaz de provocar um riso ou outro quando a ocasião se apresenta – e nem sempre através de um humor limpinho ou “politicamente correto”. Não ganho a vida fazendo comédia, claro, e tampouco julgo que a profissão de humorista seja fácil. É preciso muita experiência, estudo (sim) e talento para refinar o timing que fará a diferença entre uma piada eficiente e outra inesquecível. Muitas vezes, o menor dos detalhes marca esta diferença.

Vejam, por exemplo, este “bit” (termo em inglês para uma história ou uma passagem específicas de um repertório cômico) da performance de Louis C.K. no Beacon Theater:


O texto de C.K. é construído com cuidado, aos poucos, apresentando-nos a premissa (“Há crianças das quais não gosto”) e desenvolvendo-a gradualmente até passar de um caso relativamente plausível a uma fantasia de vingança absurda. Percebam que a base da piada já é algo que poderia ser considerado “politicamente incorreto” – um adulto aterrorizando um garotinho que machucou sua filha -, mas Louis C.K. é inteligente o bastante para evitar um erro básico: em vez de transformar o menino no alvo da piada e do ridículo, ele deixa claro para o público que o ridículo é ele, Louis, por agir como um idiota. E este é o segredo para que a piada funcione tão bem. No entanto, depois de levá-la a extremos ainda maiores, o comediante comprova sua inteligência através de um gesto que pode parecer improvisado e natural, mas que, acreditem, foi precisamente calculado: depois de dizer o que faria para destruir a vida dos pais do garoto que detesta, Louis pega a garrafa d’água e a ergue para levá-la à boca (aos 8:01 no vídeo) - mas um milissegundo antes de beber, diz, quase como se aquilo houvesse acabado de lhe ocorrer: “Você tem que proteger seus filhos”.

E é esta a verdadeira punchline do longo caso e que finalmente leva o público a aplaudi-lo empolgadamente. E não se deixem iludir pela naturalidade do gesto: sou capaz de apostar que em praticamente todos os shows, Louis C.K. repete o gesto de levar a garrafa à boca exatamente naquele momento.

Como falei antes: fazer comédia não é para amadores.

O que nos traz a Danilo Gentili, que, mais uma vez, confunde os conceitos de “piada” e “ofensa”. No vídeo abaixo, Gentili (imitando cada vez mais descaradamente os trejeitos de Jô Soares) diz: “O apagão afetou boa parte do Nordeste. (pausa) Digo ‘boa parte’ porque nem todas as cidades lá têm energia elétrica. (pausa) Sabe como eles perceberam lá no Nordeste que tinha acabado a energia? Quando parou o trio elétrico. (fazendo dancinha) Lá, lá, lá, lá, lá… Ei… cadê a música? Sem água e agora sem luz, os médicos cubanos no Nordeste estão se sentindo em casa. (ri de si mesmo)”. Neste instante, seu lacaio Roger completa: “Mas tem papel higiênico ainda.”


Ok. Em primeiro lugar, o óbvio: independentemente do fato de ser ou não ofensiva, a questão inicial é avaliar se a piada tem graça. Claro que aqui há subjetividade na reação do ouvinte – e mesmo que a plateia de Gentili pareça rir moderadamente (apesar do timing pavoroso do sujeito, que faz pausas erradas, frisa sílabas aparentemente ao acaso e deixa claro estar lendo um texto), há aqueles que riem apenas ao ouvirem palavras como “papel higiênico” ou ao verem alguém fazendo dancinha engraçadinha. Para estes, “pavê ou pacomê” é humor legítimo e moderno e, assim, deixo-os de lado. São casos perdidos.

Porém, há uma maneira fácil de avaliar a qualidade da piada: sua construção. Há alguns princípios em comum no humor eficiente – e um dos mais empregados é a subversão de uma expectativa: levar o ouvinte a esperar algo e ir na direção oposta. Não é, claro, o que Gentili faz, já que seu texto simplesmente reforça estereótipos: o Nordeste é miserável, seu povo só gosta de farra e Cuba é um país sem qualquer infra-estrutura básica.

O fato de todas estas afirmações serem absurdamente falsas não vem ao caso.

Assim, de onde Gentili acredita estar extraindo graça? A resposta é reveladora e aponta para o erro que não só ele, mas seu colega Rafinha Bastos, cometem com tanta frequência: através da ridicularização de indivíduos fragilizados. É um humor do tipo “vejam como estas criaturas inferiores são inferiores. Não são inferiores? HA! Tomara que se fodam!”. É, em suma, algo que chamo de piada-bullying.

Releiam as “piadas” do sujeito e percebam que todas são construídas a partir desta lógica: o Nordeste não tem luz, não tem água, seu povo só nota o problema quando a festa é interrompida e estas são as condições ideais para um cubano viver, já que está acostumado à falta de tudo. Não há construção de uma expectativa e muito menos subversão da mesma. Não há punchline ou crescente. Há apenas preconceito e o convite para que nos tornemos cúmplices deste. Chamar isto de “humor politicamente incorreto” é tentar proteger a falta de talento de Gentili ao sugerir que ali há humor – e não há, como já vimos.

Não é surpresa, aliás, que outro “baluarte” da inteligência e do humor contemporâneos, Felipe Neto, tenha vindo em defesa de Gentili ao afirmar, no Twitter, que “Se vc é do tipo q dá chilique com as piadas do Danilo Gentili sobre o Nordeste, saiba q vc é um ATRASO pro entretenimento brasileiro” – e, logo depois, chama as críticas de “coitadismo”.

(Aqui conterei o impulso de apontar a ironia de ler Felipe Neto chamando quem quer que seja de “atraso para o entretenimento brasileiro”.)

O que Neto, Gentili e Bastos não compreendem é o básico da teoria da narrativa – e que Louis C.K. entende como poucos: de modo geral, o público tende a se identificar com o elemento vulnerável de uma história, não com o dominante. Isto é fruto do próprio processo de formação de nossa individualidade e do conceito do “Eu” até chegar ao processo de identificação secundária na psicanálise e na narrativa (recomendo a leitura de Christian Metz para entender mais sobre o tema). Em poucas palavras: é comum que nos identifiquemos com a situação de alguém em estado de vulnerabilidade. Assim, podemos até rir da vítima em uma piada, pegadinha ou caso – desde que estas narrativas sejam construídas com certa distância, como se estivéssemos apenas observando o desenrolar dos fatos. Porém, no instante em que o narrador se posiciona como parte da história e se coloca em posição de dominância, o espectador/ouvinte tende a simpatizar com a vítima – e, neste caso, a tentativa de piada fracassa inevitavelmente.

É justamente este o erro que estes representantes do humor contemporâneo não percebem cometer, já que sempre se colocam como representantes machos e brancos de um Sul-Sudeste desenvolvido e rico que ri de mulheres, negros, nordestinos e pobres. Como já dito, isto não é piada, mas bullying – e travesti-lo de “humor politicamente incorreto” não só é uma falácia como mais um sintoma do egocentrismo de indivíduos que julgam ter o direito inalienável de humilhar seus “inferiores”.

E defender isto não é lutar pelo humor; é denotar falha de caráter.

Fonte
 
Sem entrar nessa estereotipação de 'opressores' e 'oprimidos' que esquerdistas, progressistas e principalmente feministas adoram usar para se masturbar, eu achei a comparação infeliz também. É preciso estar em um nível muito avançado e escroto de coisificação do corpo, de subpessoalidade mesmo, para se jogar no lixo o valor espiritual, ou pelo menos moral, da maternidade para se fazer esse tipo de brincadeira boçal.

Não é ser moralista e começar uma campanha em defesa da 'deserotização' do corpo feminino ou da maternidade ou alguma babaquice moralista que o valha, mas simplesmente de manter o mínimo de certo respeito pela maternidade e o que a ela se associa, mesmo sexualmente, mas não dessa forma baixa, vil e apaixonada.

Nosso humor stand-up é uma coisa simiesca.


Sobre humor enquanto contestação social, eu apoio e acho lindo, mas execro quem tente reduzir o humor (e a arte de forma geral) a isso como se toda a razão de ser da vida humana na Terra se resumisse a lutas sociais, a busca por u/algum tipo quimérico de sociedade perfeita, de igualitarismo, como se isso tudo também, todos esses castelos de nuvens, esses sonhos e bizarrias edênicas, quando dissociadas de legítimas aspirações espirituais, nada mais são que imanentizações do eschaton, projetos que podem ter as melhores das intenções mas vivem a tragéda dupla de não apenas negarem a verdade essencial das coisas como a de exigirem hecatombes para serem mantidas. E se mantém mal, não cumprem metade do que prometem.

Portanto, menos, ok? O humor pode ser um instrumento de contestação social mas tão doentio e apaixonado quanto ele é essa sanha em querer transformá-lo unicamente em ferramenta política. Menos Marx, Teoria Crítica e Frankfurt. Mais Platão, Schelling e Nietzsche. Equilíbrio.
 
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