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Não li e não gostei

Não li e não gostei
Por Vanessa Bárbara


Na coluna anterior, falei de Pierre Bayard e da importância de poder escolher suas leituras, protestando contra a obrigatoriedade imposta pelas escolas.

Diz o autor francês que “a leitura é antes de mais nada a não leitura e, mesmo para os grandes leitores que lhe dedicam a existência, o gesto de tomar e abrir um livro esconde sempre um gesto inverso e simultâneo que escapa à sua atenção: aquele, involuntário, de abandonar e de cerrar todos os livros que, em uma diferente organização do mundo, poderiam ter sido escolhidos no lugar do feliz eleito”.

É por se tratar de escolhas que defendo a liberdade de poder ignorar certos títulos e antipatizar de antemão com alguns autores por motivos nada objetivos, praticando o mais feroz preconceito sem manifestar sombra de culpa.

Um exemplo: não gosto de ler autores brasileiros contemporâneos, a menos que algo da trama me chame a atenção, como aconteceu com Nada a dizer, de Elvira Vigna. Antes que me persigam neste blog com tochas e tridentes por desdenhar da nossa valorosa produção literária atual, explico: não gosto de ter conhecido pessoalmente os autores. Mais que isso, odeio ter conhecido pessoalmente o mau-caráter de muitos deles e me reservo o direito de não levar em conta a mera existência de tais elementos sobre a face da Terra, quanto menos de ler o que eles escrevem.

Como a minha lista de desafetos não é pequena, vivo orgulhosamente por fora da produção brasileira atual — e, de forma sintomática, quanto mais me afasto dela, mais aumenta o meu gosto pela literatura. Adoro poder ler o que me dá na telha, sobretudo autores há muito mortos pelos quais ninguém se interessa, com acentos diferenciais e preocupações arcaicas. Gosto de entrar em mundos nada parecidos com o meu, de não ter de me esforçar para gostar de alguém só por amizade ou interesse. Gosto de não ler aquilo que todos estão devorando na atualidade, esperando alguns anos antes de pegar carona numa obra — ou decidindo ignorá-la por completo porque não gostei da cor da capa.

É ótimo não ter que expressar opiniões profundas sobre as obras e a produção de um determinado autor que esteja na moda (David Foster Wallace consta dessa lista, bem como J.M. Coetzee). Acho graça na pretensão existencialista dos escritores, sempre ansiosos por demonstrar erudição e conhecimento clássico como se um dia fossem prestar contas no Juízo Final da Literatura.

Costumo arremessar um livro longe quando algo me cansa ou um detalhe me irrita — em Os enamoramentos, de Javier Marías, fiquei nervosa com o fato de ninguém ter levado em conta o mendigo. Em A trama do casamento, achei a protagonista criada por Eugenides uma tonta, que só podia ser fruto de uma mente masculina. Gosto de abandonar um livro no começo, bem como aprecio as vezes em que insisto e acabo me afeiçoando à trama. Adoro criticar personagens como se fossem meus vizinhos e defender Charles Bovary como o faria com um tio distante.

Gosto de poder ler A trilogia de Nova York e não entender absolutamente nada. Da mesma forma, gosto de poder apreciar certas unanimidades, de eleger os meus preferidos e de não pertencer a uma patota que pré-aprove as minhas opiniões, fugindo como da peste dessa cansativa mentalidade de horda que aclama ou desautoriza autores, e que é praticada pela maioria dos nossos valorosos luminares da literatura brasileira contemporânea.

Bom mesmo é poder agir como um personagem de Graciliano Ramos, que, quando lhe perguntam: “Fulano é bom escritor?”, responde sempre:

“É uma besta.”

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Mais alguém pensou "Cuenca" quando ela falou em mau-caráter?
 
Concordo. Tenho muito preconceito com vários livros, e não me envergonho disso.

Sem falar que gosto de ler livros pelo menos do século passado. Alguns acham que é pra pagar de cult, mas não é: Se eu pegar um livro do século XIX, por exemplo, significa que o livro sobreviveu por mais de 100 anos intacto, e ainda se lê e se fala sobre este livro hoje. Portanto, presume-se que o livro tem alguma credibilidade. Eu duvido que muitos dos livros mais lidos em 2013 serão conhecidos daqui, digamos, 10 anos.

Existem muitos livros no mundo, tenho que escolher bem quais lê-los.
 
Mais alguém pensou "Cuenca" quando ela falou em mau-caráter?

primeiro nome que passou na minha cabeça, mas vale atentar para o detalhe que ela diz "odeio ter conhecido pessoalmente o mau-caráter de muitos deles", ou seja, plural.

mas entendo bem o que ela quis dizer e me identifiquei horrores, principalmente com a liberdade de não ter que ler o que todo mundo tá babando ovo só porque todo mundo tá babando ovo. ler o que quero, o que desperta minha curiosidade, etc.

(e eu tenho atrasado uma leitura de outros livros do easton ellis desde que descobri que ele é um completo imbecil)
 
primeiro nome que passou na minha cabeça, mas vale atentar para o detalhe que ela diz "odeio ter conhecido pessoalmente o mau-caráter de muitos deles", ou seja, plural.

mas entendo bem o que ela quis dizer e me identifiquei horrores, principalmente com a liberdade de não ter que ler o que todo mundo tá babando ovo só porque todo mundo tá babando ovo. ler o que quero, o que desperta minha curiosidade, etc.

(e eu tenho atrasado uma leitura de outros livros do easton ellis desde que descobri que ele é um completo imbecil)

Pensei depois que ela talvez se referisse ao Galera, que é bem próximo do Conti, de quem ela se separou há não muito tempo. Mas é pura especulação, e ela certamente não vai dizer publicamente a quem ela se referia.

Tenho preconceitos com vários autores também (JR Terron, JP Villalobos, a própria Vanessa Barbara, além da Bensimon e do Xerxenesky), muito pelo que eles escrevem por aí, pelas opiniões deles.

Nunca me arrisquei a ler o Ellis, mas já imaginava ele como um grande babaca. E também fui parando de ler o Foster Wallace com o tempo, em parte pela frequência com que o nome dele passou a pipocar, em parte depois de ler textos biográficos sobre ele.
 
Última edição:
Como ela está mais próxima do meio editorial, do olho do furacão, é provável que as justificativas dela pra não ler literatura brasileira contemporânea alcancem um passo a mais, ou um passo mais sólido, em relação ao que ela colocou aí. Mas sou bem sincero: quando leio alguém dizendo que não lê literatura contemporânea por motivos extra-literários... Olha, eu acho uma pena. Por mais que no geral a pessoa esteja bem resolvida com o que decidiu, e por mais que ela seja coerente e tenha bons argumentos no geral, não vou mentir: acho uma pena. Um desperdício. Não consigo, sinceramente não consigo dissociar o desinteresse de ler o que é produzido hoje com um desinteresse também pelo hoje.
 
Como ela está mais próxima do meio editorial, do olho do furacão, é provável que as justificativas dela pra não ler literatura brasileira contemporânea alcancem um passo a mais, ou um passo mais sólido, em relação ao que ela colocou aí. Mas sou bem sincero: quando leio alguém dizendo que não lê literatura contemporânea por motivos extra-literários... Olha, eu acho uma pena. Por mais que no geral a pessoa esteja bem resolvida com o que decidiu, e por mais que ela seja coerente e tenha bons argumentos no geral, não vou mentir: acho uma pena. Um desperdício. Não consigo, sinceramente não consigo dissociar o desinteresse de ler o que é produzido hoje com um desinteresse também pelo hoje.

lembra quando lá no meia mesmo você uma vez disse que não lê romances? acho que ela seguiu mais ou menos essa linha, é sobre os livros que ela não escolhe. pena claro que é. quando escuto alguém dizer que não lê poesia juro que quase trinco os dentes. mas com tanta coisa publicada, tanto livro para ler, e você não tendo obrigação alguma sobre o que vai ler (aka: não tira seu sustento disso), faz sentido ficar lendo o que não é do seu gosto só porque as pessoas acham que deveria ser do seu gosto? "ai, anica, mas daí você perde a oportunidade de conhecer um autor foda". mas caramba, a gente está sempre perdendo a oportunidade de conhecer um autor foda, porque simplesmente não temos como dar conta de ler todos os escritores fodas desse mundo, entre clássicos e contemporâneos.

deixa eu ver se consigo deixar melhor explicado: eu desconheço produção russa contemporânea, não leio nada de holandeses, único turco que li foi o orhan pamuk e o mais próximo que cheguei de escritor noruguês acho que foi o jostein gaarder. meu conhecimento de literatura sul-africana se restringe ao coetzee e por aí vai. trocando em miúdos: ao escolher o que vamos ler, estamos sempre deixando de escolher outros trocentos livros com igual potencial de nos agradar. os motivos para nossa escolha (e não escolha) podem variar, e o que foi uma não escolha pode um dia virar um favorito. a única coisa que não muda é isso: nós nunca daremos conta de ler tudo nessa vida, então sempre haverá um desperdício, mesmo que sequer tenhamos noção de qual é.
 
Concordo. Tenho muito preconceito com vários livros, e não me envergonho disso.

Sem falar que gosto de ler livros pelo menos do século passado. Alguns acham que é pra pagar de cult, mas não é: Se eu pegar um livro do século XIX, por exemplo, significa que o livro sobreviveu por mais de 100 anos intacto, e ainda se lê e se fala sobre este livro hoje. Portanto, presume-se que o livro tem alguma credibilidade. Eu duvido que muitos dos livros mais lidos em 2013 serão conhecidos daqui, digamos, 10 anos.

Existem muitos livros no mundo, tenho que escolher bem quais lê-los.

Não tiro sua razão, mas só queria comentar que existem "n" fatores que apontam porque tais obras continuam relevantes ainda hoje, a "qualidade" sendo apenas um deles.
 
Como ela está mais próxima do meio editorial, do olho do furacão, é provável que as justificativas dela pra não ler literatura brasileira contemporânea alcancem um passo a mais, ou um passo mais sólido, em relação ao que ela colocou aí. Mas sou bem sincero: quando leio alguém dizendo que não lê literatura contemporânea por motivos extra-literários... Olha, eu acho uma pena. Por mais que no geral a pessoa esteja bem resolvida com o que decidiu, e por mais que ela seja coerente e tenha bons argumentos no geral, não vou mentir: acho uma pena. Um desperdício. Não consigo, sinceramente não consigo dissociar o desinteresse de ler o que é produzido hoje com um desinteresse também pelo hoje.

Eu penso da mesma forma, e vivo meio que um dilema por conta disso. Ideologicamente o Ulysses é a antítese de tudo que acredito, penso até ser algo tão genialmente produzido pela pós-modernidade como seu apóstolo-maior, sua Bíblia, que me desencorajo de enxergar em algumas de suas convergências com a Tradição algo tão significativo assim. Isso exige certo distanciamento, certo olhar por cima do ombro, uma honestidade e acima de tudo um olhar que necessita de certa catarse.

O problema é que não leio o Ulysses dessa forma, como não leio nenhum livro. Penso que se não puder mergulhar em todas as referências, olhar de todos os ângulos possíveis e compreender todos os sentidos, ou o melhor que puder de uma obra, a leitura não vale a pena. Por isso me distancio automaticamente de certas coisas... e me contradigo ao mergulhar em outras. Não há como ler Dostoievski sem ter em mente a cura das doenças da alma pela noesis ortodoxa e sua visão de uma Rússia unida sob a cruz de Cristo contra a decadência ocidental, ou Guimarães Rosa sem estar completamente envolvido na metafísica ascética do sertão.

Então não sei se meus critérios são contraditórios, se são cínicos, ou se não tenho critério algum.
 
Eu sigo mais a ideia da Anica, e acho que grande parte das escolhas de leitura que eu faço se dão por questões que não são exatamente literárias, ou ao menos não se dão por interesses literários e, sim, muito mais por questões de afinidade com os temas ou com o trato dado aos temas (formal, inclusive), seja por já saber de antemão ou por especular essa afinidade. Não acho que ignorar a literatura atual significa ignorar ou não se interessar pelo contexto atual. E acho até que um distanciamento faz bem às ideias. Idealmente, analisando a questão cultural, acredito que seria importante conhecer o que se produz hoje em dia. Mas não acho essencial, não acho que exista nada nem próximo a um dever.

Colo aqui embaixo um trecho do Deleuze que uma usuária (Carmela) colou uns anos atrás em outro tópico. Não conheço o filósofo além desse trecho, mas ele fala de questões de afinidades literárias que ecoam pro lado de cá.

"Hay sensibilidades sustanciales, existen los que tienen una sensibilidad sustancial. Yo sueño con hacer alguna cosa sobre la sensibilidad filosófica. Es así que encontrarán los autores que cada uno amará. No estoy diciéndoles que sean spinozistas, porque me importa un bledo. Lo que no importa un bledo es que ustedes encuentren lo que les hace falta, que cada uno de ustedes encuentre los autores que les hacen falta, es decir, los autores que tienen algo para decirles. Lo que a mí me atormenta en filosofía es esa elección. Es igual que cuando se habla de una sensibilidad artística, por ejemplo de una sensibilidad musical. La sensibilidad musical no es indiferenciada, no consiste solamente en decir: Amo la música. Quiere decir también que extrañamente, en cosas que yo mismo no comprendo, tengo algo que ver particularmente con tal: “ah, para mí es Mozart. Mozart me dice algo”. Es curioso eso. En filosofía es lo mismo. Hay una sensibilidad filosófica. Allí también es una cuestión de moléculas, si aplicamos todo lo que acabamos de decir hace un momento. Nos encontramos con que las moléculas de alguien serán atraídas, serán ya, en cierta forma, cartesianas. Hay cartesianos. Bueno, comprendo, un cartesiano es alguien que leyó bien a Descartes y que escribe libros sobre Descartes. Pero eso no es muy interesante. Al menos hay cartesianos a un nivel mejor. Consideran que Descartes les dice algo al oído a ellos, algo fundamental para la vida, incluida la vida más moderna. Bueno, a mí, tomo mi ejemplo, realmente Descartes no me dice nada, nada, nada, nada…Se me va de las manos, me embola. Sin embargo, no voy a decir que es un pobre tipo, es evidente que tiene genio. Bueno, de acuerdo, tiene genio, pero yo, por mi cuenta, no tengo nada que hacer con él. Jamás me dijo nada. Bueno ¿y Hegel?…¿Cómo se explican estas cuestiones de sensibilidad, qué es eso, qué quieren decir estas relaciones moleculares?
Yo abogo por relaciones moleculares con los autores que leen. Encuentren lo que les gusta, no pasen jamás un segundo criticando algo o a alguien. Nunca, nunca, nunca critiquen. Y si los critican a ustedes digan: “De acuerdo” y sigan, no hay nada que hacer. Encuentren sus moléculas. Si no las encuentran, ni siquiera pueden leer. Leer es eso, es encontrar vuestras propias moléculas. Están en los libros. Vuestras moléculas cerebrales están en los libros. Yo creo que nada es más triste en los jóvenes en principio dotados que envejecer sin haber encontrado los libros que verdaderamente hubieran amado. Y generalmente no encontrar los libros que uno ama, o no amar finalmente ninguno, da un temperamento…y de golpe uno se hace el sabio sobre todos los libros. Es una cosa rara. Nos volvemos amargos. Ustedes conocen la especie de amargura de ese intelectual que se venga contra los autores por no haber sabido encontrar a aquellos que amaba…el aire de superioridad que tiene a fuerza de ser tonto. Todo eso es muy enojoso. Es preciso que, en última instancia, sólo tengan relación con lo que aman."
 
Sim, não deixo de ler coisas que não me interessam ideologicamente, mas também não leio nada por obrigação. Leio, se há algum critério, pela experiência proporcionada. Acho que é por isso que tenho problemas com quem considera o estilo secundário. Não é. Não é tudo, claro, mas frequentemente o estilo fala mais e mais direta e intuitivamente que enredo e proposta filosófica claramente delineados.

Assim é o Rosa e o Joyce para mim, duas propostas radicalmente diferentes mas que proporcionam experiências valiosas, cada um de uma maneira especial.

Só deixo de ler, independente do tema e da ideologia, o que me parece uma experiência pobre. Mas isso é hiper-subjetivo.
 
Não tiro sua razão, mas só queria comentar que existem "n" fatores que apontam porque tais obras continuam relevantes ainda hoje, a "qualidade" sendo apenas um deles.

Eu sei, também já peguei livros clássicos que achei ruinzinhos. As vezes o livro é reconhecido simplesmente pela época e não pela obra em si. Como você disse, 'n' fatores definem.
 
Há obras que eu sei que não tenho cabeça pra ler naquele momento, daí posso adiar um pouco a leitura. Assim como o Paganus, quero tirar algo daí, aproveitar a própria experiência em si - se os sensos utilitário, estético e erótico estiverem bem alinhados, melhor ainda. Ao mesmo tempo, sei que há autores que imprimem seu estilo em toda a sua obra - dou-lhes pelo menos uma chance de me convencer. Se falhar nessa, provavelmente não tornarei a lê-lo, salvo convencimento ou exceção.
 
Eu sei, também já peguei livros clássicos que achei ruinzinhos. As vezes o livro é reconhecido simplesmente pela época e não pela obra em si. Como você disse, 'n' fatores definem.

Confesso que eu odiei "Iracema", mas hoje sei porque eu "tinha/tive" que ler. É esse o preço de gostar (e estudar) literatura - ter que conviver, compreender e aceitar até mesmo aquilo que você não curte. :lol:
 
a vantagem dos clássicos é q as chances d vc gostar deles aumenta exponencialmente. mas vc vai encontrar clássicos detestáveis assim como contemporâneos adoráveis. toda regra tem exceção. pela minha experiência d leitor compreendo e concordo até certo ponto com a vanessa. ela basicamente copia a opinião do schopenhauer, q eu sou fã. só n sou radicalzão ao ponto d ler só defuntos. e, conforme alguns já teorizaram e q dá 1 bom debate, qto + mau caráter e + problemático o autor, melhor a escrita.
 
Pensei depois que ela talvez se referisse ao Galera, que é bem próximo do Conti, de quem ela se separou há não muito tempo. Mas é pura especulação, e ela certamente não vai dizer publicamente a quem ela se referia.

Você não estaria completamente errado (o buraco é bem mais embaixo). :lol:

Creio que seja mais uma crítica a enxurrada de literatura nova que damos atenção e esquecemos das outras coisas. Realmente, depois de um tempo recebendo listas de lançamentos me deparei com esse dilema: "gente, por que diabos estou lendo isso agora e com desespero?". Volta e meia tem livros que são deixados para trás por causa dos novos queridos, mas, como sempre, eu começo a ficar viciado em um autor e saio pegando o que ele publicou até me esgotar. O que me torna um chato e causa certa ressaca, porque, convenhamos, depois de estafe mental a um certo tipo de leitura, a próxima, se não agradar, vai parecer ruim. Mas será que é? Sempre me pego pensando nisso.

Enfim, ultimamente tenho variado as leituras. Vou para um autor novo, venho para um clássico, passo por um ensaio aqui e ali, etc.
 
Volta e meia tem livros que são deixados para trás por causa dos novos queridos, mas, como sempre, eu começo a ficar viciado em um autor e saio pegando o que ele publicou até me esgotar. O que me torna um chato e causa certa ressaca, porque, convenhamos, depois de estafe mental a um certo tipo de leitura, a próxima, se não agradar, vai parecer ruim. Mas será que é? Sempre me pego pensando nisso.

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Eu sigo mais a ideia da Anica, e acho que grande parte das escolhas de leitura que eu faço se dão por questões que não são exatamente literárias, ou ao menos não se dão por interesses literários e, sim, muito mais por questões de afinidade com os temas ou com o trato dado aos temas (formal, inclusive), seja por já saber de antemão ou por especular essa afinidade. Não acho que ignorar a literatura atual significa ignorar ou não se interessar pelo contexto atual. E acho até que um distanciamento faz bem às ideias. Idealmente, analisando a questão cultural, acredito que seria importante conhecer o que se produz hoje em dia. Mas não acho essencial, não acho que exista nada nem próximo a um dever.

Reli hoje essa postagem da Vanessa Barbara e vejo que interpretei errado o que ela disse. Esse "não gosto" que ela colocou de algum modo eu passei por cima e acabei entendendo que ela não lia e ponto. Mas, do jeito que ela disse, que não gosta de ler, mas que lê aquilo que tem afinidade, sim, é isso tudo que você e a Anica muito bem disseram.

Mas onde eu queria chegar era: naturalmente que acompanhar toda a literatura contemporânea é impossível. Eu estou tendo uma dificuldade muito grande de tentar acompanhar a poesia contemporânea de países como a Angola ou Portugal, mas isso é muito complicado pois, no fim, a literatura contemporânea tem que ser mais entendida como a ponte de um iceberg que um ponto de partida por si só, essa coisa de apenas o agora. Por exemplo, como acompanhar poesia contemporânea de Portugal se eu só acompanhei até Fernando Pessoa?

Por outro lado, onde eu queria chegar é: você optar em não ler literatura elisabetana é uma coisa. Mas não optar em ler literatura contemporânea é outra. Vejo um peso maior na literatura contemporânea pois ela fala do que a gente tá vivendo. É o que tá rolando, e é por isso que disse que a pessoa que não lê, se não está demonstrando necessariamente um desinteresse, está, no mínimo, deixando de mostrar um interesse. Não dá pra negar que ela tá abrindo mão disso. Ela tá abrindo mão de ler o mundo a seu redor de uma maneira muito rica, que é a partir da maneira artística. Então, se ela a rigor não está se alienando, ela está pelo menos alienando aspectos de ver o que todos os dias ela vê.

Mas por outro lado isso que você disse que um distanciamento faz bem às ideias é algo muito correto também. E, afinal, se não tratarmos a poesia contemporânea como a ponta do iceberg, especialmente no sentido de que ela é o que é e é o que foi (eita), não vamos tratar a questão com seriedade, de modo que essa coisa de escolher entre um e outro à priori não tem tanto sentido (isto é, ao invés de ter de escolher entre literatura elisabetana e a contemporânea, escolha as duas). Ao menos não muito no âmbito da importância, pois as escolhas vão recair no que você e a Anica disseram.

Não sei se isso que eu disse ficou muito claro, mas eu vejo como sendo e não sendo um dever ler literatura contemporânea. Como você mesmo disse, idealmente o melhor seria fazer como o Pips faz, balanceando a coisa. Mas, por mais que o gosto seja sempre o que de fato vai pesar mais nas escolhas de leitura de alguém, não vou dizer que esse dever não existe, porque pra mim ele existe. Não dá pra privilegiar apenas um dos lados da equação... Só que não chega a ser um dever no sentido de obrigação. É um dever pois é um caminho rico demais de você viver mais vivamente a própria vida.
 

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