Eu sou a favor de existir as mais diferentes possibilidades dentro da carreira universitária. Nego quer ser só pesquisador? Ótimo, tem vaga dedicação exclusiva para pesquisador. Exclusivamente professor? Tudo bem também. E por aí vai.
Mas eu já vi cara que pesquisa, dá aula, faz extensão, administra e tudo o mais muito bem, e ao mesmo tempo. Esse tem que continuar tendo seu espaço, até porque a ponte do pesquisador de ponta com os alunos é importante para a produção do conhecimento e para a idealização do próprio na cabeça dos estudantes.
Sim. Com certeza. Se a pessoa tem possibilidades e, principalmente, interesse em trabalhar nesse meio termo. Ótimo.
Mas são muito poucos os que tem vocação e interesse para isso.
E aí normalmente terminamos com professores/pesquisadores universitários que todo aluno percebe que não gastou nem meia hora para preparar a aula, e está lá na sala claramente contrariado. Ou pesquisadores/professores com verba pública estagnada ou gasta sem propósitos concretos porque faz anos que não entra num laboratório.
Quando você participa de um concurso público, percebe nitidamente quando alguns candidatos passam apenas pela avaliação didática (quando há necessidades de mais professores) ou pela avaliação de projeto de pesquisa (em áreas novas que podem atrair mais verbas).
Ou seja, é quase declaradamente dizer que "sabemos que teremos um professor de merda ensinando nas salas, mas ele tem projetos e visões muito boas" ou "sabemos que teremos que dar verbas e uma sala laboratorial inteira pra essa pessoa que nunca vai entrar lá, mas ele vai formar muito bem nossos alunos".
Sendo que muitas vezes, no final, não se consegue fazer nem uma coisa nem outra, a parte fraca da pessoa quase sempre exaure a parte boa.
Entendi seu ponto, mas não sei até onde concordo. Digo, com a questão da divulgação. Acho que todo cientista, mesmo que não trabalhe com divulgação propriamente dita, precisa tentar colocar suas descobertas numa linguagem mais simples, acessível. Ao delegar essa tarefa pra um outro cientista especializado em divulgação faz com que 'erros de tradução' aconteçam de forma mais comum e mais grave, comprometendo a qualidade da informação passada adiante.
Concordo contigo que deixar nas mãos de uma única pessoa os papéis de ensino, pesquisa e divulgação é sobrecarregá-la. Mas acho necessário entender também que são 3 lados duma mesma moeda e que dissociá-los completamente pode ser mais prejudicial do que benéfico.
E eu queria muito ter participado desse encontro da SBPC, mas só fiquei sabendo uma semana antes do evento. =/
Mas o papel do divulgador é esse. Ele não precisa saber das tecnicalidades e detalhes do processo, ele tem que entender apenas a linguagem física e fazer a ponte para a linguagem leiga.
Divulgação cientifica não é artigo, tem que se fazer o leitor se interessar pelo "big picture".
Eu acredito que o fato de ainda no Brasil quase nem existir pessoas focadas em divulgação e isso ficar a cargo dos pesquisadores é que acaba gerando essas informações falsas na midia. Pois o papel de divulgador cientifico acaba sendo compartilhado com um jornalista que até pode ter interesse, mas não entende da linguagem da área. Quando este tenta passá-la a linguagem leiga, acaba cometendo esses erros. E não dá para o técnico ficar em cima do jornalista o tempo todo corrigindo tudo.
Divulgação é algo que toma muito tempo, se for querer fazer algo bem feito. Se for uma ou outra entrevista por semestre, uma ou outra visita a escolas por semestre, uma ou outra participação em encontros de divulgação, etc, aí tudo bem. Dá pra organizar um dia ou uma semana para isso. Mas eu não consideraria isso divulgação de alta qualidade, seria só um spinoff, algo a se fazer nas horas vagas das horas vagas.