• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Disputa de Autores (Fase Final)

Afinal, quem é o melhor?


  • Total de votantes
    16
  • Votação encerrada .

Clara

Perplecta
Usuário Premium
Vamos dar início à grande Final da Disputa de Autores - Versão Valinor, que será entre os vencedores da Segunda Fase:

O russo Fiódor Dostoiévski, defendido pelo Spartaco vs. o colombiano Gabriel Garcia Marques, defendido pela Liv


Como sempre, não custa lembrar as regras da disputa:

REGRAS DO EMBATE


Primeira Fase


1. O número de participantes é 10, cada um deverá, no seu post, indicar o autor que vai defender e o porquê (incluindo o nome de uma obra para os mais desligados);
1.1 Esse usuário será chamado de Advogado;
1.2 Coloque uma foto do seu "cliente" e/ou a capa de uma de suas obras;

2. Campanhas "políticas" são válidas;

3. Uma enquete será aberta a cada chave e todos os usuários poderão votar no seu favorito, mesmo que não sejam os advogados do autor em disputa;
3.1 Os usuários/eleitores, poderão fazer perguntas sobre o autor e sua obra ao Advogado;

4. O embate terá duração de quatro dias;
4.1. A enquete será aberta no terceiro dia, com o resultado parcial em aberto para todos (assim fica mais disputado)


Segunda Fase


1. A 2ª Fase dessa competição será pontos corridos de todos contra todos, a enquete será de múltipla escolha e cada pessoa poderá votar em dois candidatos.

2. Se houver empate nessa competição, será vencedor o que foi indicado primeiro na Primeira Fase.

Última Fase


1. Disputa entre os dois finalistas, com enquete, perguntas e debate entre os advogados.

Vamos começar?

Liv e Spartaco, fiquem à vontade para postar suas defesas. ;)
 
Após as etapas anteriores desta disputa, não é muito fácil mencionar algo mais a respeito de Dostoiévski, afinal, tendo em vista minha limitação em defendê-lo, acho que disse o essencial a seu respeito e de sua magnífica obra.

No entanto, fico pensando o que podemos ainda destacar como elemento extremamente significativo no sistema estrutural da obra desse gênio, além de sua grande contribuição não só para a literatura russa como mundial? É a posição do autor diante do seu objeto. Posição esta que deposita inteira confiança na capacidade de uma personagem de exprimir a sua própria verdade, pois rejeita qualquer possibilidade dela exprimir a verdade do outro, vale dizer, das outras personagens da trama.

75D8.jpg


Posso concluir que Dostoiévski fez surgir uma literatura que escapa dos limites de toda uma época, quer do ponto de vista histórico-social e geográfico, quer do ponto de vista literário, apontando infinitamente para a modernidade. Portanto, é atemporal.

Creio realmente que nenhum outro escritor em seu tempo fez isso, pois ao tentar redefinir e assimilar, na estrutura de suas obras, a nova posição do indivíduo no mundo, ele criou uma forma inédita, capaz de exprimir uma nova visão do homem e de sua realidade.

Por tudo isso, podemos dizer que ele teve influência significativa no processo da evolução da literatura mundial.
 
Vam' começar? :cheer: :cheer:

Vou resgatar o que já publiquei/conversei a respeito:

Na primeira fase da disputa:
Quem é: Gabriel García Márquez (Aracataca, 6 de março de 1927) é um escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano. Considerado um dos autores mais importantes do século 20, ele foi premiado com o 1972 Prémio Internacional Neustadt de Literatura de 1982 e o Nobel de Literatura de 1982 pelo conjunto de sua obra, que entre outros livros inclui o aclamado Cem Anos de Solidão. Foi responsável por criar o realismo mágico na literatura latino-americana. Viajou muito pela Europa e vive actualmente no México. É pai do cineasta Rodrigo García.
Em abril de 2009 declarou que se aposentou e que não pretendia escrever mais livros. Essa notícia viu-se confirmada em 2012, quando o seu irmão, Jaime Garcia Marquez, noticia que foi diagnosticada uma demência a Gabriel Garcia Marquez e que, embora esteja em bom estado físico, perdeu a memória e não voltará a escrever. ( Fonte )

O que escreveu: Cem anos de solidão, O amor nos tempos do cólera, Ninguém escreve ao coronel, Do amor e outros demônios, Relato de um náufrago, Memórias de minhas putas tristes, A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada entre tantas outras obras. Defenderei “Cem anos de solidão”

Nós livros de Gabriel García Márquez, quais alguns exemplos de elementos fantásticos ?

Pergunta difícil. Vou postar em spoiler uns trechos de Cem anos de solidão que mostra isso, ok? Mas se você quiser mais exemplos só falar =]

•"Uma comoção descomunal imobilizou-a no seu centro de gravidade, plantou-a no lugar, e a sua vontade defensiva foi demolida pela ansiedade irresistível de descobrir o que eram os apitos alaranjados e os balões invisíveis que a esperavam do outro lado da morte."
•"As coisas tem vida própria."
•"O essencial é não perder a orientação."
•"O que acontece é que não aguentamos o peso da consciência."
•"Os filhos herdam as loucuras dos pais."


Cap 1

[primeiras linhas] MUITOS anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.
________________________________________
As crianças haviam de recordar o resto da vida a augusta solenidade com que o pai se sentou na cabeceira da mesa, tremendo de febre, devastado pela prolongada vigília e pela pertinácia da suaimaginação, e revelou a eles a sua descoberta:
— A terra é redonda como uma laranja
________________________________________
Só quando começou a desmontar a porta do quartinho é que Úrsula se atreveu a lhe perguntar por que o fazia, e ele lhe respondeu com certa amargura: “Já que ninguém quer ir embora, nós iremos sozinhos.” Úrsula não se alterou.
— Nós não iremos — disse. — Ficaremos aqui, porque aqui tivemos um filho.
— Ainda não temos um morto — ele disse. — A gente não é de um lugar enquanto não tem um morto enterrado nele.
Úrsula replicou, com uma suave firmeza:


Calib, O amor nos tempos do cólera.

É de conhecimento geral que as adaptações podem ser controversas pra caramba. Nesse caso, não seria diferente. Particularmente detestei a Fernanda Montenegro como Tránsito Soto e achei o filme meio "pra inglês ver", sabe? Muitos papagaios e bananeiras por todos os lados. Eu adoro o Javier Bardem mas acho que ele errou o tom pra construir o Florentino Ariza. Faltou a doçura e a inocência que a gente enxerga no livro. Nas cenas de sexo, faltou aquele desespero, aquela busca pela Fermina em todas as mulheres. Enfim, não foi uma boa adaptação na minha opinião. O filme não tem alma, mas você vê a alma no livro. Apesar da fotografia ser uma belezinha e aquela música da Shakira me arrepiar toda. =]

Uma resenha minha:

Pelo estilo literário que consagrou Gabriel García Márquez, O amor nos tempos do cólera é a consolidação do realismo fantástico. O livro é uma mágica homenagem ao amor. Nele, o protagonista é Florentino Ariza que nos conta a sua história Fermina Daza que começou na adolescência dos dois e indiretamente, durou uma vida. Florentino é como uma Cinderella ao contrário. Trabalha como “office-boy” em uma empresa de correspondências, enquanto levava cartas ao pai de Fermina. Na realidade, conhecer não é o termo adequado nessa história. Florentino viu Fermina e eles passaram a se corresponder por dois anos sem que ela soubesse quem era ele.

Durante as correspondências, o amor juvenil floresceu. Até o ponto em que o pai de Fermina descobriu e mandou a filha para outra cidade, para que ela o esquecesse. Florentino não viu a sua deusa coroada por aproximadamente dois anos. Noivaram por carta e estavam decididos a casar. Quando ela voltou para a cidade natal, Florentino, a viu passeando na cidade e deciciu finalmente se apresentar à ela. O que poderia ser a cena mais romântica do livro, foi para muitos fãs a mais cruel. Apesar de Fermina estar emocionada, percebeu que ele não representava o que ela queria, e acabou com o noivado acenando com a mão e dizendo : “não, por favor, me esqueça!”.

Ao mesmo tempo, para aumentar o desespero de Florentino, chega à cidade Juvenal Urbino, médico recém formado com idéias modernistas em relação a saúde pública e o melhor “candidato a marido” da cidade. Ele acaba cortejando Fermina que o aceita, mesmo sem amor, por oferecer segurança e estabilidade. Fermina e Juvenal tem uma vida aparentemente feliz. Mas a sombra do casal, sempre está Florentino. Ele não aparece publicamente perto deles, mas está sempre perto da sua deusa coroada. Mesmo tendo outros relacionamentos a amor obsessivo por Fermina permanece o mesmo ao longo dos anos. Juvenal é o contrponto de Florentino. O primeiro não se mostra inteiramente fiel a esposa, mesmo confessando amá-la. Já o segundo cataloga os escassos encontros.

Passaram-se então, cinquenta e um anos e é dia de Pentecostes. Jeremiah de Saint-Amour, fotógrafo e amigo de Florentino suicida-se por não querer envelhecer. Na outra parte da cidade Juvenal morre depois de cair de uma árvore tentando pegar um papagaio. Florentino nunca deixou de amar Fermina e agora tem uma oportunidade e esperanças. Durante o funeral, ele tentando expressar condolências e reafirmando seu amor, é expulso violentamente por ela. Porém, ao longo das semanas ela vai se deixando levar e amar para o escândalo dos filhos.

Ao final do livro, os dois partem em um navio e finalmente Florentino está livre para amar Fermina depois de cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias. O amor nos tempos do cólera é um livro com diversos significados e interpretações: pode ser uma história de amor, uma de obsessão, ou até mesmo uma de depravação. Onde o amor é tratado como uma doença visceral, o que torna a sua leitura indispensável.


Porque ele é o melhor romancista de todos? Para quem já leu algum livro dele, sabe o quanto esse cara é grande. Ele molda as palavras de uma forma única, que te transportam para dentro da história e você acaba se tornando mais um dos personagens, sofrendo, sorrindo e participando da história. Você começa o livro de um jeito e certamente termina de outro. Se as histórias do Gabriel García Márquez não te quebraram nenhum paradigma, acho bom você reler.

Exemplos: Em “Crônica de uma morte anunciada”, na primeira página já temos a dimensão da história, mas ao mesmo tempo, não sabemos sequer uma linha do que ela se trata exatamente. Como uma teia, pequenos fragmentos vão se abrindo e se transformando e você chega ao final do livro com aquela cara de “Ih, mas já acabou? No primeiro parágrafo eu já sabia o que ia acontecer e nem vi que só parei de ler na última página! COMO ASSIM, BRASIL?”.

Em “O amor nos tempos do cólera” temos uma das melhores histórias de amor escritas, onde o amor supera tudo, até o cólera. É quase como a história da Cinderella, o protagonista é um patinho feio e sem muitas perspectivas para o futuro. Porém, essa é uma história de amor e já dizia o poeta, “só o amor constrói”. Florentino encontra a felicidade nos braços da sua “deusa coroada”, em outra oportunidade que a vinha lhe oferta. Falo mais sobre esse livro aqui - Leia a resenha

Do amor e outros demônios é outro exemplo da fodicidade do Gabo. Não conheço um autor que misture o realismo mágico com sincretismo religioso e nos presenteie com uma história de amor linda e angelical. Aqui tem uma resenha leia

Mas vamos ao que interessa: Cem anos de solidão

Um resuminho bacana da nossa amiga Wikipédia:

Considerado um dos melhores livros de literatura latina ja escritos, sua história passa-se numa aldeia fictícia e remota na América Latina chamada Macondo. Esta pequena povoação foi fundada pela família Buendía – Iguarán. A primeira geração desta família peculiar é formada por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán. Este casal teve três filhos: José Arcadio, que era um rapaz forte, viril e trabalhador; Aureliano, que contrasta interiormente com o irmão mais velho no sentido em que era filosófico, calmo e terrivelmente introvertido; e por fim, Amaranta, a típica dona de casa de uma família de classe média do século XIX. A estes, juntar-se-á Rebeca, que foi enviada da antiga aldeia de José Arcadio e Ursula, sem pai nem mãe. A história desenrola-se à volta desta geração e dos seus filhos, netos, bisnetos e trinetos, com a particularidade de que todas as gerações foram acompanhadas por Úrsula (que viveu entre 115 a 122 anos). Esta centenária personagem dará conta que as características físicas e psicológicas dos seus herdeiros estão associadas a um nome: todos os José Arcadio são impulsivos, extrovertidos e trabalhadores enquanto que os Aurelianos são pacatos, estudiosos e muito fechados no seu próprio mundo interior. Os Aurelianos terão ao longo do livro a missão de desvendar os misteriosos pergaminhos de Melquíades, o Cigano, que foi amigo de José Arcadio Buendía. Estes pergaminhos tem encerrados em si a história dramática da família e apenas serão decifradas quando o último da estirpe estiver às portas da morte.

Realismo mágico:

O realismo mágico é uma escola literária surgida no início do século XX também é conhecida por realismo fantástico ou realismo maravilhoso, sendo este último nome utilizado principalmente em espanhol. É considerada a resposta latino-americana à literatura fantástica européia. Entre seus principais expoentes estão o colombiano Gabriel García Márquez, Premio Nobel de Literatura, o peruano Manuel Scorza em suas cinco novelas onde são descritas as lutas do campesinato dos Andes Centrais e os argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges. Muitos consideram o venezuelano Arturo Uslar Pietri o pai do realismo mágico. No Brasil, destacam-se os nomes de Murilo Rubião e José J. Veiga.

O cubano Alejo Carpentier, no prólogo de seu livro Reino deste mundo, enquadra sua obra no conceito de realismo maravilhoso, definindo este como semelhante ao conceito de realismo mágico característico da obra de Gabriel García Márquez, sem, no entanto, confundir um com o outro.

O realismo mágico se desenvolveu fortemente nas décadas de 1960 e 1970, como produto de duas visões que conviviam na América hispânica e também no Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu também como forma de reação, através da palavra, contra os regimes ditatoriais deste período.

Este conceito pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse em mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum. Não é uma expressão literária mágica: sua finalidade é a de melhor expressar as emoções a partir de, sobretudo, uma atitude específica frente à realidade. Uma das obras mais representativas deste estilo é Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez.

Apesar de aparentemente desatento à realidade, o realismo mágico compartilha algumas características com o realismo épico, como a intenção de dar verossimilhança interna ao fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da atitude niilista assumida originalmente pelas vanguardas do início do século XX, como o surrealismo.

Características do realismo mágico:

Os seguintes aspectos estão presentes em muitos romances e contos do realismo mágico, mas não necessariamente estão todos presentes em todas as obras desta escola. Do mesmo modo, obras pertencentes a outras escolas podem apresentar algumas características dentre aquelas aqui listadas:


Conteúdo de elementos mágicos ou fantásticos percebidos como parte da "normalidade" pelos personagens;
Elementos mágicos algumas vezes intuitivos, mas nunca explicados;
Presença do sensorial como parte da percepção da realidade;
O tempo é percebido como cíclico, como não linear, seguindo tradições dissociadas da racionalidade moderna;
O tempo é distorcido, para que o presente se repita ou se pareça com o passado;
Transformação do comum e do cotidiano em uma vivência que inclui experiências sobrenaturais ou fantásticas;
Preocupação estilística, partícipe de uma visão estética da vida que não exclui a experiência do real.

- - - Updated - - -

E na segunda fase

Eu já falei da biografia dele na primeira fase e nesse tópico aqui. Mas você também pode ler aqui
Gabriel José García Márquez nasceu em Aracataca (Colômbia), e foi criado na casa de seus avós maternos, que iriam influenciar o futuro literato com as histórias que contavam. O avô, coronel Nicolas Márquez, veterano da guerra civil colombiana (que se estendeu de 1899-1902), narrava-lhe suas aventuras militares, e a avó, Tranquilina Iguarán, relatava fábulas e lendas que transmitiam sua visão mágica e supersticiosa da realidade.

García Márquez, ou simplesmente Gabo, completou os primeiros estudos em Barranquilla e Zipaquirá, onde teve um professor de literatura, Carlos Julia Calderón Hermida, que desempenhou papel marcante em sua decisão de se tornar um escritor e a quem dedicaria seu romance "O Enterro do Diabo" (1955). Por insistência dos pais, Márquez chegou a iniciar o curso de direito na Universidade Nacional, em Bogotá, mas logo enveredou para o jornalismo, assumindo uma coluna diária no recém-fundado jornal "El Universal". Nunca se graduou.

Nessa época, final da década de 1940, publicou seus primeiros contos, "La Tercera Resignación" e "Eva Está Dentro de su Gato". Consagrou-se na carreira jornalística ao ingressar na redação de "El Espectador", onde se tornou o primeiro crítico de cinema do jornalismo colombiano e depois um brilhante cronista e repórter, que exerceu influência na vida cultural do país. Em 1955, viajou para a Europa como correspondente do jornal, após a publicação de uma extensa reportagem, "Relato de um Náufrago", que desagradou ao governo do general Roja Pinillas.

No final dos anos 50, de volta às Américas, trabalhou em Caracas (Venezuela), em Cuba, onde passou seis meses, e em Nova York, dirigindo a agência de notícias cubana Prensa Latina. Em 1960, García Márquez mudou-se para a Cidade do México e começou a escrever roteiros para cinema. No ano seguinte, publicou "Ninguém Escreve ao Coronel" e, em 1962, "O Veneno da Madrugada", que ganhou o Prêmio Esso de Romance, na Colômbia.

Em 1966, segundo depoimento do escritor mexicano Carlos Fuentes, quando voltava do balneário de Acapulco para a Cidade do México, García Márquez teve o momento de inspiração para escrever o romance que ruminava há mais de uma década. Largou o emprego, deixando o sustento da casa e dos dois filhos a cargo da mulher, Mercedes Barcha. Isolou-se pelos próximos 18 meses, trabalhando diariamente por mais de oito horas. No ano seguinte, publicou aquele que seria sua obra mais conhecida, "Cem Anos de Solidão" (1967) - unanimemente uma obra-prima da literatura em língua espanhola.

Com o sucesso, mudou-se para Barcelona, Espanha, onde permaneceu até 1975, passando temporadas em Bogotá, México, Cartagena (Colômbia) e Havana. Em 1981, voltou para a Colômbia. Acusado pelo governo de colaborar com a guerrilha, exilou-se no México. Nesse período, publicou novos romances, livros de contos e antologias de sua produção jornalística e de ficção. Em 1982, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Segundo se soube posteriormente, a premiação foi disputada com o escritor inglês Graham Greene e o alemão Günther Grass. Diante da Academia Sueca e de quatrocentos convidados, pronunciou o discurso "A Solidão da América Latina", questionando os estereótipos com que os latino-americanos eram vistos na Europa e a falta de atenção dos países ricos ao continente.

O escritor retornou ao jornalismo em 1999, quando passou a dirigir a revista "Cambio". Em 2002, publicou "Viver Para Contá-la", primeiro volume de sua autobiografia. Entre outras obras de destaque, García Márquez é o autor de "Crônica de uma Morte Anunciada" (1981), "O Amor nos Tempos do Cólera" (1985), "O General em Seu Labirinto" (1989) e "Notícias de um Seqüestro" (1996). O último romance que publicou, em 2004, intitula-se "Memórias de Minhas Putas Tristes".

Alguns de seus textos foram adaptados para o cinema, como "Eréndira", de 1983, estrelado por Cláudia Ohana e dirigido por Ruy Guerra, e "O Amor nos Tempos do Cólera", de 2007, dirigido pelo inglês Mike Newell, e com a participação de Fernanda Montenegro.

Principais Obras:

•O enterro do diabo: A revoada (La Hojarasca)
•· Memória dos prazeres
•· Relato de um náufrago
•· A sesta de terça-feira
•· Ninguém escreve ao coronel
•· Os funerais da mamãe grande
•· Má hora: o veneno da madrugada
•· Cem anos de solidão
•· A última viagem do navio fantasma
•· Entre amigos
•· A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada
•· Um senhor muito velho com umas asas enormes
•· Olhos de cão azul
•· O outono do Patriarca
•· Como contar um conto
•· Crônica de uma morte anunciada
•· Textos do caribe
•· Cheiro de goiaba
•· O verão feliz da senhora Forbes
•· O Amor nos tempos do cólera
•· A aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile
•· O general em seu labirinto
•· Doze contos peregrinos
•· Do amor e outros demônios
•· Notícia de um sequestro
•· Obra periodística 1: Textos Andinos
•· Obra periodística 3: Da Europa e América
•· Viver para contar
•· Memória de minhas putas tristes



Realismo Mágico:
O realismo mágico é uma escola literária surgida no início do século XX também é conhecida por realismo fantástico ou realismo maravilhoso, sendo este último nome utilizado principalmente em espanhol.

É considerada a resposta latino-americana à literatura fantástica européia. Entre seus principais expoentes estão o colombiano Gabriel García Márquez, Premio Nobel de Literatura, o peruano Manuel Scorza em suas cinco novelas[1] onde são descritas as lutas do campesinato dos Andes Centrais e os argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges. Muitos consideram o venezuelano Arturo Uslar Pietri o pai do realismo mágico. No Brasil, destacam-se os nomes de Murilo Rubião e José J. Veiga.

O cubano Alejo Carpentier, no prólogo de seu livro Reino deste mundo, enquadra sua obra no conceito de realismo maravilhoso, definindo este como semelhante ao conceito de realismo mágico característico da obra de Gabriel García Márquez, sem, no entanto, confundir um com o outro.
O realismo mágico se desenvolveu fortemente nas décadas de 1960 e 1970, como produto de duas visões que conviviam na América hispânica e também no Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu também como forma de reação, através da palavra, contra os regimes ditatoriais deste período.

Este conceito pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse em mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum. Não é uma expressão literária mágica: sua finalidade é a de melhor expressar as emoções a partir de, sobretudo, uma atitude específica frente à realidade. Uma das obras mais representativas deste estilo é Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez.
Apesar de aparentemente desatento à realidade, o realismo mágico compartilha algumas características com o realismo épico, como a intenção de dar verossimilhança interna ao fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da atitude niilista assumida originalmente pelas vanguardas do início do século XX, como o surrealismo.

Prêmios recebidos:

•Prémio de Novela ESSO por "má hora:o veneno da madrugada" (1961)
•· Doutor Honoris Causa da Universidade de Columbia em Nova Iorque (1971)
•· Medalha da Legião Francesa em Paris (1981)
•· Condecoração Águila Azteca no México (1982)
•· Nobel de Literatura (1982)
•· Prémio quarenta anos do Círculo de jornalistas de Bogotá (1985)
•· Membro honorário do Instituto Caro y Cuervo em Bogotá (1993)
• Doutor Honoris Causa da Universidade de Cádiz (1994)

No UOL educação, tem um joguinho de perguntas e respostas sobre a vida e a obra do Gabo, vocês podem jogar aqui

Na BBC tem uma notícia (de arquivo) que eu achei muito bacana.

Em busca da memória de Gabriel García Márquez
Arturo Wallace

Da BBC Mundo em Bogotá


Atualizado em 7 de julho, 2012 - 11:05 (Brasília) 14:05 GMT
Facebook Twitter CompartilheEnviar a página Versão para impressão .
A família do escritor confirmou que ele sofre de demência senil

O fato de que Gabriel García Márquez está perdendo a memória era, até a última sexta-feira, uma espécie de segredo na Colômbia, onde o assunto dificilmente se discutia em voz alta por respeito à privacidade do escritor de 85 anos de idade.

No entanto, seu irmão Jaime admitiu publicamente neste sábado que o autor de "Cem anos de solidão" e "Amor nos tempos do cólera" sofre há muitos anos de demência senil. A notícia rapidamente deu a volta no mundo.

Notícias relacionadasGabriel García Márquez 'sofre de demência' e não escreve maisVargas Llosa ganha Nobel de LiteraturaCérebro 'começa a declinar aos 45 anos', diz estudo
Tópicos relacionadosAmérica Latina, Cultura
A demência é uma doença degenerativa que se traduz em uma perda progressiva da memória e da capacidade de pensar com clareza, além de também poder provocar mudanças de humor e personalidade.

Estes problemas cognitivos podem afetar qualquer uma das funções cerebrais - além da memória -, incluindo a linguagem e a capacidade de atenção.

Segundo Jaime García Márquez, a doença é bastante comum na família do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.

A revelação aconteceu durante um encontro com estudantes da Espanha e da América Latina, que quiseram aproveitar sua passagem por Cartagena para ouvir as histórias do irmão mais novo de "Gabo".

E ele terminou contando que quase todos os dias fala por telefone com o escritor, que vive no México, para ajudá-lo a enfrentar a luta contra o esquecimento.

"Fiquei encarregado desta missão, que é um privilégio e, ao mesmo tempo, é muito dolorosa. Às vezes choro, porque sinto que me escapa das mãos", confessou Jaime García Márquez.

"Mas ainda temos ele, podemos falar com ele com muita alegria e com muito entusiasmo, como sempre foi."

LembrançasO que já não será possível ter, segundo o irmão de García Márquez, são novas obras do escritor.

A doença, que o está mantendo afastado do público e da Colômbia, também dificultou a comunicação entre ele e alguns de seus amigos, especialmente os que estão mais afastados geograficamente.

"Em certo momento, eu me comunicava muito com ele por telefone, falávamos quase todas as semanas. Mas, a partir de determinada época, deixou de ligar e eu não quis incomodá-lo", disse à BBC o também escritor Plinio Apuleyo Mendoza.


Um dos personagens de Cem Anos de Solidão, obra-prima do escritor, sofre da mesma doença

"Seu filho, meu afilhado, me disse que ele não reconhece bem as pessoas por telefone, só pessoalmente. E Mercedes (sua esposa) diz: 'Ele está tomando banho' ou 'está dormindo', qualquer desculpa. Não insisto em falar com ele, porque percebi que o coloco em uma situação ruim."

No entanto, a amizade de anos dos escritores transformou Mendoza em um grande depósito das lembranças de Gabo.

Das conversas dos dois nasceram os livros "Cheiro de goiaba" e "Aqueles tempos com Gabo", ambos de Plinio Mendoza.

Preservadas nos livrosDe qualquer forma, as memórias de Gabriel García Márquez também são abundantes em sua própria obra literária.

Segundo Mendoza, um exemplo disso é o livro "Ninguém escreve ao coronel".

"Era a época do Gabo pobre. Como o ditador Rojas Pinilla proibiu El Espectador, o jornal para o qual ele era correspondente em Paris, ele teve que viver situações muito duras", disse o escritor, que nessa época era vizinho de Gabo em Paris.

"Ele sempre estava esperando algum dinheiro, algum pagamento, algum cheque. E ele passou isso para seu coronel, que sempre está esperando algo. Há muitos elementos baseados em suas próprias vivências que ele colocou em seus personagens."
A senilidade também é um tema muito presente na obra considerada por muitos como a mais importante do escritor colombiano, "Cem anos de solidão".

Não é exatamente uma lembrança, mas talvez ao saber que a demência senil acontecia na família, Gabo decidiu se adiantar à sua própria memória.

(os grifos são meus)


Aqui foi quando eu falei a respeito de "O amor nos tempos do cólera", o livro escolhido para a segunda fase

O amor nos tempos do cólera

Ver anexo 49930
essa é a primeira frase do livro​


Troquei para "O amor nos tempos do cólera", acho esse livro sensacional. É uma história de amor doce, especial e ingênua que mostra que o amor pode ser lindo e ao mesmo tempo tão horrível quanto o cólera. Conta a história de Florentino Ariza e Fermina Daza, que se conheceram ainda adolescentes e se entregaram àquele amor quase que platônico (todo mundo já teve um assim, né?) dos risos, das cartinhas e dos suspiros. Porém, Fermina era de uma família rica e o pai dela não ia permitir o casamento. Além disso ela acabou percebendo que o príncipe encantado das cartinhas, na verdade não era tão encantado assim.

Ela se casou com o doutor Juvenal Urbino e foi feliz. Ele não foi o amor da vida dela, muito pelo contrário, encheu ela de chifres. Mas ela foi feliz como nós, que apesar de ficarmos duas horas no trânsito, ficamos felizes com um pouquinho de chuva para diminuir o calor ou um pouquinho de sol para esquentar os ossos. O casamento dela foi um exercício de felicidade diária, a contrução de um amor delicado. O casamento deles durou literalmente "até que a morte nos separe" e aí, começa o dilema: Florentino e Fermina teriam uma oportunidade juntos? Mesmo depois de 50 anos? Aí, vocês tem é que ler esse livro maravilhoso para descobrirem. :grinlove:

_____

Esse livro foi adaptado para o cinema, mas não quero falar do filme. É sem vida, sem cor... coisa para inglês ver, sabem? (Sim, é o Javier Bardem que está nesse filme, porém não achei aquilo tudo) Mas tem uma música que a Shakira canta que é linda. É essa que eu quero mostrar pra vocês.


E pra terminar: O livro foi apreciado até no BBB.

Ver anexo 49932


Uma conversinha legal com o Spartaco e alguns vídeos

Acho que essa última menção acaba sendo prejudicial ao seu representado. :roll:

Não concordo. Enquanto muitas pessoas tem birra com a literatura russa por considerá-la de difícil compreensão, meu autor e meu livro podem ser compreendidos até por participantes de BBB. :dente:

O amor nos tempos do cólera é um livro tão bom, mas tão bom que é apreciado *Cantona* até *Cantona* mesmo *Cantona* por *Cantona* um *Cantona* advogado *Cantona* dessa *Cantona* disputa. Mas nem digo quem é, sou ética. =]

Mas vamos de vídeos.

Esse é o Eric Nepomuceno, tradutor das obras dele.

Parte do discurso de aceitação do Nobel. Não achei a tradução, desculpem.

Entrevista

Spartaco disse:
Desculpe-me Liv, mas entendo justamente o contrário. Não é porque mais pessoas compreendem a obra, que esta seja melhor do que outra compreendida por poucos.

Veja no campo da música; qual é a melhor, a clássica ou o funk? Aposto que muito mais pessoas apreciam este último tipo do que a chamada música erudita. Porém, mesmo quem não tem tanta afinidade com esta, saberá tranquilamente que a música clássica é melhor, não há como comparar as duas.

Não pense que com isso estou querendo comparar Gabriel García Márquez com o funk, longe disso, afinal trata-se este de um dos grandes nomes da literatura universal, mas apenas quis demonstrar que nem sempre a maioria está com a razão.

O que eu respondi disse:
Concordo, concordo e concordo. MAS com aquela foto eu quis mostrar que não precisam ter "medo" de ler qualquer livro do Gabriel García Márquez por se tratar de um "autor clássico". Troquei de livro pelo mesmo motivo, quero mostrar que romance não é só literatura pra tia-véia-frígida e que o realismo mágico não é complicado de se compreender. Concordamos que autores clássicos carregam um estigma de complicados ou de literatura para nerds e enjoados?

Ver anexo 49937

O Amor nos Tempos de Cólera :grinlove:

• "Rogou a Deus que lhe concedesse ao menos um instante para que ele não partisse sem saber quanto o amara por cima das dúvidas de ambos e sentiu a permanência irresistível de começar a vida com ele outra vez desde o começo para que dissessem tudo o que tinha ficado sem dizer, e fizessem bem qualquer coisa que tinham feito mal no passado. Mas teve que se render à intransigência da morte."
• “... nunca teve pretensões a amar e ser amada,
embora sempre nutrisse a esperança de encontrar algo que fosse como o amor, mas sem os problemas do amor.”
• "À merda o leque que o tempo é de brisa."
• “O desejo de esquecê-lo era o mais forte estímulo para se lembrar dele.”
• “... nunca teve pretensões a amar e ser amada, embora sempre nutrisse a esperança de encontrar algo que fosse como o amor, mas sem os problemas do amor.”
• “As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas.”
• “Conversaram sem se preocupar com a hora, porque ambos estavam acostumados a compartilhar suas insônias...”
• “Já tinha então a impressão de conhecê-lo como se tivesse vivido com ele toda a vida, e acreditava que ele era capaz de mandar o navio voltar ao porto se isso pudesse curar sua dor.”
• “Coisa bem diferente teria sido a vida para ambos se tivessem sabido a tempo que era mais fácil contornar as grandes catástrofes matrimoniais do que as misérias minúsculas de cada dia.”
• “... à medida que aumentavam as ânsias de estar com ela aumentava também o temor de perdê-la, de modo que os encontros foram ficando cada vez mais apressados e difíceis.”
• “... caminhavam juntos, com seus passos contados, se amando sem pressa como noivos velhos...”

Depois posto mais obras ;)

Vou fazer comparações, não sei se fica legal, mas vamos lá.

Já li Camus, Dostoiévski e Lima Barreto, e gostei demais dos três.
Comecei a ler e não gostei de Nabokov (Lolita) e GG Marques (Cem Anos de Solidão) .

Porque eu deveria dar uma nova chance a esses dois?

Bom, agora quem fala é a Liv, não a "adevogada". Eu li metade de Lolita e larguei, não gostei. Sei bem como é isso. LOL

Eu acho que o problema foi ter começado por "Cem anos de solidão" e novamente, digo isso baseada na minha experiência porque precisei de uma tabelinha com o nome dos personagens. Lá no meio da leitura, já não sabia quem era filho de quem. Por isso que eu acredito na progressão das coisas. Te indicaria um livro "menor" como Memórias de minhas putas tristes ou Do amor e outros demônios, onde as histórias não são cheias de personagens e reviravoltas, aí se você gostar, pega os tubarões. (Aliás, se você quiser ler Gabo, eu ficaria feliz em orientar =] )

Eu acho que você deveria dar uma chance ao Gabo, porque eu acredito que todo livro deve ser lido pelo menos uma vez. Li três livros do Paulo Coelho e agora sei que eles não prestam pra mim, não li nenhum do Graciliano Ramos, mas sei que ele é maravilhoso. Me culpo por isso. Qualquer tipo de leitura agrega, seja pra rir da história tosca ou para se emocionar. Todos os livros do Gabo me tocaram de forma positiva e eu acho que eles podem agregar coisas boas pra você também. =]

E o contrário?
O que um leitor de GG Marques (por exemplo) acharia do Camus ou do Dostoiévski ou do Lima?
Não os acharia, sei lá, cruéis demais (pra não dizer deprimentes)?

Eu só posso responder Gabo - Lima.
Eu li o livro "Contos completos" do Lima e adorei. É mais ou menos o que o Cantona falou no post dele, concordo com tudo =]


E pra que vou ler sobre gente feia, suja e malvada e choro e ranger de dentes neste vale de lágrimas (Dostoiévski, Camus, Lima) se posso ficar com GG Marques que (pelo que a devogada Liv falou) é delicado, romântico e tchutchu?

A vida não é rosa. Gabo não é só tchucthu e Cem anos de solidão é um exemplo disso. A metade da galera se ferra. O amor nos tempos do cólera, também. O cara espera uma vida toda por uma mulher e eles estão bem no centro de uma epidemia de cólera, né. Ninguém escreve ao coronel, idem, digamos que o coronel pode ser considerado um "aposentado no Brasil" sem perspectivas para o futuro e sem nenhuma esperança.

As histórias de amor são maravilhosas, mas as personagens sofrem muito pra ter um final digno. Nem de longe podem ser considerados romances água-com-açúcar.

E o GG Marques, não é fofucho demais? Cadê realismo nele?
Um leitor de Camus ou do Lima não ficaria meio :blah: com o colombiano?

Acho que respondi ali, né. Mas se quiserem, posso falar mais =]

- - - Updated - - -

Eu achei dois contos que eu adoro na internet. Vou postar o site de referência e etc e tal, mas se for contra as regras do fórum, podem editar esse post.

O avião da Bela Adormecida

Era ela, elástica, com uma pele suave da cor do pão e olhos de amêndoas verdes, e tinha o cabelo liso e negro e longo até as costas, e uma aura de antiguidade que tanto podia ser da Indonésia como dos Andes. Estava vestida com um gosto sutil: jaqueta de lince, blusa de seda natural com flores muito tênues, calças de linho cru, e uns sapatos rasos da cor das buganvílias. "Esta é a mulher mais bela que vi na vida", pensei, quando a vi passar com seus sigilosos passos de leoa, enquanto eu fazia fila para abordar o avião para Nova York no aeroporto Charles de Gaulle de Paris. Foi uma aparição sobrenatural que existiu um só instante e desapareceu na multidão do saguão.

Eram nove da manhã. Estava nevando desde a noite anterior, e o trânsito era mais denso que de costume nas ruas da cidade, e mais lento ainda na estrada, e havia caminhões de carga alinhados nas margens, e automóveis fumegantes na neve. No saguão do aeroporto, porém, a vida continuava em primavera.

Eu estava na fila atrás de uma anciã holandesa que demorou quase uma hora discutindo o peso de suas onze malas. Começava a me aborrecer quando vi a aparição instantânea que me deixou sem respiração, e por isso não soube como terminou a polêmica, até que a funcionária me baixou das nuvens chamando minha atenção pela distração. À guisa de desculpa, perguntei se ela acreditava nos amores à primeira vista. "Claro que sim", respondeu. "Os impossíveis são os outros" Continuou com os olhos fixos na tela do computador, e me perguntou que assento eu preferia: fumante ou não-fumante.

— Dá na mesma — disse categórico — desde que não seja ao lado das onze malas.

Ela agradeceu com um sorriso comercial sem afastar a vista da tela fosforescente.

— Escolha um número — me disse. — Três, quatro ou sete.

— Quatro.

Seu sorriso teve um fulgor triunfal.

— Nos quinze anos em que estou aqui — disse —, é o primeiro que não escolhe o sete.

Marcou no cartão de embarque o número do assento e me entregou com o resto de meus papéis, olhando-me pela primeira vez com uns olhos cor de uva que me serviram de consolo enquanto via a bela de novo. Só então me avisou que o aeroporto acabava de ser fechado e todos os vôos estavam adiados.

— Até quando?

— Só Deus sabe — disse com seu sorriso. O rádio avisou esta manhã que será a maior nevada do ano.

Enganou-se: foi a maior do século. Mas na sala de espera da primeira classe a primavera era tão real que havia rosas vivas nos vasos e até a música enlatada parecia tão sublime e sedante como queriam seus criadores. De repente pensei que aquele era um refúgio adequado para a bela, e procurei-a nos outros salões, estremecido pela minha própria audácia. Mas na maioria eram homens da vida real que liam jornais em inglês enquanto suas mulheres pensavam em outros, contemplando os aviões mortos na neve através das janelas panorâmicas, contemplando as fábricas glaciais, as vastas plantações de Roissy devastadas pelos leões. Depois do meio-dia não havia um espaço disponível, e o calor tinha-se tornado tão insuportável que escapei para respirar.

Lá fora encontrei um espetáculo assustador. Gente de todo tipo havia transbordado as salas de espera e estava acampada nos corredores sufocantes, e até nas escadas, estendida pelo chão com seus animais e suas crianças, e seus trastes de viagem. Pois também a comunicação com a cidade estava interrompida, e o palácio de plástico transparente parecia uma imensa cápsula espacial encalhada na tormenta. Não pude evitar a idéia de que também a bela deveria estar em algum lugar no meio daquelas hordas mansas, e essa fantasia me deu novos ânimos para esperar.

Na hora do almoço havíamos assumido nossa consciência de náufragos. As filas tornaram-se intermináveis diante dos sete restaurantes, as cafeterias, os bares abarrotados, e em menos de três horas tiveram de fechar tudo porque não havia nada para comer ou beber. As crianças, que por um momento pareciam ser todas as do mundo, puseram-se a chorar ao mesmo tempo, e começou a se erguer da multidão um cheiro de rebanho. Era o tempo dos instintos. A única coisa que consegui comer no meio daquela rapina foram os dois últimos copinhos de sorvete de creme numa lanchonete infantil. Tomei-os pouco a pouco no balcão, enquanto os garçons punham as cadeiras sobre as mesas na medida em que elas se desocupavam, olhando-me no espelho do fundo, com o último copinho de papelão e a última colherzinha de papelão, e com o pensamento na bela.

O vôo para Nova York, previsto para as onze da manhã, saiu às oito da noite. Quando finalmente consegui embarcar, os passageiros da primeira classe já estavam em seus lugares, e uma aeromoça me conduziu ao meu. Perdi a respiração. Na poltrona vizinha, junto da janela, a bela estava tomando posse de seu espaço com o domínio dos viajantes experientes. "Se alguma vez eu escrever isto, ninguém vai acreditar", pensei. E tentei de leve em minha meia língua um cumprimento indeciso que ela não percebeu.

Instalou-se como se fosse morar ali muitos anos, pondo cada coisa em seu lugar e em sua ordem, até que o local ficou tão bem-arrumado como a casa ideal, onde tudo estava ao alcance da mão. Enquanto fazia isso, o comissário trouxe-nos o champanha de boas-vindas. Peguei uma taça para oferecer a ela, mas me arrependi a tempo. Pois quis apenas um copo d'água, e pediu ao comissário, primeiro num francês inacessível e depois num inglês um pouco mais fácil, que não a despertasse por nenhum motivo durante o vôo. Sua voz grave e morna arrastava uma tristeza oriental.

Quando levaram a água, ela abriu sobre os joelhos uma caixinha de toucador com esquinas de cobre, como os baús das avós, e tirou duas pastilhas douradas de um estojinho onde levava outras de cores diversas. Fazia tudo de um modo metódico e parcimonioso, como se não houvesse nada que não estivesse previsto para ela desde seu nascimento. Por último baixou a cortina da janela, estendeu a poltrona ao máximo, cobriu-se com a manta até a cintura sem tirar os sapatos, pôs a máscara de dormir, deitou-se de lado na poltrona, de costas para mim, e dormiu sem uma única pausa, sem um suspiro, sem uma mudança mínima de posição, durante as oito horas eternas e os doze minutos de sobra que o vôo de Nova York durou.

Foi uma viagem intensa. Sempre acreditei que não há nada mais belo na natureza que uma mulher bela, de maneira que foi impossível para mim escapar um só instante do feitiço daquela criatura de fábula que dormia ao meu lado. O comissário havia desaparecido assim que decolamos, e foi substituído por uma aeromoça cartesiana que tentou despertar a bela para dar-lhe o estojo de maquiagem e os auriculares para a música. Repeti a advertência que a bela havia feito ao comissário, mas a aeromoça insistiu para ouvir de sua própria voz que tampouco queria jantar. Foi preciso que o comissário confirmasse, e ainda assim a aeromoça me repreendeu porque a bela não havia colocado no pescoço o cartãozinho com a ordem de não ser despertada.

Fiz um jantar solitário, dizendo-me em silêncio tudo que teria dito a ela, se estivesse acordada. Seu sono era tão estável que em certo momento tive a inquietude que aquelas pastilhas não fossem para dormir e sim para morrer. Antes de cada gole, levantava a taça e brindava.

— À tua saúde, bela.

Terminado o jantar, apagaram as luzes, mostraram um filme para ninguém, e nós dois ficamos sozinhos na penumbra do mundo. A maior tormenta do século havia passado, e a noite do Atlântico era imensa e límpida, e o avião parecia imóvel entre as estrelas. Então contemplei-a palmo a palmo durante várias horas, e o único sinal de vida que pude perceber foram as sombras dos sonhos que passavam por sua fronte como as nuvens na água. Tinha no pescoço uma corrente tão fina que era quase invisível sobre sua pele de ouro, as orelhas perfeitas sem os furinhos para brincos, as unhas rosadas da boa saúde e um anel liso na mão esquerda. Como não parecia ter mais de vinte anos, me consolei com a idéia de que não fosse a aliança de um casamento e sim de um namoro efêmero. "Saber que você dorme, certa, segura, leito fiel de abandono, linha pura, tão perto de meus braços atados", pensei, repetindo na crista de espuma de champanha o so neto magistral de Gerardo Diego.

Em seguida estendi a poltrona na altura da sua, e ficamos deitados mais próximos que numa cama de casal. O clima de sua respiração era o mesmo da voz, e sua pele exalava um hálito tênue que só podia ser o próprio cheiro de sua beleza. Eu achava incrível: na primavera anterior havia lido um bonito romance de Yasumari Kawabata sobre os anciões burgueses de Kyoto que pagavam somas enormes para passar a noite contemplando as moças mais bonitas da cidade, nuas e narcotizadas, enquanto eles agonizavam de amor na mesma cama. Não podiam despertá-las, nem tocá-las, e nem tentavam, porque a essência do prazer era vê-las dormir. Naquela noite, velando o sono da bela, não apenas entendi aquele refinamento senil, como o vivi na plenitude.

— Quem iria acreditar — me disse, com o amor-próprio exacerbado pelo champanha. — Eu, ancião japonês a estas alturas.

Acho que dormi várias horas, vencido pelo champanha e os clarões mudos do filme, e despertei com a cabeça aos cacos. Fui ao banheiro. Dois lugares atrás do meu, jazia a anciã das onze maletas esparramada mal-acomodada na poltrona. Parecia um morto esquecido no campo de batalha. No chão, no meio do corredor, estavam seus óculos de leitura com o colar de contas coloridas, e por um instante desfrutei da felicidade mesquinha de não os recolher.

Depois de desafogar-me dos excessos de champanha me surpreendi no espelho, indigno e feio, e me assombrei por serem tão terríveis os estragos do amor. De repente o avião foi a pique, ajeitou-se como pôde, e prosseguiu voando a galope. A ordem de voltar ao assento acendeu. Saí em disparada, com a ilusão de que somente as turbulências de Deus despertariam a bela, e que teria de se refugiar em meus braços fugindo do terror. Na pressa estive a ponto de pisar nos óculos da holandesa, e teria me alegrado. Mas voltei sobre meus passos, os recolhi, os coloquei em seu regaço, agradecido de repente por ela não ter escolhido antes de mim o assento número quatro.

O sono da bela era invencível. Quando o avião se estabilizou, tive que resistir à tentação de sacudi-la com um pretexto qualquer, porque a única coisa que desejava naquela última hora de vôo era vê-la acordada, mesmo que estivesse enfurecida, para que eu pudesse recobrar minha liberdade e talvez minha juventude. Mas não fui capaz. "Que merda", disse a mim mesmo, com um grande desprezo. "Por que não nasci Touro?" Despertou sem ajuda no instante em que os anúncios de aterrissagem se acenderam, e estava tão bela e louçã como se tivesse dormido num roseiral. Só então percebi que os vizinhos de assento nos aviões, como os casais velhos, não se dizem bom-dia ao despertar. Ela também não.

Tirou a máscara, abriu os olhos radiantes, endireitou a poltrona, pôs a manta de lado, sacudiu as melenas que se penteavam sozinhas com seu próprio peso, tornou a pôr a caixinha nos joelhos, e fez uma maquiagem rápida e supérflua, o suficiente para não olhar para mim até que a porta foi aberta. Então pôs a jaqueta de lince, passou quase que por cima de mim com uma desculpa convencional em puro castelhano das Américas, e foi sem nem ao menos se despedir, sem ao menos me agradecer o muito que fiz por nossa noite feliz, e desapareceu até o sol de hoje na amazônia de Nova York.

Junho de 1982.

O texto acima foi extraído do livro "Doze Contos Peregrinos", Editora Record — Rio de Janeiro, 1999, pág. 79.

Me alugo para sonhar

Às nove, enquanto tomávamos o café da manhã no terraço do Habana Riviera, um tremendo golpe de mar em pleno sol levantou vários automóveis que passavam pela avenida à beira-mar, ou que estavam estacionados na calçada, e um deles ficou incrustado num flanco do hotel. Foi como uma explosão de dinamite que semeou pânico nos vinte andares do edifício e fez virar pó a vidraça do vestíbulo. Os numerosos turistas que se encontravam na sala de espera foram lançados pelos ares junto com os móveis, e alguns ficaram feridos pelo granizo de vidro. Deve ter sido uma vassourada colossal do mar, pois entre a muralha da avenida à beira-mar e o hotel há uma ampla avenida de ida e volta, de maneira que a onda saltou por cima dela e ainda teve força suficiente para esmigalhar a vidraça.

Os alegres voluntários cubanos, com a ajuda dos bombeiros, recolheram os destroços em menos de seis horas, trancaram a porta que dava para o mar e habilitaram outra, e tudo tornou a ficar em ordem. Pela manhã, ninguém ainda havia cuidado do automóvel pregado no muro, pois pensava-se que era um dos estacionados na calçada. Mas quando o reboque tirou-o da parede descobriram o cadáver de uma mulher preso no assento do motorista pelo cinto de segurança. O golpe foi tão brutal que não sobrou nenhum osso inteiro. Tinha o rosto desfigurado, os sapatos descosturados e a roupa em farrapos, e um anel de ouro em forma de serpente com olhos de esmeraldas. A polícia afirmou que era a governanta dos novos embaixadores de Portugal. Assim era: tinha chegado com eles a Havana quinze dias antes, e havia saído naquela manhã para fazer compras dirigindo um automóvel novo. Seu nome não me disse nada quando li a notícia nos jornais, mas fiquei intrigado por causa do anel em forma de serpente e com olhos de esmeraldas. Não consegui saber, porém, em que dedo o usava.

Era um detalhe decisivo, porque temi que fosse uma mulher inesquecível cujo verdadeiro nome não soube jamais, que usava um anel igual no indicador direito, o que era mais insólito ainda naquele tempo. Eu a havia conhecido 34 anos antes em Viena, comendo salsichas com batatas cozidas e bebendo cerveja de barril numa taberna de estudantes latinos. Eu havia chegado de Roma naquela manhã, e ainda recordo minha impressão imediata por seu imenso peito de soprano, suas lânguidas caudas de raposa na gola do casaco e aquele anel egípcio em forma de serpente. Achei que era a única austríaca ao longo daquela mesona de madeira, pelo castelhano primário que falava sem respirar com sotaque de bazar de quinquilharia. Mas não, havia nascido na Colômbia e tinha ido para a Áustria entre as duas guerras, quase menina, estudar música e canto. Naquele momento andava pelos trinta anos mal vividos, pois nunca deve ter sido bela e havia começado a envelhecer antes do tempo. Em compensação, era um ser humano encantador. E também um dos mais temíveis.

Viena ainda era uma antiga cidade imperial, cuja posição geográfica entre os dois mundos irreconciliáveis deixados pela Segunda Guerra Mundial havia terminado de convertê-la num paraíso do mercado negro e da espionagem mundial. Eu não teria conseguido imaginar um ambiente mais adequado para aquela compatriota fugitiva que continuava comendo na taberna de estudantes da esquina por pura fidelidade às suas origens, pois tinha recursos de sobra para comprá-la à vista, com clientela e tudo. Nunca disse o seu verdadeiro nome, pois sempre a conhecemos com o trava-língua germânico que os estudantes latinos de Viena inventaram para ela: Frau Frida. Eu tinha acabado de ser apresentado a ela quando cometi a impertinência feliz de perguntar como havia feito para implantar-se de tal modo naquele mundo tão distante e diferente de seus penhascos de ventos do Quindío, e ela me respondeu de chofre:

— Eu me alugo para sonhar.

Na realidade, era seu único ofício. Havia sido a terceira dos onze filhos de um próspero comerciante da antiga Caldas, e desde que aprendeu a falar instalou na casa o bom costume de contar os sonhos em jejum, que é a hora em que se conservam mais puras suas virtudes premonitórias. Aos sete anos sonhou que um de seus irmãos era arrastado por uma correnteza. A mãe, por pura superstição religiosa, proibiu o menino de fazer aquilo que ele mais gostava, tomar banho no riacho. Mas Frau Frida já tinha um sistema próprio de vaticínios.

— O que esse sonho significa — disse — não é que ele vai se afogar, mas que não deve comer doces.

A interpretação parecia uma infâmia, quando era relacionada a um menino de cinco anos que não podia viver sem suas guloseimas dominicais. A mãe, já convencida das virtudes adivinhatórias da filha, fez a advertência ser respeitada com mão de ferro. Mas ao seu primeiro descuido o menino engasgou com uma bolinha de caramelo que comia escondido, e não foi possível salvá-lo.

Frau Frida não havia pensado que aquela faculdade pudesse ser um ofício, até que a vida agarrou-a pelo pescoço nos cruéis invernos de Viena. Então, bateu para pedir emprego na primeira casa onde achou que viveria com prazer, e quando lhe perguntaram o que sabia fazer, ela disse apenas a verdade: "Sonho". Só precisou de uma breve explicação à dona da casa para ser aceita, com um salário que dava para as despesas miúdas, mas com um bom quarto e três refeições por dia. Principalmente o café da manhã, que era o momento em que a família sentava-se para conhecer o destino imediato de cada um de seus membros: o pai, que era um financista refinado; a mãe, uma mulher alegre e apaixonada por música romântica de câmara9 e duas crianças de onze e nove anos. Todos eram religiosos, e portanto propensos às superstições arcaicas, e receberam maravilhados Frau Frida com o compromisso único de decifrar o destino diário da família através dos sonhos.

Fez isso bem e por muito tempo, principalmente nos anos da guerra, quando a realidade foi mais sinistra que os pesadelos. Só ela podia decidir na hora do café da manhã o que cada um deveria fazer naquele dia, e como deveria fazê-lo, até que seus prognósticos acabaram sendo a única autoridade na casa. Seu domínio sobre a família foi absoluto: até mesmo o suspiro mais tênue dependia da sua ordem. Naqueles dias em que estive em Viena o dono da casa havia acabado de morrer, e tivera a elegância de legar a ela uma parte de suas rendas, com a única condição de que continuasse sonhando para a família até o fim de seus sonhos.

Fiquei em Viena mais de um mês, compartilhando os apertos dos estudantes, enquanto esperava um dinheiro que não chegou nunca. As visitas imprevistas e generosas de Frau Frida na taberna eram então como festas em nosso regime de penúrias. Numa daquelas noites, na euforia da cerveja, sussurrou ao meu ouvido com uma convicção que não permitia nenhuma perda de tempo.

— Vim só para te dizer que ontem à noite sonhei com você — disse ela. — Você tem que ir embora já e não voltar a Viena nos próximos cinco anos.

Sua convicção era tão real que naquela mesma noite ela me embarcou no último trem para Roma. Eu fiquei tão sugestionado que desde então me considerei sobrevivente de um desastre que nunca conheci. Ainda não voltei a Viena.

Antes do desastre de Havana havia visto Frau Frida em Barcelona, de maneira tão inesperada e casual que me pareceu misteriosa. Foi no dia em que Pablo Neruda pisou terra espanhola pela primeira vez desde a Guerra Civil, na escala de uma lenta viagem pelo mar até Valparaíso. Passou conosco uma manhã de caça nas livrarias de livros usados, e na Porter comprou um livro antigo, desencadernado e murcho, pelo qual pagou o que seria seu salário de dois meses no consulado de Rangum. Movia-se através das pessoas como um elefante inválido, com um interesse infantil pelo mecanismo interno de cada coisa, pois o mundo parecia, para ele, um imenso brinquedo de corda com o qual se inventava a vida.

Não conheci ninguém mais parecido à idéia que a gente tem de um papa renascentista: glutão e refinado. Mesmo contra a sua vontade, sempre presidia a mesa. Matilde, sua esposa, punha nele um babador que mais parecia de barbearia que de restaurante, mas era a única maneira de impedir que se banhasse nos molhos. Aquele dia, no Carvalleiras foi exemplar. Comeu três lagostas inteiras, esquartejando-as com mestria de cirurgião, e ao mesmo tempo devorava com os olhos os pratos de todos, e ia provando um pouco de cada um, com um deleite que contagiava o desejo de comer: as amêijoas da Galícia, os perceves do Cantábrico, os lagostins de Alicante, as espardenyas da Costa Brava. Enquanto isso, como os franceses, só falava de outras delícias da cozinha, e em especial dos mariscos pré-históricos do Chile que levava no coração. De repente parou de comer, afinou suas antenas de siri, e me disse em voz muito baixa:

— Tem alguém atrás de mim que não pára de me olhar.

Espiei por cima de seu ombro, e era verdade. Às suas costas, três mesas atrás, uma mulher impávida com um antiquado chapéu de feltro e um cachecol roxo, mastigava devagar com os olhos fixos nele. Eu a reconheci no ato. Estava envelhecida e gorda, mas era ela, com o anel de serpente no dedo indicador.

Viajava de Nápoles no mesmo barco que o casal Neruda, mas não tinham se visto a bordo. Convidamos para mulher a tomar café em nossa mesa, e a induzi a falar de seus sonhos para surpreender o poeta. Ele não deu confiança, pois insistiu desde o princípio que não acreditava em adivinhações de sonhos.

— Só a poesia é clarividente — disse.

Depois do almoço, no inevitável passeio pelas Ramblas, fiquei para trás de propósito, com Frau Frida, para poder refrescar nossas lembranças sem ouvidos alheios. Ela me contou que havia vendido suas propriedades na Áustria, e vivia aposentada no Porto, Portugal, numa casa que descreveu como sendo um castelo falso sobre uma colina de onde se via todo o oceano até as Américas. Mesmo sem que ela tenha dito, em sua conversa ficava claro que de sonho em sonho havia terminado por se apoderar da fortuna de seus inefáveis patrões de Viena. Não me impressionou, porém, pois sempre havia pensado que seus sonhos não eram nada além de uma artimanha para viver. E disse isso a ela.

Frau Frida soltou uma gargalhada irresistível. "Você continua o atrevido de sempre", disse. E não falou mais, porque o resto do grupo havia parado para esperar que Neruda acabasse de conversar em gíria chilena com os papagaios da Rambla dos Pássaros. Quando retomamos a conversa, Frau Frida havia mudado de assunto.

— Aliás — disse ela —, você já pode voltar para Viena.

Só então percebi que treze anos haviam transcorrido desde que nos conhecemos.

— Mesmo que seus sonhos sejam falsos, jamais voltarei — disse a ela. — Por via das dúvidas.

Às três, nos separamos dela para acompanhar Neruda à sua sesta sagrada. Foi feita em nossa casa, depois de uns preparativos solenes que de certa forma recordavam a cerimônia do chá no Japão. Era preciso abrir umas janelas e fechar outras para que houvesse o grau de calor exato e uma certa classe de luz em certa direção, e um silêncio absoluto. Neruda dormiu no ato, e despertou dez minutos depois, como as crianças, quando menos esperávamos. Apareceu na sala restaurado e com o monograma do travesseiro impresso na face.

— Sonhei com essa mulher que sonha — disse.

Matilde quis que ele contasse o sonho.

— Sonhei que ela estava sonhando comigo disse ele.

— Isso é coisa de Borges — comentei.

Ele me olhou desencantado.

— Está escrito?

— Se não estiver, ele vai escrever algum dia — respondi. — Será um de seus labirintos.

Assim que subiu a bordo, às seis da tarde, Neruda despediu-se de nós, sentou-se em uma mesa afastada, e começou a escrever versos fluidos com a caneta de tinta verde com que desenhava flores e peixes e pássaros nas dedicatórias de seus livros. À primeira advertência do navio buscamos Frau Frida, e enfim a encontramos no convés de turistas quando já íamos embora sem nos despedir. Também ela acabava de despertar da sesta.

— Sonhei com o poeta — nos disse.

Assombrado, pedi que me contasse o sonho.

— Sonhei que ele estava sonhando comigo disse, e minha cara de assombro a espantou.

— O que você quer? Às vezes, entre tantos sonhos, infiltra-se algum que não tem nada a ver com a vida real.

Não tornei a vê-la nem a me perguntar por ela até que soube do anel em forma de cobra da mulher que morreu no naufrágio do Hotel Riviera. Portanto não resisti à tentação de fazer algumas perguntas ao embaixador português quando coincidimos, meses depois, em uma recepção diplomática. O embaixador me falou dela com um grande entusiasmo e uma enorme admiração. "O senhor não imagina como ela era extraordinária", me disse. "O senhor não resistiria à tentação de escrever um conto sobre ela". E prosseguiu no mesmo tom, com detalhes surpreendentes, mas sem uma pista que me permitisse uma conclusão final.

— Em termos concretos — perguntei no fim —, o que ela fazia?

— Nada — respondeu ele, com certo desencanto. — Sonhava.

Março de 1980

O texto acima foi extraído do livro "Doze Contos Peregrinos", Editora Record — Rio de Janeiro, 1999, pág. 89.


Os contos estão publicados aqui

Quem quer ter uma experiência com o Gabo, mas ainda não se convenceu, recomendo os contos. São interessantes, curtinhos... Bom, leiam e perguntem =]
 
Última edição por um moderador:
Na real eu vou precisar de uma ajudinha: tem mais alguma coisa a se postar a respeito do Gabo que vocês queiram saber?
 
Na real eu vou precisar de uma ajudinha: tem mais alguma coisa a se postar a respeito do Gabo que vocês queiram saber?

Também o meu repertório praticamente se esgotou. Se algum amigo forista quiser saber algo mais sobre Dostoiévski é só falar; caso contrário reporto-me ao que já foi dito nas etapas anteriores.
 
Foda, né. Não pensei que ia passar da segunda fase hahahahahahahah Acho que se a conexão permitir, volto com comentários de outro livro.
 
Que tal falarem um pouco sobre influências?

Por quem foram influenciados e quem influenciaram posteriormente?

Acho que já mencionei algo a respeito da influência de Dostoievski; com certeza esta não pode ser superestimada: de Herman Hesse a Marcel Proust, de William Faulkner a Alberto Camus, de Franz Kafka a Gabriel García Márquez; virtualmente qualquer grande escritor do século XX não escapou a sua influência.

Sabemos que ele influenciou decisivamente importantes nomes como Nietzsche, Sartre, Freud, Orwell, Huxley, dentre tantos outros, especialmente no tocante ao existencialismo e expressionismo.

Nietzsche referiu-se a Dostoiévski como o único psicólogo com que tenho algo a aprender: ele pertence às inesperadas felicidades da minha vida, até mesmo a descoberta Stendhal. Certa vez disse, referindo a Memórias do Subsolo: chorei verdade a partir do sangue. Nietzsche refere-se constantemente a Dostoiévski em suas notas e rascunhos no internato entre 1886 e 1887, além de escrever diversos resumos das obras de Dostoiévski.
 
Dostoiévski tem alguma obra que poderia ser encaixada no realismo fantástico? (Ou, no mínimo, uma obra que se pareça com ele?)
E o Garcia Marquez? Ele tem obras que não são de realismo fantástico? (idem no parêntesis de cima)

E aproveitando essa parte do post da Liv:

E pra que vou ler sobre gente feia, suja e malvada e choro e ranger de dentes neste vale de lágrimas (Dostoiévski, Camus, Lima) se posso ficar com GG Marques que (pelo que a devogada Liv falou) é delicado, romântico e tchutchu?
A vida não é rosa. Gabo não é só tchucthu e Cem anos de solidão é um exemplo disso. A metade da galera se ferra. O amor nos tempos do cólera, também. O cara espera uma vida toda por uma mulher e eles estão bem no centro de uma epidemia de cólera, né. Ninguém escreve ao coronel, idem, digamos que o coronel pode ser considerado um "aposentado no Brasil" sem perspectivas para o futuro e sem nenhuma esperança.

Vou fazer a pergunta agora pro Spartaco: existem textos do Dostoiévski que não são tão, digamos, pesados, agourentos, pessimistas? (acho que deu pra entender, né? Falo se ele tem "textos cor-de-rosa" e não "textos escuros".)

O Spartaco falou uma coisa bem legal também num post passado:

É a posição do autor diante do seu objeto. Posição esta que deposita inteira confiança na capacidade de uma personagem de exprimir a sua própria verdade, pois rejeita qualquer possibilidade dela exprimir a verdade do outro, vale dizer, das outras personagens da trama.

Assim, pelo que eu entendi, é como se Dostoiévski deixasse com que as personagens andassem com suas próprias pernas, visto que ele as trata como se fossem crescidinhas.

Mas e com o Gabô: existe também isso? Me corrija se eu estiver errado, mas me parece que o realismo fantástico é justamente um movimento contrário em relação a isso: a personagem aos poucos vai perdendo sua forma de exprimir a verdade ante o absurdo da vida ou que aquele momento da vida expõe.

É isso mesmo ou outros livros do Gabô exploram uma perspectiva parecida com a do Dostô?
 
Bom, Mavericco, sei que a pergunta foi pra Liv e que tenho lá minhas limitações, até por ter começado no Márquez agora, mas gosto da História da América Latina e vejo na obra do Gabo inúmeras passagens calcadas em episódios históricos, numa interpretação não mais do colonizador, mas do colonizado.

Eu, longe de teórico literário, entendo o Realismo Fantástico, vá lá, numa concepção histórica, como resposta latino americana ao racionalismo europeu. Vejo como uma espécie de independência, ou antes, uma tentativa de independência cultural, rompendo com o eurocentrismo. Marquéz, Llosa e Alejo Carpentier, para citar os que tive contato, colocam em suas letras as superstições, as lendas, os sons e as crenças indo-africanas (e mesmo europeias, trazidas pelo colonizador e somadas ao caldeirão cultural da América Espanhola) como práticas cotidianas, não exóticas e menores como foram e continuam sendo tratadas. Longe de negar a tecnologia racionalista do Velho Continente, o Realismo Fantástico busca essa co-existência, trazendo os nossos elementos como fundamentais na construção sócio-cultural, e mesmo político-econômica. É literatura latino americana por latino americanos, numa proposta de nos medirmos por nossa própria régua. Então, penso que os personagens não perdem sua forma de exprimir a verdade ante ao absurdo que a vida impõe. Eles fazem a passagem por esse absurdo e se afirmam por ele.

Enfim, quis dar meu pitaco.

- - - Updated - - -

Acho que já mencionei algo a respeito da influência de Dostoievski; com certeza esta não pode ser superestimada: de Herman Hesse a Marcel Proust, de William Faulkner a Alberto Camus, de Franz Kafka a Gabriel García Márquez; virtualmente qualquer grande escritor do século XX não escapou a sua influência.

Sabemos que ele influenciou decisivamente importantes nomes como Nietzsche, Sartre, Freud, Orwell, Huxley, dentre tantos outros, especialmente no tocante ao existencialismo e expressionismo.

Nietzsche referiu-se a Dostoiévski como o único psicólogo com que tenho algo a aprender: ele pertence às inesperadas felicidades da minha vida, até mesmo a descoberta Stendhal. Certa vez disse, referindo a Memórias do Subsolo: chorei verdade a partir do sangue. Nietzsche refere-se constantemente a Dostoiévski em suas notas e rascunhos no internato entre 1886 e 1887, além de escrever diversos resumos das obras de Dostoiévski.

Ô, Spartaco, tu esqueceu do Lima Barreto?

Só de birra, vou votar no Márquez.
 
Última edição:
Que tal falarem um pouco sobre influências?

Por quem foram influenciados e quem influenciaram posteriormente?

Olha, de cabeça eu só lembro da Isabel Allende (tem até tópico dela no "Autores da Semana"). Volto depois com mais influências, pode ser?

E o Garcia Marquez? Ele tem obras que não são de realismo fantástico? (idem no parêntesis de cima)

Perguntinha complicada. Já li quase todos os livros dele e posso dizer que o realismo mágico está inserido no cotidiano das personagens, arrisco dizer que é como uma parte da personalidade deles, compreende? Como um "jeito" de viver a vida ou sobreviver a ela. A coisa toda está ali arraigada e as personagens vão resistindo as loucuras que a vida apresenta. Por isso acho tão legal tudo o que ele escreve! A vida é um absurdo sem fim e a gente meio que sobrevive a essa maluquice toda, né.

Acho que o livro que menos tem "realismo mágico" dele é: Notícia de um sequestro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Notícia_de_um_Seqüestro


Assim, pelo que eu entendi, é como se Dostoiévski deixasse com que as personagens andassem com suas próprias pernas, visto que ele as trata como se fossem crescidinhas.

Mas e com o Gabô: existe também isso? Me corrija se eu estiver errado, mas me parece que o realismo fantástico é justamente um movimento contrário em relação a isso: a personagem aos poucos vai perdendo sua forma de exprimir a verdade ante o absurdo da vida ou que aquele momento da vida expõe.

É isso mesmo ou outros livros do Gabô exploram uma perspectiva parecida com a do Dostô?

Bom, eu nunca li nada de Dostoiévski, mas concordo contigo em gênero, número e degrau. :dente:
 
Última edição por um moderador:
Dostoiévski tem alguma obra que poderia ser encaixada no realismo fantástico? (Ou, no mínimo, uma obra que se pareça com ele?)

Sobre essa primeira indagação do Mavericco, posso salientar que segundo Joseph Frank, o autor da principal biografia de Fiódor Dostoiévski, menciona em seu livro Pelo prisma russo (p. 167-184), que o autor russo inaugurou uma nova forma de literatura confessional irônica, que ele próprio denominou de realismo fantástico:

Tenho minha concepção pessoal de arte, que é a seguinte: o que a maioria das pessoas considera fantástico e desprovido de universalidade é o que eu considero a mais profunda essência da verdade. Há muito tempo deixei de considerar realista aquela observação árida das trivialidades cotidianas – ela é justamente o contrário. Em qualquer jornal que se tome, encontram-se relatos de fatos perfeitamente autênticos e que, no entanto, parecem extraordinários.

Ainda de acordo com Frank, já em seu primeiro romance Gente Pobre temos uma introspecção sutil e estarrecedora da interioridade humana, por isso Diévuchkin (personagem dessa obra) demonstra uma capacidade de questionamento e de indignação perante a padronização do próprio indivíduo e reivindica a sua singularidade recusando ser comparado com Akaki, personagem d’O Capote de Gogol, e dotado de consciência de sua situação e de posse de uma linguagem própria, expressa suas idéias reagindo às ofensas dirigidas a ele. O perceptível é o enfoque da singularidade e autonomia que Dostoiévski confere as suas personagens constituindo, assim, sua originalidade diante dos seus contemporâneos ou, até mesmo, de seus antecessores. Por isso é que ele afirma, em uma de suas correspondências dirigida a seu irmão, que:

Eles (o publico e a crítica) estão habituados a ver em tudo a cara do autor; a minha eu não mostrei. Nem conseguem atinar que quem está falando é Diévuchkin e não eu, e que Diévuchkin não pode falar de outra maneira. Acham o romance prolixo, mas não há palavra supérflua.

Ou seja, não entenderam a dinâmica e o realismo fantástico impregnado em suas obras que anunciava o novo que consistia numa mescla do absurdo e do trágico, do extraterreno e do transcendente como força que controla a vida humana.
 
Spartaco, por que "Os Irmãos Karamazov" é tão incrível? Você poderia nos dizer como a obra influenciou Freud exatamente?
 
Spartaco, por que "Os Irmãos Karamazov" é tão incrível? Você poderia nos dizer como a obra influenciou Freud exatamente?

Para responder a essa indagação peço vênia para transcrever um trecho do ensaio de autoria de Bruno Wagner de Souza Santana:

Freud se utiliza de três grandes obras literárias para exemplificar o que vinha querendo dizer com seus conceitos: Édipo Rei de Sófocles, Hamlet de Shakespeare, e Os Irmãos Karamázov de Dostoiévski.

Cabe lembrarmos aqui que, em 1927, Freud juntou à tragédia antiga e ao drama shakespeariano uma terceira vertente: Os Irmãos Karamázov. Este romance de Fiódor Dostoiévski é considerado o mais freudiano dos três, pois em vez de mostrar um inconsciente disfarçado de destino (como Édipo Rei) ou uma inibição culpada, ele põe em cena, sem máscara alguma, a própria pulsão assassina, isto é, o caráter universal do desejo parricida: cada um dos três irmãos, com efeito, é habitado pelo desejo de matar realmente o pai.


Otto Maria Carpeaux, na introdução que faz à obra em questão, nos diz:

Em Dostoiévski, a frequência de cenas de masoquismo tem uma razão pessoal: o grande escritor nunca dissimulou os seus próprios maus instintos, antes exibindo-os cruelmente nas suas obras, a menos que a censura do subconsciente o impedisse. Este último caso se deu nos Irmãos Karamázov. Mikhail Andreievitch Dostoiévski, o pai do escritor, foi assassinado pelos próprios servos, fato que lembra imediatamente o assassinato do velho Karamazov pelo bastardo Smerdiakov; e o romance presta-se muito bem para explicações psicanalíticas. Desde Sófocles, o “complexo de Édipo” não encontrou maior realização artística do que no romance em que três filhos do terrível pai são suspeitos do parricídio, do qual é o verdadeiro culpado o quarto filho. Não há dúvida de que o conflito subconsciente está na raiz da obra. Mas a solução do conflito leva o autor para outras regiões, por assim dizer, para regiões da superestrutura da alma.

Como já disse em uma das fases anteriores, a grande obra-prima de Dostoiévski é, sem dúvida nenhuma, Os Irmãos Karamazov. Trata-se de um romance único, que alcança as profundezas e os mistérios da alma humana. Ali encontramos assassinato, guerra, miséria, suicídio, loucura, religião e ateísmo. Apesar de todos esses elementos já aparecerem, em algum momento em outros livros, como Humilhados e Ofendidos, O idiota e Os Demônios, é naquele que tais temas são abordados de maneira pormenorizada e que o transformou na maior obra da história, segundo Sigmund Freud.
 
Ô, Spartaco, tu esqueceu do Lima Barreto?

Só de birra, vou votar no Márquez.

E não é que o Cantona votou mesmo no GG Marques?

:lol:

- - - Updated - - -

Só sete votos até agora? :ahn?:

Vamos lá, gente.
A enquete acaba amanhã hoje à noite!



gif_morpheus.gif


Morpheus está gentilmente te convidando a votar.
(Caso contrário vai até aí te encher de porrada.)
 
Vou fazer a pergunta agora pro Spartaco: existem textos do Dostoiévski que não são tão, digamos, pesados, agourentos, pessimistas? (acho que deu pra entender, né? Falo se ele tem "textos cor-de-rosa" e não "textos escuros".)

A respeito da questão levantada pelo Mavericco, podemos dizer que O Eterno Marido (1870), embora tenha a sua dose dramática, é um dos livros mais cômicos e engraçados de Dostoiévski. Além disso, trata-se de um livro curto e leve.

eterno_marido_o.jpg


Ele foi alvo de comentários e análises no extinto Clube de Leitura do fórum Meia Palavra, mas para quem não leu, o tema central da obra é a infidelidade.

É interessante observar que em determinado ponto do livro, o protagonista afirma que algumas mulheres parecem ter nascido para serem infiéis, mas que, para esse tipo de mulher, existe um tipo de homem correspondente: o eterno marido. A trama está cheia de surpresas e o suspense é conduzido de modo magistral até o respectivo final.

Com O Eterno Marido, Dostoiévski é exaltado por especialistas justamente por ter adiantado nessa obra muitas das questões que seriam desenvolvidas pela psicanálise nos anos seguintes.
 
Última edição:

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo