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"As Visitas que Hoje Estamos" (Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira)

Ana Lovejoy

Administrador
Entoncis, parece ser o nome do momento, heim.

Morador do interior de Minas surpreende com romance de estreia ambicioso

Vem de Arceburgo, cidade mineira de quase dez mil habitantes e nenhuma livraria, uma das grandes surpresas da literatura brasileira nos últimos anos.

Na biblioteca de uma casa no centro da cidade, perto de uma igreja e de uma praça, Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira dedicou-se nos últimos dez anos, quase sempre pelas manhãs, após uma reforçada xícara de café, a escrever o seu primeiro romance.

"As Visitas que Hoje Estamos" foi publicado pela editora Iluminuras, no final do ano passado, com pouco alarde.

Do ponto de vista comercial, o livro não inspirava um cenário dos mais animadores: o título é estranho, o autor é desconhecido, tem quase 500 páginas, dezenas de narradores e mistura vários gêneros -romance, poesia, teatro, aforismo e conto.

Mas, desde que o professor de teoria literária da PUC Luiz Costa Lima publicou uma resenha elogiosa sobre o livro no jornal "Valor Econômico", em janeiro, o trabalho de Ferreira atraiu a atenção e recebeu palavras de louvor de críticos e artistas.

O texto de Costa Lima tinha o título "Uma grande surpresa". Trocando em miúdos, defende que o livro traz uma linguagem rural inédita na literatura brasileira, diferente tanto da tendência naturalista quanto dos experimentalismos de Guimarães Rosa.

"Fiquei muito impressionado", disse o professor à Folha. "E também curioso. Ele mora no interior, numa cidade da qual nunca ouvi falar. Qual é mesmo o nome?"

Arceburgo fica a quase 290 km de São Paulo. Parece a típica imagem de uma cidade mineira: tranquila, com ruas de paralelepípedo, igreja vistosa, festas religiosas e repleta de "causos".
Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira, 47, nasceu na vizinha Mococa (SP), mas desde a adolescência frequentava Arceburgo. Há quase 30 anos, na festa de São João, conheceu Ana Lúcia, sua futura mulher.

De Mococa, ele saltou para São Paulo quando passou no curso de letras da USP. Tudo levava a crer que teria uma carreira no mundo acadêmico, mas decidiu abandonar o mestrado e São Paulo.

"O ambiente acadêmico e a própria cidade estavam desagradáveis. Eu gosto de sossego", conta ele, em sua biblioteca de 7.000 livros.

MACHADO E GUIMARÃES

Em 1994 casou-se com Ana, mudou-se para Arceburgo e virou comerciante. O ganha-pão do casal vem da papelaria Lojinha 7 e da loja de roupas Yog. A casa em que moram fica exatamente no meio das duas lojas.

"Vim para não fazer nada, mas nem isso mais é possível hoje em dia", diz ele. Nos dois primeiros anos ele bem tentou, mas a vontade de escrever foi surgindo, aos poucos.

De fato vagarosamente. O primeiro livro, a coletânea de poemas "Peixe e Míngua", saiu em 2003. O segundo, "As Visitas que Hoje Estamos", tomou-lhe dez anos. As longas gestações são resultado da ausência de pressa e da enorme ambição de Ferreira.

"Vamos pensar nos nossos dois grandes nomes. Machado de Assis escreveu sobre o Brasil urbano. Guimarães Rosa, sobre o Brasil rural. Acho que faltava abordar de que forma a cidade e o campo se confluíram para a formação do país. Esse era meu objetivo com esse romance", diz.

A ideia nasceu, em parte, da própria trajetória de Ferreira, de São Paulo para Arceburgo. O romance não traz propriamente um enredo. É composto por vários relatos, narrados por diversos personagens. Muitos nasceram de histórias que ouviu de clientes de suas lojas.

Há no livro, por exemplo, uma velha às vésperas da morte, um escritor comentando o próprio trabalho, um suicida. Todos deslocados em seu próprios meios.

"O título do livro se refere a isso", explica. "'Estar visita' evoca uma situação desconfortável, de não se identificar com lugar algum."

Ferreira, por sua parte, segue satisfeito com sua Arceburgo. Pelas manhãs, ele já escreve o próximo romance. Com muita ambição e pouca pressa, como de costume.

fonte: folha
 
Eu acho que existem romances dramáticos em excesso na literatura brasileira, assim como na russa e na portuguesa. Queria que mais autores nacionais "arriscassem" na fantasia, ficção-científica, suspense e terror. Inovação, acho que este termo definirá o futuro do mundo literário tanto aqui como no exterior. Eu venho pensando em como criar um novo gênero literário, e uma resposta óbvia me saltou aos olhos: "ação"! Mas não é algo que, ao contrário do que poderia parecer, seria algo raso de conteúdo ou conhecimento, no entanto, é preciso inovar. A literatura brasileira precisa inovar. Eu ainda não conhecia este Antonio Geraldo, nem li nada dele por enquanto, então não teria fundamento nenhuma crítica minha quanto a obra dele, mas sem querer ser taxativo, aposto que apesar da inovação do sincretismo narrativo, a temática e personagens são similares à todos os outros personagens dramáticos. Sem querer irritar nenhum fã do gênero, mas acho uma pena este "monólogo" de dramas e mais dramas na literatura latina e russa.
 
Eu acho que existem romances dramáticos em excesso na literatura brasileira, assim como na russa e na portuguesa. Queria que mais autores nacionais "arriscassem" na fantasia, ficção-científica, suspense e terror. Inovação, acho que este termo definirá o futuro do mundo literário tanto aqui como no exterior. Eu venho pensando em como criar um novo gênero literário, e uma resposta óbvia me saltou aos olhos: "ação"! Mas não é algo que, ao contrário do que poderia parecer, seria algo raso de conteúdo ou conhecimento, no entanto, é preciso inovar. A literatura brasileira precisa inovar. Eu ainda não conhecia este Antonio Geraldo, nem li nada dele por enquanto, então não teria fundamento nenhuma crítica minha quanto a obra dele, mas sem querer ser taxativo, aposto que apesar da inovação do sincretismo narrativo, a temática e personagens são similares à todos os outros personagens dramáticos. Sem querer irritar nenhum fã do gênero, mas acho uma pena este "monólogo" de dramas e mais dramas na literatura latina e russa.

Tudo que eu li aí foi "blah blah blah whiskas sachê". Ninguém espera que você concorde com os argumentos de todo mundo nem com as opiniões da massa que se envolve com a literatura, mas tampouco é possível levar a sério seus argumentos - soam como Armond White falando de cinema. Faz julgamentos a priori, desconhece a realidade da literatura brasileira contemporânea, não se dá ao trabalho de entender a evolução do gênero do Romance seja no Brasil como no Exterior... alguém argumentaria, "e para gostar de literatura/ler é preciso saber disso?" Eu diria que não necessariamente, mas se você quer fazer uma declaração séria sobre o assunto, precisa saber primeiro do que está falando pra não soar ingênuo. No mais, boa sorte e procure ter a mente aberta.
 
Eu fiquei sinceramente curiosa sobre esse livro, "As Visitas que Hoje Estamos". Mais um que colocarei na minha já imensa lista de futuras leituras...
 
Também fiquei curioso, mas já vi que não lê-lo tão cedo.

Estante para curiosidades que (talvez) eu leia:
- Barba Ensopada de Sangue
- K.
- As Visitas que Hoje Estamos :(
 
Antes de terminar de ler a matéria, eu já estava interessada no livro. Motivo? Gostei dos hábitos do escritor. Ele queria sossego exterior porque o interior, aparentemente, ele só consegue por meio da escrita.

O que chamou muito a minha atenção, na matéria, foi isto aqui, ó:

O romance não traz propriamente um enredo. É composto por vários relatos, narrados por diversos personagens. Muitos nasceram de histórias que ouviu de clientes de suas lojas.
Ainda não posso falar nada concreto sobre o livro, mas, a partir dessa informação, parece que a escrita do Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira dialoga com a crônica. Gosto da ideia de registrar, a partir de uma elaboração estética característica da ficção, as histórias que ouvimos no dia-a-dia, porque muitas delas já nascem literatura. Trabalhei, por seis anos, em um lugar no qual eu tinha contato com um grande fluxo de pessoas. E as histórias que eu ouvia eram fascinantes, emocionantes, tristes, enfim, exalavam intensidade. Uma das histórias mais marcantes que ouvi foi a de uma mãe que, ao ter uma filha com paralisia cerebral, fez o curso de técnica em enfermagem para poder cuidar da filha. Ela viveu por seis anos. E a mãe se lembra de cada detalhe da rotina da filha.
 
Fui conquista e a curiosidade aguçada quanto ao livro por essas duas passagens:
"O ambiente acadêmico e a própria cidade estavam desagradáveis. Eu gosto de sossego,..."
Me identifiquei. Sossego... :amor:
"Acho que faltava abordar de que forma a cidade e o campo se confluíram para a formação do país. Esse era meu objetivo com esse romance,..."

Primeiro, é a visão de uma pessoa que vive no interior, gosta disso, e não vive sem isso. Quem já morou, mora ou vai vez por onde para o interior, percebe o quanto é extraordinária a diferença de ideias e formas de pensar que há entre meio urbano e meio rural. O próprio desconhecimento daqueles que vivem na cidade quanto ao que realmente é morar no interior, como se passa a vida e etc. Pra muitos, interior é viver a plantar aipim e batatas, cuidar de animais, viver no mato, ver o nascer e o pôr do sol, ter o capim na boca (manias) e ter aquela vida pacata (deliciosa). Em parte é isso mesmo, mas não pra todos... rsrsrs

Enfim, sem desviar. É incrível, por exemplo, a visão de mundo que muitos tem, e como as histórias cotidianas fazem parte de um todo. Ninguém vive num mundinho Trabalho>Casa>Família (o que é um saco, as vezes), vive a comunidade, fulano sabe de ciclano e de beltrano. "Vizinhos existem", e por consequência todo dia é um conto, vira história, a história vira lenda... É o charme do interior (também a praga, convenhamos).
 
Eu tbm me identifiquei muito logo que vi sobre esse desejo de sossego do autor... De uns tempos pra cá, me tem batido uma vontade enorme de sair da cidade, dessa confusão e agitação toda, e ir morar num lugar pacato calmo e bonito do interior.
O livro tbm entrou na minha lista de interesses.
 
Tem uma entrevista com o autor lá no Rascunho, bem legal:

http://rascunho.gazetadopovo.com.br/vozes-precarias/

Achei-o bastante lúcido. Às vezes penso que pro cara se destacar um pouquinho que seja no cenário literário atual basta uma dose de lucidez. Não precisa nem ser de qualidade; um pouco de lucidez tá bom.

Gostei dessas passagens aqui:

• Qual a sua relação com as histórias e personagens do livro? Ao dar voz a personagens por vezes tão distantes do senhor, ou mesmo diferentes entre si, fugir da caricatura, do estereótipo e de generalizações foi uma preocupação ou é inevitável?

A caricatura, o estereótipo e a generalização matariam minha obra. E, de cambulhada, seu autor, o que menos me convém, diga-se de passagem. Tentei fugir disso, desses desvios que não se limitam às personagens, quero deixar isso bem claro. (...) É evidente que um livro é apenas um livro, sei disso. A vida deve ser, e é, maior do que qualquer arte. Entretanto, esse é justamente o motivo pelo qual a grande obra permanece. Penso agora em todos os clássicos. Transbordantes de vida, invadem os tempos, revelando indefinidamente, para o mesmo sujeito, inclusive, cada vez que retorna a determinada obra, que sua própria vida está ali, inteira, ao lado das vidas de um sem número de pessoas que é capaz de reconhecer. Tal mecanismo, para que a obra subsista, repõe-se para as gerações seguintes, transcendendo os limites da individualidade. Não quero ditar rumos, longe disso. Mas se um artista não tem para si que atingiu esse ponto, melhor ficar quieto. Vá viver a vida, papear, tomar cerveja no botequim da esquina. E ler os clássicos… Se se contenta com papéis, por gosto de ver seu nome na encadernação, paciência. Mas que não dê a desculpa de ter buscado o vazio por necessidade do mundo pós-moderno, ou qualquer bobagem desse tipo. Isso é muito chato.

• O senhor foi chamado de “uma das grandes surpresas da literatura brasileira nos últimos anos”. Considera seu livro ousado? Inovar é uma preocupação sua? Como fugir, nesse caso, da mera estética?

Já disse isto em outras ocasiões, mas não custa repetir. O artista que afirma não gostar de ouvir uma colocação dessas está mentindo. Mas a surpresa, cá entre nós, deixa de ser surpresa no minuto seguinte, como vimos há pouco, quando falei da velocidade dos novos meios, lembram-se? Então isso, na verdade, é desimportante. O tempo dirá se a obra tem o fôlego estético e histórico para continuar dialogando com os leitores. Se não tiver, paciência. Não depende mais do escritor. Foi isso que Mário de Andrade comentou a respeito de seus “versos de circunstância”, não foi? Afinal, todo artista deve se contentar com a sua verdade, o que não é pouco, mesmo que o mundo jogue em sua cara que mentiu descaradamente.

(...)

Não sei dizer se o livro é ousado. E nunca me preocupei em inovar. Tal preocupação costuma se filiar a obras cuja ambição é a de encarnar a mercadoria em seu sentido lato, ou seja, querem fazer dinheiro. Ocupar a lista dos mais vendidos, expressão que tem lá a sua graça irônica. A grande preocupação de todo artista que se imagina fora da esteira cultural (o que pode ser apenas um refinamento perverso do conceito de alienação) talvez seja a de encontrar na forma o espelho de seu conteúdo, já que tal conjunção necessariamente estabelece a obra como um produto, vá lá, que ostenta pelo menos o teor de alguma autonomia crítica. Acho que já disse isso, não? Em todo caso, cumpre acrescentar que essa observação vale tanto para as obras revolucionárias, de todas as épocas, quanto para as reacionárias, que aliás estão pondo as entrelinhas de fora, hoje em dia, sem nenhum pudor…

• O livro, com sua riqueza de histórias, leva a questionar se os escritores contemporâneos não estariam muito focados em si mesmos. A sociedade brasileira é bem representada ou retratada na nossa produção atual?

Disso faço questão. A literatura precisa ter o que dizer. Não que o próprio umbigo não possa revelar profundidades oceânicas. Às vezes revela, e o autor nada de braçadas em si mesmo, arrastando os leitores para as profundezas salgadas de sua subjetividade. Mas, convenhamos, isso é raro. Tão raro que, na maioria dos casos, topamos com defuntos e mais defuntos, afogados em páginas tão inchadas, mas tão inchadas, que não temos fôlego para ir até o fim.

(...)

Nossa realidade, para terminar, é bem retratada na literatura atual. Temos grandes escritores preocupados com a situação do país. Preocupação que, se não é explícita, porque a arte engajada, de qualidade, se estabelece em momentos muito específicos na história de um país, é pano de fundo de nossas várias verdades, construídas com maestria por artistas que sabem o que dizer. Claro que há muita porcaria, também. Mas isso tem em qualquer época, em qualquer lugar. E, às vezes, precisamos dela.

Não coloquei a resposta em que ele cita o poema da ceifeira do Pessoa, mas gostei também da resposta que ele deu.
 
A vida deve ser, e é, maior do que qualquer arte.

Afinal, todo artista deve se contentar com a sua verdade, o que não é pouco, mesmo que o mundo jogue em sua cara que mentiu descaradamente.

A literatura precisa ter o que dizer.

Mavz, a pessoa que tem a assinatura mais linda deste fórum, ressaltou a lucidez do Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira. Concordo. E gosto. Adoro, também, o título do livro, gente. Amo títulos. Sou uma colecionadora de títulos. As visitas que hoje estamos tem um desvio semântico lindo, do tipo, algo de transgressor, e, se não houver transgressão, não há literatura.
 

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