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Autor da Semana António de Alcântara Machado

Cantona

Tudo é História
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António de Alcântara Machado
(25.05.1901 - 14.04.1935)

António Castilho de Alcântara Machado d’Oliveira berrou no planalto de São Paulo em 25 de maio do ano de 1901. Nasceu quatrocentão, carregando os genes de duas tradicionais famílias paulistas. Pelo tronco paterno, teve por bisavô José João Machado d’Oliveira, que além de historiador e geógrafo, foi presidente de cinco províncias naqueles tempos de Brasil-Colônia. O cargo de avô ficou para Brasílio Augusto Machado d’Oliveira, jurista, tribuno, professor da Faculdade de Direito de São Paulo e pai de José de Alcântara Machado d’Oliveira, que na Taubaté de Monteiro Lobato, pouso dos nossos bravos Bandeirantes, se encantou pelo rebolado discreto da saudosa Maria Emília de Castilho Machado, firmou compromisso, casou e contribuiu para o censo demográfico paulistano com quatro filhos: além do já citado António, Brazílio, José e Yolanda.

Imbuído do peso de tão tradicional família, sempre com representantes nos postos de destaque, da Colônia à República, o menino estava bem encaminhado: ainda que fosse incompetente em tudo que tentasse, certamente ocuparia um cargo público, pelo sobrenome, que lhe garantisse o patamar e as citações nos jornais e revistas da época. Com a cara de bom moço, somado à inaptidão que quase sempre, quando acompanhada de grande soma financeira, desperta o desejo de se cuidar, ganharia com sobras o concurso de “Melhor Partido” promovido pela extinta A Cigarra, a revista Caras daqueles tempos. Mas, não foi esse o caso. António de Alcântara Machado era phoda. Com méritos, deixou o primário para trás no Colégio Stafford. O secundário, em parceria com um tal de Sérgio Buarque de Holanda, concluiu no Ginásio São Bento para, em seguida, cursar Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de São Paulo, logo ali, no Largo São Francisco. Diplomou-se em 1923 e durante a graduação foi eleito orador oficial do Centro Acadêmico XI de Agosto, comandando as vaias naquela que entrou para a História como a Semana de Arte Moderna de 1922.

É isso. No palco do Teatro Municipal, Mario, Oswald e Cia. receberam as negativas do homem que viria a ser um dos maiores nomes do Modernismo. É explicável: como todo movimento que se pretende revolucionário, a turma de 22 fez uso de radicalismos e agressividade, buscando a ruptura brusca com tudo que a antecedeu. Assim, as críticas e soluções elaboradas por um punhado de intelectuais, esnobes letrados e políticos, durante aqueles dias, não encontrou coro em António.

Mas o tempo passou, os ânimos se acalmaram e as diretrizes foram se assentando, em compasso, como não poderia ser diferente, com as permanências e rupturas no corpo social e político: o Brasil, de industrialização incipiente, produz a migração do campo para a cidade, onde os conflitos patrão-empregado são mais visíveis que o do fazendeiro-camponês. Há, no urbano, o elemento imigrante e as teorias anarquistas, o grande inimigo interno da Primeira República. A política do café com leite já não se sustentava, criando as brechas para que a Revolução de 30 eclodisse. Essa, segundo alguns historiadores, representou no campo político o que a Semana de 22 representou para o cultural: a política trabalhista de Vargas suplanta o liberalismo excludente da República Velha, a questão da nação brasileira mestiça ganha força, virando a página que culpava a indolência negra/índia pelo nosso atraso – o que levou ao flerte das elites com o eugenismo. Tal busca pela “brasilidade” foi também o motor dos Modernistas que pretendiam a emancipação do colonialismo cultural. Foi essa busca, essa libertação, já com diretrizes firmadas, que promoveu, juntamente com a aproximação de Oswald, a guinada de António de Alcântara Machado para o movimento. É importante ressaltar que a “brasilidade” não se almejou apenas por questões estéticas e de linguagem. Havia o propósito maior, bem lembrado por Gilberto Freyre:

“Sem esses estudos e essas sondagens não nos podemos considerar aptos a um esforço de reconstrução social que seja mais do que uma aventura de sentimentalismo ou de idealismo ligado à revolta em bruto dos explorados.”

Ainda nesse ponto, mas abordando menos a função social do movimento, e sim algo referente à técnica, vale citar um trecho de António de Alcântara Machado acerca dos floreios linguísticos, cujo maior expoente era Coelho Neto:

“ O literato nunca chamava a coisa pelo nome. Nunca. Arranjava sempre um meio de se exprimir indiretamente. Com circunlóquios, imagens poéticas, figuras de retórica, metalepses, metáforas e outras bobagens complicadíssimas. Abusando. Ninguém morria: partia para os paramos ignotos. Mulher não era mulher. Qual o quê. Era flor, passarinho, anjo da guarda, doçura desta vida, bálsamo de bondade, fada, o diabo. Mulher é que não. Depois a mania do sinônimo difícil. A própria coisa não se reconhecia nele. Nem mesma a palavra. Palavra. Tudo fora da vida, do momento, do ambiente. A preocupação de esconder, de colorir. Nada de pão pão, queijo queijo. Não senhor. Escrever assim não é vantagem. Mas pão epílogo tostado dos trigais dourados, queijo acompanhamento vacum da goiaba dulcifica, sim. É bonito. Disfarça bem a vulgaridade das coisas.”

Deu-se então que o garoto, diplomado, nunca advogou. Desde os tempos de graduação, sempre andou às voltas com o jornalismo. A princípio, assinando a coluna de cultura do finado Jornal do Commercio. Exerceu no mesmo periódico, durante a Revolução de 24 em São Paulo, quando o governo arrumou as malinhas e se mandou do Palácio nos Campos Elísios para que a cidade, sob controle dos rebeldes, fosse bombardeada, a função de Redator Chefe. Ainda pelo Jornal do Commercio, viajou à Europa, passando por Portugal, França, Inglaterra, Itália e Espanha, redigindo crônicas sobre o tour, depois compiladas e editadas em livro, seu primeiro, Pathé- Baby, em 1926, com prefácio de Oswald de Andrade. Temos, aí, sua linguagem já econômica, sem floreios, direta, em textos de cunho nacionalistas: António se propôs a retratar o comum europeu, invertendo o binóculo e os medindo como éramos medidos: pelas mazelas, deficiências, problemas. Com isso pretendia, não o ufanismo que cega, mas o nacionalismo que mitiga complexos e possibilita o confronto com uma realidade deficiente, sem melindres, sem fatalismos, mas com possibilidade de melhora.

Depois de Pathé-Baby, apresentou-nos suas obras de maior relevância na curta vida que viveu: Brás, Bexiga e Barra Funda, em 1927, e Laranja da China, em 1928.

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É de Brás, Bexiga e Barra Funda talvez suas melhores narrativas: Gaetaninho, o garoto que tem a vida abreviada pelo bonde e Carmela, a costureirinha da Barão de Itapetininga que mistura a inocência e sedução no seu rico corpinho.

Nas estórias que compõem o livro, o autor trabalhou a linguagem seca e carregou em recursos de corte, como num filme, dando a impressão que a cidade não para e que a inclusão do imigrante, no caso o italiano e seus descendentes, se faz da mesma forma, veloz, crua, em reflexo, sem espaços para maiores questionamentos.

É um painel perfeito da cidade que grita de dia e silencia de noite, com seus bêbados madrugadores que cantam para a lua. Uma São Paulo de despertar com o leiteiro e o verdureiro, terna, amável, mas que, após o primeiro apito da fábrica, se faz voraz. São Paulo das ruas de carros de boi contrastando com os bondes da Light e os automóveis: símbolos de pujança, de um progresso desejado por António, porém sem abrir mão das reflexões acerca dessa convivência homem-máquina, cuja relação se faz e se concretiza, diversas vezes, em fatalidade para os primeiros.

Passando por essa cidade, o italiano, o ítalo-brasileiro que transforma e é transformado: a música, as expressões, a postura sentimental e explosiva, a capacidade e dedicação extrema ao trabalho, a lembrança da terra natal que pouco a pouco se esfumaça na nova pátria.
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Laranja da China, mas que um tipo de laranja, era, na época, uma paródia do Hino Nacional Brasileiro. Nos primeiros acordes, as pessoas cantavam: "Laranja da China, Laranja da China, Laranja da Chiiiiiiiina”. Batizando o livro dessa forma, António debocha dos ufanistas que se cegavam aos problemas reais do Brasil. Composto por doze contos, cujos títulos são os nomes e as características do personagem tratado, temos mais um painel da São Paulo dos anos 20 do século passado, com sua rotina, seus costumes. O Patriota Washington retrata bem o ufanista daqueles tempos. Mas nem só de patriotadas se faz o livro: há, nele, um apanhado dos tipos característicos, não só da cidade, mas do próprio homem ao longo das eras. Todos atuais. Prova de que, embora a cidade tenha mudada à velocidade do pensamento, o interior de quem a habita é feito de transformações mais lentas.

Postumamente, em diversas edições por diversas editoras, vieram compilações, como Mana Maria, contendo a novela que nomeia o livro e os Contos Avulsos, em 1936; Cavaquinho e Saxofone, de 1940, uma coletânea de crônicas e artigos de sua carreira jornalística, entre 1926-1935.

Mas vou me deter em Novelas Paulistanas, pela Editora Itatiaia em edição de 1988, quando a professora Cecília de Lara adicionou contos inéditos a toda ficção de António de Alcântara Machado já publicada. Fazem parte das Novelas Paulistanas: Brás, Bexiga e Barra Funda; Laranja da China; Mana Maria; Contos Avulsos (As cinco panelas de ouro, Miss Corisco, Guerra Civil, Apólogo brasileiro sem véu de alegoria); Inéditos em livro (O mistério da Rua General de Paiva, Três milagres de Anchieta, um sem título, O nortista, fragmentos de Capitão Bernini).

Em Contos Avulsos, destaque para As cinco panelas de ouro e Apólogo brasileiro sem véu de alegoria.

No conto As cinco panelas de ouro, temos a mistura das primeiras impressões do espiritismo em terras paulistas com as articulações políticas de grupos rivais, onde os interesses privados superam o público.

Em Apólogo brasileiro sem véu de alegoria... pô, vale a pena ler:

O trenzinho recebeu em Magoarí o pessoal do matadouro e tocou para Belém. Já era noite. Só se sentia o cheiro doce do sangue. As manchas na roupa dos passageiros ninguém via porque não havia luz. De vez em quando passava uma fagulha que a chaminé da locomotiva botava. E os vagões no escuro.Trem misterioso. Noite fora, noite dentro. O chefe vinha recolher os bilhetes de cigarro na boca. Chegava a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma chupada para fazer mais luz. Via mal e mal a data e ia guardando no bolso. Havia sempre uns que gritavam :
— Vai pisar no inferno!
Ele pedia perdão (ou não pedia) e continuava seu caminho. Os vagões sacolejando.
O trenzinho seguia danado para Belém porque o maquinista não tinha jantado até aquela hora. Os que não dormiam aproveitando a escuridão conversavam e até gesticulavam por força do hábito brasileiro. Ou então cantavam, assobiavam. Só as mulheres se encolhiam com medo de algum desrespeito.
Noite sem lua nem nada. Os fósforos é que alumiavam um instante as caras cansadas e a pretidão feia caía de novo. Ninguém estranhava. Era assim mesmo todos os dias. O pessoal do matadouro já estava acostumado. Parecia trem de carga o trem de Magoarí.


* * *​

Porém, aconteceu que no dia 6 de maio viajava no penúltimo banco do lado direito do segundo vagão um cego de óculos azuis. Cego baiano das margens do Verde de Baixo. Flautista de profissão dera um concerto em Bragança. Parara em Magoarí. Voltava para Belém com setenta e quatrocentos no bolso. 0 taioca guia dele só dava uma forga no bocejo para cuspir.
Baiano velho estava contente. Primeiro deu uma cotovelada no secretário e puxou conversa. Puxou à toa porque não veio nada. Então principiou a assobiar. Assobiou uma valsa (dessas que vão subindo, vão subindo e depois descendo, vêm descendo), uma polca, um pedaço do Trovador. Ficou quieto uns tempos. De repente deu uma coisa nele. Perguntou para o rapaz:
— O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial?
O rapaz respondeu:
— Não sei: nós estamos no escuro.
— No escuro?
— É.
Ficou matutando calado. Claríssimo que não compreendia bem. Perguntou de novo:
— Não tem luz?
Bocejo.
— Não tem.
Cuspada.
Matutou mais um pouco. Perguntou de novo:
— 0 vagão está no escuro?
— Está.
De tanta indignação bateu com o porrete no soalho. E principiou a grita dele assim:
— Não pode ser! Estrada relaxada! Que é que faz que não acende? Não se pode viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o maior dom da natureza! Luz! Luz! Luz!
E a luz não foi feita. Continuou berrando:
— Luz! Luz! Luz!
Só a escuridão respondia.
Baiano velho estava fulo. Urrava. Vozes perguntaram dentro da noite:
— Que é que há?
Baiano velho trovejou:
— Não tem luz!
Vozes concordaram:
— Pois não tem mesmo.


* * *

Foi preciso explicar que era um desaforo. Homem não é bicho. Viver nas trevas é cuspir no progresso da humanidade. Depois a gente tem a obrigação de reagir contra os exploradores do povo. No preço da passagem está incluída a luz. O governo não toma providências? Não toma? A turba ignara fará valer seus direitos sem ele. Contra ele se necessário. Brasileiro é bom, é amigo da paz, é tudo quanto quiserem: mas bobo não. Chega um dia e a coisa pega fogo.
Todos gritavam discutindo com calor e palavrões. Um mulato propôs que se matasse o chefe do trem. Mas João Virgulino lembrou:
— Ele é pobre como a gente.
Outro sugeriu uma grande passeata em Belém com banda de música e discursos.
— Foguetes também?
— Foguetes também.
— Be-le-za!
Mas João Virgulino observou:
— Isso custa dinheiro.
— Que é que se vai fazer então? Ninguém sabia. Isto é: João Virgulino sabia. Magafere-chefe do matadouro de Magoarí, tirou a faca da cinta e começou a esquartejar o banco de palhinha. Com todas as regras do ofício. Cortou um pedaço, jogou pela janela e disse:
— Dois quilos de lombo!
Cortou outro e disse:
— Quilo e meio de toicinho!
Todos os passageiros magarefes e auxiliares imitaram o chefe. Era cortar e jogar pelas janelas. Parecia um serviço organizado. Ordens partiam de todos os lados. Com piadas, risadas, gargalhadas.
— Quantas reses, Zé Bento?
— Eu estou na quarta, Zé Bento!
Baiano velho quando percebeu a história pulou de contente. O chefe do trem correu quase que chorando.
— Que é isso? Que é isso? É por causa da luz? Baiano velho respondeu :
— É por causa das trevas!
O chefe do trem suplicava:
— Calma ! Calma ! Eu arranjo umas velinhas.
João Virgulino percorria os vagões apalpando os bancos.
— Aqui ainda tem uns três quilos de colchão mole!
0 chefe do trem foi para o cubículo dele e se fechou por dentro rezando. Belém já estava perto. Dos bancos só restava a armação de ferro. Os passageiros de pé contavam façanhas. Baiano velho tocava a marcha de sua lavra chamada Às armas cidadãos! 0 taioquinha embrulhava no jornal a faca surrupiada na confusão.
Tocando a sineta o trem de Magoarí fundou na estação de Belém. Em dois tempos os vagões se esvaziaram. O último a sair foi o chefe, muito pálido.


* * *

Belém vibrou com a história. Os jornais afixaram cartazes. Era assim o título de um: Os passageiros no trem de Magoarí amotinaram-se jogando os assentos ao leito da estrada. Mas foi substituído porque se prestava a interpretações que feriam de frente o decoro das famílias. Diante da Teatro da Paz houve um conflito sangrento entre populares.
Dada a queixa à polícia foi iniciado o inquérito para apurar as responsabilidades. Perante grande número de advogados, representantes da imprensa, curiosos e pessoas gradas, o delegado ouviu vários passageiros. Todos se mantiveram na negativa menos um que se declarou protestante e trazia um exemplar da Bíblia no bolso. O delegado perguntou:
— Qual a causa verdadeira do motim?
O homem respondeu:
— A causa verdadeira do motim foi a falta de luz nos vagões.
O delegado olhou firme nos olhos do passageiro e continuou:
— Quem encabeçou o movimento?
Em meio da ansiosa expectativa dos presentes o homem revelou:
— Quem encabeçou o movimento foi um cego!
Quis jurar sobre a Bíblia mas foi imediatamente recolhido ao xadrez porque com a autoridade não se brinca.

Há, também, interpretação de Matheus Nachtergaele, no Contos da Meia-Noite

Pra finalizar, antes de falar da morte precoce, temos o romance inacabado Mana Maria. Aqui, fica o impasse: uma parte diz que é inacabado porque o Toninho continuaria a estória; a outra, que classifica Mana Maria como novela, incluindo Cecília Lara – que manja pra cacete - diz que o “inacabado” foi mal interpretado. O António revia e revia, reescrevia e reescrevia antes de publicar. Quando botou Mana Maria no papel, fechou os olhos antes de levar a cabo esse seu hábito. Discussões de Academia... Falando propriamente do enredo, a novela tem na mulher e na cidade seus personagens. Os novos tempos vão alterando os costumes e a cidade, conservadora, de casarões fechados, ganha com a modernidade e a imigração, vida, música. Mana Maria representa esse conservadorismo que aceita e refuta tais mudanças. Ao mesmo tempo, é a imagem da mulher que assume as rédeas da família, dos negócios, porém se masculinizando, rejeitando a submissão paterna e conjugal, mas também o amor, não só idealizado, romântico, mas sexual. Por essa abordagem, levanta-se reflexões acerca do papel da mulher nessa nova São Paulo que surge a cada dia.

António de Alcântara Machado foi regionalista. Nos seus Contos Avulsos, buscou outras paragens, mas a maior parte de sua produção se concentrou em São Paulo. Nas suas linhas, buscou retratar os costumes de sua gente, as crenças, as superstições, a religião, a musicalidade, as paixões. “Regionalismo que está todo na obra admirável de um José Lins do Rêgo, notadamente no “Ciclo da Cana-de-Açucar”, panorama de toda uma região e de toda uma época, do banguê à usina, ou seja, o esplendor e a decadência dos senhores de engenho. No “gauchismo” de Érico Verissimo, de “O tempo e o Vento”, o primeiro grande romance histórico da nossa literatura. No “mineirismo” de João Guimarães Rosa e Mário Palmério. No “paulistanismo” de António de Alcântara Machado. Regionalismo que é, em suma, mais do que uma afirmação nacionalista, porque atinge o universal", segundo Francisco de Assis Barbosa.

António morreu prestes a completar 34 anos, vítima de complicações duma cirurgia para a retirada do apêndice, no Rio de Janeiro, onde tomaria posse como deputado, após participar ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932.

Obras do Autor:

Pathé-Baby - 1926
Brás, Bexiga e Barra Funda - 1927
Laranja da China - 1928
Mana Maria e Contos Avulsos - 1936
Cavaquinho e Saxofone - 1940
Novelas Paulistanas - 1961 (José Olympio); 1982 (Itatiaia, com inéditos)
O Nortista, 1985, incorporado em Novelas Paulistanas, pela Itatiaia, 1988 - edição definitiva.

Referências Bibliográficas:

Mana Maria: A volta à serenidade, Cecília Lara.
Brás, Bexiga e Barra Funda: uma sinfonia paulista, Cecília Lara.
Retratos atuais de ontem, nota introdutória de Laranja da China, por Djalma Cavalcante.
Novas propostas, nota introdutória de Contos Avulsos, por Djalma Cavalcante.
Novelas Paulistanas, nota biográfica, por Francisco de Assis Barbosa.
Novelas Paulistanas, nota sobre António de Alcântara Machado, por Francisco de Assis Barbosa.
 
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Taí um autor que eu pensei que não fosse gostar, justamente por escrever crônicas - na época eu não gostava do gênero. Foi o Toninho quem me fez gostar disso. :lol:
 
Taí um autor que eu pensei que não fosse gostar, justamente por escrever crônicas - na época eu não gostava do gênero. Foi o Toninho quem me fez gostar disso. :lol:
Cara, isso magoooua. Como assim não gostava de crônicas :grinlove: ?

Tony, Toninho, Tom, [putz, não sei mais apelidos para Antônio].
 
Gostaria de salientar que Antônio de Alcântara Machado era filho de José de Alcântara Machado de Oliveira (1875-1941), que foi também escritor, além de jurista, professor e político brasileiro e que a pedido do governo federal, redigiu o projeto de Código Penal de 1939. Este projeto se transformou por decreto-lei no Código Penal vigente.

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Coloquei Brás, Bexiga e Barra Funda na lista de próximas leituras... moro bem próximo ao Bexiga, já comprei tecido no Brás e já fui na rodoviária da barra funda, então me considero apto a conhecer um pouco da história desses bairros.
 
O António se foi cedo. E deixou um texto, datado de 1930 (publicado pelo O Estado de São Paulo em 1946), que revelava sua visão da morte:

Não quero morrer na Europa. Quero ir morrer no Brasil, na cidade de São Paulo, numa manhã bem quente. Sobretudo quero morrer de chapéu na cabeça. Quem morre de chapéu na cabeça mostra que não tem respeito medroso pela morte. O continuo Serafim costumava dizer com muita admiração na porta do palácio presidencial " este deve ser grosso, entra de chapéu na cabeça". Os que subindo as escadas já vão tirando o chapéu, esses são pedintes, são subalternos, vão ser desiludidos ou humilhados. Eu não. Eu na manhã bem quente me apressarei, sairei de casa andando firme, desejarei bom dia aos conhecidos da rua Ana Cintra, entrarei no largo de Santa Cecília e em frente da igreja, no meio do largo, subirei no refúgio me encostando no lampião esgalhado. Nos braços do lampião verde eu serei amparado quando chegar o momento. (...) São Paulo então não abandonará seu filho. Com cheiro de gasolina, com fumaça de fábrica, com barulho de bondes, com barulho de carroças, e automóveis, com barulho de vozes, com cheiro de gente, com latidos, cantos, pipilos e assobios, com barulho de fonógrafo, com barulho de de rádio, campainhas, buzinadas, com cheiro de feiras, com cheiro de quitandas, todos os cheiros e também barulho da vida. São Paulo encherá o silêncio da morte. Porque não se deve esperar a morte deitado na cama, de cara amarela, de olhos fechados, entre remédios e lágrimas. Não é visita de médico. A morte não gosta da morte. A morte só gosta da vida. A morte chega no momento justo em que o homem vai perder a vida para não deixar o homem morrer: para dar vida eterna para ele. A morte é que imortaliza. Ela salva o homem que o mundo quer matar. Livra o homem do mundo (...)
 
Última edição:
Ressuscitando este tópico para mencionar que descobri recentemente um livro, que já saiu há alguns anos atrás, onde se encontra reunida quase toda a ficção de António de Alcântara Machado, a saber: Brás, Bexiga e Barra Funda (1927), Laranja da China (1928) e Mana Maria (1936), bem como conto avulso O Mistério da Rua General Paiva, que foi publicado em 1930 no semanário As Novidades Literárias, Artísticas e Científicas, mas não inserido em volume algum.

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