Ana Lovejoy
Administrador
Tem algum tempo que as pessoas estão discutindo a questão dos filmes dublados nos cinemas. As opiniões vão para todos os lados, a minha continua sendo de que deve existir um equilíbrio - não quero ter que ficar sem a opção do legendado, mas também não acho correto que pessoas fiquem sem a opção do filme dublado. De qualquer forma, acabei de ler esse texto aqui e achei interessante, por se basear na experiência de um professor em sala de aula. Segue o texto:
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Eu via filmes legendados na escola, quando estudava no ensino fundamental e no ensino médio.
(Eu ainda não sabia o que só fui descobrir ao me tornar professor: levar um filme para os alunos é um dos recursos que o educador usa quando está de saco cheio e não quer dar aula)
Alguns filmes que nos passavam tinham objetivos elevados, mas outros eram apenas para diversão, mesmo.
Lembro, por exemplo, de quando a professora Cláudia, de matemática, organizou uma”sessão de cinema” para a minha 5ª série, em 1992, e chegou à sala com a fita de VHS (sou do tempo do VHS) de O Exterminador do Futuro 2. Legendado. Toda a turma viu e acompanhou a história sem pestanejar. Aliás, aquele foi, por muitos anos, o meu filme preferido.
Os anos passaram, eu virei professor e chegou a minha vez de ficar de saco cheio e matar três períodos exibindo um filme para os alunos. Ou, de vez em quando, de levar filmes para ilustrar os conteúdos estudados (o que era relativamente fácil, pois eu lecionava História).
Na hora de exibir os filmes, notei que os alunos sempre pediam para ver a versão dublada, o que não acontecia no meu tempo de estudante (o DVD facilitou as coisas, pois é possível selecionar áudio e/ou legendas em português).
No começo, por julgar que se tratasse de simples preguiça de ler os diálogos, eu resistia à vontade deles e os obrigava a ver os filmes legendados. Em pouco tempo, desisti. Percebi que eles não pediam filmes dublados por comodismo, mas por serem incapazes de ler todas as legendas.
Isso mesmo: os alunos das escolas públicas onde trabalhei não conseguiam acompanhar um filme legendado. Eram incapazes de ler e ainda mais incapazes de compreender o texto das legendas.
Comentei a minha “descoberta” com uma colega que lecionava em outras escolas e ela me disse que costumava, todos os anos, passar para os alunos o filme Sociedade dos Poetas Mortos e depois fazer uma reflexão com a turma. Nos últimos anos, os resultados foram tão desastrosos que ela decidiu parar de levar o filme. Os alunos da “nova geração” não conseguiam mais entender a história, mesmo em cópia dublada.
Sabendo disso, não estranhei o dado apontado nesta semana por uma matéria do Segundo Caderno de Zero Hora que mostra o aumento da procura por filmes dublados nos cinemas.
O que estranhei é que, em meio às discussões sobre as causas do fenômeno, nenhuma das fontes ouvidas na matéria tenha mencionado o que considero a principal razão da rejeição às legendas: a geração que saiu da escola pública na condição de analfabetismo funcional está com grana para ir ao cinema, mas é incapaz de acompanhar um filme se os atores não falarem português.
Tristes tempos.
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