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Autor da Semana Honoré de Balzac

Spartaco

Anton Bruckner - 200 anos do nascimento
Honoré de Balzac

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Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 - Paris, 18 de agosto de 1850) foi um prolífico escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna. Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos, que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.

Família
Ele nasceu de uma família que muito se esforçou para lograr respeito. Seu pai, nascido Bernard-François Balssa, era um dos onze filhos de uma pobre família de Tarn, região do sul da França. Era inicialmente um modesto funcionário. Em 1760 partiu para Paris com apenas um Louis d'or no bolso, decidido a melhorar sua posição social; em 1776 tornou-se maçon e secretário do Conselho do Rei, mudando seu nome para o de uma antiga família de nobres, adicionando, sem nenhuma causa oficial, o aristocrático de. Após o Reino do Terror (1793–94), estabeleceu-se em Tours para coordenar suprimentos do Exército.

A mãe de Balzac, nascida Anne-Charlotte-Laure Sallambier, era burguesa, e cresceu em uma rica família de mercenários em Paris. A riqueza de seus parentes foi um fator considerável na troca de alianças: ela tinha somente dezoito anos quando casou-se com o cinquentão Bernard-François.

Honoré (assim chamado por conta de Santo Honoré de Amiens, cujo dia é comemorado em 16 de maio, quatro dias antes do aniversário de Balzac) era à época o segundo filho nascido dos Balzacs.

La Comédie Humaine e sucesso literário
Depois de escrever diversas novelas, em 1832 Balzac concebeu a idéia para uma enorme série de livros que retratariam o panorama de "todos os aspectos da sociedade". Quando teve a ideia, Balzac correu para o apartamento de sua irmã e proclamou: Estou prestes a me tornar um gênio. Embora no início tenha chamado o projeto de Etudes des Mœurs (Estudos de Boas Maneiras), mais tarde ganhou o nome de La Comédie Humaine, e ele incluiu nesta coleção todas as ficções que ele havia publicado durante sua vida sob seu nome real. La Comédie Humaine era o trabalho da vida de Balzac e também se tornou sua maior conquista.

Hábitos de trabalho
São notáveis os hábitos de trabalho em que se dispunha Balzac, embora não conseguisse trabalhar rapidamente, esforçava-se com dedicação e foco incríveis. Seu método preferido era comer uma rápida refeição às cinco ou seis horas da tarde, e então dormir até meia-noite. Depois do descanso, levantava-se na madrugada e escrevia por muito tempo, às vezes interrupdamente, com pausas apenas para tomar algumas xícaras de café preto, pois, conforme escreveu, O café é a bebida que desliza para o estômago e põe tudo em movimento. Costumava trabalhar em um único trecho por cerca de quinze horas ou mais; chegou a declarar que certa vez trabalhou interrupdamente por 48 horas com apenas três horas de descanso.

Além disso, realizava revisões obsessivamente, cobrindo provas de impressão com mudanças e adições a serem repostas. Por vezes repetia este processo durante a publicação de um livro e como resultado criava despesas significativas para si próprio e seu editor. Não raro o produto final era muito diferente da ideia concebida anteriormente e do livro original.

Apesar de Balzac ter sido um "eremita e vagabundo", conseguiu manter-se conectado, e principalmente retratar como ninguém, o mundo social que alimentava a sua escrita. Era amigo de Théophile Gautier e Pierre-Marie-Charles de Bernard du Graal de la Villette, e conhecia Victor Hugo, a quem admirava e escrevia cartas. Não gastava seu tempo em salons, tampouco em clubes, como faziam muitos de seus personagens principais. Porque, como dizem biógrafos e críticos, Balzac não se sentia confortável nesses lugares, pois "pressentia que seu negócio não era freqüentar a sociedade mas criá-la." Porém, frequentou muitas vezes o Château de Saché, próxima de sua cidade natal, Tours, e que era a casa de seu amigo Jean de Margonne, amante de sua mãe e pai de seu irmão mais novo. Muitos dos personagens atormentados de Balzac foram concebidos no quarto do segundo andar. Hoje, este Château é um museu dedicado à vida do autor.

Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava. De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1862 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema.

Casamento e últimos anos
Participante da vida mundana parisiense, teve vários romances, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer. Cinco meses depois do casamento, em 18 de agosto, Balzac morreu. Sua mãe era a única pessoa que estava com ele quando ele faleceu; Mme. Hańska tinha ido para a cama. Naquele dia ele fora visitado por Victor Hugo, que mais tarde serviu como acompanhante do funeral e que também se encarregou do elogio fúnebre no cemitério.


Fonte:
Wikipedia
Balzac, uma biografia de Graham Robb
 
Gente, corre aqui, ó que notícia bacana XD! Eu tinha procurado sobre A comédia humana na estante virtual e vi que só tinha uma edição antiga da ed. globo completa e bem carinha, e que logo depois que eu a vi, foi vendida =/ Aí mandei um email pra globo perguntando se eles tinham interesse em republicar a obra completa do autor - e me responderam que até, acho que, ano que vem eles teriam algumas obras dele de novo em seu catálogo... mas qual não foi minha surpresa quando me deparo com isso; e isso; e mais isso; e mais isso aqui; e ainda isso :joy:!!! Os bibliófilos pira :dente:. Esses estão ainda em pré-venda, e pelo que parece eles devem lançar A comédia... completa!
 
Última edição:
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Aproveita Gabriel. Compre todos os volumes. Acho que vai valer muito a pena. :smile:
 
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Nossa!
Que legal! Mas não achei nada no site da editora da globo, além da travessa achei os livros no Extra, porém estão como indisponíveis.
Será que serão lançados ainda??
Ótima notícia! Vou ter que separar um dinheirinho apraa comprar também! =| =)
 
Alguem já adquiriu o livro Balzac e A Comédia Humana de Paulo Rónai, que saiu pela pela Globo Livros?

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O que acharam desse livro? Vale a pena adquirir?
 
Hoje fui à Travessa(:grinlove:) e vi esses exemplares nas minhas mãos XD. São mais lindos ainda, minha gente! O tamanho, ao contrário do que eu pensava, não é grandão, é de um tamanho +- pequeno, sacam? não do tamanho do Em busca do tempo perdido, por exemplo. Assim ficou muito mais bacana já que são livros grossos. Em cada um tem um índice no início com o conteúdo de todos os 17 livros da Comédia(Ilusões perdidas é tão grande que coube em um único volume, hehe). E ainda, nas primeiras e últimas páginas dos livros tem, cada um, uma foto de uma pintura, em papel mais grosso. E eles não são tão pesados quanto parecem... Resumão, são lindos pra chuchu, se eu tivesse dinheiro ali na hora mandava pra lua minha concepção de só comprar livros pela net por causa dos preços baixos e adquiria o primeiro exemplar da coleção lá mesmo!
 
Balzac, o escritor da burguesia

Gustave Flaubert, já muito acostumado aos louros literários por seu “Madame Bovary” (1857), certa vez afirmou que Honoré de Balzac escrevia mal (“Que homem teria sido Balzac se soubesse escrever!”). A crítica é mal fundamentada, uma vez que Flaubert tem por base apenas a si mesmo, um escritor cheio de pruridos de estilo, onde a sintaxe, o vocabulário e o enredo eram trabalhados e retrabalhados à exaustão, ou seja, aquilo que em Flaubert é uma qualidade, em Balzac a mesma qualidade se transformaria em afetação. Pois o estilo de Balzac é uma invenção de Balzac, uma invenção posta em prática para atingir seus objetivos literários, sociais e econômicos, tudo ao mesmo tempo, e ele tinha pressa!

Flaubert levou cinco anos para concluir “Madame Bovary”; cinco anos para Balzac significavam uma eternidade. Ele trabalhava de forma assoberbada, apressadamente. A Literatura para Balzac era não apenas a arte à qual se destinara a cumprir, mas também o seu modo de ganhar dinheiro (passou a vida adquirindo imensas dívidas e fugindo de credores). Em sua fase mais produtiva, em cinco anos, escreveu mais romances e novelas do que Flaubert escreveu a vida toda. Em que se pese que Flaubert foi e é um grande escritor, e fez contribuições decisivas para a Literatura (sua influência está presente até os dias atuais), não quer dizer que Balzac não o foi e o é. Aliás, o autor de “Madame Bovary” foi bastante influenciado pelo próprio Balzac e até mesmo lhe serviu de modelo (“A mulher de trinta anos” – 1835). Em defesa de Flaubert, também podemos dizer que ele não foi o único a criticar Balzac e abordar a obra balzaquiana de forma superficial, sem penetrar a fundo na “Comédia humana”.

De qualquer modo, não estamos aqui querendo sobrepor quantidade à qualidade e Flaubert é por si só um grande escritor. Mas fato é que o autor da “Comédia humana”, essa imensa e pretenciosa invenção literária, para além de seus quase noventa romances e novelas, e suas mais de duas mil e quinhentas personagens inter-relacionadas e aparecerão em mais de um livro, contém, não uma, mas várias obras-primas. E isto só será conhecido por aqueles que penetrarem mais fundo na “Comédia humana”, não se contentando com a leitura de um ou dois romances. Entre esses leitores destacam-se escritores do calibre de Marcel Proust, Émile Zola, Charles Dickens, Dostoyevsky, Henry James, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Ítalo Calvino e muitos mais. E não foi por acaso que Balzac tornou-se o escritor preferido de Karl Marx. E Engels, em uma carta, declara à sua destinatária que aprendera com Balzac mais do que com “todos os historiadores professos, economistas e estatísticos do período juntos.”. Já Otto Maria Carpeaux, nas páginas que dedicou a Balzac na sua magnífica “História da literatura ocidental”, sentenciou: “A história do romance como gênero literário divide-se em duas épocas: antes e depois de Balzac. Com ele, até o termo mudou de sentido. Antes de Balzac, “romance” fora a relação de uma história extraordinária, “romanesca”, fora do comum. Depois, será o espelho do nosso mundo, dos nossos países, das nossas cidades e ruas, das nossas casas, dos dramas que se passam em nossos apartamentos e quartos.”.

Embora muito do “homem” Balzac se imiscua com as personagens de sua obra (Balzac era um católico conservador e adepto da Monarquia do “Antigo Regime”), no seu caso, a obra supera o autor. Homem de muitos desejos, Balzac a tudo se lançava com uma paixão voraz, desde conquistas amorosas, incluindo baronesas e marquesas, até empreendimentos e negócios mirabolantes, sempre terminados em insucessos, fora seu desejo de reconhecimento literário e também da sua genialidade. Contudo, ao se atirar à escrita, seu olhar arguto e de viés sociológico, o lançava a um furioso e minucioso escrutinar da vida como era vivida na primeira metade do século XIX, com a ascensão da burguesia, que teria a partir daí o “culto do dinheiro” como sua principal característica, hoje tão comum e tão banalizado. Sim, escritor da burguesia, e também o seu carrasco, sendo que é este o fato que o coloca na Literatura Ocidental como o “pai do Realismo” e como “pai do romance moderno”. Ler Balzac em sua época significava defrontar-se com verdades até então quase nunca abordadas nos romances, como, por exemplo, ser o casamento não o final feliz das histórias, mas bem o seu contrário, ser o “contrato” de casamento o começo das histórias e estas muitas vezes acabarem num bueiro nojento; ou ainda, o fato de se ter, ou não, uma nota de “vinte francos” no bolso, determinar o começo da desgraça ou da felicidade. Olhando por este caminho, acabaremos concordando com o autor, e o declararemos um “gênio”! Assim também pensava W. Somerset Mougham, que dizia ser Balzac o único escritor a quem atribuiria o epíteto de gênio, e que se tivesse que indicar um livro dele a quem nunca o tivesse lido, indicaria “O pai Goriot”.

Eis aí uma das obras-primas de Balzac, “O pai Goriot”, romance publicado em 1834, inicialmente como folhetim, em quatro tiragens seguidas da “Revue de Paris”, e depois em formato de livro, em 1835 (a história se passa em 1819, no período da Restauração, sob o reinado de Luís XVIII). Foi um enorme e escandaloso sucesso literário de Balzac, no qual, tomando uma pensão parisiense como epicentro do enredo, e utilizando um recurso de estilo que é quase como uma marca registrada em muitos de seus romances, vai lentamente nos introduzindo no lugar em que viremos a conhecer as principais personagens. Logo nos primeiros parágrafos de “O pai Goriot”, nos acena o autor com uma descrição que traz em seu bojo o que ali haverá de se passar:

“... Um parisiense que por lá se perdesse veria apenas pensões burguesas ou instituições, miséria ou tédio, velhice que morre, alegre mocidade aprisionada, forçada a trabalhar. Nenhum bairro de Paris é mais horrível e, digamos de passagem, mais desconhecido. A rue Neuve-Sainte-Geneviève, sobretudo, é como uma moldura de bronze, a única que convém a esta narrativa, para a qual o espírito nunca estaria demasiado preparado por cores escuras e ideias graves, assim como, de degrau em degrau, a luz vai diminuindo e a voz do guia se tornando mais débil enquanto o viajante desce às Catacumbas. Comparação exata! Quem afirmará o que é mais horrendo de ver, corações empedernidos ou crânios vazios?”.

E logo em seguida nos lança para dentro do lugar:

“... A fachada da pensão dá para um jardinzinho, de modo que fica em ângulo reto sobre a rue Neuve-Sainte-Geneviève, de onde aparece em todo o comprimento. Ao longo dessa fachada, entre a casa e o pequeno jardim, corre uma calha de pedra, de uma toesa de largura, diante da qual há uma aleia coberta de areia e orlada de gerânios, louros-rosa e romãzeiras, plantados em grandes vasos de louça azul e branca. Entra-se nessa alameda por uma portinha, encimada por uma tabuleta na qual se lê:

CASA VAUQUER
Pensão burguesa para os dois sexos e outros.”.​

Homens e mulheres burgueses está claro. Resta saber os “outros” moradores e frequentadores da pensão. Em primeiro plano está o pai Goriot do título, como é chamado por todos, comerciante de sucesso, abriu mão de sua fortuna para casar bem as duas amadas filhas, que o abandonarão nos seus momentos mais difíceis (Quem hoje não conhece uma história parecida?). Ainda no primeiro plano do enredo, encontramos Eugène de Rastignac, jovem estudante de Direito, de origem nobre porém decadente e, principalmente, pobre, no qual a família investiu tudo o que tinha na esperança de que ele viesse a alcançar sucesso financeiro; Rastignac ainda é ingênuo e puro, mas está a caminho de conseguir um bom passe para penetrar na alta sociedade de Paris, tornar-se-á amante de Delphine (casada com o Barão de Nucingen, banqueiro inescrupuloso), que é uma das filhas ingratas do pai Goriot; com o decorrer dos anos, o nome “Rastignac” tornou-se sinônimo de arrivista, na França, um homem capaz de tudo para atingir seus fins, um escalador social, um tipo de lobo em pele de cordeiro, e que, por ser tão comum nos dias de hoje, poderíamos publicar aqui uma lista de nomes bastante conhecidos. Não muito distante do primeiro plano, encontraremos Vautrin, um corruptor e contraventor nato, um homem misterioso, com muitos nomes, quase uma encarnação satânica, que pratica o bem e o mau com o mesmo prazer, tem envolvimento com a Polícia mas também com o mundo bandido dos criminosos e assassinos, e que hoje poderíamos, salvo a enorme inteligência dessa personagem, compará-lo com políticos locais ou milicianos que trafegam nas bordas do Poder.

Pronto! O lauto jantar já pode ser servido! E a partir daí poderemos experimentar um prazer de ler quase palatável, capaz de rivalizar com aquilo que a gastronomia francesa tem de melhor para nos oferecer. Contudo, embora essas personagens nos sejam muito familiares, não podemos dizer que a obra de Balzac ainda é amplamente atual e que não envelheceu. Sim, envelheceu, como a máquina a vapor de Watt também envelheceu, mas sua razão e significado não. Olhando para as personagens de seus melhores romances e novelas, percebemos nelas não só características que nos são familiares, como nelas também encontramos os antepassados e os mestres dos seres humanos com os quais compartilhamos os dias atuais, nas pequenas e nas grandes cidades, nas ruas, nas casas lotéricas, nas casas de penhores, nos botecos e restaurantes, nas festas e saraus, nos meios de comunicação, nas capas de revistas e jornais, na TV e nas redes sociais. Balzac afirmava categoricamente que suas personagens eram absolutamente reais e que suas histórias eram a pura verdade. E não estamos falando apenas de “O Pai Goriot”, mas também de “Eugenia Grandet”, de “O lírio do Vale”, de “Ursula Mirouët”, de “Ilusões Perdidas”, de “Esplendores e misérias das cortesãs”... Mas real, ou não, verdade, ou não, talvez não sejam de fato importantes. Importante mesmo é poder penetrar nos romances e novelas de Balzac, poder voltar no tempo e logo e então sentir este tempo ali capturado voltar a se mover, e se nos entregamos a esse mover-se do tempo, quase que sentimos os cheiros dos ambientes e aspiramos o pó que paira no ar: creio que é isso que, em Literatura, chamamos de Arte. E por ser Arte, talvez nela sempre estaremos salvos... do presente? e também daquilo que o futuro, em nossos tempos sombrios, na política e na saúde pública, nos proporcionará ou não?

León Goslan, escritor e dramaturgo, amigo de Balzac, conta que, em uma conversa com Vidocq sobre o que é ou não a realidade (Vidocq é o homem verdadeiro que foi o inspirador de Vautrin), Balzac teria dito o seguinte:

“— Sim, sr. Vidocq. Olhe: a verdadeira realidade é este belo pêssego de Montreuil. Aquele que o senhor chamaria real brota naturalmente na floresta, num pé bravo. Pois bem, esse não vale nada, é pequeno, ácido, amargo, impossível de se comer. Eis porém o pêssego real, o que estou segurando, que foi cultivado durante cem anos, que se obteve por certa poda à esquerda ou à direita, por certa transplantação num terreno seco ou leve, por certo enxerto; o pêssego, afinal, que se come, que perfuma a boca e o coração. Este pêssego delicioso fomos nós que o fizemos: é o único real. O meu processo é o mesmo. Obtenho a realidade nos meus romances como Montreuil obtém a realidade nos seus pêssegos. Sou jardineiro em livros.”.

Se verdadeira, e gosto de pensar que sim, mas pouco importa, pois que é muito provável, podemos ver nessa conversa um pouco da Arte salvadora praticada por Balzac. E talvez só nela encontremos por hora a resposta para nossas dúvidas.

Para o leitor interessado, a internet disponibiliza hoje muitos livros gratuitos de Honoré de Balzac, a maioria em francês, inglês e espanhol. Mas em uma busca bem refinada, posso afirmar que o leitor poderá até mesmo encontrar vários livros da “Comédia Humana” em português, e na edição da editora Globo, de 1954, organizada pelo incansável e insubstituível Paulo Rónai (a última edição é de 1992), que contou com a colaboração de cerca de vinte excelentes tradutores e que nos fornece uma verdadeira festa de notas explicativas que, ao invés de tornar a leitura cansativa, torna-a mais apreciável. Essa edição é considerada pelos especialistas franceses a melhor já publicada fora da França, superando em qualidade todas as demais edições estrangeiras. Balzac levou vinte anos para escrever a sua “Comédia Humana”, e Paulo Rónai trabalhou por quinze anos em sua organização editorial no Brasil, o que por si só também já é algo assombroso. Aliás, Balzac não merece menor atenção! E Paulo Rónai também!

João José de Melo Franco é poeta, contista e editor
 
Última edição:
Talvez, se fosse menos apressadinho, o Balzac pudesse ter publicado um livro mais coeso, ao invés da colcha de retalhos que é A mulher de 30 anos.
Não li outras coisas dele, mas confesso que depois dessa leitura, nem tive mais vontade.
 
Última edição:
Poxa loxa, experimente ao menos mais algum dos famosinhos: O pai Goirot, ou Ilusões perdidas. Com uma obra monumental dessas, é natural que tenha um ou outro livro abaixo da expectativa. ^^
 
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