Um livro não se julga pela capa nem pela adaptação pela Disney. Num dia desses vi as capas coloridas da coleção Eternamente Clássicos lançada pela editora Leya e resolvi comprá-la. Capas coloridas e adaptações pra cinema. O Mago de Oz foi o primeiro livro dessa coleção que li e deixou muito a desejar. O que poderia fazer? A coleção é supostamente de literatura infantil. Nada que se compare a O Pequeno Príncipe ou A História Sem Fim. Então, eu tive que fazer uma viagem de 9 horas de avião de Recife pra Santarém e resolvi levar esse livro de 471 páginas comigo, porque teria tempo de sobra dessa vez.
As primeiras páginas do livro me frustraram um pouco. A história começa com a Festa dos Loucos, uma peça de teatro fracassada, uma comissão de embaixadores flamengos, mais plebes e fidalgos, ou seja, uma TV Fama medieval especializada em circo de horrores. Logo de cara se vê que a personagem principal é o Palácio da Justiça, onde a peça é encenada. Sim, o livro todo é uma apologia à Arquitetura, em destaque a Catedral de Notre Dame. Capítulos inteiros são dedicados a descrever a arquitetura de Paris do século XV, o sistema feudal e os costumes da época. Depois disso, se sobrar palavras, se descreve aqui ou ali as personagens humanas. A história mesmo só começa a ficar interessante depois que aparecem as personagens coadjuvantes, Esmeralda e Quasímodo.
Esmeralda não é nenhuma Carmen, é uma ciganinha pueril com a habilidade de seduzir passivamente padres e capangas corcundas de padres. Ela não consegue seduzir filósofos dramaturgos, mas a cabrita encantada dela sim. Esmeralda, como qualquer francesa de romances, tem uma queda por militares fanfarrões que não conseguiriam entrar no BOPE. Quasímodo, o célebre corcunda da Disneylândia, esse sim é feio que dói. Além de corcunda, caolho e coxo, Quasímodo ainda por cima é surdo, de tanto tocar os sinos da catedral. Não se usava EPIs naquela época, como todos sabemos. O padre Frollo é um velho babão, alquimista e psicopata nas horas vagas. Phoebus é o capitão mulherengo que se enforca no final nas rédeas do matrimonio. Gringoire é um zoófilo.
A narrativa, depois que se esgota de falar sobre a arquitetura parisiense, tem momentos marcantes e eletrizantes, dignos de um filme de ação. Não tem como se enojar do povo, que vai ao pelourinho para assistir um corcunda surdo levar chibatadas simplesmente por não saber responder corretamente a autoridade judicial, por ser surdo. Sim, a autoridade judicial era um surdo também. Desacato a autoridade e o corcunda paga levando chibatadas em praça pública, e todo mundo acha justo porque o corcunda é feio que dói. Em outro momento, a cigana vai a julgamento por bruxaria, por ter assassinado um honrado capitão, que aliás, nem tinha morrido, e é torturada para confessar um crime que não cometeu. Só de pensar que essas coisas não são pura ficção... Então em outro momento, um corcunda King Kong salva a donzela e depois enfrenta um exército persa de salteadores de catedrais de dar inveja aos espartanos. Sozinho. Seis mil salteadores, se o informante do Rei Luís estava certo. De romance histórico para filme de ação. Simplesmente, esse livro me pegou de surpresa.
As primeiras páginas do livro me frustraram um pouco. A história começa com a Festa dos Loucos, uma peça de teatro fracassada, uma comissão de embaixadores flamengos, mais plebes e fidalgos, ou seja, uma TV Fama medieval especializada em circo de horrores. Logo de cara se vê que a personagem principal é o Palácio da Justiça, onde a peça é encenada. Sim, o livro todo é uma apologia à Arquitetura, em destaque a Catedral de Notre Dame. Capítulos inteiros são dedicados a descrever a arquitetura de Paris do século XV, o sistema feudal e os costumes da época. Depois disso, se sobrar palavras, se descreve aqui ou ali as personagens humanas. A história mesmo só começa a ficar interessante depois que aparecem as personagens coadjuvantes, Esmeralda e Quasímodo.
Esmeralda não é nenhuma Carmen, é uma ciganinha pueril com a habilidade de seduzir passivamente padres e capangas corcundas de padres. Ela não consegue seduzir filósofos dramaturgos, mas a cabrita encantada dela sim. Esmeralda, como qualquer francesa de romances, tem uma queda por militares fanfarrões que não conseguiriam entrar no BOPE. Quasímodo, o célebre corcunda da Disneylândia, esse sim é feio que dói. Além de corcunda, caolho e coxo, Quasímodo ainda por cima é surdo, de tanto tocar os sinos da catedral. Não se usava EPIs naquela época, como todos sabemos. O padre Frollo é um velho babão, alquimista e psicopata nas horas vagas. Phoebus é o capitão mulherengo que se enforca no final nas rédeas do matrimonio. Gringoire é um zoófilo.
A narrativa, depois que se esgota de falar sobre a arquitetura parisiense, tem momentos marcantes e eletrizantes, dignos de um filme de ação. Não tem como se enojar do povo, que vai ao pelourinho para assistir um corcunda surdo levar chibatadas simplesmente por não saber responder corretamente a autoridade judicial, por ser surdo. Sim, a autoridade judicial era um surdo também. Desacato a autoridade e o corcunda paga levando chibatadas em praça pública, e todo mundo acha justo porque o corcunda é feio que dói. Em outro momento, a cigana vai a julgamento por bruxaria, por ter assassinado um honrado capitão, que aliás, nem tinha morrido, e é torturada para confessar um crime que não cometeu. Só de pensar que essas coisas não são pura ficção... Então em outro momento, um corcunda King Kong salva a donzela e depois enfrenta um exército persa de salteadores de catedrais de dar inveja aos espartanos. Sozinho. Seis mil salteadores, se o informante do Rei Luís estava certo. De romance histórico para filme de ação. Simplesmente, esse livro me pegou de surpresa.