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Prometeu Acorrentado (Ésquilo)

Meia Palavra

Usuário
A importância da cultura grega é inquestionável, embora raramente tenhamos plena consciência do seu alcance. Ela, juntamente com o Cristianismo e a cultura romana, constitui um dos grandes pilares formadores do “homem ocidental”. *A tragédia, claro, está inserida nesse legado. Não só como gênero em si, mas também como expressão de ideais que recebemos de [...]

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Meu professor de literatura diz que para sermos bons entendedores da literatura ocidental é indispensável conhecer literatura clássica e a bíblia. Estou começando a concordar com ele!
 
Nada mais certo do que seu professor disse, afinal de contas, literatura clássica é a base.

Li o Prometeu Acorrentado numa manhã. Talvez não tenha dado a devida atenção; mas, por se tratar de um texto curto, pretendo quiçá relê-lo numa tradução que tenha sido feita em verso (sugestões?). Gostei bastante, inclusive um tanto quanto curioso em relação à profecia do Prometeu (cujo realizado eu não consigo ver outro senão Jesus Cristo) e em relação à situação da Io, que eu achei mais dramática e mais pungente que a do próprio Prometeu...
 
Nada mais certo do que seu professor disse, afinal de contas, literatura clássica é a base.

Li o Prometeu Acorrentado numa manhã. Talvez não tenha dado a devida atenção; mas, por se tratar de um texto curto, pretendo quiçá relê-lo numa tradução que tenha sido feita em verso (sugestões?).

Sim. A tradução do Jaa Torrano, pela Iluminuras.

Não só a tradução é linda, mas a edição vem acrescida de um baita estudo sobre a peça e os argumentos do Torrano para contrariar a corrente que defendia a não-autoria do Ésquilo por razões de uma suposta incoerência na sua visão religiosa. O Torrano inclusive conclui em algum ponto, ou noutro estudo, não recordo, mas creio que era algo assim: que esta seria a mais esquiliana das tragédias.


Esta é uma tragédia que, apesar de alguns passos de alto lirismo e do próprio interesse do mito prometeico que desperta, me pareceu que faltasse alguma coisa. Ela não causa o arrebatamento de um "Édipo rei", por exemplo; Prometeu não comete uma falha inconsciente do que faz, mas pelo contrário, ele tem a previdência e sabe que será punido por roubar o fogo. Ele não é um herói trágico no rigor do termo.
E outra coisa que falta, para mim, é uma trama mais complexa, com surpresinhas e tal. A limitação com que o Ésquilo trabalhava - somente o coro + dois atores - acaba por reduzir, me parece, a complexidade dramática, se compararmos depois com a plena liberdade que um Shakespeare tem de pôr em cena inúmeros atores e, assim, dar voz direta a eles, ao invés de usar o discurso indireto.
 
Sim. A tradução do Jaa Torrano, pela Iluminuras.

Não só a tradução é linda, mas a edição vem acrescida de um baita estudo sobre a peça e os argumentos do Torrano para contrariar a corrente que defendia a não-autoria do Ésquilo por razões de uma suposta incoerência na sua visão religiosa. O Torrano inclusive conclui em algum ponto, ou noutro estudo, não recordo, mas creio que era algo assim: que esta seria a mais esquiliana das tragédias.


Esta é uma tragédia que, apesar de alguns passos de alto lirismo e do próprio interesse do mito prometeico que desperta, me pareceu que faltasse alguma coisa. Ela não causa o arrebatamento de um "Édipo rei", por exemplo; Prometeu não comete uma falha inconsciente do que faz, mas pelo contrário, ele tem a previdência e sabe que será punido por roubar o fogo. Ele não é um herói trágico no rigor do termo.
E outra coisa que falta, para mim, é uma trama mais complexa, com surpresinhas e tal. A limitação com que o Ésquilo trabalhava - somente o coro + dois atores - acaba por reduzir, me parece, a complexidade dramática, se compararmos depois com a plena liberdade que um Shakespeare tem de pôr em cena inúmeros atores e, assim, dar voz direta a eles, ao invés de usar o discurso indireto.

@Calib, verifiquei que o tradutor Torrano traduz o título como Prometeu Cadeeiro e não como Prometeu Acorrentado, procede?
 
@Calib, verifiquei que o tradutor Torrano traduz o título como Prometeu Cadeeiro e não como Prometeu Acorrentado, procede?

Sim.


O título intraduzível Prometheùs Desmotés e o traduzido Prometeu Cadeeiro.

O título da tragédia Prometheùs Desmotés parece colhido num verso da fala com que Prometeu conclama os Deuses testemunhas do Grande Juramento dos Deuses a contemplar a sua paradoxal situação:

Vede-me: cadeeiro desditoso Deus.
Horâte desmóten me dyspótmon Théon.
(Pr. 119)


Nesse verso, parece-me que "cadeeiro" (desmóten) indica o rol de atribuições que constituem as honras de Prometeu, e "desditoso" (dyspótmon) a sua situação nesse momento de pedir que o contemplem.

O nome desmótes é formado do mesmo tema que desmá e do sufixo de nome de agente -tes. Com esses elementos, o sentido originário desse nome é o "encadeador" e aponta a competência técnica que faz de Prometeu um Deus congênere (...) de Hefesto, a saber, a arte metalúrgica, com que se fabricam cadeias e todos os meios de encadear e de prender. Desmótes, portanto, significa "o senhor das cadeias".

A situação de Prometeu se diz “desditosa” (dyspótmon) no momento em que perde os poderes que lhe são conferidos, não por sua arte, mas por sua participação em Zeus. Dyspótmoni descreve essa “difícil queda”, que consiste na perda dos poderes imposta pela ausência da participação em Zeus, e assim pela exclusão da presença de Zeus. Mediante essa “difícil queda” o senhor das cadeias se vê encadeado pelas cadeias de que perde o domínio.

Ao dar título a esta tragédia, cujo tema central é a privação de poderes e a passividade em que se vê encadeado e imobilizado o Titã ao ser excluído de toda participação em Zeus, o nome desmótes sofre uma mudança de sentido, e adquire o sentido passivo que figura nos títulos das traduções tradicionais: “Prometeu encadeado”, ou “acorrentado”, ou “agrilhoado” etc.

Para indicar essa mutação e ambiguidade do título, é necessário um nome de fabricante de cadeias que tenha essa duplicidade de sentido ativo e passivo. Em dois textos diversos, numa página de Memórias do cárcere de Graciliano Ramos e no verbete do Grande e novíssimo dicionário da língua portuguesa de Laudelino Freire, pode-se verificar que a palavra “cadeeiro” tem essa duplicidade de sentido e ambiguidade procuradas.

[cita os trechos mencionados]”


TORRANO, Jaa. Ésquilo —Prometheùs Desmótes: Prometeu Cadeeiro. In: ÉSQUILO. Tragédias: Os persas; Os sete contra Tebas; As suplicantes; Prometeu cadeeiro. Edição bilíngue. Estudo e tradução: Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2009. P. 327-328.
 

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