Sim. A tradução do Jaa Torrano, pela Iluminuras.
Não só a tradução é linda, mas a edição vem acrescida de um baita estudo sobre a peça e os argumentos do Torrano para contrariar a corrente que defendia a não-autoria do Ésquilo por razões de uma suposta incoerência na sua visão religiosa. O Torrano inclusive conclui em algum ponto, ou noutro estudo, não recordo, mas creio que era algo assim: que esta seria a mais esquiliana das tragédias.
Esta é uma tragédia que, apesar de alguns passos de alto lirismo e do próprio interesse do mito prometeico que desperta, me pareceu que faltasse alguma coisa. Ela não causa o arrebatamento de um "Édipo rei", por exemplo; Prometeu não comete uma falha inconsciente do que faz, mas pelo contrário, ele tem a previdência e sabe que será punido por roubar o fogo. Ele não é um herói trágico no rigor do termo.
E outra coisa que falta, para mim, é uma trama mais complexa, com surpresinhas e tal. A limitação com que o Ésquilo trabalhava - somente o coro + dois atores - acaba por reduzir, me parece, a complexidade dramática, se compararmos depois com a plena liberdade que um Shakespeare tem de pôr em cena inúmeros atores e, assim, dar voz direta a eles, ao invés de usar o discurso indireto.