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Como ler um livro?

Zzeugma

Usuário
Segue logo abaixo um artigo do Mundo Fantasmo, do escritor, poeta e etc Braúlio Tavares... Neste blog, ele publica seus artigos que saem em um Jornal da Paraíba... Gosto muito do que ele escreve (Mesmo que às vezes não concorde): quase sempre é instigante e não nos deixa indiferentes.

Este texto abaixo, em particular, achei interessante pra postar aqui. Pode até ser que já tenha alguma discussão parecida, pois não é incomum entre leitores (e demais consumidores de cultura, pop ou não) que surja a velha discussão entre o que é chato, cabeça, legal, vazio...

* * *

1772) [size=large]O leitor enroscado no sofá[/size] (13.11.2008)
http://mundofantasmo.blogspot.com/2010/03/1772-o-leitor-enroscado-no-sofa.html

Estive participando de uma discussão literária entre vários blogs, em torno de um livro meio modernista, de leitura um tanto complicada. A certa altura, um dos participantes escreveu: “É um bom livro, um livro importante, mas não é o tipo de livro que escolho quando me enrosco no sofá, numa noite tranquila, com uma xícara de chá”. A imagem corresponde às circunstâncias ideais de leitura: um local aconchegante, um tempo prolongado, sem interrupções, uma bebida leve ou algum lanche miúdo para ficar “beliscando”...

No contexto em que esse leitor se pronunciou, ele queria dizer que o livro em discussão era um livro difícil, intelectual, que não provocava o envolvimento do leitor. Ele não conseguia “se identificar com o protagonista”, nem “se importar com o que acontecia aos personagens”. Era um livro que lhe causava um estranhamento, um distanciamento. E na hora de se enroscar no sofá, o que esse tipo de leitor procura é um livro que o envolva, no qual ele mergulhe esquecendo-se do mundo à sua volta, emocionando-se com o que acontece aos personagens, vivendo e respirando junto com eles.

Em função disto, vou definir que existem dois Leitores, ou pelo menos duas Leituras: a Leitura Brechtiana e a Leitura Stanislavskiana. Isto se baseia no teatro do intelecto pregado por Brecht, e no teatro da emoção pregado por Stanislavski. A primeira leitura procura abordar o livro intelectualmente, observando a narrativa, analisando sua estrutura, decompondo seus elementos, anotando as referências culturais que ele desperta (cada livro nos remete a um universo seletivo, a um cardápio cultural único e irrepetível). A segunda leitura é para rir, emocionar-se, excitar-se, assustar-se, participar daquela narrativa com a voluntária suspensão da descrença.

Não é para me gabar, mas eu acho que sou o Leitor Completo. Porque eu não apenas sou capaz de ambas as leituras, como salto de uma para outra sem precisar sequer apertar um botão ou dar um Alt+Tab. E só o que vejo à minha volta são pessoas que são cronicamente incapazes de ler de uma dessas duas maneiras. Tem gente que só consegue entender Robbe-Grillet, e gente que só sabe entender Agatha Christie. Para mim, a cena de estar numa madrugada silenciosa enroscado no sofá com uma taça de vinho (no inverno) ou uma lata de cerveja (no verão) significa imersão total da leitura, rendição total ao discurso literário, e para mim é irrelevante se estou lendo um tratado de Freud (“leitura intelectual”) ou um romance de Jorge Amado (leitura de entretenimento, por puro prazer).

A maioria dos leitores, quando se enroscam no sofá, não querem fazer nenhum esforço intelectual além do necessário para se divertir com uma história bem contada. Pra mim é um desperdício. Sofá, vinho, madrugada silenciosa, isso é o momento ideal para ler Guimarães Rosa ou T. S. Eliot. O resto eu leio no metrô ou na fila do Banco.

* * * *
 
Então, eu acho que ele está correto. Para alguém como eu.
Tenho uma certa dificuldade de concentração, então deixo mesmo para ler esses livros que tu esquece da vida no ônibus, fila de Banco, etc, pq eles te pegam de jeito e tu nem precisa fazer esforço pra entrar na história. É para relaxar. Agora para ler um livro mais complexo, ou para tentar fazer uma leitura melhor, eu tenho que estar bem acomodada e sem maiores interferências, para como ele diz, aproveitar de verdade a leitura.
Senão leio e depois, quando penso sobre o que li, fico achando que perdi alguma coisa, como aconteceu com Belas Maldições, que acabei atrasando e perdendo o clube pq parei tudo e voltei e li de novo pq cheguei à conclusão que tinha deixado passar muita coisa. Agora estou lendo beeeeem devagar. Mas também posso estar embromando porque não quero terminar o livro. :rofl:
 
Lana Lane disse:
Então, eu acho que ele está correto. Para alguém como eu.
Tenho uma certa dificuldade de concentração, então deixo mesmo para ler esses livros que tu esquece da vida no ônibus, fila de Banco, etc, pq eles te pegam de jeito e tu nem precisa fazer esforço pra entrar na história. É para relaxar. Agora para ler um livro mais complexo, ou para tentar fazer uma leitura melhor, eu tenho que estar bem acomodada e sem maiores interferências, para como ele diz, aproveitar de verdade a leitura.
Senão leio e depois, quando penso sobre o que li, fico achando que perdi alguma coisa, como aconteceu com Belas Maldições, que acabei atrasando e perdendo o clube pq parei tudo e voltei e li de novo pq cheguei à conclusão que tinha deixado passar muita coisa. Agora estou lendo beeeeem devagar. Mas também posso estar embromando porque não quero terminar o livro. :rofl:

Penso o mesmo lana!

Há livros que necessitam ser lidos em um ambiente ideal para poderem ser...digamos...sorvidos melhor.
 
[align=justify]A densidade das leitura demanda formas de atenção e ambientes específicos para que o leitor consiga interpretar mais a fundo a história. Filosofia, por exemplo, é o tipo de leitura que precisa de mais calma, mais pausas, retorno a certas frases etc., que, portanto, precisam de calma e sossego para serem realmente apreciados e compreendidos.
Mas, percebi que, com treinamento e exercício da concentração, se pode ler até mesmo em um ônibus tomada pela balbúrdia![/align]
 
Mas também é bem gostoso ler um livro gênero "Agatha Christie" em um lugar calmo e silencioso, com tempo pra, se quiser, ler o livro inteiro, sem interrupções.

E falando sobre os tipos de leitores, acho que minha tendência é para a "Leitura Stanislavskiana" já que não consigo me distanciar dos personagens, mesmo (ou mais ainda) os detestáveis e não gosto nem um pouco de personagens que não me transmitam emoção, que parece que não "existem" vamos dizer assim.

E eu não entendi essa parte aqui:

Zzeugma disse:
Não é para me gabar, mas eu acho que sou o Leitor Completo. Porque eu não apenas sou capaz de ambas as leituras, como salto de uma para outra sem precisar sequer apertar um botão ou dar um Alt+Tab. E só o que vejo à minha volta são pessoas que são cronicamente incapazes de ler de uma dessas duas maneiras.

O que isso quer dizer?
Se as pessoas são incapazes de ler de umas das duas maneiras, como elas lêem?
 
Clara V. disse:
Zzeugma disse:
Não é para me gabar, mas eu acho que sou o Leitor Completo. Porque eu não apenas sou capaz de ambas as leituras, como salto de uma para outra sem precisar sequer apertar um botão ou dar um Alt+Tab. E só o que vejo à minha volta são pessoas que são cronicamente incapazes de ler de uma dessas duas maneiras.
O que isso quer dizer?
Se as pessoas são incapazes de ler de umas das duas maneiras, como elas lêem?

Acho que ele quis dizer que as pessoas só conseguem ler de um modo ou de outro, dificilmente os dois. Se embananou em explicar, hahaha

Meu problema em livros como os de Agatha Christie, ou coisas do tipo, é que não consigo apenas me divertir lendo aquilo, pelo contrario, fico aborrecido! Muitas simplificações, lugares comuns, blablablabla, enfim, pra mim uma leitura leve é Jane Austen. :sim:
 
EU não tenho problema ONDE ler o livro. Quase nunca eu tenho esta "paz" para ler em poltronas, com uma taça, ouvindo música e etc... (Aliás, acho que acabaria dormindo, isto sim). O máximo de silêncio que consigo é no banheiro e olhe lá...

Entretanto, existem livros que são mais fáceis e outros, mais difíceis.

Curiosamente, desde que eu não esteja estudando, esteja lendo por interesse, livros técnicos exigem "menos" atenção minha. O mais difícil que li nesta linha foi o "Era dos Extremos" do Hobsbawn, que era muito, muito, muito denso. Cada parágrafo, o historiador mencionava de vários aspectos globais de um fenômeno... Por ser sobre o século XX, muitos eu já ouvira falar, mas ficava uma leitura pesada... Demorei uns dois meses, lendo em muitas e muitas viagens de metrô.

Livros que me envolvem mais, acabo poupando para quando eu sabia que poderia ler várias páginas sem interrupção. Pois é muito chato precisar parar no meio de um suspense crescente...

Mas, como o Bráulio, gosto dos dois tipos de livros... Mas prefiro que o livro que "envolve" traga alguma informação nova... Um exemplo foi a trilogia policial de Phillip Kerr sobre um detetive durão berlinense (Bernie Gunther) durante os anos 30 e 40. Os livros são muito bons (O detetive é um personagem ótimo) e ainda o cara acrescenta muitas e muitas informações sobre a vida alemã na Segunda Guerra... Eu não sou especialista e não saberia dizer se são fidedignas, mas de todo modo, faz você pensar, são pelo menos plausíveis... Alguns exemplos de fatos citados: uma das formas da Alemanha Nazista tirar o país do buraco foi proibindo as mulheres de trabalhar; houve tribunais contra crimes de guerra na Alemanha, etc etc.

O melhor livro da trilogia foi o último: ele quase não é policial, é uma trama de espionagem no início da reconstrução de Viena (se não me engano)... Muito, muito bom... Chama-se Réquiem Alemão e vi vendendo em promoção na banca (ONTEM) por R$13 paus...

http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=16554

Mas eu também acho que depende um pouco do leitor saber o que fazer com o que está lendo... Ontem li uma entrevista do Marcelo Gleiser sobre o seu novo livro e houve uma citação de "O Mochileiro das Galáxias", uma piada na qual sinceramente eu achei engraçada... Mas passei batido.

Abs
 
-Arnie- disse:
Meu problema em livros como os de Agatha Christie, ou coisas do tipo, é que não consigo apenas me divertir lendo aquilo, pelo contrario, fico aborrecido! Muitas simplificações, lugares comuns, blablablabla, enfim, pra mim uma leitura leve é Jane Austen. :sim:

rs

Eu acho que vc separou a leitura de livros bons e ruins e não a tal "Leitura Brechtiana e a Leitura Stanislavskiana" do Braulio...

Abs
 
-Arnie- disse:
Meu problema em livros como os de Agatha Christie, ou coisas do tipo, é que não consigo apenas me divertir lendo aquilo, pelo contrario, fico aborrecido! Muitas simplificações, lugares comuns, blablablabla, enfim, pra mim uma leitura leve é Jane Austen. :sim:

[align=justify]-Arnie-, o que o Braulio Tavares quis dizer, de maneira simplificada, foi que, dentro das inúmeras divisões e classificações que as pessoas estendem a Literatura, ele escolheu dois autores que pensaram sobre as possíveis abordagens possíveis acerca da Literatura e as usou para exemplificar a maneira como ele entende que a leitura pode ser interpretada.
Vale dizer que isso é algo extremamente subjetivo da parte dele, já que a apreensão da Literatura é tão diversa quanto o número de leitores que a lêem. Encará-la para se emocionar ou para explorá-la enquanto cânone da Literatura Universal ou contemporânea, são duas formas de ler, das infinitas que existem.
Entendo o que você quer dizer se dirige sua crítica a maneira mais simplificada com que Braulio Tavares expõe suas idéias, tenho também minhas ressalvas em relação a isso, mas ainda assim consigo me divertir ao ler as matérias do Mundo Fantasmo.
[/align]
 
Eu entendi o que ele disse, só tava dizendo que o que os outros consideram de leitura por diversão, para mim, é tortura. Aí eu acabo entrando no Brechtiano, porque, siceramente, esses livros "só pra divertir", não sei a quem divertem ):
 
Lana Lane disse:
Então, eu acho que ele está correto. Para alguém como eu.
Tenho uma certa dificuldade de concentração, então deixo mesmo para ler esses livros que tu esquece da vida no ônibus, fila de Banco, etc, pq eles te pegam de jeito e tu nem precisa fazer esforço pra entrar na história. É para relaxar. Agora para ler um livro mais complexo, ou para tentar fazer uma leitura melhor, eu tenho que estar bem acomodada e sem maiores interferências, para como ele diz, aproveitar de verdade a leitura.

Sou assim também! Dependendo do livro se eu for ler no ônibus eu passo do ponto de ônibus e vou embora... Livros mais complexos eu prefiro ler em casa, no silêncio e em paz. Já cheguei a voltar um livro todo também porque achava que não tinha percebido detalhes que depois marcaram a história..
Agora livros mais "leves" eu leio o dia inteiro, até no meio da aula! haha
 
Também "divido" os livros que leio entre mais ou menos complexos.
Geralmente depende da minha concentração. Tem vezes que não consigo absorver um livro mais complexo, que pede uma atenção/concentração especial, e aí acabo lendo esses mais fáceis... E outras vezes é o contrário, estou com a mente aberta e preciso ler algo mais "profundo"...
 
Eu preciso de silencio pra ler. E um mínimo de conforto .Não consigo me concentrar de outra forma. Mas o vinho acho que não, melhor um chá ;)
 
Acho o tempo me deixou um pouco limitado, porque eu me vi nessa situação que o autor colocou, só que ainda consigo ler das duas formas, sendo que preciso estar em locais certos para isso. Tem livro que dá para ler no meio da aula enquanto ta um barulho danado, vou entender da mesma forma. Mas tem outras leituras que me pedem um pouco mais de calma e um local melhor isolado, porque são leituras de atmosferas muito únicas, ou seja, eu posso me perder fácil ou não entrar no clima. E tipo... não vai de acordo com a densidade da obra, é algo que está dentro de mim e até agora tem se apresentado de uma maneira tão louca que aparenta ser aleatório.
 
Eu gosto de intercalar os dois tipos de leitura, e para mim tanto faz onde leio, eu consigo me desconectar do mundo a minha volta quando estou lendo, até o meu piá já entendeu que quando estou na poltrona de leitura é melhor falar com o pai do que comigo, eu não vou ouvir mesmo :rofl:!

estrelinhas coloridas...
 
[align=justify]Também procuro alternar leituras de coisas mais técnicas ou científicas com histórias mais leves, embora a caracterização "leve" seja realmente díficil de definir. Eu diria que alterno Literatura Técnica (voltada a História e historiografia) e Literatura Literatura, se é que dá pra entender uma explicação chula como essa! :sacou:[/align]
 
Eu evito ter leituras mais complexas no ônibus ou em ambientes muito barulhentos, mas nem sempre isso é possível (quando se está com um livro emprestado e pressa pra entregar). Agora mesmo estou lendo um livro chamado As Razões do Iluminismo. É uma coleção de ensaios. Alguns são fáceis de ler. Outros são tensos. Por serem ensaios, o autor fala com muita propriedade sobre a obra de alguns autores e de forma como quem esteja lendo já tenha um conhecimento mais ou menos profundo da obra dos autores. Os que já conheço alguma coisa, não tenho problemas, mas os que nunca li nada além do nome complica.

Enfim, mas acho importante o exercício dos dois modos de leitura. A maioria das pessoas que conheço só leem para entreter-se. Um pequeno número só lê cânones literários ou literatura acadêmica densa. Acho os dois modos um erro. É bom procurar um equilíbrio. :sim:
 
Diva disse:
Enfim, mas acho importante o exercício dos dois modos de leitura. A maioria das pessoas que conheço só leem para entreter-se. Um pequeno número só lê cânones literários ou literatura acadêmica densa. Acho os dois modos um erro. É bom procurar um equilíbrio. :sim:

[align=justify]Justamente. Acho que as maneiras de se encarar a Literatura são tantas e tão ricas que a pessoa deveria buscar conhecer mais do que uma delas. Literatura não é só diversão assim como não é só arte ou "ciência" ou ideologia etc.
[/align]
 
Eu não consigo dividir minhas leituras assim... o livro da vez me acompanha aonde eu for, seja complexo, leve, pesado, para entretenimento ou para estudo... e eu sou daquelas que pula de emocional a racional durante a leitura, então me identifiquei com o autor do blog ali... Com os anos de experiencia de leitura em movimento, eu desconecto facinho do mundo real pro mundo do livro.

Só tem um porém. Eu TENHO q começar o livro num lugar silencioso....
 
Lucas_Deschain disse:
Diva disse:
Enfim, mas acho importante o exercício dos dois modos de leitura. A maioria das pessoas que conheço só leem para entreter-se. Um pequeno número só lê cânones literários ou literatura acadêmica densa. Acho os dois modos um erro. É bom procurar um equilíbrio. :sim:

[align=justify]Justamente. Acho que as maneiras de se encarar a Literatura são tantas e tão ricas que a pessoa deveria buscar conhecer mais do que uma delas. Literatura não é só diversão assim como não é só arte ou "ciência" ou ideologia etc.
[/align]

O leitor não se ater apenas à leitura de "entretenimento", é fundamental para o aprofundamento, para a construção do senso crítico é necessário que a leitura exija mais do leitor, o que é difícil se nos atermos apenas a leitura leves. Como bem disse o Lucas a leitura é uma experiência muito rica para que nos fixemos em um único tipo.


Lucas_Deschain disse:
[align=justify]...embora a caracterização "leve" seja realmente díficil de definir. [/align]

Báh aqui o que dita as regras é a experiência única da leitura, portanto é uma classificação subjetiva até a raiz!

estrelinhas coloridas...
 

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