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São Paulo faz apostas arriscadas por Lucas
qua, 10/10/12
por Emerson Gonçalves |categoria Economia e Finanças, Gestão, Negociações de Atletas, São Paulo
Em 8 de agosto comentei a transferência de Lucas para o Paris Saint-Germain (aqui) e cumprimentei a diretoria do São Paulo pela transação, cheia de adjetivos tão grandiloquentes quanto a soma envolvida: 43 milhões de euros. Desses, o São Paulo ficará com 75%, equivalentes na semana da transação a 81 milhões de reais. Com a desvalorização do real (mais rápida que a do euro), o clube poderá receber alguns milhões a mais quando o dinheiro for transferido em… Janeiro. Apesar disso, naqueles dias agitados o presidente tricolor, Juvenal Juvêncio, disse que o dinheiro “já estava com o São Paulo”. Por toda parte, no Brasil como na Europa, a transação foi dada como certa, fechada, concluída.
Uma semana depois desse primeiro post, e partindo da informação que corria mundo e fora confirmada nas inúmeras declarações de dirigentes tricolores, escrevi a respeito do seguro para Lucas e para o Paris Saint-Germain. Desse post, copio aqui o seguinte trecho:
“Como fica isso tudo para o Paris Saint-Germain, depois de desembolsar 43 milhões de euros por seu direito federativo e, muito provavelmente, já estar pagando o salário acertado com ele, comentado em 5 milhões de euros anuais?
Futebol é esporte de contato… temos o dia a dia e seus inevitáveis riscos, aos quais todos nós estamos sujeitos. Então, para proteger o investimento do QIA – Qatar Investment Authority – o atleta do Paris Saint-Germain foi segurado.”
Errei.
Lucas não foi segurado.
Transcrevo trecho da matéria do portal Globo Esporte a respeito:
“O vice-presidente de futebol, João Paulo de Jesus Lopes, ratificou que, apesar de o clube receber o dinheiro apenas em janeiro, o negócio já está sacramentado.
– Quando fizemos a venda do Lucas, os dirigentes do PSG disseram que pagariam quando recebessem o atleta ou quando fizéssemos um seguro que resguardasse a equipe francesa em caso de algum imprevisto. Vamos esperar até janeiro, não há problemas – ressaltou.”
Em entrevista para o portal Terra, Jesus Lopes disse que o seguro só seria benéfico para o Paris Saint-Germain e que para o São Paulo seria somente uma despesa. A matéria diz, aparentemente a partir de suas declarações, que em caso de uma fatalidade, como uma lesão grave, a negociação dificilmente seria concluída.
Voltando à matéria de Marcelo Prado, do portal Globo Esporte, esse ponto fica claro logo no início: “Para receber a parte que tem direito na negociação que totalizou € 43 milhões, o clube do Morumbi teria de fazer um seguro para que o time francês fosse ressarcido em caso de algum problema com o atleta.”
Resumo da ópera:
- O São Paulo vende o direito federativo de Lucas para o Paris Saint-Germain em agosto;
- Fica combinado que o atleta continuará jogando pelo São Paulo até 31 de dezembro;
- Ao contrário do que foi dito, o clube francês só pagará pelo atleta em sua chegada, ou…
- Fará o pagamento caso o São Paulo faça um seguro que cubra todo o negócio;
- Alegando burocracia e custo, o São Paulo opta por não fazer seguro e receber o pagamento em janeiro.
Temos aqui duas apostas, uma delas grave:
- O clube acredita que nada acontecerá com a economia e a moeda europeia, apesar do ano tormentoso que vive o continente e do próprio processo de perda de valor e importância do euro; ao mesmo tempo acredita que a moeda brasileira seguirá em processo de erosão; tudo dando certo, em janeiro os cofres do Morumbi serão engordados por 4 ou mesmo 5 milhões a mais de reais; se alguém no clube pensou em uma operação de hedge, que vem a ser uma proteção cambial para garantir valores, o pensamento foi descartado; parece que os gestores do São Paulo não acreditam em risco cambial.
- O clube acredita que nada acontecerá com Lucas até sua apresentação ao Paris Saint-Germain, apesar dos riscos que cercam a prática do futebol, em especial em campos com a qualidade que vemos nos jogos disputados em nossos estádios; e sobre os riscos da atividade mais não preciso falar, todos nós, que gostamos do futebol, sabemos muito bem que eles existem e não marcam hora para entrar em cena.
Na matéria já citada e linkada sobre o seguro para Lucas, o profissional da área com quem conversei foi claro: os clubes brasileiros não têm programas de gestão de riscos. Essa declaração ganha contornos precisos, bem definidos, com as posturas do clube do Morumbi. Apesar de todo o histórico e da fraqueza estrutural da economia brasileira, sujeita ainda a achaques cambiais, prefere-se acreditar que tudo continuará como está. Uma operação de hedge e um seguro para o atleta, com o Paris Saint-Germain como beneficiário, protegeriam o patrimônio do clube – o direito federativo do atleta – e teriam um custo pequeno diante dos montantes envolvidos. Trabalhar dessa forma significaria gestão responsável.
Para fechar: diante do que foi exposto, parece-me claro que Lucas não foi negociado com o Paris Saint-Germain. Ou melhor, não aconteceu uma operação de venda e compra de seu direito federativo, mas, pura e simplesmente houve um acordo cujo produto final em termos práticos é uma promessa de compra ou, para usarmos a expressão correta do mundo dos negócios, um compromisso de compra e venda, como podemos depreender das palavras do vice-presidente de futebol do São Paulo FC ao portal Globo Esporte:
“…os dirigentes do PSG disseram que pagariam quando recebessem o atleta ou quando fizéssemos um seguro que resguardasse a equipe francesa em caso de algum imprevisto.”
Diante disso, resta aos interessados na transferência rezar para que nenhum imprevisto aconteça com o atleta e o clube francês cumpra sua promessa de compra.
Cabe aos gestores do São Paulo cuidar e rezar para que imprevisto algum aconteça, nem mesmo quando o atleta estiver distante de seus olhos e cuidados, a serviço da Seleção Brasileira, como nesse momento.
http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/10/10/lucas-foi-mesmo-negociado/
Perigoso hein. Se ele se machucar, ferrou!
qua, 10/10/12
por Emerson Gonçalves |categoria Economia e Finanças, Gestão, Negociações de Atletas, São Paulo
Em 8 de agosto comentei a transferência de Lucas para o Paris Saint-Germain (aqui) e cumprimentei a diretoria do São Paulo pela transação, cheia de adjetivos tão grandiloquentes quanto a soma envolvida: 43 milhões de euros. Desses, o São Paulo ficará com 75%, equivalentes na semana da transação a 81 milhões de reais. Com a desvalorização do real (mais rápida que a do euro), o clube poderá receber alguns milhões a mais quando o dinheiro for transferido em… Janeiro. Apesar disso, naqueles dias agitados o presidente tricolor, Juvenal Juvêncio, disse que o dinheiro “já estava com o São Paulo”. Por toda parte, no Brasil como na Europa, a transação foi dada como certa, fechada, concluída.
Uma semana depois desse primeiro post, e partindo da informação que corria mundo e fora confirmada nas inúmeras declarações de dirigentes tricolores, escrevi a respeito do seguro para Lucas e para o Paris Saint-Germain. Desse post, copio aqui o seguinte trecho:
“Como fica isso tudo para o Paris Saint-Germain, depois de desembolsar 43 milhões de euros por seu direito federativo e, muito provavelmente, já estar pagando o salário acertado com ele, comentado em 5 milhões de euros anuais?
Futebol é esporte de contato… temos o dia a dia e seus inevitáveis riscos, aos quais todos nós estamos sujeitos. Então, para proteger o investimento do QIA – Qatar Investment Authority – o atleta do Paris Saint-Germain foi segurado.”
Errei.
Lucas não foi segurado.
Transcrevo trecho da matéria do portal Globo Esporte a respeito:
“O vice-presidente de futebol, João Paulo de Jesus Lopes, ratificou que, apesar de o clube receber o dinheiro apenas em janeiro, o negócio já está sacramentado.
– Quando fizemos a venda do Lucas, os dirigentes do PSG disseram que pagariam quando recebessem o atleta ou quando fizéssemos um seguro que resguardasse a equipe francesa em caso de algum imprevisto. Vamos esperar até janeiro, não há problemas – ressaltou.”
Em entrevista para o portal Terra, Jesus Lopes disse que o seguro só seria benéfico para o Paris Saint-Germain e que para o São Paulo seria somente uma despesa. A matéria diz, aparentemente a partir de suas declarações, que em caso de uma fatalidade, como uma lesão grave, a negociação dificilmente seria concluída.
Voltando à matéria de Marcelo Prado, do portal Globo Esporte, esse ponto fica claro logo no início: “Para receber a parte que tem direito na negociação que totalizou € 43 milhões, o clube do Morumbi teria de fazer um seguro para que o time francês fosse ressarcido em caso de algum problema com o atleta.”
Resumo da ópera:
- O São Paulo vende o direito federativo de Lucas para o Paris Saint-Germain em agosto;
- Fica combinado que o atleta continuará jogando pelo São Paulo até 31 de dezembro;
- Ao contrário do que foi dito, o clube francês só pagará pelo atleta em sua chegada, ou…
- Fará o pagamento caso o São Paulo faça um seguro que cubra todo o negócio;
- Alegando burocracia e custo, o São Paulo opta por não fazer seguro e receber o pagamento em janeiro.
Temos aqui duas apostas, uma delas grave:
- O clube acredita que nada acontecerá com a economia e a moeda europeia, apesar do ano tormentoso que vive o continente e do próprio processo de perda de valor e importância do euro; ao mesmo tempo acredita que a moeda brasileira seguirá em processo de erosão; tudo dando certo, em janeiro os cofres do Morumbi serão engordados por 4 ou mesmo 5 milhões a mais de reais; se alguém no clube pensou em uma operação de hedge, que vem a ser uma proteção cambial para garantir valores, o pensamento foi descartado; parece que os gestores do São Paulo não acreditam em risco cambial.
- O clube acredita que nada acontecerá com Lucas até sua apresentação ao Paris Saint-Germain, apesar dos riscos que cercam a prática do futebol, em especial em campos com a qualidade que vemos nos jogos disputados em nossos estádios; e sobre os riscos da atividade mais não preciso falar, todos nós, que gostamos do futebol, sabemos muito bem que eles existem e não marcam hora para entrar em cena.
Na matéria já citada e linkada sobre o seguro para Lucas, o profissional da área com quem conversei foi claro: os clubes brasileiros não têm programas de gestão de riscos. Essa declaração ganha contornos precisos, bem definidos, com as posturas do clube do Morumbi. Apesar de todo o histórico e da fraqueza estrutural da economia brasileira, sujeita ainda a achaques cambiais, prefere-se acreditar que tudo continuará como está. Uma operação de hedge e um seguro para o atleta, com o Paris Saint-Germain como beneficiário, protegeriam o patrimônio do clube – o direito federativo do atleta – e teriam um custo pequeno diante dos montantes envolvidos. Trabalhar dessa forma significaria gestão responsável.
Para fechar: diante do que foi exposto, parece-me claro que Lucas não foi negociado com o Paris Saint-Germain. Ou melhor, não aconteceu uma operação de venda e compra de seu direito federativo, mas, pura e simplesmente houve um acordo cujo produto final em termos práticos é uma promessa de compra ou, para usarmos a expressão correta do mundo dos negócios, um compromisso de compra e venda, como podemos depreender das palavras do vice-presidente de futebol do São Paulo FC ao portal Globo Esporte:
“…os dirigentes do PSG disseram que pagariam quando recebessem o atleta ou quando fizéssemos um seguro que resguardasse a equipe francesa em caso de algum imprevisto.”
Diante disso, resta aos interessados na transferência rezar para que nenhum imprevisto aconteça com o atleta e o clube francês cumpra sua promessa de compra.
Cabe aos gestores do São Paulo cuidar e rezar para que imprevisto algum aconteça, nem mesmo quando o atleta estiver distante de seus olhos e cuidados, a serviço da Seleção Brasileira, como nesse momento.
http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/10/10/lucas-foi-mesmo-negociado/
Perigoso hein. Se ele se machucar, ferrou!