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Aos 95 anos, o mundo dá adeus a Eric Hobsbawn

Felagund

Usuário
O historiador britânico Eric Hobsbawm morreu de pneumonia nesta segunda-feira (1º) aos 95 anos no hospital Royal Free de Londres, informou sua família.

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O intelectual marxista é considerado um dos maiores historiadores do século XX e escreveu "A era das revoluções", "A era do capital", "A era dos impérios", "Era dos extremos", entre outras obras. Ele também era um entusiasta e crítico do jazz, escrevendo resenhas para jornais sobre o gênero musical e publicando o livro "História social do jazz".
Sua filha, Julia Hobsbawm, disse que "Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres". "Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo", disse.


"Até o fim, ele estava se esforçando ao máximo, ele estava se atualizando, havia uma pilha de jornais em sua cama", completou a filha.
Na manhã desta segunda-feira, Julia escreveu em seu perfil no Twitter que se sentia "comovida" pela "gentileza e pelas condolências de amigos e desconhecidos hoje pelo meu amável e incomparável pai"


Trajetória
Eric John Ernest Hobsbawm nasceu de uma família judia em Alexandria, Egito, em 9 de junho de 1917. Seu pai era britânico, descendente de artesãos da Polônia e Rússia, e a família de sua mãe era da classe média austríaca.
Hobsbawn cresceu em Viena, Áustria, e em Berlim, Alemanha.
Ele aderiu ao Partido Comunista aos 14 anos, após a morte precoce de seus pais. Na ocasião, ele foi morar com seu tio. Na escola, ele informou o diretor que ele era comunista e argumentou que o país precisava de uma revolução.
"Ele me fez umas perguntas e disse 'Você claramente não faz ideia do que está falando. Faça o favor de ir à biblioteca e veja o que consegue descobrir'", disse em uma entrevista à BBC em 2012. "E então eu descobri o Manifesto Comunista [de Karl Marx] e foi isso", relatou, indicando o começo de sua formação marxista.
Em 1933, quando Hitler começava a subir no poder na Alemanha, Hobsbawm foi para Londres, Inglaterra, onde obteve cidadania britânica.
O historiador se filiou ao Partido Comunista da Inglaterra em 1936 e continuou membro da legenda mesmo após o ataque das forças soviéticas à Hungria em 1956 e as reformas liberais de Praga em 1968, embora tenha criticado os dois eventos. O ex-líder do Partido Neil Kinnock chegou a chamar Hobsbawm de "meu marxista predileto"
Anos depois ele disse que "nunca havia tentado diminuir as coisas terríveis que haviam acontecido na Rússia", mas que acreditava que no início do projeto comunista um novo mundo estava nascendo.
Durante a II Guerra Mundial, Hobsbawm foi alocado a uma unidade de engenharia que a presentou a ele, pela primeira vez, a classe proletária. "Eu não sabia muito sobre a classe proletária britânica, apesar de ser comunista. Mas, vivendo e trabalhando com eles, pensei que eram boas pessoas", disse à BBC em 1995.
O historiador aprovou neles a "solidariedade, e um sentimento muito forte de classe, um sentimento de pertencer junto, de não querer que ninguém os derrubasse".
Hobsbawm afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e terrível da história humana".
Ele veio ao Brasil em 2003 participar da primeira edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento do qual foi estrela.


Vida acadêmica
Hobsbawm estudou no King's College de Londres e começou a dar aula na Universidade de Birkbeck em 1947, mais tarde tornando-se reitor da instituição. Ele também passou temporadas como professor convidado nos Estados Unidos e lecionou na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel.
Em 1998, ele recebeu o título de Companhia de Honra. O prêmio, raramente concedido a historiadores, o colocou ao lado de ilustres como Stephen Hawking, Doris Lessing e Sir Ian McKellan.
Seu colega historiador A.J.P. Taylor, morto em 1990, disse que o trabalho de Hobsbawm se destacava pelas explicações precisas dos acontecimentos pelo interesse em pessoas comuns.
"A maior parte dos historiadores, por uma espécie de mal da profissão, se interessa somente pelas classes mais altas e pressupõem que eles mesmos fariam parte destes privilegiados se tivessem vivido um século ou dois atrás - uma possibilidade muito remota", escreveu Taylor. "A lealdade do Sr. Hobsbawm está firmemente do outro lado das barricadas", disse.


Obras
O primeiro livro de Hobsbawm, "Rebeldes primitivos", publicado em 1959, é um estudo dos que ele chamava de "agitadores sociais pré-políticos", incluindo ligas de camponeses sicilianos e gangues e bandidos metropolitanos, um exemplo de seu interesse pela história das organizações da classe trabalhadora.
No mesmo ano, ele escreveu uma obra sobre jazz e começou a colaborar como crítico para a revista "New Statesman" usando o pseudônimo Francis Newton, em homenagem ao trompetista comunista de Billie Holiday.
Em 1962, ele publicou "Era da revolução", primeiro de três volumes sobre o que chamou de "o longo século XIX", cobrindo o período entre 1789, ano da Revolução Francesa, e 1914, começo da I Guerra Mundial. Os seguintes foram "Era do capital" (1975) e "Era dos impérios" (1987).
O quarto livro da sequência, "Era dos extremos" (1994), retratou a história até 1991, o fim da União Soviética, foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.
Suas memórias, publicadas quando tinha 85 anos, elencaram os momentos cruciais na história europeia moderna nos quais ele viveu e foram best-seller.
Seu último livro é "Como mudar o mundo", de 2011, e é um compilado de textos escritos desde a década de 1960 sobre Karl Marx e o marxismo.
De acordo com o jornal britânico "The Guardian", ele tem um livro em revisão a ser publicado em 2013.

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/10/morre-aos-95-anos-o-historiador-eric-hobsbawm.html



Muito triste essa noticia, o mundo perde muito mais do que um simples academico.
Poucos os homens eram capazes de fazer tão boa analise do periodo que vivemos como Hobsbawn.
O mundo ficou menos inteligente.
 

Anexos

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Uma perda gigantesca!!
Para mim não resta dúvida de que Eric Hobsbawm foi sem dúvida um dos dois maiores historiadores do século XX (o outro foi Marc Bloch).
Puta intelectual! Escreveu sobre diversos temas ligados à modernidade e à teoria marxista da História.
A abordagem marxista que tenho construído em meu trabalho no mestrado bebe muito do Tio Hobs (e do E.P. Thompson). :cry:
 
E para quem não viu, a "revista" Veja publicou um artigo escrotissimo sobre o autor, segue o link: http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/a-imperdoavel-cegueira-ideologica-de-eric-hobsbawm

A máteria:
Maior historiador esquerdista de língua inglesa, Eric Hobsbawn, morto na última segunda-feira, aos 95 anos, foi um idiota moral. Essa é a verdade incômoda que os necrológios, publicados em profusão, quase sempre fizeram questão de ignorar. Marxista irredutível, Hobsbawm chegou a defender o indefensável: numa entrevista que chocou leitores, críticos e colegas, alegou que o assassinato de milhões orquestrado por Stalin na União Soviética teria valido a pena se dele tivesse resultado uma "genuína sociedade comunista". Hobsbawn foi de fato um historiador talentoso. Nunca fez doutrinação rasteira em suas obras. Mas o talento de historiador, é forçoso dizer, ficará para sempre manchado pela cegueira com que ele se agarrou a uma posição ideológica insustentável.

Essa posição lança sombras sobre uma de suas obras mais famosas, A Era dos Extremos, livro de 1994 que, depois da trilogia sobre o século XIX composta pelos livros A Era das Revoluções, A Era do Capital e A Era dos Impérios, lançados entre 1962 e 1987, se dedica a investigar a história do século XX – quando Hitler matou milhões em seus campos de concentração e os regimes comunistas empreenderam os seus próprios extermínios. Hobsbawm se abstém de condenar os crimes soviéticos, embora o faça, com toda a ênfase, com relação aos nazistas.

Outro eminente historiador de origem britânica, Tony Judt (1948-2010), professor de história da New York University que fez uma longa resenha do livro de memórias de Hobsbawm, Tempos Interessantes, advertia já em 2008 que o colega ficaria marcado por sua posição política. “Ele pagará um preço: ser lembrado não como ‘o’ historiador, mas como o historiador comunista”, disse em entrevista ao jornal The New York Times. Em texto publicado pela revista The New Criterion, o escritor David Pryce-Jones também apontou o prejuízo da ligação de Hobsbawm com o pensamento marxista. “A devoção ao comunismo destruiu o historiador como um pensador ou um intérprete de fatos.”

O entusiasmo com a revolução bolchevique, aliás, não foi a única fonte de tropeços morais para Hobsbawm. A conflituosa relação com as raízes judaicas – seu sobrenome deriva de Hobsbaum, modificado por um erro de grafia – o levou a apoiar o nacionalismo palestino e, ao mesmo tempo, a negar igual tratamento a Israel.

Biografia – A história pessoal de Hobsbawm ajuda a entender sua adesão ao marxismo. Nascido no ano da Revolução Russa, 1917, em Alexandria, no Egito, ele se mudou na infância para Viena, terra natal materna, onde perdeu ainda adolescente tanto a mãe quanto o pai, um fracassado negociante inglês que permitiu a ele ter desde cedo o passaporte britânico. Criado por parentes em Berlim na época em que Hitler ascendia ao poder, ele viu no comunismo uma contrapartida ao nazismo.

Da Alemanha, Hobsbawn seguiu para a Inglaterra. Durante a guerra, serviu numa unidade de sapeadores quase que inteiramente formada por soldados de origem operária - e daí viria, mais que a simpatia, uma espécie de identificação com aquela que, segundo Marx, era a classe revolucionária. Ele estudou em Cambridge, e se filiou ao Partido Comunista, ao qual se aferraria por anos. Nem mesmo após a denúncia das atrocidades stalinistas feita por Nikita Khrushchov em 1956, quando diversos intelectuais romperam com o comunismo, ele deixou o partido.

Hobsbawm só desistiu de defender com unhas e dentes o sistema após a queda do Muro de Berlim, em 1989. “Eu não queria romper com a tradição que era a minha vida e com o que eu pensava quando me envolvi com ela. Ainda acho que era uma grande causa, a causa da emancipação da humanidade. Talvez nós tenhamos ido pelo caminho errado, talvez tenhamos montado o cavalo errado, mas você tem de permanecer na corrida, caso contrário, a vida não vale a pena ser vivida”, disse ele ao The New York Times, em 2003, em uma das poucas declarações em que admitia as falhas do comunismo – porém, sem dar o braço verdadeiramente a torcer.
Porém, essa falácia da veja não ficou sem resposta, e ela veio em alto nivel pela Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil):

Resposta:
"RESPOSTA À REVISTA VEJA - Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do século XX
Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operár
ia, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um “acadêmico”, no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do “intelectual” como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de “idiota moral” (cf. o texto “A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm”, publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto “historiador esquerdista”, dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a “análise” acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada."

São Paulo, 05 de outubro de 2012

Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013"

A Veja é um desrespeito...
 
Cara, eu fiquei ultra indignado quando li o texto de Veja. Puta conservadorismo burro, raso de argumentação e pretenso moralista. Talvez devêssemos comentar a "cegueira ideológica" dessa revista reacionária, manipuladora e oportunista. Claro, porque é uma publicação ultra-isenta. Como estão dizendo no facebook... uma revista que elogia Kassab, elege Hebe Camargo um símbolo cultural e chama um dos maiores historiadores do século XX de idiota. Curti demais a resposta da ANPUH, que já havia lido mais cedo:

 
Última edição por um moderador:
não é surpresa pra ninguém que a veja é totalmente preconceituosa e promove a imbecilidade massiva, mas acho que desrespeitar, mesmo na morte, um dos maiores historiadores do nosso tempo, é cruzar o limite, é se superar no quesito idiotice moral. os ditos politicamente corretos do brasil, que movem ações contra um filme do ursinho ted, poderiam fazer algo contra este caso, não?
 
Cara, eu fiquei ultra indignado quando li o texto de Veja. Puta conservadorismo burro, raso de argumentação e pretenso moralista. Talvez devêssemos comentar a "cegueira ideológica" dessa revista reacionária, manipuladora e oportunista. Claro, porque é uma publicação ultra-isenta. Como estão dizendo no facebook... uma revista que elogia Kassab, elege Hebe Camargo um símbolo cultural e chama um dos maiores historiadores do século XX de idiota. Curti demais a resposta da ANPUH, que já havia lido mais cedo:


A veja tinha que assumir de vez sua toga reacionária e contratar o Exmo. Sr. Olavo de Carvalho para sua linha de frente nos ataques ao PT, ao governo e ao esquerdismo em geral. Bom, ao menos ele faz isso com estilo, carga informacional e, até admito, inteligência, embora não por isso seja menos falacioso. Ao contrário, ele usa de sua cognição para elaborá-las.

Ah, é claro, eu confio todos os poderes de árbitro moral a revistas que ganham dinheiro de Cachoeira e que fecham licitações com a Prefeitura de São Paulo para falar bem do Kassab duas semanas depois.
 
Última edição por um moderador:
Seria cair no mesmo erro, não sei quem ainda dá alguma trela para esse arremedo de revista, mas quem tiver um pouquinho de inteligência desconsiderará esse textículo.

O problema é que há um público alvo muito grande para este textículo, Morfindel, o que inevitavelmente me dói demais por perceber isto.

Eu, particularmente, me recuso a sequer folhear uma há uns 3 ou 4 anos. Sempre que quero um almanaque semanal no colo, eu compro uma Carta Capital, porque não suporto ler as coisas estapafúrdias que a Veja diz e, com certeza, a maioria da galera aqui da Valinor também não, e mesmo que leiam, têm a capacidade de filtrar as m*rdas que esta revista nos despeja. Porém, somos minoria.

Está ainda intrínseco na grande massa adorar uma notícia mastigada, um pensamento vomitado, um posicionamento pré moldado, é mais fácil deste jeito, sendo que é exatamente este o público da Veja.
São poucos os veículos de informação que provocam nossas funções neurais para que sozinhos decidamos se aquilo é certo ou errado, pois, quando não se ferramentam de suas estratégias marrons, torna-se muito mais difícil uniformizar os pensamentos do 'povão' aos seus.

Deixo claro que usei esta descrição 'povão' apenas para expressar uma noção de quantidade, de maioria, não ambicionando aplicar um filtro sócio-econômico como parâmetro de diferenciação, afinal conheço muita gente da classe B e A que também incorre nesta mesma preguiça moral e política, mas isto é assunto para outro tópico.

Enfim, o meu ponto (apesar de estar dotado quase que de uma revolta adolescente, reconheço) é que: inevitavelmente, muita gente dá trela sim para esta revista e, o pior, para o mesmo tipo de jornalismo praticado por ela. Se o nosso problema fosse apenas a Veja, seria facílimo de se resolver.
Mas a maioria da população 'votante' brasileira, politicamente apta, adora um jornal com estas mesmas diretrizes, ou seja, estamos chafurdados nas mãos deste arremedo de revista sabe-se lá até quando.
 
Última edição:
Depois que eu vi uma edição da Veja cuja matéria de capa, algo sobre "Revolução da educação na China", argumentar que o segredo lá é que a escola não faz masturbação ideológica e se concentra só no que adiciona PIB, eu comecei a ver diferente.

Eu tinha raiva, agora é humor.
 
Não vejo qual é o grande caso ao redor da matéria que critica o apego que o sujeito teve a uma doutrina que, é evidente, os responsáveis da revista e muitas pessoas (que são seu público-alvo) consideram uma doutrina errônea e imoral, e que por isso fazem com que o autor do artigo não admire a pessoa do historiador como um todo. Qual é o grande absurdo da matéria? Pode ser talvez uma posição que discorda-se com facilidade, mas não vejo qual é o grande absurdo de algum autor tomar essa posição e da revista publicá-la. A revista tem todo o direito de enxergar nessa doutrina um grande aspecto negativo do sujeito, e discuti-lo, já que o positivo é altamente documentado. Ou, justamente por ser um figurão, tem-se que se ficar listando as qualidades e feitos do sujeito para então discutir seus defeitos rapidamente? Ou talvez pedir desculpas por mencioná-los?

Daí vem uma “resposta” dessa tal associação que passa por diversas questões que nada contrariam o que foi tocado no artigo, e muitas vezes só corroboram. Ou desde quando ser um grande historiador, liderar uma geração de historiadores marxistas, escolher um lado, assinar manifestos, ser um homem importante de seu século, "dar voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever" (eita!), e tudo mais se contrapõe o que foi dito no artigo, que é justamente a ideologia do sujeito? Ou desde quando "a existência de contradições e erros nos homens" acrescenta algo em relação ao artigo que, na visão do autor, procura apontar um aspecto negativo importante do sujeito (justamente uma das “contradições e erros”)? A resposta fugiu totalmente do ponto. É como se uma artigo criticasse Einstein por sua participação na bomba e viesse uma resposta de físicos elogiando suas contribuições na Física...

O ponto mais próximo que a associação chega ao assunto do artigo da Veja é quando diz que “[a revista] se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo”. Faltou falar mais sobre esse tal compromisso. Não duvido que existam momentos onde fique evidente que Hobsbawn se preocupou com a “paz e plurarismo”, mas seria de bom tom a associação mencioná-los. Mesmo porque, é sabido, muitas vezes grupos preocupam-se com a “educação”, “democracia”, “igualdade”, "paz", e tantos termos abstratos, mas daí quando você analisa mais a fundo, percebe que o que o sujeito chama de “educação” nada tem a ver com o que você julga como “educação” (ou mesmo o uso corrente do termo), então simplesmente dizer o que a associação disse não significa nada. O artigo da Veja ao menos cita, de longe, o historiador ou momentos onde julga que ele teve 'desvios' ideológicos. E olha que ela é um artigo de revista e, ainda que não foi de um rigor acadêmico e nem precisaria ter sido, sendo nada tão mais além do que a opinião do sujeito leigo que o escreveu, conseguiu ser mais rigorosa que a tal resposta nesse quesito.

É óbvio que a Veja segue uma posição ideológica bastante conhecida e não há problema nenhum nisso. Mas a associação também o faz, e isso é mais estranho, já que penso que ela deveria representar historiadores de forma geral e não ideologias (ou, se isso é impossível, ao menos tentar ao máximo se aproximar dessa meta), e tenho certeza que muitos historiadores seguem uma linha ideológica mais próxima ao que foi exposto na Veja. Imagina que ridículo seria se associações de Física resolvessem sair por aí lançando artigos contra críticas, muitas vezes pesadas, a Einstein ou outros figurões da área, críticas feitas por leigos ou mesmo por físicos. Isso não é a função de uma associação e sim de indivíduos. A associação deveria incentivar a discussão de indivíduos ou pequenos grupos e não participar, enquanto associação, na discussão.
 
Não vejo qual é o grande caso ao redor da matéria que critica o apego que o sujeito teve a uma doutrina que, é evidente, os responsáveis da revista e muitas pessoas (que são seu público-alvo) consideram uma doutrina errônea e imoral, e que por isso fazem com que o autor do artigo não admire a pessoa do historiador como um todo. Qual é o grande absurdo da matéria? Pode ser talvez uma posição que discorda-se com facilidade, mas não vejo qual é o grande absurdo de algum autor tomar essa posição e da revista publicá-la. A revista tem todo o direito de enxergar nessa doutrina um grande aspecto negativo do sujeito, e discuti-lo, já que o positivo é altamente documentado. Ou, justamente por ser um figurão, tem-se que se ficar listando as qualidades e feitos do sujeito para então discutir seus defeitos rapidamente? Ou talvez pedir desculpas por mencioná-los?

O problema que a revista Veja não promove nenhum tipo de reflexão, muito menos de aprofundamento no tema. Ela tratou o Hobsbawn como trata qualquer intelectual de esquerda: reduzindo o cara aos esteriótipos conservadores dela e criticando razamente alguém por isso.
Considerar algum tipo de ideal imoral até pode ser, mas não entender o que é um HISTORIADOR marxista e nem explicar isso de forma decente ao público é trabalhar com desinformação, e pelo o que conhecemos da Veja e da Editor Abril, acredito que seja um desinformação proposital.

Daí vem uma “resposta” dessa tal associação que passa por diversas questões que nada contrariam o que foi tocado no artigo, e muitas vezes só corroboram. Ou desde quando ser um grande historiador, liderar uma geração de historiadores marxistas, escolher um lado, assinar manifestos, ser um homem importante de seu século, "dar voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever" (eita!), e tudo mais se contrapõe o que foi dito no artigo, que é justamente a ideologia do sujeito? Ou desde quando "a existência de contradições e erros nos homens" acrescenta algo em relação ao artigo que, na visão do autor, procura apontar um aspecto negativo importante do sujeito (justamente uma das “contradições e erros”)? A resposta fugiu totalmente do ponto. É como se uma artigo criticasse Einstein por sua participação na bomba e viesse uma resposta de físicos elogiando suas contribuições na Física...

Mas o artigo chama o autor de "idiota moral", pq o unico ponto que o UNICO artigo dessa revista sobre a morte de um dos maiores, se não o maior, historiadores do mundo é especialmente para ressaltar a "falta de sensibilidade" (???) do Hobsbawn quando defendeu o marxismo mesmo após a URSS e etc?? A Veja não entende de história, a Veja não faz uma análise da realidade ou da história com base em nenhum conhecimento cietífico ou moral. Ela simplesmente aponta vilões e mocinhos, por isso a resposta fala:
"E é assim em toda a “análise” acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós."
Sobre o exemplo de Einstein, não seria apenas absurdo criticar ele pela sua participação na bomba atomica, como também seria impreciso e falacioso. Assim como foi criticar o Hobasbawn citando Stalin.

O ponto mais próximo que a associação chega ao assunto do artigo da Veja é quando diz que “[a revista] se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo”. Faltou falar mais sobre esse tal compromisso. Não duvido que existam momentos onde fique evidente que Hobsbawn se preocupou com a “paz e plurarismo”, mas seria de bom tom a associação mencioná-los. Mesmo porque, é sabido, muitas vezes grupos preocupam-se com a “educação”, “democracia”, “igualdade”, "paz", e tantos termos abstratos, mas daí quando você analisa mais a fundo, percebe que o que o sujeito chama de “educação” nada tem a ver com o que você julga como “educação” (ou mesmo o uso corrente do termo), então simplesmente dizer o que a associação disse não significa nada. O artigo da Veja ao menos cita, de longe, o historiador ou momentos onde julga que ele teve 'desvios' ideológicos. E olha que ela é um artigo de revista e, ainda que não foi de um rigor acadêmico e nem precisaria ter sido, sendo nada tão mais além do que a opinião do sujeito leigo que o escreveu, conseguiu ser mais rigorosa que a tal resposta nesse quesito.

Discordo, a Veja não teve rigor academico nenhum na produção do seu texto. Primeiro ela não parte d euma análise critica pautada em nenhuma evidencia, nem ao menos do senso comum, daquilo que afirma.
Segundo: A revista desinforma, como já é tradição da Veja, ela pinça pontos que considera negativos ( e como vc mesmo disse, é uma questão "ideológica" o que é ou não negativo para alguém) e joga no texto para diminuir a carreira do maior historiador do século XX por ele ser marxista. Isso NÃO é academicismo, nem de longe. Marxismo na academiae na história é uma das maiores tradições do século XX e foge em muito do esteriótipo senso comum que foi desenvolvido na época da ditadura de guerrilheiro comunista. Porém a Veja com todos os seus interesses não demonstra NENHUMA vontade de informar isso a população. Esse não foi o primeiro ataque dela aos pensadores de esquerda, eu já li artigos falando mal de Satre e chamando o Gamschi de TOTALITARISTA!!! Isso é pior que desinformação, isso é MENTIRA! E a Veja posta mesmo assim. Essa revista não tem nem NUNCA teve nenhuma preocupação com uma neutralidade academica ou sequer um compromisso com a realidade.

É óbvio que a Veja segue uma posição ideológica bastante conhecida e não há problema nenhum nisso.
Ah problema quando ela distorce a realidade e persegue os que seguem linha diferente da sua. Ela critica, mas segue quase uma linha stalinista na sua edição. Ela ataca incansavelmente seus opositores, investiga, espiona, desmoraliza, INVENTA fatos entre outras coisas. E eu não falo isso pq "ah, eu nao curto a Veja", eu não gosto de várias outras revistas e jornais que seguem o mesmo conservadorismo da Veja e não os critico por isso. Mas a Veja é panfletagem, a Veja é um manifesto do conservadorismo mentiroso e baixo.

Mas a associação também o faz, e isso é mais estranho, já que penso que ela deveria representar historiadores de forma geral e não ideologias (ou, se isso é impossível, ao menos tentar ao máximo se aproximar dessa meta), e tenho certeza que muitos historiadores seguem uma linha ideológica mais próxima ao que foi exposto na Veja
Não conheço nenhum, aliás, qual a linha ideológica da Veja? Ela é conservadora? Positivista? Republicana? Não dá pra saber, o discurso dela é voluvel com os interesses da edição.
E a associação representa SIM historiadores da forma geral. E pra QUALQUER estudante da áreas de humanas, de qualquer linha de pensamento que seja, essa critica da Veja é notoriamente politica e acefála, podem ter alguns que discordem, mas não vejo como.

Imagina que ridículo seria se associações de Física resolvessem sair por aí lançando artigos contra críticas, muitas vezes pesadas, a Einstein ou outros figurões da área, críticas feitas por leigos ou mesmo por físicos. Isso não é a função de uma associação e sim de indivíduos. A associação deveria incentivar a discussão de indivíduos ou pequenos grupos e não participar, enquanto associação, na discussão.
A fisíca, como a quimíca, tem uma certa "neutralidade axiologica". Elas tem uso politico, tem uso no capitalismo, porém elas são, em si, neutras. O conhecimento da área da humanas, como História, Sociologia, Filosofia e etc tentam ser assim também, mas isso simplesmente é impossivel. Todos os intelectuais das humanas precisam aceitar certas premissas para a analise do real. Um marxista aceita a premisa da dialética histórica, do materialismo histórico entre outras, e isso não pode ser condenado por nenhum tipo de juizo de valor ou julgamento moral, fazer isso seria mais do que anti-academico, seria burrice.
 
Última edição:
A fisíca, como a quimíca, tem uma certa "neutralidade axiologica". Elas tem uso politico, tem uso no capitalismo, porém elas são, em si, neutras. O conhecimento da área da humanas, como História, Sociologia, Filosofia e etc tentam ser assim também, mas isso simplesmente é impossivel. Todos os intelectuais das humanas precisam aceitar certas premissas para a analise do real. Um marxista aceita a premisa da dialética histórica, do materialismo histórico entre outras, e isso não pode ser condenado por nenhum tipo de juizo de valor ou julgamento moral, fazer isso seria mais do que anti-academico, seria burrice.

Isso é discutível. A Física e outras ciências naturais aceitam axiomas sobre o que, em termos metodológicos, seria científico. Ela expressa suas teorias através de modelos matemáticos, tomando postulados e conclusões desta como premissa. Por fim, tal 'neutralidade" das ciẽncias naturais é algo debatido ao extremo, todo o pensamento intelectual de uma época está interligado, e toda vez em que há duas ou mais linhas diferentes de hipotetização há certa defesa apaixonada. Se a ciência pode ser tomada como um ideal platônico dela mesma e se todos os cientistas são, na verdade "quase-cientistas" é outra discussão filosófica pesadíssima.

Mas é, o buraco master neste artigo da Veja é achar que marxismo na historiologia implica, inequivocamente, em ideologia comunista do próprio escritor, enquanto "marxismo" em História é um método para tentar inferir e teorizar sobre os desdobramentos da sociedade.
 
É óbvio que a Veja segue uma posição ideológica bastante conhecida e não há problema nenhum nisso. Mas a associação também o faz, e isso é mais estranho, já que penso que ela deveria representar historiadores de forma geral e não ideologias (ou, se isso é impossível, ao menos tentar ao máximo se aproximar dessa meta), e tenho certeza que muitos historiadores seguem uma linha ideológica mais próxima ao que foi exposto na Veja. Imagina que ridículo seria se associações de Física resolvessem sair por aí lançando artigos contra críticas, muitas vezes pesadas, a Einstein ou outros figurões da área, críticas feitas por leigos ou mesmo por físicos. Isso não é a função de uma associação e sim de indivíduos. A associação deveria incentivar a discussão de indivíduos ou pequenos grupos e não participar, enquanto associação, na discussão.

Cegueira ideológica seria não reconhecer o mérito da produção de um intelectual porque sua base epistemológica é o marxismo. Mesmo historiadores liberais admitem a importância da produção de Hobsbawn. Ele é referência fundamental, por exemplo, para os estudos sobre o capitalismo, do ponto de vista de uma história social que traz uma dimensão de síntese ancorada não apenas em um instrumental de análise sociológica, mas em ampla evidência empírica. Eu te desafio a encontrar um historiador brasileiro, mesmo entre os liberais, que negue a importância de Hobsbawm. Lêem Hobsbawm não porque ele era marxista. Mas porque ele era bom. Porque sua produção é coerente e merece credibilidade. Porque historiadores marxistas ruins também há aos montes. Mas não é o caso em questão.

Além disso, no campo da teoria da História, Hobsbawm é um nome de referência na renovação da abordagem marxista. Ao lado de outros grandes nomes como Edward Palmer Thompson e Christopher Hill, figura como expoente da escola inglesa, trazendo uma História Social que teve ampla aceitação no mundo ocidental. Isso não exime o trabalho de Hobsbawm de crítica. E há falhas e imprecisões que são apontadas em muitos de seus escritos. Mas o que a Veja fez não foi crítica. Dizer que há um viés ideológico em sua produção é um tanto tautológico. Quem de nós é isento? Todos falamos de um lugar social e isso tem um peso em nossa formação sob todos os aspectos. O que não é ideológico? O que não é imparcial?

E a Veja vai criticar o que? A visão política do historiador? E chamá-lo de idiota por isso? Porque o fundo da crítica é esse. O historiador se debruça sobre o tempo, mas ele mesmo também está inserido em uma temporalidade, sujeito às inquietações, contradições e dúvidas de sua época. Reproduzo aqui uma fala do historiador francês Lucien Febvre:

“(...) vivei também uma vida prática. Não vos contenteis em contemplar da orla, preguiçosamente, o que se passa no mar em fúria. No barco ameaçado não sejais como Panurgo se sujando de puro medo, nem mesmo como o bom Pantagruel, contentando-se, amarrado ao grande mastro, em implorar, levantando os olhos ao céu. Arregaçai as mangas como Frei João. E ajudai os marinheiros na faina. E isto é tudo? Não. Não é a mesmo nada se deveis continuar separando a vossa ação do vosso pensamento, a vossa vida de historiador da vossa vida de homem. (...)”

E Hobsbawm é um exemplo de intelectual que não separou a sua vida de historiador da sua vida de homem. Tomou posição.

Menciono, de passagem, que o parceiro intelectual de Febvre, Marc Bloch, medievalista que a meu ver é o outro grande historiador do século XX, abandonou a universidade para se engajar na Resistência Francesa. Acabou sendo preso e executado pelos nazistas. Falaremos sobre a cegueira ideológica de Marc Bloch, por ter tomado posição? Ah não... mas o moralismo não funciona quando falamos de um herói da resistência anti-nazista.
 
Faria uma crítica melhor se mencionasse o silêncio de Hobsbawn com relação aos crimes cometidos pelo regime de Stalin. Isso sim foi digno de um legítimo comuna hipócrita e cegado por uma ideologia.

Mas fazer isso na morte do cara é sacanagem.

Chega a ser ridículo ver os conservadores se sentirem representados pela Veja. Só tem merda nessa revista.
 

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