De qualquer maneira, no trecho da entrevista completa em inglês, ela
NÃO DESMENTIU o entendimento, dando a impressão que ela aceita a noção como uma hipótese viável de leitura ( é essa a ambiguidade a que o Magnani se refere na interpretação do que ela falou, a despeito da frase dela em si NÃO ser ambígua como agora ele, bem prontamente, corrigiu): ela elogiou o tratamento dado no script do Steve Kloves de que Harry Potter teria começado a idealizar um mundo de fantasia trancado no armário de utensílios de limpeza, fantasiando bonecos com os restos da tranqueira lá, inclusive a aranha Alastor,(o prenome do Alastor Moody( o personagem paranóico da saga-
"papo de aranha", LITERALMENTE) o que, provavelmente, NÃO É coincidência) e de que isso "dialoga perfeitamente com a verdade dos livros", batendo com a noção de que ele era uma criança abusada, física e psicologicamente,pela família adotiva; o que, frequentemente, gera mesmo esse tipo de devaneio.
J.K. Rowling addresses theory that ‘Harry did actually go mad in the cupboard’
Vale destacar que o próprio título da matéria em inglês também foi mudado de "Rowling diz que Harry Potter ficou louco no armário de limpeza" pra "Rowling aborda a teoria de que Potter realmente ficou louco no armário de limpeza". Realmente, ao que parece, MUITA gente não pegou o I had IT suggested, ouvindo só o I had suggested quando a notícia saiu a primeira vez. O uso meio liberal que a imprensa faz das vírgulas em inglês também contribuiu pra ambiguidade e erro na interpretação do comentário dela. A dubiedade já está mesmo na transcrição da fala dela pra forma escrita.
Steve Kloves: There was this part in the script, when he was in the cupboard, I invented him a spider named Alastor, who he talked to. And he used to nick broken soldiers out of the rubbish bin, and he lined them up on the shelf. This broken army that Dudley had thrown out.
J.K. Rowling: It was such a great image, the broken army.
Kloves: And he used to talk to them, and the point was that he seemed slightly mad when I wrote the first draft. When Hagrid appeared, you thought he was out of his imagination for a minute. He had summoned this guy –
Rowling: I think that’s a fabulous point, and that speaks so perfectly to the truth to the books, because I had it suggested that to me more than once that Harry actually did go mad in the cupboard, and that everything that happened subsequently was some sort of fantasy life he developed to save himself.
Kloves: No and that’s where it came from. It came from the book. When you read the book, you make it pretty clear that he’s an abused boy.
Rowling: Totally. Of course he is.
Kloves: And so, there’s darkness there, and I would go with that.
É por isso mesmo que as pessoas em inglês, de fato, deram mesmo uma cobertura sensacionalista pro comentário, "aumentando" a extensão do que ela diz pra uma dimensão pseudo-canônica,
o que é errado; entretanto é FATO:
ela não disse nada parecido com
"essa leitura é absurda e equivocada"(como deu, por exemplo, ao desenganar os shippers pró Harry-Hermione) e, mais uma vez, se cala em defender a noção de fantasia como gênero que convive com complexidade psicológica ou verossimilhança em termos de caracterização, embora ela mesma tenha sido bem sucedida em fazer isso.
Esse é que é o problema!