Morfindel Werwulf Rúnarmo
Geofísico entende de terremoto
A crise dos países desenvolvidos está levando muitos brasileiros a fazerem as malas de volta para casa. Segundo o Itamaraty, 20% dos que moravam nos EUA e um quarto dos que moravam no Japão já retornaram desde o começo da recessão, em 2008.
O relatório de 2011 sobre a população expatriada sai no fim deste mês, e a taxa de retorno deve ser ainda maior. Há tanta gente comprando a passagem de volta e tanta dificuldade de reintegração ao mercado de trabalho brasileiro que o Itamaraty lançou o "Guia de Retorno ao Brasil", distribuído nas embaixadas.
O caminho de volta pode gerar depressão. É a "síndrome do regresso", termo cunhado pelo neuropsiquiatra Décio Nakagawa para designar certo "jet lag espiritual" que aflige ex-imigrantes.
Morto em 2011, Nakagawa estudava a frustração de brasileiros que voltavam ao país após uma temporada de trabalho em fábricas japonesas.
BONDE ANDANDO
O gerente de marketing Rafael Marques, 33, no centro de São Paulo
Se ao sair do país o imigrante se cerca de cuidados para amenizar o choque cultural, no retorno a ilusão é de que basta descer do avião para se sentir em casa.
"Retornar é uma nova imigração", diz a psicoterapeuta Sylvia Dantas, coordenadora do projeto de Orientação Intercultural da Unifesp.
Quando voltou do segundo intercâmbio no Canadá, o gerente de marketing Rafael Marques, 33, descobriu que havia ficado para tio:
Para amenizar o estranhamento, a analista de marketing Natasha Pinassi, 34, se refugiou nos amigos feitos durante sua vivência de um ano na Austrália:
A família pouco ajudava:
A síndrome não é exclusividade dos brasileiros.
ABANDONO
Quem sofre de síndrome do regresso é frequentemente considerado esnobe. Parentes e amigos têm pouca paciência com quem volta reclamando:
Para Nakagawa, amigos costumam simplificar o processo de reintegração:
Se a família também não ajudar, o ideal é procurar um psicólogo com formação intercultural. Em São Paulo, o núcleo intercultural da Unifesp dá orientação gratuita.
Fonte
O relatório de 2011 sobre a população expatriada sai no fim deste mês, e a taxa de retorno deve ser ainda maior. Há tanta gente comprando a passagem de volta e tanta dificuldade de reintegração ao mercado de trabalho brasileiro que o Itamaraty lançou o "Guia de Retorno ao Brasil", distribuído nas embaixadas.
O caminho de volta pode gerar depressão. É a "síndrome do regresso", termo cunhado pelo neuropsiquiatra Décio Nakagawa para designar certo "jet lag espiritual" que aflige ex-imigrantes.
Morto em 2011, Nakagawa estudava a frustração de brasileiros que voltavam ao país após uma temporada de trabalho em fábricas japonesas.
diz a psicóloga Kyoko Nakagawa, viúva do psiquiatra e coordenadora do projeto Kaeru, de reintegração de crianças que voltam do Japão."A adaptação em um país diferente acontece em seis meses, já a readaptação ao país de origem demora dois anos",
BONDE ANDANDO
O gerente de marketing Rafael Marques, 33, no centro de São Paulo
Se ao sair do país o imigrante se cerca de cuidados para amenizar o choque cultural, no retorno a ilusão é de que basta descer do avião para se sentir em casa.
"Retornar é uma nova imigração", diz a psicoterapeuta Sylvia Dantas, coordenadora do projeto de Orientação Intercultural da Unifesp.
"A sensação é de que perdemos o bonde, estamos por fora do que deveríamos conhecer como a palma da mão."
Quando voltou do segundo intercâmbio no Canadá, o gerente de marketing Rafael Marques, 33, descobriu que havia ficado para tio:
Resultado: deprimiu. Recuperado, hoje ele trabalha com intercâmbios."Todos os meus amigos estavam casados, com outras prioridades. Demorei meses para me situar".
Para amenizar o estranhamento, a analista de marketing Natasha Pinassi, 34, se refugiou nos amigos feitos durante sua vivência de um ano na Austrália:
"Em pouco tempo no Brasil percebi que deveria ter feito minha vida na Austrália. Já não via graça nas pessoas e nos lugares que frequentava antes. Só conversava com brasileiros que conheci no exterior".
A família pouco ajudava:
diz Natasha, que tomou antidepressivos para tentar sair desse estado."Não pude falar o que sentia. Eu me culpava por estar sofrendo enquanto meus pais estavam felizes com minha volta",
A síndrome não é exclusividade dos brasileiros.
diz Caroline Freitas, professora de antropologia da Faculdade Santa Marcelina."Em minhas pesquisas com imigrantes, percebi um sentimento geral de que o país deixado não é o mesmo na volta",
"Um português me disse não querer voltar por saber que Portugal já não estaria lá."
ABANDONO
Quem sofre de síndrome do regresso é frequentemente considerado esnobe. Parentes e amigos têm pouca paciência com quem volta reclamando:
explica Dantas."O retorno tem uma significação para aquele que ficou. Junto com saudade, há um sentimento inconsciente de abandono, ressentimento e de inveja daquele que se aventurou",
Para Nakagawa, amigos costumam simplificar o processo de reintegração:
"Há uma pressão para que a pessoa 'se divirta'. Na melhor das intenções, os amigos não respeitam o tempo do viajante".
Se a família também não ajudar, o ideal é procurar um psicólogo com formação intercultural. Em São Paulo, o núcleo intercultural da Unifesp dá orientação gratuita.
Fonte