Melian declarou nesse post:
Todos nós ficamos, claro, alvoroçados com a possibilidade de ouvir tão mavioso rouxinol das Minais Gerias declamar um poema de beleza sem par do maior poeta da língua portuguesa (se não concorda escolha suas armas).
Felizmente para nossos rudes e ansiosos ouvidos, Fernando Pessoa foi o vencedor da semana:
O tópico foi criado: http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=103748
E eu indico, para nosso deleite e apreciação, um singelo e bonito poema do heterônimo Álvaro de Campos:
Com mais indicações abrirei a enquete.
Se o Fernando Pessoa ganhar, eu declamo um poema dele mesmo ou de um dos seus heterônimos. O POEMA QUE VOCÊS ESCOLHEREM, PESSOAS.
Todos nós ficamos, claro, alvoroçados com a possibilidade de ouvir tão mavioso rouxinol das Minais Gerias declamar um poema de beleza sem par do maior poeta da língua portuguesa (se não concorda escolha suas armas).
Felizmente para nossos rudes e ansiosos ouvidos, Fernando Pessoa foi o vencedor da semana:
O tópico foi criado: http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=103748
E eu indico, para nosso deleite e apreciação, um singelo e bonito poema do heterônimo Álvaro de Campos:
"Hoje estou triste como um barco negro ao sol.
Minha alegria foi-se embora com as malas.
Meu coração anda por casa do silêncio
Abrindo as portas e espreitando para os quartos.
E tudo isto, que não tem nenhum sentido,
É o sentido essencial da minha vida...
Lembro-me bem do seu olhar.
Ele atravessa ainda a minha alma
Como um risco de fogo na noite.
Lembro-me bem do seu olhar.
O resto...
Sim o resto parece-se apenas com a vida.
Ontem, parei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E não encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste, mortalmente triste,
Tão triste que me pareceu que me seria impossível
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.
Fumo, sonho, recostado na poltrona.
Dói-me viver como uma posição incómoda.
Deve haver ilhas para o sul das cousas
Onde sofrer seja uma cousa mais suave,
Onde viver custe menos ao pensamento,
E onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
E acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.
Abrigo no meu peito, como a um inimigo que temo ofender,
Um coração exageradamente espontâneo
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta,
Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.
Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores,
Quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas
Em me dares muitas flores.
Nem isso...Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores...
Sejam essas flores as flores que me deis...
Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio
Sob o céu de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança
Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.
O homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis, e aparar lápis, e gente que os apara à janela é tão estranho
É tão fantástico que estas cousas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dores de cabeça.
A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelando)
Caída no chão...
Qual é o sentido da vida
(que sentido tem a vida?)"
Minha alegria foi-se embora com as malas.
Meu coração anda por casa do silêncio
Abrindo as portas e espreitando para os quartos.
E tudo isto, que não tem nenhum sentido,
É o sentido essencial da minha vida...
Lembro-me bem do seu olhar.
Ele atravessa ainda a minha alma
Como um risco de fogo na noite.
Lembro-me bem do seu olhar.
O resto...
Sim o resto parece-se apenas com a vida.
Ontem, parei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E não encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste, mortalmente triste,
Tão triste que me pareceu que me seria impossível
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.
Fumo, sonho, recostado na poltrona.
Dói-me viver como uma posição incómoda.
Deve haver ilhas para o sul das cousas
Onde sofrer seja uma cousa mais suave,
Onde viver custe menos ao pensamento,
E onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
E acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.
Abrigo no meu peito, como a um inimigo que temo ofender,
Um coração exageradamente espontâneo
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta,
Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.
Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores,
Quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas
Em me dares muitas flores.
Nem isso...Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores...
Sejam essas flores as flores que me deis...
Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio
Sob o céu de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança
Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.
O homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis, e aparar lápis, e gente que os apara à janela é tão estranho
É tão fantástico que estas cousas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dores de cabeça.
A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelando)
Caída no chão...
Qual é o sentido da vida
(que sentido tem a vida?)"
Com mais indicações abrirei a enquete.
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