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Porque anões NÃO SÃO Eruhín...

Andei pesquisando, tanto na Valinor quanto fora dela, tanto na internet quanto em livros para fazer esse post...
Pra mim é uma questão óbvia demais... MÃS... como tem quem bata nessa tecla, achei melhor criar logo um tpc pra debater o assunto.

Vou começar pelo mais óbvio, que são as citações diretas do Silmarillion:

AINULINDALË - Página 5

Ergueu-se então novamente Ilúvatar, e os Ainur perceberam que sua expressão era severa. Ele levantou a mão direita e, vejam! Um terceiro tema surgiu em meio à confusão, diferente dos outros. Pois de início parecia terno e doce, um singelo murmúrio de sons suaves e melodias delicadas; mas ele não podia ser subjugado e acumulava poder e profundidade.

AINULINDALË - Página 7

E, com admiração, viram a chegada dos Filhos de Ilúvatar, e também a habitação que era preparada para eles. E perceberam que eles próprios, na elaboração de sua música, estavam ocupados na construção dessa morada, sem saber, no entanto, que ela tinha outro objetivo além da própria beleza. Pois os Filhos de Ilúvatar foram concebidos somente por ele; e surgiram com o terceiro tema; eles não estavam no tema que Ilúvatar propusera no início, e nenhum dos Ainur participou de sua criação. Portanto, quando os Ainur os contemplaram, mais ainda os amaram, por serem os Filhos de Ilúvatar diferentes deles mesmos, estranhos e livres; por neles verem a mente de Ilúvatar refletida mais uma vez e aprenderem um pouco mais de sua sabedoria, a qual, não fosse por eles, teria permanecido oculta até mesmo para os Ainur.

Ora, os Filhos de Ilúvatar são elfos e homens, os Primogênitos e os Sucessores.

AINULINDALË - Página 8

Sobre a textura da Terra havia pensado Aulë, a quem Ilúvatar concedera talentos e conhecimentos pouco inferiores aos de Melkor; mas a alegria e o prazer de Aulë estão no ato de fazer e no resultado desse ato, não na posse e nem em sua própria capacidade; motivo pelo qual ele dá, e não acumula, é livre de preocupações e sempre se interessa por alguma obra nova.

VALAQUENTA - Página 18

Aulë tem poder pouco inferior ao de Ulmo. Governa todas as substâncias das quais Arda é feita. No início trabalhou bastante na companhia de Manwë e Ulmo; e a criação de todas as terras foi sua tarefa. Ele é ferreiro e mestre de todos os ofícios; deleita-se com trabalhos que exigem perícia, por menores que sejam, e também com a poderosa construção do passado. São suas as pedras preciosas que jazem nas profundezas da Terra, e o ouro que é belo nas mãos, não menos do que as muralhas das montanhas e as bacias dos oceanos. Os noldor foram os que mais aprenderam com ele, e ele sempre foi seu amigo. Melkor sentia inveja de Aulë pois era Aulë o que mais se assemelhava a ele em ideias e poderes; e houve um longo conflito entre os dois, no qual Melkor sempre desfigurava ou desfazia as obras de Aulë; e Aulë se exauria a reparar os tumultos e as desordens de Melkor. Os dois também desejavam criar coisas que fossem suas, novas e ainda não imaginadas pelos outros, e gostavam de ter sua habilidade elogiada. Aulë, porém, mantinha-se fiel a Eru e submetia tudo o que fazia à sua vontade; e não invejava os feitos dos outros, mas procurava conselhos e os dava. Ao passo que Melkor dissipava seu espírito em inveja e ódio, até que afinal não fazia mais outra coisa a não ser ridicularizar o pensamento de terceiros, e destruiria todas as obras alheias se pudesse.

A esposa de Aulë é Yavanna, a Provedora de Frutos.


QUENTA SILMARILLION: A História das Silmarils - Capítulo I - Do início dos tempos - Página 33

E no meio do Reino Abençoado estava a morada de Aulë; e lá ele muito trabalhou. Pois, na criação de todas as coisas naquela terra, ele teve o papel principal, e lá realizou muitas obras bonitas e bem-feitas, tanto abertamente quanto em segredo. Dele vêm as tradições e os conhecimentos da Terra e de tudo o que ela contém - tanto as tradições dos que nada fazem mas buscam entendimento do que seja, quanto as tradições de todos os artífices: o tecelão, aquele que dá forma à madeira, aquele que trabalha os metais; aquele que cultiva e também lavra, embora estes últimos e todos os que lidam com o que cresce e dá frutos devam recorrer também à esposa de Aulë, Yavanna Kementári. É Aulë que é chamado de Amigo-dos-noldor, pois com ele aprenderam muito nos tempos que viriam; e os noldor são os mais habilidosos dos elfos. E, a seu próprio modo, de acordo com os dons que Ilúvatar lhes concedeu, eles muito acrescentaram, aos seus ensinamentos, apreciando línguas e textos, figuras bordadas, desenho e entalhe. Foram também os noldor os primeiros a aprender a criar pedras preciosas; e as mais belas de todas as gemas foram as Silmarils, que estão perdidas.

QUENTA SILMARILLION: A História das Silmarils - Capítulo I - Do início dos tempos - Página 35

Agora já se disse tudo o que estava relacionado à natureza da Terra e seus governantes no início dos tempos, e antes que o mundo se tornasse tal como os Filhos de Ilúvatar o conheceram. Pois elfos e homens são os Filhos de Ilúvatar; e como os Ainur não entendessem plenamente o tema através do qual os Filhos entraram na Música nenhum Ainu ousou acrescentar nada de seu próprio alvitre. Motivo pelo qual os Valar estão para essas famílias mais como antepassados e chefes do que como senhores. E, se algum dia no seu trato com elfos e homens, os Ainur tentaram forçá-los quando eles não queriam ser orientados, raramente o resultado foi bom, por melhor que fossem as intenções.

É interessante notar aqui que em todo momento é afirmado no início do Silmarillion que apenas elfos e homens são chamados de Filhos de Ilúvatar!
Só isso para mim já encerra a questão... mas continuemos e vejamos, no momento da criação dos anões, o que o próprio Eru diz:

QUENTA SILMARILLION: A História das Silmarils - Capítulo II - De Aulë e Yavanna - Página 39 a 44

Aqui colocarei o capítulo completo, por isso ficará extenso! Se não quiserem ler tudo, peço atenção ao menos aos trechos destacados...

Dizem que no início os anões foram feitos por Aulë na escuridão da Terra-média. Pois, tão grande era o desejo de Aulë pela vinda dos Filhos, para ter aprendizes a quem ensinar suas habilidades e seus conhecimentos, que não se dispôs a aguardar a realização dos desígnios de Ilúvatar. E Aulë criou os anões, exatamente como ainda são, porque as formas dos Filhos que estavam por vir não estavam nítidas em sua mente e, como o poder de Melkor ainda dominasse a Terra, desejou que eles fossem fortes e obstinados. Temendo, porém, que os outros Valar pudessem condenar sua obra, trabalhou em segredo e fez em primeiro lugar os Sete Pais dos Anões num palácio sob as montanhas na Terra-média.

Ora, Ilúvatar soube o que estava sendo feito e, no exato momento em que o trabalho de Aulë se completava, e Aulë estava satisfeito e começava a ensinar aos anões a língua que inventara para eles, Ilúvatar dirigiu-lhe a palavra; e Aulë ouviu sua voz e emudeceu. E a voz de Ilúvatar lhe disse:

- Por que fizeste isso? Por que tentaste algo que sabes estar fora de teu poder e de tua autoridade? Pois tens de mim como dom apenas tua própria existência e nada mais. E, portanto, as criaturas de tua mão e de tua mente poderão viver apenas através dessa existência, movendo-se quando tu pensares em movê-las e ficando ociosas se teu pensamento estiver voltado para outra coisa. É esse teu desejo?

- Não desejei tamanha ascendência – respondeu Aulë. - Desejei seres diferentes de mim, que eu pudesse amar e ensinar, para que também eles percebessem a beleza de Eä, que tu fizeste surgir. Pois me pareceu que há muito espaço em Arda para vários seres que poderiam nele deleitar-se; e, no entanto, em sua maior parte ela ainda está vazia e muda. E, na minha impaciência, cometi essa loucura. Contudo, a vontade de fazer coisas está em meu coração porque eu mesmo fui feito por ti. E a criança de pouco entendimento, que graceja com os atos de seu pai, pode estar fazendo isso sem nenhuma intenção de zombaria, apenas por ser filho dele. E agora, o que posso fazer para que não te zangues comigo para sempre? Como um filho ao pai, ofereço-te essas criaturas, obra das mãos que criaste. Faze com elas o que quiseres. Mas não seria melhor eu mesmo destruir o produto de minha presunção?

E Aulë apanhou um enorme martelo para esmagar os anões, e chorou. Mas Ilúvatar apiedou-se de Aulë e de seu desejo, em virtude de sua humildade. E os anões se encolheram diante do martelo e sentiram medo, baixaram a cabeça e imploraram clemência. E a voz de Ilúvatar disse a Aulë:

- Tua oferta aceitei enquanto ela estava sendo feita. Não percebes que essas criaturas têm agora vida própria e falam com suas próprias vozes? Não fosse assim, e elas não teriam procurado fugir ao golpe nem a nenhum comando de tua vontade.
Largou, então, Aulë o martelo e, feliz, agradeceu a Ilúvatar, dizendo:

- Que Eru abençoe meu trabalho e o corrija.

Ilúvatar voltou a falar, entretanto, e disse:

- Exatamente como dei existência aos pensamentos dos Ainur no início do Mundo, agora adotei teu desejo e lhe atribuí um lugar no Mundo; mas de nenhum outro modo corrigirei tua obra; e, como tu a fizeste, assim ela será. Contudo não tolerarei o seguinte: que esses seres cheguem antes dos Primogênitos de meus desígnios, nem que tua impaciência seja premiada. Eles agora deverão dormir na escuridão debaixo da pedra, e não se apresentarão enquanto os Primogênitos não tiverem surgido sobre a Terra; e até essa ocasião tu e eles esperareis, por longa que seja a demora. Mas quando chegar a hora, eu os despertarei, e eles serão como filhos teus; e muitas vezes haverá discórdia entre os teus e os meus, os filhos de minha adoção e os filhos de minha escolha.

Então Aulë pegou os Sete Pais dos Anões e os levou para descansar em locais bem afastados; voltou em seguida a Valinor e esperou os longos anos transcorrerem.

Como fossem surgir na época em que Melkor prevalecia, Aulë fez os anões resistentes. Por isso, eles são duros como a pedra, teimosos, firmes na amizade e na inimizade, e conseguem suportar fadiga, fome e ferimentos com mais bravura do que todos os outros povos que falam; e vivem muito, bem mais do que os homens, embora não para sempre. Antigamente, dizia-se entre os elfos na Terra-média que os anões, ao morrer, voltavam para a terra e a pedra da qual eram feitos; no entanto, não é essa a crença entre eles próprios. Pois dizem que Aulë, o Criador, que chamam de Mahal, gosta deles e os acolhe em Mandos em palácios separados; e que ele declarou a seus antigos Pais que Ilúvatar os abençoará e lhes dará um lugar entre os Filhos no Final. Então, seu papel será servir a Aulë e auxiliá-la na reconstrução de Arda depois da Última Batalha. Dizem também que os Sete Pais dos Anões voltam a viver em seus próprios parentes e a usar de novo seus nomes ancestrais: dos quais Durin foi o mais célebre em épocas posteriores, pai daquela família mais simpática aos elfos, cujas mansões ficavam em Khazaddûm.

Ora, quando estava trabalhando na criação dos anões, Aulë manteve sua obra oculta dos outros Valar; mas acabou revelando seu segredo a Yavanna e lhe contou tudo o que havia acontecido.

Disse-lhe então Yavanna:

- Eru é misericordioso. Agora vejo que teu coração se alegra, como de fato pode; pois recebeste não só perdão, mas generosidade. Mas como escondeste essa idéia de mim até sua realização, teus filhos terão pouco amor pelas coisas que amo. Eles amarão acima de tudo o que fizerem com as próprias mãos, como seu pai. Escavarão a terra, e não darão atenção ao que cresce e vive sobre ela. Muitas árvores sentirão o golpe de seu machado impiedoso.

Aulë, contudo, respondeu:
- Isso também valerá para os Filhos de Ilúvatar; pois eles irão comer e construir. E por mais que os seres de teu reino tenham valor, e continuassem tendo mesmo que nenhum Filho estivesse por vir, ainda assim Eru lhes dará primazia, e eles usarão tudo o que encontrarem em Arda; embora, pelo desígnio de Eru, não sem respeito ou gratidão.

- Não, se Melkor toldar seus corações – respondeu Yavanna. E não se tranqüilizou, mas sofreu no íntimo, temendo o que poderia ocorrer na Terra-média em dias futuros. Assim, ela se apresentou diante de Manwë e não revelou sua conversa com Aulë, mas disse: - Rei de Arda, é verdade, como Aulë me disse, que os Filhos, quando vierem, dominarão todo o fruto de meu trabalho, com o direito de fazer dele o que quiserem?

- É verdade – respondeu Manwë. - Mas por que perguntas, se não necessitas em nada dos ensinamentos de Aulë?

Calou-se então Yavanna, para examinar seus próprios pensamentos. E respondeu: - Porque meu coração está apreensivo, pensando nos dias que virão. Todas as minhas obras me são caras. Não basta que Melkor já tenha destruído tantas? Será que nada do que inventei ficará livre do domínio alheio?

- Pela tua vontade, o que preservarias? - perguntou Manwë.- De todo o teu reino, o que te é mais caro?

- Tudo tem seu valor, e cada um contribui para o valor dos outros. Mas os kelvar podem fugir ou se defender, ao passo que os olvar que crescem, não. E entre estes, prezo mais as árvores.

Embora de crescimento demorado, veloz é sua derrubada, e, a menos que paguem o imposto dos frutos nos galhos, pouca tristeza despertam quando morrem. É assim que vejo no meu pensamento. Quisera que as árvores falassem em defesa de todos os seres que têm raízes, e castigassem aqueles que lhes fizessem mal!

- Estranho esse seu pensamento – disse Manwë.

- E, no entanto ele estava na Música – disse Yavanna. - Pois, enquanto estavas nos céus e com Ulmo criavas as nuvens e derramavas as chuvas, eu erguia os galhos das grandes árvores para recebê-las, e algumas cantaram a Ilúvatar em meio ao vento e à chuva.

Calou-se então Manwë, e o pensamento de Yavanna, que ela havia instilado em seu coração, cresceu e se desenvolveu; e foi visto por Ilúvatar. Pareceu, então, a Manwë que a Música se erguia de novo a seu redor, e ele agora percebia nela muitas coisas, às quais, embora já as tivesse ouvido, não prestara atenção. E afinal a Visão reapareceu, mas não estava mais afastada, pois ele próprio se encontrava dentro dela; e, contudo via que tudo era sustentado pela mão de Ilúvatar; e a mão penetrava na Visão e dela surgiam muitas maravilhas que até então estavam ocultas a seus olhos, nos corações dos Ainur.

Despertou então Manwë, desceu até Yavanna na colina Ezellohar e sentou-se a seu lado, à sombra das Duas Árvores. E Manwë falou:

- Ó, Kementári, Eru pronunciou-se e disse: “Será que algum Vala supõe que eu não tenha ouvido toda a Música? Mesmo o som mais ínfimo da voz mais fraca? Vejam! Quando os Filhos despertarem, o pensamento de Yavanna também despertará, e ele convocará espíritos de muito longe, que irão se misturar aos kelvar e aos olvar, e alguns ali residirão e serão reverenciados, e sua justa ira será temida. Por algum tempo: enquanto os Primogênitos estiverem no apogeu, e os Segundos forem jovens.” Não te lembras agora, Kementári, que teu pensamento cantava, nem sempre sozinho? Que teu pensamento e o meu tampouco se encontravam, de modo que nós dois alçávamos vôo juntos como grandes aves que sobem acima das nuvens? Isso também irá se passar pela intenção de Ilúvatar; e, antes que os Filhos despertem, as Águias dos Senhores do Oeste surgirão com asas como o vento”.

Alegrou-se então Yavanna, e ela se levantou, com os braços esticados para os céus, e disse:

- Crescerão muito as árvores de Kementári para que as Águias do Rei possam habitar suas copas!

Manwë, entretanto, também ergueu-se; e ele parecia tão alto, que sua voz descia até Yavanna como se viesse dos caminhos dos ventos.

- Não, Yavanna, apenas as árvores de Aulë terão altura suficiente. As Águias habitarão as montanhas e ouvirão as vozes daqueles que clamam por nós. Mas nas florestas caminharão os Pastores das Árvores.

Manwë e Yavanna então se despediram, e Yavanna voltou a Aulë; e ele estava em sua oficina de ferreiro, derramando metal derretido numa forma. - Eru é generoso – disse ela – Mas teus filhos que se cuidem! Pois caminhará pelas florestas uma força, cuja ira eles despertarão por seu próprio risco.

- Mesmo assim, eles precisarão de madeira – disse Aulë, e continuou seu trabalho de ferreiro.

2 coisas me chamam a atenção neste capítulo:

- Exatamente como dei existência aos pensamentos dos Ainur no início do Mundo, agora adotei teu desejo e lhe atribuí um lugar no Mundo; mas de nenhum outro modo corrigirei tua obra; e, como tu a fizeste, assim ela será. (...) Mas quando chegar a hora, eu os despertarei, e eles serão como filhos teus; e muitas vezes haverá discórdia entre os teus e os meus, os filhos de minha adoção e os filhos de minha escolha.

Nesta fala o próprio Eru Ilúvatar diz com todas as letras que os anões são Filhos de Aulë: e eles serão como filhos teus e muitas vezes haverá discórdia entre os teus e os meus.
E ele também diz que aqueles que ele próprio criou são os "filhos de minha escolha". Portanto, o "povo escolhido", que recebe mais dádivas que os demais e que é uma clara referência ao "povo de Deus" do Velho Testamento.

Ao "adotar" os anões Eru apenas lhes permitiu que vivessem neste mundo e lhes deu livre arbítrio, pois Aulë era fiel e não os tinha feito por ganância, mas pela ânsia de dividir seus dons e habilidades com outros seres... (ao contrário de Melkor, que queria tudo para si. Queria escravos e não amigos).
Isso é MUITO diferente de colocar os anões no mesmo patamar que elfos e homens, pois fica bem claro lá no Terceiro Tema da música que só serão chamados de Filhos de Ilúvatar aqueles que foram criados exclusivamente por ele, sem interferência de nenhum Ainu. Tanto que, enquanto criavam o mundo, nenhum Ainu se atreveu a modificá-los ou acrescentar-lhes algo.

Já os anões, Aulë os moldou com suas próprias características inerentes à raça. Aulë os imaginou e lhes deu forma, corpo e personalidade, tão diferente em muitos aspectos das 2 raças consideradas Filhos de Ilúvatar. Pois Aulë colocou neles tanto aquilo que julgava que lhes seria útil em vida (como a resistência), quanto características que eram dele próprio e típicas de seu ofício, da matéria com as quais trabalhavam. Sempre se associa à terra, à pedra e ao metal a dureza e a durabilidade (resistência).

Revista O Universo Fantástico de Tolkien - n° 8 - Como Ser um Anão de Tolkien (por Rogério Mendes) - Página 34

Comparados às outras raças, os anões são desajeitados e feios, porém, capazes de produzir grande beleza. Uma das motivações dos anões é produzir coisas. Eles fazem isso com o trabalho duro na exploração das minas, nas fornalhas das forjas e na lapidação de pedras.

Lembram muito Aulë e também Hefesto.

O próprio Aulë era apenas uma parte de Eru Ilúvatar e passou às suas criaturas (de sua criação e portanto os anões o chamam de seu Criador) essas características que Eru lhe concedera, como uma herança.
Por isso acho interessante e correta, ou ao menos bastante simpática, a definição que o Guilherme Thorikan deu em outro tópico:

Eles não eram rabugentos, eram realmente filhos da Terra, Filhos de Aulë, e Netos de Eru.

A outra coisa que achei interessante neste capítulo foi a respeito dos Ents de Yavanna.
Pesquisando pelo fórum vi alguns dizerem que os Ents não tem livre arbítrio como os anões.... que eles são como as águias de Manwë, que depende de sua vontade.
Lendo o capítulo postado não foi o que me pareceu... e se assim o fosse, o Entebate em O Senhor dos Anéis não faria sentido algum. Vejam: se os Ents tinha autonomia para debater e decidir se entrariam na guerra e atacariam Orthanc, então eles tinham livre arbítrio, pois do contrário apenas acatariam a decisão de Yavanna (assim como fizeram as águias nas várias vezes que ajudaram Gandalf e quando resgataram Frodo e Sam após a destruição do Um Anel).

Então vamos analisar novamente o trecho que fala da criação dos Ents:

- Ó, Kementári, Eru pronunciou-se e disse: “Será que algum Vala supõe que eu não tenha ouvido toda a Música? Mesmo o som mais ínfimo da voz mais fraca? Vejam! Quando os Filhos despertarem, o pensamento de Yavanna também despertará, e ele convocará espíritos de muito longe, que irão se misturar aos kelvar e aos olvar, e alguns ali residirão e serão reverenciados, e sua justa ira será temida. Por algum tempo: enquanto os Primogênitos estiverem no apogeu, e os Segundos forem jovens.”

O que são estes "espíritos de muito longe"? A meu ver Ilúvatar concedeu fëa e livre arbítrio ao Ents, assim como fez com os Anões. Pois alma e espírito é a mesma coisa: é a nossa parte 'não-carnal'. E fëa, que eu saiba, significa alma.

Então, dizer que um anão é um Eruhín (um Filho de Ilúvatar) é um absurdo tão grande quanto dizer que os ents também sejam Eruhín.

Não entendo LHUFAS do estudo de línguas élficas... Mas no meu entendimento, de acordo com todos os trechos expostos acima, a palavra Eruhín e a definição como "Filho de Ilúvatar" estão diretamente ligadas à CRIAÇÃO direta. Por isso, anões e ents NÃO SÃO Eruhín... não foram criados por Eru e muito menos exclusivamente por ele. Ele apenas "deu uma mãozinha", acrescentando a única coisa que lhes faltava: a liberdade.

Procurando na internet achei este curso de Quenya, onde encontrei isso:

Eruhin “Filho (= “criança”) de Eru” > Eruhín - (como no pl. Eruhíni; cf. a vogal longada palavra independente hína “criança”)

E encontrei também este dicionário Quenya - Espanhol:

hína "hijo", también usado como vocativo para designar a un joven (también hinya "mi hijo, mi niño" para hinanya) (WJ:403). Pl. híni (sorprendentemente no **hínar) en Híni Ilúvataro "Hijos de Ilúvatar" (Índice del Silmarillion). En compuestas -hin pl. -híni (como en Eruhíni, "Hijos de Eru", SA:híni)

Traduzindo:

Hína = "filho", também usado como vocativo para designar um jovem (também hinya "meu filho, meu menino" para hinanya) (WJ:403). Pl. híni (sorprendentemente no **hínar) en Híni Ilúvataro "Filhos de Ilúvatar" (Índice do Silmarillion). En compuestas -hin pl. -híni (como em Eruhíni, "Filhos de Eru", SA:híni)

E para confirmar minha suspeitas fui procurar a origem da palavra "criança":

Olhem bem, criança vem do Latim creare, “produzir, erguer”, relacionado a crescere, “crescer, aumentar”, do Indo-Europeu ker-, “crescer”.

Portanto, criação e criatividade têm relação com essa palavrinha.

Fonte: http://origemdapalavra.com.br/palavras/crianca/

Daí eu já sei que vão me questionar a respeito do inglês, já que a obra foi escrita originalmente nesta língua. Vou por em Spoiler minhas divagações sobre isso, tanto porque não tenho total certeza sobre o que vou escrever quanto porque é mais uma curiosidade, já que desvia o assunto do tópico... em suma, são divagações MESMO:

Bem, achei este texto interessante:

A formação do particípio, que auxilia para a fazer os tempos passados, também guarda correlações:

Infinitivo Particípio Passado
comprar comprado Eu tenho comprado;
buy bought I have bought;
kaufen gekauft Ich habe gekauft (eu comprei).

Este d/t no final do verbo conjugado não é coincidência nestas três distantes línguas nem é fruto de uma influência recente entre elas. É um dos sinais de que português, inglês e alemão derivam de uma mesma língua falada num passado remoto, à qual os lingüistas chamam indo-europeu. Do indo-europeu descendem quase todas as línguas européias, com exceção do húngaro e do finlandês; descendem também parte das faladas no Iran (como o persa), na metade norte da Índia, e na Turquia (mas não o turco, que é da família do japonês!).

A origem do indo-europeu ainda é controversa, ela poderia ser a língua falada por uma tribo no sul da Rússia há 5500 anos, ou ainda por uma tribo do oeste da Turquia há 9000 anos. O que é certo é que o indo-europeu deixou marcas de estrutura e vocabulário em línguas que vão do português ao sânscrito.

(...)

lingua.gif

Com muita dificuldade consegui rastrear parte da origem da palavra a partir do "ker-" indo-europeu.

Aparentemente - quem entende do assunto me corrija se estiver errada, pois sou totalmente noob nisso - "ker-" passou a khrengaz no antigo Germânico, que também deu origem à palavra ring (anel), mas antes teve significado de "círculo social" ou "classificação social", dando também origem à palavra rank. Mas, em relação a "child" e "children", passou pelas formas "kiltham", "kilþei" e "kuld" no germânico arcaico até chegar a "cild" que atualmente é "child".

O tal "ker-" parece ser origem de muitas palavras que a princípio parecem bem distintas, mas eu criei umas teorias na minha cabeça:

- "ker-" significa segundo a maioria das fontes “dobrado, torcido”. Daí eu achei isso aqui:

Ceres, deusa da agricultura na mitologia romana ou Deméter na mitologia grega é deusa da terra cultivada, das colheitas e das estações do ano. É propiciadora do trigo, planta símbolo da civilização. Na qualidade de deusa da agricultura, fez várias e longas viagens ensinando os homens a cuidarem da terra e das plantações.

Era a deusa do crescimento das plantas (particularmente os cereais) e do amor maternal, sempre retratada na arte com um cetro (bastão real), um cesto de flores e frutos e tinha uma coroa feita de trigo. O nome Ceres de “ker”, de raiz indo-européia e significa “crescer”, também é raiz das palavras “criar” e “incrementar”.

Fonte: http://www.ceresconsultoria.com.br/empresa/index.php

Nos lembra Yavanna, não é?

Pois bem... as plantas - como o trigo - conforme crescem vão ficando com um formato curvo! Além disso, as pessoas se curvam para colhe-las. O curvo deu origem a círculo, que por sua vez lembra tanto anel, quanto a posição em um espaço.

- Com relação a significado de "posição social" - que vem do sentido de "por em ordem, classificar" - é fácil pensar em como poderia ter sido associada à crianças, ou seja, à posição que elas ocupavam na sociedade (como aprendizes, talvez).

Algumas das fontes que consegui encontrar:

http://origemdapalavra.com.br/palavras/reto/
http://translate.google.com.br/tran...=http://www.worldwidewords.org/qa/qa-ran1.htm
http://translate.google.com.br/tran...palabras.blogspot.com/2008_08_01_archive.html
http://www.definition-of.net/rank+(n.)
http://www.etymonline.com/index.php?allowed_in_frame=0&search=child&searchmode=term
http://dalete.com.br/saber/origem.pdf

Desnecessário lembrar que era o próprio J. R. R. Tolkien um grande filólogo!!! (portanto, infinitamente melhor nisso do que eu :lol: :roll:)

Enfim.. voltando aos anões de Tolkien:

Um pequeno trecho do livro O Mundo de Tolkien (David Day) - Reino dos Anões - Deuses da Montanha e Mestres do Fogo - Página 64

Em sua concepção, os sete pais dos anões de Aulë eram, sob vários aspectos, similares às criaturas concebidas pelo deus ferreiro dos gregos, Hefesto. Estas, apesar da aparência de criaturas vivas, eram de fato máquinas robotizadas e projetadas para ajudá-lo em sua ferraria, golpeando o metal e trabalhando nas forjas. Os sete pais originais dos anões eram como esses robôs no início: incapazes de ter pensamento ou vida independente. Podiam apenas se mover sob o comando ou por meio de pensamento do seu mestre.

APÊNDICE F DE O Senhor dos Anéis - Páginas 424

Os anões são uma raça a parte. O Silmarillion relata sua estranha origem e a razão pela qual são semelhantes aos elfos e aos homens, e, ao mesmo tempo, diferentes deles

Aqui um post bastante interessante do Haran, que aponta outro motivo pelo qual anões não podem ser classificados como Eruhín:

Na carta 155, Tolkien é bem direto quanto ao assunto:


I suppose that actually the chief difficulties I have involved myself in are scientific and
biological — which worry me just as much as the theological and metaphysical (though you do not
seem to mind them so much). Elves and Men are evidently in biological terms one race, or they
could not breed and produce fertile offspring – even as a rare event
: there are 2 cases only in my
legends of such unions, and they are merged in the descendants of Eärendil.1 But since some have
held that the rate of longevity is a biological characteristic, within limits of variation, you could not
have Elves in a sense 'immortal' – not eternal, but not dying by 'old age' — and Men mortal, more
or less as they now seem to be in the Primary World – and yet sufficiently akin. I might answer that
this 'biology' is only a theory, that modern 'gerontology', or whatever they call it, finds 'ageing'
rather more mysterious, and less clearly inevitable in bodies of human structure. But I should
actually answer: I do not care. This is a biological dictum in my imaginary world. It is only (as yet)
an incompletely imagined world, a rudimentary 'secondary'; but if it pleased the Creator to give it
(in a corrected form) Reality on any plane, then you would just have to enter it and begin studying
its different biology, that is all.​


Tolkien diz se preocupar tanto com aspectos científicos quanto teológicos, e parece aceitar a idéia que duas raças são da mesma espécie se podem reproduzir-se entre si, e vê elfos e homens como uma mesma espécie (ele usa a palavra "raça" ali, mas penso que refere-se ao que pelo menos hoje chamamos de "espécie", pois membros de raças diferentes podem reproduzir-se entre si, e a frase dele não teria sentido). Nesse sentido, penso que poderíamos separar os anões como uma classe completamente outra, afinal não vejo um anão se juntando a uma elfa ou a uma humana e tendo sucesso nisso. Apesar de parecidos, os anões devem ser diferentes dos homens e elfos nesse aspecto mais íntimo, a genética aulësca deve ser diferente da genética dos eruhíni, penso eu, pois foram criadas em contextos separados. Qualquer semelhança é devido ao fato de Aulë ter se inspirado na visão que ele teve dos eruhíni durante a Música. A diferença seria aquela análoga a diferença entre Homo Sapiens e Homo Outra-coisa.





Por fim, ficam aqui os links de tópicos que não são dessa questão específica, mas são de assuntos relacionados e podem interessar:

Anões (Khazâd)
Os Anões e a Imortalidade
Aulë e os Anões
A Chama Imperecível
Do destino dos Naugrim
Espécie, raça, etnia
Anões
 
Última edição:
olhando o post em ingles, ele tá certo tolkien fala raça no sentido de especie. Erro meu hehe :P ainda bem que editei o post.
O resto tambem concordo contigo, os anões parecem com os humanos e elfos mas tem fisiologia completamente diferente. Acho que é por isso que desaparecem na quarta era.
Já o elfos pelos menos ainda tem um aqui, o ultimo filho de feanor ainda anda pelas praias da europa chorando a dor da silmaril. :P
 
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Parabéns pela pesquisa, Aranel! Para mim também sempre foi óbvio que os Anões não são Eruhíni, o que não rebaixa esses personagens de Tolkien (que eu gosto muito) em nenhum momento, pelo contrário. Tanto é que o próprio Eru percebeu que não havia maldade no feito de Aulë, além de notar o seu valor, e os adotou. Mas de fato não são filhos da Criação. Às vezes o óbvio precisa ser dito, pois por ser exatamente óbvio as pessoas, por vezes, não o percebem ou o esquecem, e confusões acabam surgindo.

PS: não consigo abrir a tag spoiler sobre a palavra em inglês. É só comigo?
 
Não tem nem o que discutir depois de um post desse :clap:

tlnr mas uou, só pelo trampo de fazer o post merece um ótimo.

é, realmente está de parabéns :clap:

Obrigada!

Parabéns pela pesquisa, Aranel! Para mim também sempre foi óbvio que os Anões não são Eruhíni, o que não rebaixa esses personagens de Tolkien (que eu gosto muito) em nenhum momento, pelo contrário. Tanto é que o próprio Eru percebeu que não havia maldade no feito de Aulë, além de notar o seu valor, e os adotou. Mas de fato não são filhos da Criação. Às vezes o óbvio precisa ser dito, pois por ser exatamente óbvio as pessoas, por vezes, não o percebem ou o esquecem, e confusões acabam surgindo.

Concordo com tudo. Também gosto dos anões e não os acho piores por não serem Eruhíni, afinal esta é apenas uma classificação.

PS: não consigo abrir a tag spoiler sobre a palavra em inglês. É só comigo?

Para mim abre normal, mas vou fazer uma pequena mudança pra ver se resolve.
 
Nossa, parabéns, realmente muito bem defendido seu argumento, sem brechas pra debate mesmo.


Eu mesmo, antes de ler seu post, sempre pensei da mesma forma que você, ao meu ver mesmo tendo sido adotados por Eru,os Anões continuam não sendo seus legítimos filhos, sendo assim, diferentes dos elfos e humanos, que foram previamente imaginados e posteriormente concebidos segundo sua vontade.
 
Isso aqui foi uma aula!
Parabéns Aranel, se alguém teve alguma dúvida um dia, não terá novamente!

Gostei bastante da comparação dos ents e dos anões. Não lembrava desse trecho da conversa de Yavanna e Manwë.
Muito bom :clap:
 
Tá de parabéns, Elriowiel!!! Excelente tópico e mereceu um karma! Mas... pô! Não deixou nadinha, nem uma vírgula para debatermos :lol:

Pois é. Você colocou fim na questão. Eu normalmente tenho preguiça de ler posts muito grande, mas quando são interessantes tipo este teu! VALE MUITO A PENA!
 
Incrível que no dia que ele postou o tópico, coincidentemente coincidentemente eu estava lendo Silmarillion, exatamente na passagem sobre os ents. Parabéns novamente pelo tópico.
 
Um dos grandes mistérios que o Silma possui é o processo de atribuição de status dado as criações de Eru.

Sabe-se que no princípio funcionava o conceito de "pensamento de Eru" e que aqueles pensamentos podiam receber o dom de uma existência própria seguida de atribuições ou status que são as conexões ou relações de uma realidade com a criatura. Quanto mais importante para o criador, maior o laço com ele o qual se demonstrava forte em criaturas livres como os Ainur que possuíam parte dos atributos de filiação uma vez que toda sua educação e origem provinha do que o único proporcionava mas que não possuíam uma declaração oficial de envolvimento tão pessoal como aquela que havia para com os filhos. Para Eru apenas os filhos teriam acesso tão direto como aquele que uma relação filial propõe e o aprendizado dos sagrados seria lento como se conta no primeiro capítulo.

O caso de Aule ilustra um fato muito importante que Yavanna aponta ao notar a generosidade mas que pelo fato de o Silma ser um documento limitado e fragmentado pelo tempo e trabalho dos autores élficos não explora. É notável que os anões depois de serem criados livres passem a acreditar que Eru lhes daria um lugar entre os filhos no final, o que significa dizer que ressoa com o que Finrod falou sobre como Eru não coloca sentimentos inúteis no coração de seus filhos e que a filiação de adoção concedida passou a valer de uma forma misteriosa, classificada por Yavanna como generosa (curioso ela não deixar passar justamente um adjetivo similar a fertilidade e a reprodução que é a generosidade). Essas dúvidas que enchiam o coração dos homens e dos anões e que no íntimo eles intuíam que Eru não se esqueceria deles mas não tinham coragem de anunciar com força. Nesse ponto os anões eram como os homens e ambos tinham sentimentos que iriam frutificar no futuro, numa espécie de nova e maravilhosa primavera.

A filiação adotiva é um caso de reviravolta, inesperadamente enriquecedora para o mundo e que demonstra as muitas maneiras de ligar um criador com a criatura, a princípio dando existência a seres inanimados (que na verdade possuem muita inteligência imbuída apesar de não terem alma), em seguida com seres livres que podem possuir laços de uma familiaridade pouco explicada por Eru como era a relação entre Manwe e Melkor (irmandade entre Ainur?) no pensamento do único. E finalmente em relações bem explicadas a medida que as eras do mundo passem e os seres compreendam mais da mente de Eru.
 
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