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Construído por Hitler, prédio icônico nazista é demolido em Berlim

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
O Deutschlandhalle de Berlim, o pavilhão multiuso construído em 1935 por Adolf Hitler e palco de apresentações de Rolling Stones e Queen, começou a ser demolido a partir da implosão do teto do prédio no final de semana.

A detonação ocorreu após a montagem de um cordão de isolamento de 200 metros ao redor do recinto. As paredes do local devem ser derrubadas separadamente.

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Sequência mostra implosão de prédio icônico nazista, que foi construído por Hitler em 1935​

Curiosos acompanharam à distância a implosão, que gerou uma grande nuvem de pó.

Depois dessa primeira etapa, serão demolidas nas próximas semanas as paredes das 26 naves que formam o complexo, à época construído para ser o maior centro de eventos do mundo.

O Deutschlandhalle abrigou feiras e congressos, lutas de boxe --incluindo uma de Mohammed Ali-- e shows de bandas como AC/DC, The Who e Jimi Hendrix.

As autoridades de Berlim pretendem erguer no local um novo centro de congressos, orçado em 65 milhões de euros, que deve ficar pronto em 2013.

Em 2014 será o vizinho Centro Internacional de Congressos (ICC) que passará por reformas. Esse outro prédio é dos anos 70.

A implosão do Deutschlandhalle causou polêmica por moradores que consideravam o prédio como parte da memória do país.

Fonte
 
Outro dia eu vi num noticiário da Tv Cultura que por mais que alguns alemães desejem ver varridos lembranças do nazismo, paradoxalmente uma das coisas que mais move o turismo naquele país é visitas a prédios e instalações que lembrem essa época, inclusive antigos campos de concentração.
 
Mas porquê? É histórico, não se deve destruir o passado, gostando dele ou não.

Na Inglaterra todos gostavam do estádio de Wembley e destruíram, por quê? Porque estava na hora. Tá velho, tem que derrubar e fazer um que atenda às necessidades modernas. Com certeza existem outros prédios mais significativos que eles conservam sobre o período do nazismo. É como eu disse, só citam que foi construído por Hitler para atrair atenção e cliques.
 
O negócio aí é mais complicado. Quando se trata do passado nazista, os alemães lidam de forma muito complexa com ele. Há muitos trabalhos acadêmicos sobre a questão da memória e negação dela na Alemanha. Enquanto que há uma forte tendência em se preservar lugares que remetem ao sofrimento das vítimas do nazismo (como muitos dos campos de concentração), os prédios e monumentos ligados a ele acabam virando escombro sem muito alarde. O que sobrou, ao fim da guerra, da antiga Chancelaria do Reich, sede do governo de Hitler (e na verdade bem mais antiga do que ele, datada do fim do séc. XIX), também foi demolido no fim dos anos 80 para a construção de um condomínio de prédios populares. Dentro desse espaço, no local onde ficava a entrada do bunker de Hitler (onde ele passou seus últimos dias na Berlim sitiada e ocupada pelos soviéticos), hoje nada mais é do que um dos estacionamentos desse condomínio. Apenas um monumento recente, o Memorial do Holocausto, existe no antigo terreno ao lado do condomínio. Os alemães, na tentativa de evitar que alguns locais se transformem em centros peregrinação de neonazistas, acabam mesmo botando muita coisa abaixo. A ostentação de símbolos nazistas é crime na Alemanha e os neonazistas são considerados marginais por grande parte dos alemães, eles não têm organização e nem a extrema direita, organizada em partidos, que é fraca, gosta de ser associada a eles. Há mais neonazistas nos EUA do que na Alemanha, pare se ter uma ideia. Então, o passado nazista é quase que aniquilado quando se trata dos símbolos de ostentação do Reich, mas a culpa pelo massacre que ocorreu é ainda muito grande, e aquilo que remete diretamente às vítimas do regime, é muito mais preservado. Na verdade uma coisa acaba explicando a outra. Como historiador eu sou contra, de forma veemente, a demolição de tais lugares e monumentos, mas não os culpo por isso.
 
Os alemães são um povo que de certa forma conseguem lidar bem com essa relação presente/passado sem prejudicar muito o turismo né?
 
Há cinco anos, quando eu ainda estava na faculdade, li um artigo que falava justamente sobre a questão presente/passado para os alemães. Além de abordar o tema da memória (que no livro "Crimes de Guerra: culpa e negação no século XX" [Ed. Difel, vários autores] é muito bem trabalhada), associava a questão da culpa com o fato de os turistas terem elegido a Alemanha como um dos países mais receptivos da Europa. Os alemães das gerações mais recentes fazem questão de não serem associados ao passado nazista. O que nem sempre é fácil, pois esse tema faz parte da história ainda muito recente, e muitos alemães têm um antepassado ou outro que ostentou a suástica no braço. Mesmo algumas personalidades alemãs/germânicas conhecidas hoje têm um "esqueleto nazista" escondido no armário.

Os chanceleres alemães por exemplo. Helmut Kohl, que foi chanceler no início dos anos 90, foi um membro da Juventude Hitlerista quando criança, o Papa Bento XVI foi um dos muitos jovens convocados a defender Berlim durante a ocupação (apesar do Vaticano negar, muitos defendem que ele também foi da Juventude Hitlerista). Não estou dizendo que eles são nazistas, pois eram crianças/adolescentes e estavam lá colocados pelos pais, certamente, ou obedecendo a convocações das autoridades. O sucessor do Kohl, Gerhard Schröder perdeu o pai em 1944 no front russo, o pai do Arnold Schwarzenegger (que é austríaco) foi da SS, uma força de elite que só aceitava "arianos puríssimos", só para citar exemplos de personalidades que ainda tem uma associação com o passado nazista da Alemanha. Então, os alemães tendem a assumir uma postura hoje, em relação ao resto do mundo, que os afaste desse passado terrível o quanto eles puderem. O mesmo artigo que citei, falava de como é grande o número de jovens alemães envolvidos com ONGs e trabalho humanitário ao redor do mundo, por exemplo. É como disse no post acima, a questão é bem complexa.

Só para ilustrar, encontrei imagens da antiga Chancelaria do Reich, que foi sede do governo nazista e abrigou o bunker do Hitler.

Essa é a imagem da fachada da chancelaria. Quem viu o filme "A Queda" talvez se lembre dessa fachada que aparece no início do filme com Berlim sendo bombardeada.

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Essa é do condomínio que ocupa o lugar hoje. Onde está escrito "FührerBunker", quase no centro da imagem, é onde ficava o bunker do Hitler. E no alto da imagem, onde está escrito "Wilhelmstrasse" (rua Wilhelm) é exatamente por onde passava a rua da imagem acima.

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1_O Bunker, área da Chancelaria e do Bunker hoje.jpg00_O Bunker, Reichskanzlei 12.jpg
 
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Existe também a questão de controle/disciplina (algo que os alemães valorizam) numa mensagem que o governo deseja passar para a Europa nesse momento. Diante da crise européia os alemães externamente estão isolados na cobrança da austeridade econômica e internamente estão pressionados pelos fantasmas do radicalismo.

Desde o 11 de setembro a diplomacia no mundo inteiro e os próprios governos sofreram um enfraquecimento no poder de manter a ordem e vem se deteriorando principalmente em locais conflagrados como oriente médio, países da "primavera árabe" etc... Bin Laden traiu não só os Eua, mas o mundo todo. Com a retirada do capital financeiro e humano do governo americano para lidar com a guerra em 2 países, foram embora os investimentos em países em desenvolvimento e a possibilidadade de evitar a bolha de 2008, a qual ajudou a disparar a crise européia atual. As melhores cabeças dos Eua precisaram pensar em sobreviver antes de tudo.

Como nações desenvolvidas passam pelo problema antes das mais pobres, já nos anos 90 os americanos fizeram relações erradas com "amigos" errados iguais aquelas que o Brasil (Lula) fez lançando risco iminente de ser gravemente traído

Com o crescimento do radicalismo internacional que inclui o movimento neo-nazista e ex-apoiadores do movimento soviético, cada vez mais eu me vejo obrigado a perguntar antes quem possui o controle da relíquia histórica antes de dizer se devemos preservá-la. Se a imagem do passado começa a prejudicar o presente significa que o controle sobre ele numa Europa empobrecida pode ser bem mais difícil (as igrejas européias sendo transformadas em boates são um sinal de falta de capital intelectual e financeiro para mantê-las) e os alemães estão na difícil situação de não conseguir enxergar devido a época turbulenta.

Quanto mais turbulenta a época, mais difícil de enxergar e um dos piores lugares para escolher o que é certo é um local cheio de angústia. O mundo anda temendo guerras secretas(não declaradas) e precisamos ficar de olho nisso.

Lembro quando uma amiga da minha mãe foi tratada pelo Brian Weiss e indicou um livro dele para lermos. No livro, percebemos o quanto a diplomacia era importante na Europa antes de 2000. A princesa Diana um pouco antes de morrer havia enviado uma carta para o terapeuta indicando o desejo de investir na pesquisa de vidas passadas. Para explicar melhor, a terapia, assim como os sonhos noturnos e as memórias trabalham um lado extremamente diplomático do ser. Essas imagens são uma forma sutil (diplomática) que o ser tem para se autoconhecer. Segundo o terapeuta não era missão dela ainda abrir o assunto, mas o caso abre uma particularidade importante do trabalho diplomático europeu de hoje.

Dada a função do diplomata, evitar a guerra, gerar o crescimento mútuo (lucrativo) e o amadurecimento das relações, é possível ver o porquê de Diana escolher nas escolas do Brasil em sua visita justamente as crianças mais novas para visitar, aonde não há complexos interesses capazes de prejudicar a diplomacia. Se princesas comiam diplomacia no café da manhã (atestado pela busca de Diana dentro da própria religião), hoje isso já não ocorre em razão da rudeza e perturbação dos tempos de hoje.

Hoje o mundo é um lugar mais perigoso e um terror relativo espalhou de uma forma que ninguém podia prever. Sem Bin Laden o Bric estaria mais rico, Eua estaria mais sólido, Europa com a cabeça mais fria e os países árabes não estariam tão incendiados. É possível que os alemães serem obrigados a destruir o passado dependa de algo vital e seja plausível a destruição de uma memória em prol de algo melhor.

Ao ler sobre a forma como a Europa vem preservando a memória temos que ver a vida Européia. O momento presente é modulado por pequenas proporções do passado, do futuro e do presente, acontecendo ao mesmo tempo. No cérebro a forma como a pessoa equilibra esse fatores determina que outras combinações de opções sejam inibidas. Se a Europa for um grande cérebro então alguns processos precisam começar a ser inibidos por lá como o extremismo destrutivo de relações.
 
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Peraí, alemães, não destruam nada antes de eu poder visitar não, eu me interesso muito pela 2ª Guerra, eu gostaria muito de visitar tudo que remete a ela.
 

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