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Autor da Semana Sir Arthur Conan Doyle

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
Sir Arthur Conan Doyle​




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Fascinante, por muitos aspectos, a personalidade de Sir Arthur Conan Doyle, o famoso romancista, criador de Sherlock Holmes, há de sempre justificar comentários e considerações elevadas. Ele foi, sem exagero, um grande homem - pelo caráter, pelo talento, pela imaginação e pelo físico, enfim, um grande homem integral.

Nascido aos 22 de maio de 1859, em Picardy Place, Edimburgo, capital da Escócia, de descendência nobre, Arthur Conan Doyle faleceu precisamente a 7 de julho de 1930. Embora os foros de nobreza, sua família não era abastada, tanto que ele teve de enfrentar enormes dificuldades para estudar e formar-se em Medicina. Seu pai chamou-se Charles Altamont Doyle, e sua mãe, Mary Foley. Ambos católicos severos, sendo que alguns membros da família se extremavam num fanatismo tremendo. Mais adiante teremos ocasião de demonstrar a atitude firme e digna de Conan Doyle em face do pétreo sectarismo de seus parentes. Foi-lhe dado o nome de Arthur em homenagem a um tio materno - Arthur Conan Doyle, crítico de arte do Art Journal, célebre pela segurança, profundidade e rijeza de seus comentários.

Sua mãe foi uma mulher verdadeiramente excepcional, quer pela pureza do caráter, como pela franqueza das atitudes e também pelo respeito que devotava ao ser humano. Conan Doyle foi o ídolo do seu coração. Ambos se amavam enternecidamente e se compreendiam melhor, talvez em virtude da afinidade moral entre eles existente.

Não pretendemos descer a pormenores a respeito da educação recebida por Conan Doyle.

Será suficiente esclarecer que Mary Doyle deu de si o melhor que pode para plasmar a vigorosa personalidade de seu ilustre filho. De como ele correspondeu aos esforços maternos, di-lo a História. Essa mulher admirável transmitiu-lhe estas máximas: Sem temor diante dos fortes e humilde diante dos fracos. Detestava as atitudes de esnobismo, as superfluidades comuns aos descendentes de nobres, mas cultivava com religioso respeito às tradições da família. Ela ensinou Conan Doyle, desde menino, a demonstrar sempre cavalheirismo para com todas as mulheres, de alta ou de baixa condição. Podemos dizer que Arthur foi o retrato moral de sua extraordinária genitora. Dela herdou todas as virtudes, assim como a energia, o amor ao trabalho, o destemor nos momentos difíceis ou perigosos, a coragem de dizer o que sentia, fosse qual fosse à situação; a facilidade em se colocar na defesa dos fracos, bem como o respeito indeclinável a seus pontos de vista, enquanto seus argumentos não fossem abalados.

Nascido, como dissemos, em ambiente rigorosamente católico, Conan Doyle foi aluno de padres jesuítas, em Stonyhurst, Lancashire, para onde foi depois de se haver preparado no colégio de Hodder House. Ali, teve por à prova a sua personalidade em formação, sustentando opiniões divergentes das dos padres, mesmo quando isto lhe custasse punições severas. E não se abatia depois dos castigos, olhando de frente aqueles que o puniam por não lhe obterem a passiva anuência. Intimamente, porém, seus professores o admiravam, respeitando-lhe o talento. O famoso escritor inglês Thomas Babington Macaulay merecera a sua predileção. Conan Doyle se deleitava com suas obras e um dia compreendeu que Macaulay, embora de forma cavalheiresca, não acreditava muito no Papa. Sua condição de católico e admirador de Macaulay lhe impôs o dever de descobrir de que lado estava à razão, até que um dia ouviu um padre irlandês afirmar em público que todo aquele que não era católico iria para o inferno. Aí, nesse pormenor aparentemente insignificante, estava o ponto inicial da sua futura atitude de abandonar a religião tradicional da família. Conan Doyle ainda não havia pensado nessa situação delicada, que, segundo o padre, conferia um privilégio especial aos católicos. Estava certo, porém, de que a afirmativa do sacerdote continha um erro essencial.
Lembrou-se, então, de que sua mãe, há um tempo severa e romântica, considerava banais as asseverações fraudescas desse quilate, dizendo-lhe:

- Usa sempre roupas internas de flanela, querido filho, e jamais acredites no castigo eterno.

Semelhante frase, dita por uma senhora austera, católica e altamente equilibrada, denotava que sua inteligência esclarecida não se amoldara a conceitos sectários e irracionais, porque ela também não renunciava às suas opiniões, uma vez convencida de que estava certa.

Mais tarde, Conan Doyle entrou em contacto com velho amigo da família, o Dr. Bryan Charles Waller, sábio, bondoso, agnóstico em matéria de religião e igualmente positivo em seus argumentos.

O Dr. Bryan Charles Waller exerceu, durante muitos anos, forte influencia na vida intelectual de Conan Doyle, despertando-lhe o espírito para problemas profundos, que, afinal, lhe permitiram desvencilhar-se de vacilações oriundas do colégio de jesuítas, onde estudara. Entretanto, Waller Scott e Macaulay foram os autores que mais participação tiveram nos gostos e preferências de Conan Doyle, chegando mesmo a determinar sua inclinação literária. Mais tarde, Conan Doyle viria a declarar que Edgar Allan Poe, tanto quanto aqueles, acentuara a tendência que tomaria dentro da literatura. O primeiro conto de Poe - O Escaravelho Dourado - foi lido por ele com grande sofreguidão.


Defesa da vida interior​


Em 1878, Arthur Conan Doyle recebeu uma carta do Doutor Waller, na qual havia este trecho:
“Esta vida interior viril é o que a Teologia quer destruir, fazendo-nos crer que somos vis, pecaminosos e degradados, o que é uma falsidade pestilenta e corta o melhor que há dentro de nós, pois, se tira o respeito que o homem deve a si mesmo, faz-se muito para transformá-lo num magarefe e num malvado.”
E acrescentou, incisivamente:
“Fazer é uma palavra melhor do que crer, e ação é uma ordem mais segura que fé.”
Pode-se perceber, portanto, o vigoroso instinto anticlerical do Dr. Waller, que, assim, ia demolindo os já frágeis pontos de contato de Conan Doyle com o Catolicismo.

Nesse ano, Arthur, aproveitando as férias escolares, empregou-se como aprendiz de médico num dispensário dos mais pobres bairros de Sheffield. A princípio, nada ganhava, trabalhando por casa e comida. Isto já representava alguma coisa, porque aliviava os encargos da sua valorosa mãe. Essa experiência durou apenas três semanas, porque ele não possuía suficiente prática, ou não podia, então, atender às exigências do Dr. Richardson. A verdade era também que os clientes, vendo Conan Doyle tão jovem, não confiavam muito nas suas aptidões para a Medicina. Mais tarde ele comentaria o fato, ao escrever para casa:
“Esta gente de Sheffield preferiria ser envenenada por um homem com barba do que ser salva por um homem imberbe.“

Trabalho vão


Sem nenhuma ocupação, Conan Doyle tinha ainda de esperar meses para iniciar o curso de outono da Universidade de Edimburgo. Que fazer durante esse tempo? Resolveu seguir para Londres, para tentar trabalho, e por meio da imprensa médica ofereceu seus serviços. Hospedou-se em casa de seu tio Henry, em Clifton Gardens, onde foi recebido com satisfação. Enquanto não arranjava nada, estudava pela manhã, e à tarde passeava pelas ruas. Mas as coisas não podiam continuar assim. Sem esperança de se empregar em terra, Conan Doyle decidiu entrar para a Marinha, como ajudante de cirurgião. Nesse ínterim, recebeu uma carta do Dr. Elliot, do povoado de Ruyton, em Shropshire, informando que aceitava seus serviços. Esse Dr. Elliot, porém, não tinha um caráter muito firme e se enraivecia com facilidade. Um dia, zangou-se porque Conan Doyle ponderou que a pena de morte devia ser suprimida. Não tolero que semelhante opinião seja dita em minha casa, entende, senhor? - esbravejou ele, dirigindo-se a Conan Doyle. Sem se alterar, este lhe respondeu na mesma hora:
“Senhor, costumo expender minhas opiniões onde e quando queira.“

Não tardou, assim, que Arthur voltasse ao colégio, em fins de outubro. Trabalhara de graça para o Dr. Elliot, mesmo porque não havia sido combinada nenhuma remuneração pelos meses de trabalho que ali tivera. Mas, intimamente, confiava em que o Dr. Elliot lhe desse alguma coisa. Não veio nada. Então, Conan Doyle perguntou-lhe se lhe poderia pagar a viagem de volta e teve esta resposta, que define o perfil do Doutor Elliot: “- Meu amigo, a lei é assim. Se um assistente tem ordenado combinado, é pessoa reconhecida e com direito a reclamar que suas despesas sejam pagas. Caso contrário, transforma-se num cidadão que viaja para instruir-se. Por conseguinte, nada tem a receber.”

Convencido de que não dava resultado ser ajudante de médico, pelos calotes que sofria, Conan Doyle voltou a Edimburgo, onde, por força das circunstancia, foi ser assistente de um Dr. Reginald Tatcliffe Hoare, de Clifton House, em Birmingham, que, como médico dos pobres, ganhava muito dinheiro. Nessa época escreveu mais três contos: O mistério do Vale, A granja encantada de Goresthorpe e O conto do Americano.

Estava pensando em ser médico de um navio sul- americano, quando seu amigo Claude Augustus Currie, estando impossibilitado de viajar, lhe ofereceu seu camarote e sua função. Iria como cirurgião nominal, ganhando ao todo cinqüenta libras, e estaria durante sete meses percorrendo o Oceano Ártico.

Na baleeira Hope​


Em fevereiro de 1880, lá se foi ele na baleeira Hope, deixando o porto de Peterhead no fim desse mês. Improvisaram uma luta de boxe e ele derrotou o mordomo do navio, logo na primeira noite, ganhando prestígio a bordo. O encontro de manadas de focas foi também motivo de alegria para Conan Doyle, que, assim, se refazia das muitas decepções que havia tido em terra. Em setembro de 1881, deixou o navio e regressou a Edimburgo, com a sua estatura completamente desenvolvida.

Diplomado​


Nesse mesmo ano de 1881, Arthur Conan Doyle recebeu diploma de médico e durante algum tempo voltou a ser assistente do Dr. Hoare. Vários fatos ocorreram, ameaçando a sua tranqüilidade profissional, até que conseguiu realizar seu desejo de fazer nova viagem marítima. Lá se foi ele no navio Mayumba, a caminho da costa ocidental da África. Sua mãe o animava. Um ou dois anos de viagem lhe permitiriam arranjar dinheiro suficiente para instalar um consultório por conta própria. Em outubro desse ano, porém, o navio foi acossado par tremenda tempestade, depois de Tuskar Light. E todos viram um médico gigante permanecer corajosamente metade da noite sobre o tombadilho lavado pelas águas. Foi essa uma de suas últimas noites de satisfação a bordo, nessa viagem acidentada à Costa do Ouro. Em janeiro de 1882, o Mayumba atracava de novo em Liverpool. Sentou-se Arthur numa sala onde exalava insuportável fétido de madeiras e metais queimados, e escreveu à sua sempre lembrada mãe uma carta, de onde destacamos estas linhas: Escrevo-lhe para dizer que cheguei são e salvo, depois de haver apanhado a febre africana e quase ter sido devorado por um tubarão. Como cena final, o Mayumba se incendiou entre a ilha da Madeira e a Inglaterra. Não penso voltar à África. O que ganho é menos do que poderia ganhar com a minha pena ao mesmo tempo, e o clima é atroz. Espero que não se decepcione por eu haver abandonado o navio, mas isto não é suficiente. Eu seria capaz de fazer qualquer coisa para não decepcioná-la ou causar-lhe desgosto. Podemos conversar a esse respeito. Conversaram e tudo se acomodou. Nessa ocasião, chegou uma carta da tia Anette, chamando-o a Londres, a fim de falar- lhe de suas probabilidades para o futuro.

Choque inevitável​


Foi essa a primeira vez que Arthur Conan Doyle defrontou a primeira crise real de sua existência. Seus parentes católicos poderiam influir muito na sua vida futura. Mas ele fiel à sua maneira de sentir, respondeu à tia Anette, dizendo que era agnóstico e que, diante disto, seria falta de honestidade de sua parte discutir o assunto com eles. Sua mãe, que daria tudo para ver o filho triunfante, deixou que ele fizesse o que pensava e guardou silencio.

Não tardou que chegasse a resposta da tia Anette, insistindo para que ele, mesmo assim, fosse a Londres. E para lá partiu o jovem o voluntarioso Arthur Conan Doyle.

*​

Arthur Conan Doyle chegou à casa dos tios disposto a manter sua opinião, mas desejoso de evitar uma ruptura. Passou os olhos pela sala de jantar da casa de Cambridge Terrace. Lá estava a grande mesa, em volta da qual já haviam sentado homens preeminentes, como Walter Scott, Disraeli, Thackeray, Coleridge, Wordsworth, Rossetti, Lever e muitos outros, todos eles amigos de seu tio John e que representavam o mundo literário que tanto atraia o jovem Arthur. Intimamente, não desejava crer que seus parentes se aborrecessem tanto por simples questão religiosa. Mas era justamente neste ponto que ele se enganava. Para seus tios, já envelhecidos, superiores e sem descendência, a única coisa que importava no mundo era a Igreja Católica. Seus antepassados tudo haviam dado por ela e para ela. Os bens materiais eram efêmeros; só a fé era real. No entanto, esse jovem Arthur, para quem eles haviam sido tão bondosos, estava pondo a própria alma em perigo, por causa de um perverso capricho.

Iniciado o conselho de família, Conan Doyle foi franco:
- Se eu exercesse minha profissão como médico católico, teria que receber dinheiro e declarar que acredito em algo em que realmente não creio. Vocês todos teriam o direito de me considerar o maior canalha do mundo, se o fizesse. Vocês não procederiam assim, não é certo?

O tio Dick, que ele conhecera tão sereno, estava furioso, e retrucou:
- Mas nós estamos falando da Igreja Católica. E isso é diferente.
- Eu sei. Mas em que sentido é diferente, tio Dick? - Porque aquilo em que acreditamos é verdadeiro.
A fria simplicidade desta observação chocou-se com o ânimo de Conan Doyle, quando seu tio acrescentou:
- Se somente possuísses fé.

O rapaz, com a firmeza que lhe era habitual, contestou:
- Sim, é isso o que todos me dizem. Falam de ter fé como se fosse possível obter por um ato voluntário. Poderiam pedir-me também que tenha cabelos negros em vez de castanhos. A razão é a mais alta faculdade que a criatura humana possui. Temos de fazer uso dela.

Esta resposta de Conan Doyle não abalou os tios. E o de nome James indagou:
- Que te diz a razão?

- Diz-me que todos os males da religião, dezenas de religiões destroçando-se umas às outras, provém de serem aceitas coisas que não podem ser provadas. Dizem-me que esse Cristianismo de vocês contém muitas coisas nobres e magníficas, misturadas com uma quantidade de absurdos e (utilidades sem-nome. Dizem-me...

Estava concluída a entrevista.​


Ao deixar aquela casa, Arthur Conan Doyle sabia que uma porta se havia fechado para ele definitivamente. Ainda que os céus desabassem, jamais recorreria a esses tios - pensou com os seus botões. Um sobrinho a quem tantas vezes haviam agasalhado passou a ser um estranho. Alguém poderia dizer que ele pusera fora a grande oportunidade de sua vida. Mas Arthur Conan Doyle possuía excelente formação moral, tinha um caráter rijo, modelado por uma mãe excepcional. Por isto, reafirmou suas opiniões religiosas e jurou que jamais aceitaria algo que não pudesse comprovar.

Tentando a sorte​


Decidido, a vencer, Conan Doyle pôs a procurar colocações a bordo, sem resultado. Recebeu, nessa época, um telegrama de seu amigo Dr. Budd, que lhe oferecia um lugar em seu consultório, pois tinha muito serviço, prometendo a Conan Doyle trezentas libras no primeiro ano de trabalho, desde que ele se encarregasse de todas as visitas, de toda a cirurgia, de todos os partos. Esse Budd, porém, era um charlatão espetaculoso, embora médico capaz, e possuidor, realmente, de grande clientela. Numa palavra, um cabotino.

O que se passou, dai por diante, foi penoso para Conan Doyle, que ganhava apenas uma ou duas libras por semana. Enquanto Budd prosperava, ele marcava passo. Seus credores aumentavam, porque Budd não lhe pagava o que havia prometido. De boa-fé, Conan Doyle defendia o amigo, quando sua mãe dizia que Budd não era relação que servisse para ele, criticando duramente o caráter desse médico.

Indiscretos​


Um dia, quando Conan Doyle estava ausente, Budd e a mulher remexeram-lhe os móveis e encontraram as cartas em que a mãe de Arthur se externava com franqueza a respeito desse falso amigo. Traiçoeiro, Budd nada disse, esperando que chegasse o mês de junho, quando, da maneira mais suave, declarou a Conan Doyle que este arruinara a sua clientela desde o começo. E explicou: Essa gente da roça tem a cabeça dura. Vêem uma porta com dois nomes de médico e se atrapalham.

Querem o Dr. Budd, mas receiam ser enganados pelo Dr. Doyle. Ficam nervosos e vão embora.

Conan Doyle, que nada sabia do que havia sucedido, foi para o pátio e retirou com um martelo a placa que tinha o seu nome na porta principal. Budd aproveitou o ensejo para alegar que ele estava agindo precipitadamente e de mau humor. E lá se foi ele para Portsmouth, onde abriu um consultório, também sem êxito. Os primeiros tempos de clínica eram bastante difíceis. Como o Dr. Budd lhe havia prometido pagar-lhe uma libra por mês, para que ele desfizesse o acordo estabelecido, ele contava com essa libra para ir ajudando as despesas menores. Dois contos seus, Ossos e A ribanceira de Bluemansdyke, publicados pelo editor de London Society, lhe renderam sete libras, e quinze xelins lhe foram pagos como adiantamento por outros trabalhos. Conan Doyle chamara seu irmão Innes, de dez anos, para ajudá-lo como servente.

Comédia​


Estava tudo indo assim, Conan Doyle às voltas com o aluguel da casa que ocupava e com outras despesas que não podia solver, quando o Dr. Budd lhe escreveu, dizendo haver encontrado, no quarto que ele ocupara, pedaços de certa carta rasgada. Juntara esses pedaços, depois que Arthur fora, para Portsmouth, e verificara tratar-se de carta da mãe de Conan Doyle, que continha pesados insultos a ele, Dr. Budd, chamando-lhe pouco escrupuloso e tapeador em falência. Ora, isso era uma falsidade, pois a verdadeira carta se achava em poder de Conan Doyle. Mas, com esse estratagema, Budd livrou-se da obrigação assumida de lhe dar uma libra mensal.

Melhoria​


Parece que, rompidos os laços que o ligavam a Budd, as coisas começaram a melhorar e os primeiros clientes foram chegando. Seu consultório tinha respeitabilidade e asseio. O tempo correra e um belo dia o correio entrega a Conan Doyle uma carta da firma Smith, Elder & Co., datada de 15 de julho de 1883, que saudava A. C. Doyle, e lhe fazia entrega de um cheque de vinte e nove guinéus em pagamento de uma colaboração que o escritor enviara ao Cornhill Magazine, sob o titulo A Observação de Habakuk Jephson, que ainda não havia sido publicada.

Conan Doyle vibrou de satisfação. Conseguira finalmente entrar na fortaleza inexpugnável que era o Cornhill Magazine. Entretanto. . .

*​

A alegria de Conan Doyle por ver aceito o seu trabalho A Observação de Habakuk Jephson, pelo Cornhill Magazine, cujo editor havia sido anteriormente Thackeray e estava então prestigiado pelo famoso novelista Robert Louis Stevenson, autor de A Ilha do Tesouro, Dr. Jeckyll e o Mr. Hyde e outros, não foi tão completa como seria de desejar. É bem verdade que o Cornhill Magazine só publicava trabalhos de real valor e seu editor, o eminente James Payn, era muito exigente a esse respeito. Acontece, porém, que omitiram o nome de Conan Doyle e Habakuk apareceu sem a sua assinatura, tendo um critico atribuído sua autoria a Stevenson, comparando-o a Edgar Allan Poe. E fácil imaginar o estado de espírito de Conan Doyle, ao ver um trabalho seu ser tão elogiado e atribuído a outros escritores. Foi preciso que ele se contivesse muito para deixar de dizer a todo o mundo ser seu A Observação de Habakuk Jephson. Lutando como estava, não pode suprimir a colaboração para revistas mais modestas e baratas, como London Society, All the Year Round ou Boy's Own Paper.

Até 1884, exerceu sem grandes modificações a sua profissão de médico, sem abandonar, entretanto, a literatura. Ainda arranjava tempo para orientar seu irmão Innes na redação de um diário.

Conan Doyle salva o tio​


Desde aquela entrevista em Cambridge Terrace que Conan Doyle sofria de amargura e não havia feito as pazes com os tios. Esteve uma ou duas vezes com o tio Dick, salvando-lhe a vida de um ataque de apoplexia. Este, depois, lhe enviou uma carta de apresentação para o bispo de Portsmouth, ajuntando que não existia médico católico na cidade. Ao ler isto, Conan Doyle ficou irritado. E a carta dizia mais:
Volta ao aprisco; aceita a fé e não passarás fome.
Num gesto brusco, largou a carta ao fogo. Não era homem de enfraquecer por qualquer coisa. Aquela carta, pelo contrário, lhe dava novas forças para enfrentar a situação delicada em que vinha vivendo.

Simplicidade​


Doutra feita, sua mãe, a quem ele adorava, perguntou-lhe por que não usava em seus papéis o escudo de nobreza da família, o escudo dos Foleys, que era o orgulho dela. Conan Doyle esclareceu que os escudos de família em uma folha de papel pareceria um pouco ostentoso. Às vezes não dava resposta às cartas que recebia, por falta de dinheiro para o porte. Lutando sem desanimo, Conan Doyle começou, por fim, a derrubar as primeiras barreiras. Sua clientela foi aumentando, fato que comprovou ao ser saudado por seus conhecidos.

Exímio no futebol​


Suas façanhas no críquete e no futebol contribuíam também para isso. Jogava com muita técnica e não menor energia, tornando-se popular no esporte. Fez-se sócio da Sociedade Literária e Cientifica, dividindo suas horas de lazer entre a literatura e o esporte. Chegou até a ganhar bela caixa de charutos finos em virtude da sua perícia no boliche. De quando em quando, para alegrar-se, recebia a visita de alguma de suas irmãs.

Êxito de Habakuk​


Médico da Companhia de Seguros de Vida Gressham, Conan Doyle viu sua renda aumentar. Teve ocasião de fazer a dura experiência que o contato com a dor e a morte impõe aos médicos. Quanto mais se dedicava à Medicina, mais se aprofundava nas letras. Depois do aparecimento de A Observação de Habakuk Jephson - diz seu biógrafo Carr -, em janeiro de 1884, durante algum tempo não teve Conan Doyle oportunidade de ver publicado outro trabalho no Cornhill Magazine. Esse conto, feito com muita imaginação, baseava- se num abandonado barco, misterioso, de nome Mary Celeste. Teve repercussão muito além dos elogios dos críticos. Ao longe, em Gibraltar, foi lido por um tai Sr. Solly Flood, intercessor de S.M., que ficou petrificado, e, por intermédio da Central News Agency, enviou um telegrama que percorreu a Inglaterra inteira.

Esse Flood escreveu também um longo relatório a seu Governo e aos jornais, salientando a ameaça que, para as relações internacionais, representavam as pessoas como esse doutor Jephson, as quais fingiam revelar fatos que oficialmente poderiam ser provados como falsos. Antes que a situação ficasse esclarecida, os jornais se divertiram bastante com os temores desse Sr. Flood. Para o Dr. Conan Doyle essa ocorrência foi o princípio de uma revelação. Poderia escrever ficções que muitas pessoas tomariam por ser a verdade mesma.

Assim, o ano de 1884 começava para ele com uma febre por escrever, mas o Cornhill Magazine lhe devolvia todos os trabalhos que ele enviava para publicar. Mas o grande escritor do futuro se alegrou ao receber convite para participar de um almoço que aquela revista oferecia a seus colaboradores, no Barco, em Greenwich. Foi nesse almoço que Conan Doyle conheceu Payn, diretor do Cornhill Magazine.

Injustiça​


Ao ser divulgado um concurso literário do Tit-Bits, Conan Doyle para lá mandou um artigo. Mas ficou indignado ao ver que o premio havia sido concedido a um trabalho em todos os aspectos inferior ao seu. O que o irritava é que não havia justiça. Resolveu que os obrigaria a ser justos!

Fez ele, então, uma proposta-desafio, que o editor da citada revista deixou sem resposta, dada à impossibilidade de desmenti-lo. Indiretamente Conan Doyle vencera...

Primeiro casamento​


Em junho de 1885, Conan Doyle, depois de defender tese, recebeu o título de M. D., Doutor em Medicina (Medicai Doutor), e em agosto casou-se com a suave Louise Hawkins, Touie. Sempre lutando para que seus trabalhos literários fossem aceitos e buscando firmar-se na carreira médica, ele chegou ao Ano Novo de 1887.

Atraído pelo psiquismo​


Estava então inteiramente preocupado com um novo e delicado assunto: o psiquismo. Havendo renunciado ao Catolicismo, que não satisfazia ao seu espírito evoluído, permaneceu materialista, tal como o historiador Gibbon, a quem tanto admirava. Mas o seu materialismo era mais de superfície, tanto que escreveu:
É verdade que se tem de subentender um Criador, se concebe o mundo como um imenso maquinismo de relógio balançando sobre o vácuo.

Contato com o Espiritismo​



Ao iniciar-se o ano de 1887, Conan Doyle foi visitar um de seus doentes, o General Drayson, que lhe falou de alguma coisa chamada Espiritismo. Esse general era astrônomo e matemático notável. Disse a Conan Doyle de suas conversações com um irmão já desencarnado, razão pela qual se convertera ao Espiritismo. Conan Doyle ouvia, mas nada dizia. O general lhe assegurou que a existência além da morte era um fato provável. Prudente, Conan Doyle respondeu com algumas palavras que o não comprometiam. Desde, porém, que havia a possibilidade de prova, seu espírito ficou interessado em conhecer melhor isso a que denominavam Espiritismo. Em um caderno de notas intitulado Livros que devo ler, ele anotou certa quantidade de obras sobre o assunto, que, ao cabo de um ano, chegaram ao número de setenta e quatro. Depois de se dedicar ao estudo desses livros, Conan Doyle meditou muito sobre tudo quanto despertara sua atenção e dentro em pouco tempo conhecia profundamente os problemas oferecidos pelo Espiritismo. Duma feita, citou apaixonadamente o Alcorão:
Podes crer que o céu e a terra e o que há entre eles há sido feito por pilhéria?
Em outra ocasião, mencionou Hellenbach:
Há um cepticismo que sobre passa em imbecilidade a obtusidade de um camponês.
Seria ele um céptico dessa espécie? Não, em absoluto. Já havia lido e comentado, escrevendo suas notas, Os Milagres e o Espiritismo Moderno, de Wallace, e o Magnetismo Animal, de Binet e Fere.

Experiências práticas​


Chamando seu amigo Ball, arquiteto de Portsmouth, resolveu fazer sessões espíritas, que começaram em 24 de janeiro de 1887 e, com pequenos intervalos, se prolongaram até princípios de julho. Fez um relatório pormenorizado dessas reuniões, no qual se pode perceber a sua compreensão e o seu profundo interesse pelos fenômenos mediúnicos. Seis sessões foram realizadas com um médium experimentado, de nome Horstead. Numa dessas reuniões, esse médium disse estar vendo o Espírito de um velho de cabelos grisalhos, testa alta, lábios delgados e de fisionomia enérgica, que olhava fixamente para Conan Doyle.

Mensagem confirmada​


Novamente, durante a sessão, esse velho se fez notado e um membro da sessão recebeu dele uma mensagem alusiva a Conan Doyle, a qual dizia:
Esse cavalheiro é médico. Não deve ler o livro de Leigh Hunt.
Ora, Conan Doyle confessou depois que estava vacilante sobre se deveria ou não comprar o livro Os dramaturgos cômicos da Restauração, e que o não adquirira devido à sua linguagem libidinosa. Jamais havia revelado esse fato a quem quer que seja, nem pensava nele nessa ocasião. Portanto, esclarece, não foi um caso de telepatia.

Impaciência


Depois da surpresa dessa noite, Conan Doyle, atormentado pela dúvida e a indecisão, o que se pode notar pela leitura de seu diário, esforçava-se bastante por adquirir conhecimentos cada vez mais profundos a respeito dos assuntos psíquicos. Não era homem para aceitar as coisas facilmente, antes de provas que lhe dessem cabal satisfação. Resolveu, assim, continuar investigando e lendo, porque, depois de tantas leituras e severas investigações, ainda não havia chegado a uma conclusão definitiva. Pensou lá com seus botões:
Talvez eu não tenha investigado bem, com a atenção necessária.
E resolveu ser ainda mais exigente.



Continua...
 
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Influências e Obras​

Em Outubro de 1876, Conan Doyle ingressou na Universidade de Edimburgo a fim de formar-se em medicina. Foi lá que conheceu o Dr. Joseph Bell, cirurgião do Hospital de Edimburgo e professor na Universidade, cujos surpreendentes métodos de dedução e análise serviram de grande inspiração na futura criação de seu detetive. De maneira similar a Holmes, o Dr. Bell explicava os sintomas de seus pacientes, até mesmo contava-lhes detalhes de suas vidas, antes que eles pronunciassem uma palavra sequer.

Incentivado pelos conselhos de um amigo, que mencionara como suas cartas eram expressivas, Conan Doyle percebeu que algum dinheiro poderia ser efeito fora do campo medicinal. Foi então que ele escreveu sua primeira história, O Mistério de Sassassa Valley, publicada, anonimamente, por míseros três guinéus no Chamber’s Journal, em 1879. O conto revela sua precoce idéia da aparição de uma “besta demoníaca”, tema que ele mais tarde explorou na mais famosa história de Sherlock Holmes, O Cão dos Baskervilles.

Foi nas horas de ócio em seu consultório médico que Doyle começou a esboçar o que mais tarde seria seu detetive. Inspirado em Gaboriau, no detetive Dupin, de Poe, e logicamente, no seu tutor Joseph Bell, Conan Doyle criou a primeira versão do que seria o detetive que conhecemos hoje – um tal de Sherringford Holmes, posteriormente Sherlock Holmes.

Depois de muitas tentativas e frustrações, Doyle conseguiu que sua primeira história estrelando o detetive e seu escudeiro Watson fosse publicada. Um Estudo em Vermelho apareceu na Beeton’s Christmas Annual, em 1887. A boa aceitação do público levou-o a escrever sua segunda história de Holmes, O Signo dos Quatro. O detetive começava a chamar a atenção, atraindo aos poucos o que se tornariam mais tarde fiéis leitores.

Nos intervalos das histórias do detetive, Doyle dedicou-se a obras “mais sérias”, mais apreciadas pelo escritor, como A Companhia Branca, As Façanhas do Brigadeiro Gerard e Micah Clarke. Esse último, um grande sucesso. Doyle acabou, assim, abandonando a medicina para seguir definitivamente a carreira literária.

As histórias de Sherlock Holmes tornavam-se mais e mais populares, obrigando Conan Doyle a continuar criando casos para seu detetive. E quanto mais vezes o detetive expunha suas habilidades para o público estupefato, mais as outras obras de Doyle tornavam-se obscurecidas. Em 1891, escreveu à sua mãe:
Tenho pensado em matar Holmes… e livrar-me dele para sempre. Ele mantém minha mente afastada de coisas melhores.

A idéia de acabar com Holmes permanecera com Doyle, e durante sua visita à Suíça, em 1893, conheceu as cataratas Reichenbach, local que escolheu como palco para o encontro fatal entre Holmes e o Professor Moriarty. Pretendia, assim, pôr um fim às histórias de Holmes e dar espaço às suas obras mais clássicas.

Para a grande surpresa de Doyle, a morte de Sherlock Holmes, publicada em 1893 no caso O Problema Final, chocou milhares de pessoas de todos os cantos do mundo. Muitos marcharam em luto pelas ruas de Londres, em protesto. O público não se conformava e clamava pela volta do detetive.

Assim, em meio a um turbilhão de protestos e insultos, Doyle foi obrigado a ressuscitar seu detetive no caso A Casa Vazia, em 1903. Era a prova de que a criatura tornara-se mais forte do que o criador. Sherlock Holmes tinha tornado-se imortal.

No final de 1899, o conflito iminente entre a Inglaterra e a África do Sul deu a Doyle, um fervoroso patriota, a possibilidade de auxiliar seu país. Conseguiu a supervisão de um hospital estabelecido na África, onde tomou posto em 1900.

Juntamente com a guerra, veio de todo o mundo um surto de críticas contra a conduta do Império Britânico. Coube a Doyle defender os interesses de sua pátria, no panfleto amplamente traduzido A Guerra na África do Sul: Suas Causas e Conduta.


Homenagem e Título de Sir​

Em 1902, o Rei Eduardo VII, da Inglaterra, considerando os grandes serviços prestados por Conan Doyle, a propósito da guerra dos bôers, cogitava de conceder-lhe o título nobiliárquico de Sir. Fiel a seus rígidos princípios, Conan Doyle não se mostrava disposto a aceitar a honraria. Se havia sido útil a seu país, esclarecendo fatos, restabelecendo a verdade, fazendo crítica construtiva, até mesmo a autoridades inglesas; se havia sido útil enfim, cumprira apenas seu dever. Nada mais. Não aceitaria o que considerava condescendência, nem aceitaria vulgares migalhas de uma mesa qualquer - escreveu um de seus biógrafos.

E asseverava Conan Doyle:
- Todo o meu trabalho em favor do Estado se macularia se eu aceitasse uma dessas recompensas. Pode parecer orgulho, pode parecer loucura, mas eu não posso aceitá-la. O título de maior valor que possuo é o de doutor, que devo aos sacrifícios de minha mãe e á sua determinação. Não quero trocar esse título por quaisquer outros.

Apesar de enérgica resistência, Conan Doyle teve que aceitar os pontos de vista de sua mãe, que assim argumentara:
- Arthur: se queres conservar teus princípios, cometerás uma descortesia com o rei.

Embora contrariado, concordou Arthur Conan Doyle que seu nome figurasse na Lista de Honra dos que seriam contemplados com o título de Sir.

No Dia da Coroação, festejado alegremente na Grã- Bretanha e em todas as suas colônias, Conan Doyle teve assento reservado junto ao de Oliver Lodge, autor de Raymond e um dos grandes campeões do Espiritismo na Inglaterra, que receberia também nessa data o referido titulo. Quase esquecendo o fim de sua presença naquele locai, começaram ambos a discutir assuntos do Espiritismo. Foi uma conversação animada, durante a qual pontos importantes foram debatidos com profundo interesse.

Admirava o Espiritismo por sua elevação moral, porque não é religião sectária, não condena as criaturas humanas ao castigo eterno, não as ameaça de perder a alma por causa de simples pormenores doutrinários, nem possui a intolerância que tanto o irritara quando menino, predispondo-o contra todos os credos dominantes na Europa, como o Catolicismo e o Protestantismo. Com muito maior razão, depois de homem, repeliria estreitos e sombrios preconceitos religiosos.

Justamente por motivo de sua experiência no Catolicismo, exigia provas concludentes no Espiritismo, apesar do afeto profundo que devotava a ele.

A morte de sua primeira esposa​

A enfermidade de sua primeira esposa Touie, entretanto, não lhe permitia dispensar maior tempo às investigações espíritas. A 4 de julho de 1906, ela faleceu, vítima da tuberculose, apesar da carinhosa assistência de Conan Doyle, que lhe proporcionara viagens de cura, os melhores tratamentos conhecidos na época e o máximo conforto.

Em seguida, sobreveio o célebre caso Edalji, que lhe valeu, após intenso trabalho, grande vitória, pois pode provar irrefutavelmente a inocência do acusado.

Segundo casamento​

Em setembro de 1907, casou-se pela segunda vez. Sua nova esposa chamava-se Jean Leckie. Em 1909, nasceu- lhe o primogênito desse matrimônio, Denis Percy Stewart Conan Doyle. Em 1910, o segundo, Adrian Malcolm Conan Doyle. Em 1914, visitou de novo os Estados Unidos, agora com sua esposa Jean, e foi ao Canadá, regressando à Inglaterra nos primeiros dias de julho. A 23 desse mês, o Império austro-húngaro enviava o ultimato à Sérvia, dando início à Grande Guerra.

Cresce Conan Doyle diante da dor​

Conan Doyle prestava valiosos serviços a seu país, na frente interna, pois a idade não mais lhe permitia o serviço militar. O primeiro golpe fatal desferida pela guerra em sua família atingiu o cunhado, Malcolm Leckie. O bondoso gigante de Edimburgo tinha, porém, grandes reservas de força moral. Suportava corajosamente os contratempos, mas sofria, vendo o sofrimento das mães que reclamavam os filhos, das esposas que indagavam pela sorte dos maridos, das noivas que choravam pelos noivos... Conan Doyle era forte, mas não era insensível.

O Mundo Perdido​

Em 1912, Doyle introduziu ao mundo da literatura o célebre Professor Challenger, de O Mundo Perdido, um conto sobre o renascimento da pré-história num lugar remoto da América do Sul.

Que faria você?​

Em fins de agosto, a Gazeta Psíquica Internacional fez em suas páginas estas perguntas a vários homens e mulheres eminentes: Que faria você para consolar os que estão dominados pela dor? Como procederia para ajudá-los? Houve mais de cinqüenta respostas. A de Conan Doyle foi a mais curta:
Parece-me que nada posso dizer que valha a pena. Só o tempo pode mitigar a dor.
Suas palavras foram divulgadas no número de outubro de 1915. Não é que ele não compreendesse o sofrimento dos aflitos. Justamente porque o compreendia, não desejava dar esperanças infundadas...

Em inspeção​

Em 1916, o Ministério do Exterior da Inglaterra enviou Conan Doyle a uma viagem oficial de inspeção, além do Canal da Mancha. Homem ativo, semelhante convite lhe causou grande contentamento. Tivera a incumbência de visitar a frente italiana e escrever algo para estimular os peninsulares na luta contra a Áustria. Aí, quase foi morto por uma granada, mas gracejou:
Não me venham dizer que os austríacos não sabem atirar!
Sentia-se leve e bem disposto, porque se achava em ambiente de grande atividade, compatível com o seu temperamento

Prestígio​

Tamanho é o prestígio de que ainda hoje goza o seu nome que todas as suas obras, ou quase todas, foi há pouco tempo publicadas em nosso país, não só as de aventuras, nas quais Sherlock Holmes, o precursor da polícia técnica, é o herói, como as de História, onde Conan Doyle põe em relevo grande cultura e peculiar maneira de dizer.

Cooperação​

Doía-lhe ver a Humanidade devastada pela primeira conflagração bélica mundial. Em abril de 1917 os Estados Unidos entraram na guerra. Logo depois, a Revolução Bolchevista aumentou as preocupações da Europa. A frente russa, em julho, se desmorona perante o inimigo. Conan Doyle não parava. Fazia conferências espíritas, chamando a atenção do povo para a grandeza do Espiritismo, que constituía a prova cabal de que a morte não significa o anïquilamento da alma; e, como bom patriota, agia, colaborando com o Primeiro-Ministro inglês.

Par do Reino​

Começou-se a falar em sua ascensão a Par do Reino Unido da Grã-Bretanha, que é a maior distinção a que um homem pode aspirar no império britânico. Era o reconhecimento, mais do que isto, a ratificação oficial do seu grande valor moral e intelectual.

Acontece, porém, que havia uma condição para que ele fosse Par do Reino: renunciar ao Espiritismo! Arthur Conan Doyle não tinha, no entanto, o temperamento dos acomodados. Sabia que a sua fidelidade ao Espiritismo lhe faria perder a grande oportunidade, além de muitos amigos presos a preconceitos sectários. Mas, para ele, nada tinha tanto valor quanto a verdade e a verdade era o Espiritismo, que trouxera uma mensagem nova de conhecimento, paz e amor para a Humanidade que sofre!

Alguns anos antes, conta um de seus biógrafos, Douglas Sladen escrevera o seguinte a seu respeito:
Trata-se de um homem a que se recorreria no caso de crise. Há poucos em Londres que não conheçam essa enorme figura, essa cabeça redonda com pômulos salientes e intrépidos olhos azuis, esse rosto franco e de bom humor. É um conferencista muito popular, agradável e entretido em assuntos leves, mas profundo e convincente nos momentos de crise. De todos os escritores de nossa época, é Arthur Conan Doyle quem mais merece ser chamado um grande homem.

Um escritor norte-americano, no jornal Free Press, de Detroit, se referia à visita de Conan Doyle aos Estados Unidos, em 1894, e dissera:
Sábio conselheiro nas resoluções de importância e um refúgio seguro para os amigos que necessitam de seus bons ofícios.

Compreensão​

Conan Doyle não se revoltou contra aqueles que o critica- ram e atacaram por causa disso. Achava que eles não tinham culpa, pois não havia sido alcançados pela revelação que lhe iluminara o espírito, não fizeram as pesquisas e as experiências a que ele se dedicara exaustivamente. Tinham, pois, o direito de ter opiniões contrárias, como ele, Conan Doyle, se julgava também com o direito de sustentar as opiniões que defendia, se bem que o assunto, ele o sabia, não era questão de opiniões, nem de teorias, nem de decisões - acrescenta o seu biógrafo.

Tolerante, superiormente compreensivo, disse à esposa:
- Estejamos preparados para o que disserem. Isso tem muita importância?
- perguntou ele.
- Nada tem importância, Arthur, se você crê que deve
proceder desse modo.
- É a única atitude que posso tomar. Toda a minha vida veio culminar nisto - o Espiritismo. É o mais grandioso fato que existe no mundo.

Sua decisão estava tomada. Que desabasse o mundo sobre ele. Arthur Conan Doyle continuaria de pé, como continuou. Certa feita, quando se encontrava na Austrália, Conan Doyle teve de suportar venenosas considerações de um tal reverendo J. Blacket, a respeito do Espiritismo. Homem leal e decente, incapaz de argumentos capciosos e falsidade, ele se desgostava quando encontrava adversários que não tinham os mesmos escrúpulos. O reverendo, entre muitas das sandices habituais lançadas contra a sua crença, repisava o tema de que o Espiritismo é obra do demônio e os espíritas com este têm pacto firmado. Encarando seriamente a questão, Conan Doyle escreveu:
Digamos que o melhor exemplo é o de Cristo; quando os fariseus lhe fizeram essa imputação, ele respondeu:
Conhecé-los-eis, pois, pelos seus frutos.
Não posso compreender a mentalidade de quem pensa que é coisa do demônio o querer provar a existência da vida além-túmulo, para poder assim refutar os materialistas. Se isso é obra do demônio, então parece que ele se reformou.

Sua concepção filosófica, tal como a espírita, afirmava que não é crível que Deus ajuda a um grupo da Humanidade contra outro. O ensinamento é que a fé e as crenças tem pouca importância ao lado do comportamento e do caráter. São estes últimos que determinam o lugar que a alma ocupará no Além. Todos os credos religiosos, cristãos e não-cristãos, tem seus santos e seus pecadores; se um homem é bondoso e humilde, não há por que temer pelo destino de sua alma, seja ou não membro de uma igreja organizada na Terra.

Advertência​

Em 1929, Conan Doyle completou 70 anos. Achava-se em Bignell Wood. Sentia-se capaz ainda de ir à Escandinávia, cumprindo sua missão de conferencista. Pretendia depois visitar Roma, Atenas, Constantinopla.

Visitou Haia e Copenhague, chegou à Noruega e Suécia. Em Estocolmo, principalmente, fizeram-lhe calorosa acolhida e as ruas se encheram de gente para saudá-lo. Ocupou o microfone de uma das radio emissoras locais, onde sua voz surgiu lenta, clara e vibrante.

Tinha o objetivo de regressar a Londres para falar no Albert Hall, nas comemorações do Dia do Armistício, pela manhã, e no Queen's Hall, à noite. A neve começara a cair. Então, repentinamente, o bondoso gigante de Edimburgo vacilou e caiu! Era a advertência de que sua vida corria perigo. Transportaram-no de trem para o n° 16 do Buckingham Palace Mansions. Seus médicos o avisaram de que seria um suicídio se ele teimasse em usar da palavra, conforme prometera. Mas, como fizera em toda a sua vida, Conan Doyle não quis ceder, nem mesmo diante da angina peitoral. Cumpriria sua palavra, não só por se haver comprometido a fazé-lo, como porque se tratava da Cerimônia do Armistício em honra dos que - como seus filhos Kingsley e Innes - haviam partido para a guerra ao som da canção Guardemos nossas Preocupações.

Missão cumprida​

Falou em Albert Hall pela manhã desse domingo, mas não sem dificuldade e com as pernas trôpegas. A noite, no Queen's Hall, fez o mesmo. E depois, quando a multidão que não pudera entrar, pois o local estava superlotado, pediu que ele falasse de novo, Conan Doyle insistiu em se dirigir a um balcão, sem chapéu, debaixo da neve que cala. Parecia que a sua força de vontade havia superado os males do corpo.

E cumprira sua missão. Estava satisfeito.

Morte​

Na véspera do Natal, desceu para a sala de jantar em Windlesham. Estava de bom humor, embora só houvesse chupado algumas uvas. O Dr. John Lamond, pastor presbiteriano, que havia algum tempo era seu companheiro de Espiritismo e que tantas vezes o ouvira imitar o professor Challenger, via Conan Doyle rir-se ao contar uma visita que fizera a Barry, em Stanway Courf.

Na primavera de 1930, parecia que sua saúde melhorara. Tudo se passara bem. Chega o verão. Ele continuava trabalhando, continuava escrevendo, ocupando-se com a grande correspondência. Quando passava do seu gabinete para o dormitório, caiu pesadamente ao chão. Ao mordomo que acudira, aflito, para ajudá-lo, ele disse calmamente:
- Não tem importância. Leve-me devagar. Que ninguém saiba disso, ouviu?
Não queria alarmar sua esposa Jean.

Aplicaram-lhe oxigênio. De seu quarto, Conan Doyle viu o amanhecer de um dia esplendoroso. Embora se sentisse muito fraco, quis levantar-se e sentar-se numa poltrona. Falava com dificuldade, mas ainda assim teve estas palavras para a esposa desvelada:
- Devia-se cunhar uma medalha para você, com uma inscrição assim: Para a melhor das enfermeiras.

Eram quase oito e meia. Jean e Adrian ladeavam-no, segurando-lhe as mãos com ternura. Mais além se encontravam Denis, Jean e Mumpty.

Às oito e meia, Jean e Adrian sentiram nas mãos uma pressão relativamente forte. Conan Doyle se reanimou um instante e, embora sem fala, olhou um por um. Depois, com a maior serenidade se reclinou e fechou os alhos para sempre.

Era 7 de julho, quando falecia Arthur Conan Doyle, em Crowborough (Sussex).

Havia partido da Terra um dos espíritos mais nobres e valorosos que a Humanidade conheceu. A ele se referiu assim um de seus biógrafos, honesto e fiel, apesar de ser contrário ao Espiritismo:
Pela causa da religião espírita, Conan Doyle deu seu coração, sua fortuna e, por último, sua vida.

Assinatura​

Bibliografia​

Romances sobre Sherlock Holmes​

1887 – Um Estudo em Vermelho
1890 – O signo dos quatro
1902 – O Cão dos Baskervilles
1915 – O Vale do Medo/O Vale do Terror

Sherlock Holmes coletânea de contos​

1892 – As Aventuras de Sherlock Holmes
1894 – As Memórias de Sherlock Holmes
1905 – A Volta de Sherlock Holmes/O Retorno de Sherlock Holmes
1917 – O Último Adeus de Sherlock Holmes
1927 – O livro de casos de Sherlock Holmes
1928 – Coleção completa de histórias de Sherlock Holmes

Histórias do Professor Challenger​

1912 – O Mundo Perdido
1913 – O cinto venenoso
1926 – A terra da neblina
1927 – A maquina de desintegração
1928 – Quando o mundo gritou
1952 – As historias do Professor Challenger

Ensaios​

1893 – Jane Annie or the Good Conduct prize (with J.M. Barrie)
1895 – A Question of Diplomacy
1899 – Brothers
1903 – A Duet. A Duologue
1907 – The Story of Waterloo
1909 – The Fires of Fate
1910 – Brigadier Gerard
1912 – A Pot of Caviare
1912 – The Dramatic Works of Arthur Conan Doyle
1912 – The Speckled Band
1912 – The House of Temperley
1922 – Sherlock Holmes (with William Gillette)

Panfletos​

1902 – The War in South Africa: Its Cause and Conduct
1907 – The Case of Mr. George Edalji
1912 – The Case of Oscar Slater
1914 – In Quest of Truth
1914 – To Arms!
1914 – Great Britain and the Next War
1915 – The Treatment of our Prisoners
1920 – Our Reply to the Cleric
1920 – A Debate with Dr. Joseph McCabe
1920 – Spiritualism and Rationalism
1925 – The Early Christian Church and Modern Spiritualism
1925 – Psychic Experiences (reprint)

Ficção​

1879 – The Mistery of Sasassa Valley
1885 – The Surgeon of Gaster Fell
1889 – Micah Clarke, his statement as made to his three grandchildren
1889 – The Mystery of Cloomber
1889 – Mysteries and Adventures
1890 – The Captain of the Polestar and other tales
1890 – The Firm of Girdlestone: A Romance of the Unromantic
1891 – The White Company
1892 – The Doings of Raffles Haw
1892 – The Great Shadow
1892 – Beyond the City
1893 – The Gully of Bluemansdyke (reissue of Mysteries and Adventures 1889)
1893 – The Refugees. A Tale of Two Continents
1894 – An Actor’s Duel and The Winning Shot
1894 – The Parasite
1894 – Round the Red Lamp: Being Facts and Fancies of a Medical Life
1895 – The Stark Munro Letters
1896 – The Exploits of Brigadier Gerard
1896 – Rodney Stone
1896 – Uncle Bernac: A Memory of the Empire
1898 – The Tragedy of Korosko
1899 – A Duet, with an Occasional Chorus
1900 – The Croxley Master
1900 – The Green Flag and Other Stories of War and Sport
1901 – Strange Studies from Life
1903 – The Adventures of Gerard
1906 – Sir Nigel
1908 – Round the Fire Stories
1911 – The Last Galley: Impressions and Tales
1918 – Danger! and Other Stories
1922 – Tales of Long Ago
1922 – Tales of Pirates and Blue Water
1922 – Tales of Adventure and Medical Life
1922 – Tales of Terror and Mystery
1922 – Tales of Twilight and the Unseen
1922 – Tales of the Ring and Camp / The Croxley Master and Other Tales of the Ring and Camp
1928 – The Dreamers
1929 – The Maracot Deep and Other Stories
1929 – The Conan Doyle Stories
1931 – The Conan Doyle Historical Romances I (Includes:The White Company, Sir Nigel, Micah Clarke and Refugees)
1932 – The Conan Doyle Historical Romances II (Includes: Rodney Stone, Uncle Bernac, The Exploits of Gerard and The Adventures of Gerard)
1934,47 – The Field Bazaar (Private Printings)
1958 – The Crown Diamond (Private Printing)

Verso​

1898 – Songs of Action
1911 – Songs of the Road
1919 – The Guards Came Through and Other Poems
1922 – The Poems of Arthur Conan Doyle. Collected edition

Escritos sobre Guerra, Política e Espiritualismo​

1900 – The Great Boer War
1901 – The Immortal Memory
1905 – The Fiscal Question
1906 – An Incursion into Diplomacy
1907 – Through the Magic Door [Essays on books.]
1909 – The Crime of the Congo
1909 – Divorce Law Reform: An Essay
1911 – Why He is Now in Favour of Home Rule
1914 – The German War
1914 – Civilian National Reserve
1914 – The World War Conspiracy
1914 – The German War
1915 – Western Wanderings
1915 – The Outlook on the War
1916 – An Appreciation of Sir John French
1916 – A Visit to Three Fronts
1916 – The British Campaign in France and Flanders, 1914-1918
1917 – Supremacy of the British Soldier
1918 – Life After Death (A Form Letter)
1918 – The New Revelation: or, What Is Spiritualism?
1919 – The Vital Message
1922 – Spiritualism-Some Straight Questions and Direct Answers
1921 – The Wanderings of a Spiritualist
1922 – The Case for Spirit Photography (with others)
1922 – The Coming of the Fairies
1923 – Our American Adventure
1923 – Three of them. A Reminiscence
1924 – Memoirs and Adventures
1924 – Our Second American Adventure
1924 – The Spiritualists Reader (Editor)
1924 – Leon Denis: The Mystery of Joan of Arc (Translator)
1926 – The History of Spiritualism 2 vol.
1927 – Pheneas Speaks. Direct Spirit Communications
1928 – A Word of Warning
1928 – What does Spiritualism actually Teach and Stand for?
1929 – An Open Letter to those of my Generation
1929 – Our African Winter
1929 – The Roman Catholic Church. A rejoinder.
1930 – [A Form Letter]
1930 – [A Second Form Letter]
1930 – The Edge of the Unknown

Fontes​

< http://www.beatrix.pro.br/index.php/sir-arthur-conan-doyle/>
< http://pt.scribd.com/doc/3854240/Conan-Doyle-Biografia>
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Conan_Doyle>
 
Última edição:
Eu nunca li nada do Conan Doyle que náo seja Sherlock Holmes (em compensação, já li tudo, acho). gosto não apenas do personagem, mas do estilo de escrita, e além de tudo é um inglês bastante acessivel.

alguém já leu algo dele? tem alguma indicação?
 
Também só conheço Sherlock Holmes do Conan Doye, nem sabia que ele tinha outros títulos, mas por Sherlock ele já é um de meus escritores favoritos, e considero um dos dois melhores que já li até hoje. Dr. Watson é o personagem literário que mais aprecio XD

Doyle tem um jeito de escrever muito cativante. As narrativas são curtas, concisas e intrigantes. Você não devora os livros dele, você simplesmente engole sem sequer mastigar antes. Li o primeiro volume daquela coletânea gigantesca em menos de uma semana, e aos livros o que mais demorei durou três dias.

O cara deixou um legado incrível aí, era um escritor completo sem sombra de dúvidas - mesmo "só" tendo uma história de destaque (porque dizer que Sherlock Holmes é uma história é o mesmo que dizer que Star Wars é um filme).
 

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