• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

[Call of Cthulhu] O Rei em Amarelo [on]

Cena 9: De volta à tapera do pajé

Manaós, 9 de junho de 1910, ~2:00

Investigadores:
Todos


Ao ouvir a pergunta de Jerome, Sapaim franze a testa, solta um muxoxo e assevera, em tom grave:

- Pequeno Grande Anajé, curumim que Sapaim viu virar abaeté, diz coisa perigosa mas sábia. Importante salvar curumins se curumins usados por Maku-nhaimã. Pajelança de Sapaim pode ajudar, mas muito perigo em usar máscara. Mesmo chá, folha mascada e canto do pajé pode não segurar contra Jurupari e maus espíritos. Risco, muito risco. Precisa ser forte de espírito, ter muita vontade pra não ficar derrotado pelo inimigo, pra não ficar lá do outro lado. Sapaim não sabe o que vai se ver. Mas Sapaim ajuda se amigos quiser.

E, dizendo isso, espera a decisão dos investigadores.

Off: Caso decidam usar a máscara dessa forma, em termos de jogo o "forte de espírito e com muita vontade" significa o personagem com mais Sanidade e Pontos de Magia, no caso, Pietro (76 PS, 15 PM) e depois Jim (62 PS, 13 PM). Só lembrando que vocês ainda não olharam os papéis que retiraram do baú de Valtrop.
 
Última edição:
Pietro franze o cenho, e volta a considerar seus últimos pensamentos. Havia uma chance de usar a máscara com relativa segurança, e ela poderia conter as respostas de que precisava.

"Certo, se for necessário eu me disponho a usar a máscara, com toda a preparação necessária. Mas antes acho melhor esgotarmos as outras possibilidades. Jim, você tem os papéis de Valtrop, não?.

Dito isso, ele tira os livros que também haviam encontrado, e complementa:

"O que quer que esteja escrito nestes livros e notas, é importante o suficiente para que estivessem trancadas no cofre dele. Vamos analisa-las primeiro, e depois partimos para planos mais drásticos.
 
- Oh lord, é verdade, os papeis. Com toda essa correria, já me esquecia deles.

Dizendo isso, Jim retira os papeis de sua bolsa, abrindo-os.

- Vamos ver do que se trata, afinal.
 
Jerome, agora prestando atenção em Pietro diz:

Você está certo Pietro, vamos ver o que fala aí. Talvez Sapaim saiba algo a respeito também. Mas tome cuidado ao pronunciar essas palavras escritas em voz alta, pode ser algum feitiço.

A essa altura, Jerome não duvidava de mais nada, todo cuidado era pouco.
 
Cena 9: De volta à tapera do pajé

Manaós, 9 de junho de 1910, ~2:00-2:30

Investigadores:
Todos


Jimmy saca a pasta de papel e tira os elásticos para examinar seu conteúdo. São folhas e mais folhas de papel almaço, em estado variável de conservação. Umas parecem ter alguns bons anos e começam a se desfazer, outras são mais recentes. Todas estão manuscritas em uma caligrafia muito difícil de ser lida. Parecem ter sido rascunhadas às pressas, talvez sejam cópias de algum outro texto. Trazem quase sempre uma data no alto da folha, começando por volta de 1895, com folhas de 1900, 1903, uma boa quantidade de 1905 e indo até dois dias antes (7 de junho de 1910), com intervalo de vários anos entre essas datas. Uma rápida passada de olhos indica que há pequenos trechos em francês, outros mais longos em latim e a maior parte em uma língua que o jornalista não conhece (mas Jerome indica ser tupi). As condições de leitura na tapera são péssimas e quase nada se pode decifrar dos garranchos, além de se visualizar um ou outro desenho macabro representando árvores, raízes e criaturas disformes, além da repetição de palavras como mbaë-ú e ang-mbaë-aiba e jurupari.

Também Pietro tira os dois volumes brochura do bolso interno do paletó e os examina à luz do candeeiro:

Um deles é um caderno de anotações, tipo agenda, com não mais de 100 folhas em papel fino. Está estado razoável e parece ser novo, apesar da capa bastante amarrotada e de se notarem algumas daquelas fétidas manchas amarelo-esverdeadas nas bordas da páginas. A folha de rosto está em branco, já a segunda traz apenas os dizeres, em francês: “Relatório das Atividades na Amazônia”, com data de meados de maio daquele ano (na verdade, um dia depois da chegada da trupe a Manaós). As páginas seguintes, em cuidadosa caligrafia e também em francês, trazem palavras que parecem saídas da cabeça de um louco descontrolado:

IÄ! IÄ! HASTUR FHTAGN! CARCOSA NYTHLGUA XUL MGAH'HALI FHTAGN!

Este relato servirá como registro para os Irmãos da grande jornada por nós empreendida em plena selva brasileira para contribuir com a volta dos Antigos. Nós, da Irmandade, que sabemos o verdadeiro caminho para os Grandes Antigos. Nós, que conhecemos que há uma ordem na loucura, uma beleza na desistência da moral; que há peças a serem encenadas, máscaras a serem usadas. E que devemos ser pacientes. O Inominável dorme e sonha sob as águas do Lago Hali, em Carcosa, e não tem pressa...

Nós, do Senado Secreto, daremos a glória ao Inominado. Para aquele que é o único, o verdadeiro Rei.

Diga-me, Irmão, já viu o Sinal Amarelo?

Cabe-me antes de tudo traçar para os iniciantes os acontecimentos pregressos que nos trouxeram até este momento glorioso.

Sabe-se que 1895 nós tentamos invocar o Rei em Farrapos em Paris, de forma sutil, de modo a influenciar pouco a pouco a mente dos falhos. Eu mesmo fazia parte da assembleia que montou, produziu e apresentou a peça de Castaigne. Castaigne, o gênio indomado que não suportou a revelação. Castaigne, inspirado por Xastur, que deu forma escrita ao périplo do Estrangeiro, emissário do Rei. Castaige, que terminou a redação do trabalho iniciado por Marlowe e Shakespeare, dois não-iniciados que receberam as graças dAquele que dorme sob o lago. Notem nossa diferença em relação aos seguidores de Cthulhu, os degenerados: enquanto eles acolhem em seu seio toda ralé que aceita urrar e circunvoltear o fogo e a estátua, nós somos os eleitos, pois H*st*r só inspira os melhores, os que tem os dons das artes, os gênios da raça destinados a ajudar no retorno.

A peça foi preparada para a noite da conjunção de Aldebaran em Híades com o Sol em Touro. Tudo indicava uma invocação perfeita, se os espíritos da plateia fossem cooptados de maneira correta. Mas algo falhou. Não previrámos a fragilidade da mente dos falhos, que não estavam preparados para o átimo de Verdade que lhes era ofertado. Perderam o controle e tudo resultou num aparente fracasso. Sim, pois se as autoridades falhas “proibíram” a montagem da peça e a circulação do texto, isso só aguçou a curiosidade dos intelectuais e artistas despertos em toda a Europa. Logo “O Rei em Amarelo” foi traduzida e impressa na Inglaterra, e versões paralelas em outros idiomas não tardaram a surgir. Nossos Irmãos trabalharam rápido, e bem.

Naquela noite de 1895 tive a oportunidade de conhecer aquele que viria a se tornar um Irmão devotado e figura-chave para a consecução de nossos planos na Amazônia: PM, um jovem brasileiro com a veneração estampada nos olhos, os conhecimentos e os recursos materiais para uma nova tentativa. M. era herdeiro de um fortuna feita da borracha amazônica e apreendera parte da Verdade em contatos com tribos afastadas de sua terra natal. E mais: sabia de um tomo de saber de grande valia escrito por colonizadores portugueses em séculos passados. Chama-se esse livro “Ang Mbaë Aiba”, “O Livro da Alma Profunda do Mal”, que trazia descrições de rituais dos primitivos habitantes daquelas terras em devoção aos Antigos. E ele soube de um exemplar que ainda existia no Brasil e que estava na Biblioteca Pública de Manaós. Infelizmente o tomo estava em tupi, língua que ele não conhecia e não conseguia dominar apesar de seus esforços.

Sedento por mais conhecimento foi que viajou para a Europa em 1895 e que por essa sede nos conhecemos. Na apresentação, foi da plateia um dos poucos que entendeu a genialidade do que via e não se perdeu. Isso me chamou a atenção nele. Apresentei-me e descobri nele um bom interlocutor. Falou-me do livro em tupi e como já lera algo, sem profundidade, sobre as manifestações do Indizível, interessei-me de imediato. Contou-me da tribo dos Maku-nhaimã, que adoravam o “rebento da fruta”, provável forma local do Rei, que conheciam a árvore da angakuara e dominavam o segredo da fabricação da mbaë-ú, a bebida que nos coloca em sintonia direta com o Sonhador.

Embora atribulações tenham me impedido de viajar imediatamente ao Brasil, comecei a estudar a língua dos indígenas. M. tornou-se um neófito e passou a vir à Europa constantemente para ver nossas apresentações “clandestinas” da peça, apenas para os iniciados. Mas sabíamos que ela fora escrita para liberar a mente dos falhos, sobretudo dos de grande influência e poder, a fim de colocá-los em contato com a Verdade e que eles a fariam espargir pelo Globo.

Os cálculos astrológicos mostraram que a oportunidade perfeita seria quando da passagem do cometa de Halley (Halley/Hali...), em 1910. Teríamos alguns anos para a preparação perfeita do cerimonial. M. adquiriu cada vez mais prestígio em sua cidade e passou a ser um “patrocinador das artes”. Enquanto isso, eu escolhia os irmãos mais devotados para a tarefa gloriosa. M. mandava fazer cópias manuscritas do Ang Mbai Aiba e do “Sacramentus Crudelissimus in Terra Brasilis”, mas que pouco me ajudavam.

Em 1905 estive pessoalmente em Manáos e comecei a fazer minhas próprias anotações desses tomos, já dominando bem a língua tupi. M. descobrira algumas árvores Angakuara e tomara posses dessas terras. Começamos também a estabelecer relações mais amistosas com membros dos Maku-nhaimã que não tinham passado por uma interessante metamorfose. Essa mudança é uma forma de contato total com o Indizível, e é admirável, mas pouco útil para nossos planos, já que o indivíduo se torna aversivo aos olhos dos falhos. É causada pelo uso constante da mba-ú.

Aprendi rituais interessantíssimos que pude transcrever nos arquivos da Irmandade quando voltei à Europa. Pratiquei alguns deles recentemente e se mostraram muito úteis para os momentos que se aproximam. Como sabem, fiz o Juramento Indizível e passeei entre reinos. Meu corpo se deteriora desde então, mas alcancei um degrau mais alto. Quando desta casca nada restar, já terei feito meu papel e recebido o Soberano.

Passados os anos, chegamos finalmente ao momento esperado. Nossos mentores K´Nyan, esperançosos com o sucesso da cerimônia, deram-me a honra de enviar um sacerdote do povo Tcho-tcho para liderar o ritual final, Py On py, um Mestre Oh-Go de 7º Nível!!! Chegamos ontem a essa terra bárbara, e longe dos malditos Mi-go, pudemos nos concentrar totalmente na montagem do cenário e na obtenção dos elementos indispensáveis ao nosso sucesso.

Montamos as pedras sacrificiais e os dois portais, um no teatro e outro nas terras de M., o que nos tomou várias noites para a energização de um lado e de outro, com uma cansativa viagem de barco. Com o portal, isso não é mais necessário. Nossos outros irmãos ficaram na casa de M. preparando-se. Py on conseguiu os dois cordeiros perto do rio. O sacerdote vem dirigindo cerimônias para visualização do Inominável na cidade e fazendo experiências misturando a mba-e e a lótus negra, com resultados animadores.

Vários falhos importantes foram iluminados a passaram a enxergar através da bebida. Alguns trabalhadores e novatos não resisitiram ao primeiro contato com a Verdade. Falhos demais, não são dignos de contemplar a chegada do Rei. A extração vai bem e em breve as primeiras caixas com a raiz devem chegar em Marselha, e daí para nossos irmãos por toda a Europa. Eliminamos um pequeno obstáculo curioso, nada pode se interpor entre nós e nosso objetivo.

Em breve estrearemos. O resultado ficará evidente para os irmãos. Para os falhos, não passará de mais um acidente. Mas o Rei terá sido coroado e seus súditos leais multiplicados e espalhados, como deve ser.

Seguem-se mais algumas páginas no mesmo tom. Ler tudo demoraria algumas horas, mas o essencial parece estar mesmo nesse trecho.

O outro volume é um livro impresso. Sua capa de couro escuro apresenta o fatídico sinal amarelo, além de uma enorme mancha avermelhada que se assemelha a sangue. Não traz o título na capa, apenas na página de rosto: é o Le Roi en Jeune, ou “O Rei em Amarelo”, editado em Paris em 1895.

attachment.php

Ao ler esse título, o italiano sua frio, não conseguindo deixar de temer pelo que esse volume maldito contém.
 
Última edição:
Alberto assustado fica inquietado com o que possa vir a ocorrer, as ciências ocultas nunca fora seu forte.

Alberto :
- Ainda acho que devemos investigar mais do que se trata estas pronuncias do que fazer algo que vá nos ferrar !

Irritado se levanta e fica a olhar as plantas bastante pensativo.

Off : Internet ta normalizada em casa.
 
Jerome dá uma boa lida naqueles arquivos e por alguns instantes fica sem palavras. Os planos malígnos daquele povo eram absurdamente maiores do que ele poderia imaginar.

Mas ele tinha alguma dúvidas a respeito do texto e achava que talvez Sapaim pudesse saber do que se tratava então resolve perguntar.

Sapaim, estamos dando uma lida nessas inscrições mas algumas coisas fogem ao meu conhecimento. Aqui está dizendo que, existem dois portais. E que a intenção de trazer devolta o que eles chamam de "Inominável", "indizível" e "rebento da fruta". O que exatamente isto significa?
 
O velho pajé coça o queixo, pensa uns instantes e responde para Jerome:

- Sapaim não sabe nada de portal, indizivel... coisas estranhas, mistério pra pajé. "Rebento da fruta" é jeito que Maku-nhaimã também chama o Jurupari Negro, que nasceu de uma fruta no meio de um lago maldito. Deve ser fruto da árvore angakuara, mas os Maku escondem isso de outros povos. Perigo isso se homem branco invoca o Espírito Mau da floresta em cidade.
 
Realmente Sapaim, seria uma catástrofe. Acho que eles vão utilizar estes portais para trazer a vida o Jurupari. Precisamos agir e rápido.

Pelo que descreveram aqui, eles estão bem próximos do objetivo.
 
Ao falar sobre os tais portais citados no diário, Jerome tem uma lembrança que talvez não signifique nada, mas que, por outro lado, pode ser uma das chaves para entender o trecho: o arqueólogo recorda ter observado junto com Nagato, em frente àquele portal cenográfico no palco do teatro, o que pareciam pegadas que saiam da parede e iam na direção dos camarins!

Off: Isso aconteceu neste post aqui. [#313]
 
Última edição:
Jerome após refletir sobre o que havia lido e a situação e que ele e Nagato passaram ele recorda.

Pessoal, eu e o Nagato vimos um desses portais na sala de espetáculos. O estranho na hora é que pareciam haver pegadas com uma vegetação e terra que aparentemente não faziam parte do cenário. Agora acho que entendo. Os dos portais estão ligados entre si.

Claro é isso mesmo. Eles de alguma forma usam esses portais para transitar do terreno citado no caderno com a sala de apresentações, através de algum tipo de magia.


Dizendo isso Jerome estava refazendo todos os seus passos mentalmente para talvez conseguir alguma informação interessante para compartilhar com o grupo e que pudesse ajudar na solução do caso.
 
- Necessitamos do saber a desativar passagem do ruim. Do plano ao tempo agora eu tenho a impedir pessoas entrarem ao teatro. Teto e enfeite dos caros de peso sem conserto a ser facil. Senhores, temos a explodir parte ao teto de inutilizar cadeiras e espalhar da noticia... Dinamite.

Nagato estava um pouco acelerado, não sabia se havia se feito entender corretamente, mas a última palavra certamente eles entenderiam.
 
Off: Lembrando que a estreia da peça está marcada para dia 21 de junho (12 dias depois), noite do solstício de inverno.
 
Por algum tempo, Pietro esteve em dúvida quanto ao que fazer com o livro. Uma parte dele desejava lê-lo e saber de uma vez o que estava causando todo aquele tumulto. Seu instinto, por outro lado, desejava jogá-lo no fogo junto com aquela máscara medonha.

Segurando o livro fechado com as mãos, como se ele pudesse se abrir por conta própria, o italiano continua a conversa:

"Bom, podemos tomar os cordeiros como sendo as crianças sequestradas. Acredito que seja mais provável que elas estejam em algum lugar da propriedade de Mascarenhas do que com essa outra tribo."

Suspirando fundo, como uma preparação para o que tinha a dizer, ele prossegue:

"De qualquer maneira, parece que teremos de ir até essa fazenda, tanto para acabar com eles quanto para resgatar as crianças. O problema é que, além dos capangas normais que podemos esperar, os arredores também podem estar sendo vigiados por esses Maku. Uma vez que já estão cientes de nossa investigação, dificilmente conseguiremos entrar lá disfarçados. A opção que me parece restar é tentarmos usar o portal, se ele funcionar mesmo. Não sei quão loucura é tentar fazer uso deste método, mas também não sei se temos escolha."

Dito isto, ele fica em silêncio, aguardando a opinião dos colegas e do pajé.
 
Cena 9: De volta à tapera do pajé

Manaós, 9 de junho de 1910, ~2:45

Investigadores:
Todos


Olhando para o grupo de um jeito meio impotente, o índio comenta:

- Sapaim não entende algumas coisas que amigos falam, não sabe se ajuda. Precisa ter cuidado com magia, pode trazer coisa ruim, virar contra amigos. Cuidado com os Maku, também. Coisa ruim feita na cidade, Sapaim sente, e amigos no meio de tudo, muito ruim. Se pode parar isso, melhor. Mas preciso cuidado, isso pajé sabe. Logo sol nasce e Sapaim tem que curar povo descendo rio. Amigos descansam pra voltar cidade?
 
Cena 9: De volta à tapera do pajé

Manaós, 9 de junho de 1910, ~2:45-5:00

Investigadores:
Todos


O grupo fica em silêncio, refletindo individualmente sobre os significados ocultos por trás de todo aquela enxurrada de fatos insólitos que invadiram suas vidas nos últimos três dias. Alguns, como o policial Alberto, maldiziam a hora em que tinham aceitado tomar parte daquilo. Não conseguiam pensar direito em qual dureção seguir, como encarar um obstáculo que parecia estar acima da mera compreensão humana. Ou seria apenas mais um grupo de loucos, adorando demônios esquecidos depois das perseguições religiosas e da ascensão da racionalidade científica? Suas cabeças pendiam entre essas hipóteses. E o cansaço já tomava conta de seus corpos, mesmo com o recente choque de adrenalina. Invadidos pela penumbra e pelo silêncio na tapera, um e outro ressonavam meio sentados na esteira. Até o pajé se levanta e vai deitar em sua rede, começando a roncar logo depois. Quem não cai no sono, apenas vê o tempo passar até os primeiros raios de sol entrarem pelas frestas da oca, fazendo o velho sacerdote acordar e se levantar para os preparativos de sua viagem de cura. Tão logo salta da rede, Sapaim pergunta a eles:

- Sol chegou na tapera de Sapaim. Pajé precisa ir com outros índios pra aldeia de gente doente. Vai deixar amigos agora. Se Sapaim pode ajudar amigos ainda, faz isso agora. Depois, demora voltar pra casa.

E diz isso enquanto arruma algumas ervas e potes dentro de um tipo de bolsa feita de fibras vegetais.
 
Última edição:
- Sapaim, que tipo de proteção pode nos dar? Algo como o que fez para proteger Nagato, talvez? Ainda não sabemos direito como agir, mas certamente precisaremos de proteção contra esses males que nos cercam.
 
O pajé, tendo parado de arrumar seus apetrechos para a viagem, coça o queixo e responde ao inglês:

- Sapaim pode fazer pajelança e por pinturas de bons espíritos no corpo dos amigos. Não precisa pajelança muito forte que nem Nagato, porque amigos não beberam água do mal. Pajé prepara rápido tinta de urucum, se amigos quer. Pintura ajuda fechar corpo contra o mal.
 
- Será de muita utilidade, Sapaim! - responde Jim. Sua mente estava tentando bolar um plano, ao mesmo tempo em que avaliava a proposta de Pietro. De qualquer forma, o perigo era uma certeza, e a ajuda do pajé poderia ser o diferencial entre a vida e a morte.
 
Cena 9: De volta à tapera do pajé

Manaós, 9 de junho de 1910, ~5:00-6:00

Investigadores:
Todos


Ouvindo a resposta do jornalista estrangeiro, e com a concordância dos outros membros do grupo, Sapaim pede mais uma vez ajuda a Jerome na preparação das tintas à base de ervas e extratos vegetais. Sob o olhar curioso dos investigadores, o pajé e o arqueólogo de ascendência indígena amassam raízes, misturam água e sementes, moem cascas de árvores dentro de uma cuia de madeira decorada. Feito isso, o velho sacerdote tribal providencia ainda o abastecimento de um longo cachimbo com algum tipo de mato seco, acendendo-o e tirando dele algumas baforadas enquanto pede que todos tirem suas camisas e se ajeitem novamente em círculo. Enquanto passa o exótico instrumento de fumo, Sapaim dança lentamente ao redor deles.

O efeito da erva que fumam é rápido, causando uma espécie de entorpecimento e sensação de bem-estar. Divididos entre a incredulidade com relação ao ritual e o maravilhamento com a sabedoria nativa, cada um dos investigadores vai lentamente recebendo em seu corpo a mesma pintura que já tinha visto em Nagato: primeiro um grande símbolo do peito, depois pequenas reproduções deste na nuca, nos pulsos e nos tornozelos. No caso do japonês, o pajé nada mais faz do que reforçar as pinturas que fizera na noite anterior.

Terminada a cerimônia, e aparentando certo cansaço físico e mental, Sapaim conida todos a se levantar e sair da tapera. Do lado de fora, o sol já brilha forte e os sons diurnos da mata amazônica se fazem ouvir em todo seu esplendor, fazendo parecer que todos os perigos vividos pelo grupo durante a noite tinha sido espantados. De uma das ocas vizinhas saem dois índios jovens, também preprados para uma viagem, que se dirigem a Sapaim, como que o apressando. O pajé fala rapidamente com eles, e já se encaminhando para uma trilha na mata, volta-se ao grupo e lhes dá uma última recomendação:

- Sapaim fez o que pode pra ajudar amigos. Não sabe se pajelança protege de todo mal que sente rondando. Amigos precisa cuidado com água do mal e com lago da fruta, onde mora o Jurupari negro. Se pode, queima angakuara e quebra tudo dos Maku-nhaimã. Maku tem medo de fogo, usa isso se encontra eles. Agora pajé precisa ir ajudar povo doente. Amigos também precisa ajudar, ajuda salvar curumins. Que Nhanderu olhe pelos passos dos amigos e que o trovão de Tupã derrube povo escuro. Aha potã, até a volta, amigos de Sapaim. Aha potã, Anajé.


Então o velho pajé faz sinal para seus companheiros e os três indígenas rapidamente somem na trilha que leva até às margens do grande Rio Negro, deixando sozinhos na pequena aldeia cinco homens incertos sobre os passos a serem dados na obscura estrada que estavam trilhando.

-------------------------

FIM DA CENA 9
 
Última edição:

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.404,79
Termina em:
Back
Topo