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Literatura e emoções cotidianas

Kainof

Sr. Raposo
Usuário Premium
Ler é um processo que pode levar um tempo. Então aí o livro, o enredo, os personagens passam a te acompanhar nas atividades diárias. As situações, as emoções das personagens ou do estilo marcado pelo autor transpõe as simples páginas para entranharem-se nas nossas próprias emoções manifestadas cotidianamente.

Não sei se todos são assim, mas eu tenho o humor e o modo de lidar com as pessoas e ações do meu dia-a-dia altamente influenciados pelo livro que estou lendo no momento. Alguns já conseguiram formar uma marca em mim, seja porque os releio periodicamente, seja porque leio obras do mesmo autor com frequência.

Alguns exemplos das emoções minhas ao ler alguns autores que mais repito em minhas leituras : quando leio Nietszche fico mais colérico, egoísta e combativo. Quando leio Fernando Pessoa, fico mais melancólico, nefelibata e pusilânime. Quando leio Pablo Neruda, fico mais sonhador, afetuoso e romântico. Quando leio Camus, fico mais introspectivo e humanitário.

Alguém mais tem essa mesma característica? Ou acha isso muito estranho e lê sem se alterar, afinal, é, na mioria das vezes, apenas ficção? Tem alguns sentimentos padrões de leituras para citar?
 
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

Acredito que todo mundo que le realmente interpretando carrega pra si um pouco do livro. Nem que sejam termos muito usados, brincadeiras demonstradas no cotidiano das personagens entre outras coisas.

A emoção que o autor passa em seus livros é fatalmente transmitida e adotada por aquele que lê. Talvez eu tenha tanta necessidade de ler fantasias quando as coisas por aqui parecem desmoronar, pois todos os autores, do mais simples ao mais complexo tem a necessidade de passar uma mensagem de "tudo dará certo no final" mesmo diante das mais loucas situações, coisa que eu só acredito mesmo na fantasia, isso de tudo terminar bem.

Infelizmente isso acaba me deixando mais sonhadora que de costume e talvez mais esperançosa que deveria, as vezes menos pé no chão.
 
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

Infelizmente isso acaba me deixando mais sonhadora que de costume e talvez mais esperançosa que deveria, as vezes menos pé no chão.

Também acontece o mesmo comigo. Acho que um dos motivos pelo qual eu leio mais livros fantásticos é justamente a chance de ao menos por um curto período fugir da realidade e viver no mundo criado pelo autor. Às vezes me pego conversando com alguém e usando frases ditas pelos personagens que me identifico e também acontece de meu único assunto ser sobre o universo da leitura.E isso faz com que poucas pessoas entendam do que eu estou falando.
 
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

A leitura é um momento que busco desconectar de tudo, então eu procuro ao máximo não levar nada do que aconteceu no meu dia-a-dia pra leitura senão não consigo vivenciar de verdade a estória, pois o ato de ler em si é algo mecânico, mas ler vivenciando o que você está lendo é bem diferente.

As razões que me fazem ler e reler um mesmo livro muito se deve muito a isso. Num determinado momento eu estava num dia estressante e a interpretação que eu tive foi uma, quando leio num outro momento mais tranquilo foi outra.

Já em relação a personalidade é raro eu assumir a personalidade de alguém baseado no que li, mas quando acontece, é que nem chiclete, gruda mesmo!
 
Última edição:
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

Bem pensado, Kainof.

Desde dezembro, eu estou lendo Musashi. Com toda certeza, sinto que tenho tido um senso maior de disciplina e de crítica, desde que eu comecei a lê-lo.
Fora a vontade louca de aprender sobre Kenjutso.
 
Última edição:
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

Sempre acontece comigo ^^

Às vezes me pego conversando com alguém e usando frases ditas pelos personagens que me identifico e também acontece de meu único assunto ser sobre o universo da leitura.E isso faz com que poucas pessoas entendam do que eu estou falando.

Quando eu estava lendo SdA ninguem intendia nada do que eu falava !:lol:
 
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

O bom dos sentimentos é que eles, em uma perspectiva heráclitica, estão sempre em trânsito.

Tirando os livros obrigatórios (estudos/trabalho), a escolha do livro que leio é bastante influenciada pelo meu humor, e não o contrário. Mas, é claro que eu acredito que a obra possa exercer alguma influência sobre o leitor, sim, porque eu acredito que, se é arte, transforma.

Quando estou frustrada com alguma leitura ruim que fiz, e quero me animar rapidamente, sempre recorro ao "Missa do Galo" e "A terceira margem do rio", que são apontados, por muitos estudiosos, como os melhores contos da Literatura Brasileira.

Quando estou com muita vontade de ler algo da Literatura Brasileira, e com vontade de refletir sobre o sertão (sertão = mundo, conforme acepção rosiana) leio aquele que considero o melhor livro do mundo: Grande Sertão: veredas; ou o meu livro preferido (tá, junto com Grande Sertão), Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Quando sinto que não estou conseguindo enxergar o essencial da vida, das pessoas, de tudo, eu releio O pequeno Príncipe,

E, assim, sucessivamente.
 
Última edição por um moderador:
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

Quando na aborrescência, lia e realmente absorvia o humor do livro. Um pouco mais de tensão, eu nervosa e de pouco papo. Crise política, era eu me tornando uma crítica.
Personagem preferido faz idiotice, eu emburrada. (Como se ele fosse pedir desculpas.) :lol:

Sempre acompanhei muito as séries, e quando terminavam, virava puro espinho. Sem falar com ninguém, o que já não é muito.
Quando comecei a ler livros mais intelectuais, pode-se dizer assim, era diferente.
Exemplo, quando li Orwell, o sentimento de que tudo era uma mentira e não se podia confiar em ninguém, era bem constante. Se leio Orwell hoje, isso ainda acontece, fico repetindo mentalmente que relações de amizade e etc., são apenas agregados, e que a vida é individual, apenas nos relacionamos para viver, pois é a natureza humana. Ledo engano.*

Mas então, por não me aguentar nessa negatividade e aspereza, vou logo pegar um livro de fantasia, não para fugir do mundo real, porque, realmente não acredito nessa ilusão. Mesmo a fantasia é uma realidade mascarada com alguns traços de criatividade e sonhos, mas a realidade está ali.

E livros gostosinhos de ler, como O Pequeno Príncipe, Ami O menino das estrelas, ou ainda a Grande rebelião, bem, só sei explicar a minha sensação desses livros de um jeito:

*Imagina assim. Coxilhas até onde a vista alcança, no RS, óbvio, um descampado a todos os lados e direções, o vento forte que sopra, não muito sereno, mas vibrante! Vem com o cheirinho do campo e aqueles matinhos de aroma doce, você fazendo trilha, você caminhando morro acima, morro abaixo. Você não pensando em nada, só sentindo isso, nessa hora, nesse minuto! Os livros que me fazem sentir isso, são esses três. ^^

Agora acontece muito de eu ler um livro pelo humor que estou, e não estar num humor porque li tal livro.
Se estou estressada, eu leio, se estou triste, eu leio, se estou cansada, eu leio, se fiquei tempo sem ler, eu leio mais.
Mas se estou feliz, eu não leio. Eu curto a felicidade tomando chimarrão junto! :yep:
 
Re: Literatura e sentimentos cotidianos

O que eu leio influencia tanto o meu mood que eu deixo pra ler Dostoevsky só quando sei que vou passar um bom tempo sozinho, porque me deixa muito deprimido, e antes de sair de casa pra encontrar amigos ou mulheres eu tento ler um pouco de Jane Austen, G. K. Chesterton ou Oscar Wilde pra ficar de bom humor e adicionar muito wit às minhas conversas. Funciona. xD


Quando estou frustrada com alguma leitura ruim que fiz, e quero me animar rapidamente, sempre recorro ao "Missa do Galo" e "A terceira margem do rio", que são apontados, por muitos estudiosos, como os melhores contos da Literatura Brasileira.

Quando estou com muita vontade de ler algo da Literatura Brasileira, e com vontade de refletir sobre o sertão (sertão = mundo, conforme acepção rosiana) leio aquele que considero o melhor livro do mundo: Grande Sertão: veredas; ou o meu livro preferido (tá, junto com Grande Sertão), Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Melian, você saberia onde eu posso encontrar audiobooks de todos estes livros que você citou?
Eu já procurei muito os dois últimos, mas não consegui encontrar.
Ah é, mas com narração humana, voz robótica não dá. :P
 
Esse tópico merece um grande post.

Eu sempre tive uma relação complicada com os livros, desde os mais sinceros anseios de felicidade à crises existenciais. Acho que, no meu caso, isso se deve aos extremismos bem característicos da minha personalidade, mas que variam fortemente de acordo com o livro lido.

Nietzsche foi um marco. Filosoficamente me formou de um jeito quase irremediável, desde as primeiras leituras mais ingênuas às considerações mais maduras nos livros mais maduros. Nietzsche me destruiu uma época, derrubou as poucas convicções que tinha, derrubou muralhas conceituais e preconceitos, e fez um estrago enorme na minha mente adolescente, me insensibilizou a muita coisa, fora aquelas emoções egoístas e de exaltação quase extática diante das máximas. Só pude apreciar Nietzsche quando o coloquei em seu lugar, quando o li com prudência, mais sereno e maduro. Demorou mas ainda digo que o filósofo é uma constante tentação, um perigo constante. Mas não deixo de ler. Ponto positivo: aprender a duvidar.

Leituras tensas tive com Dostoievski que, com aquelas descrições psicológicas detalhadas, complexas, me faziam suar frio muitas vezes, me encher de medo e desespero pelo nível da maldade do ser humano, pela piedade que ele me forçava a ter, pelo estupro da sensibilidades a que ele me forçava, pela agudez dos sentimentos pela qual ele nos leva. Presenciar atos de loucura como se estivessem ocorrendo comigo, ver a situação social tão complicada da Rússia, me apaixonar pelos sofrimentos e pela alma simples da Santa Rússia Ortodoxa.

E isso se estende por tantos autores. Machado é uma experiência tão única, os contos que são um retrato tão realista da alma brasileira. Brás Cubas foi provavelmente o livro mais marcante que já li, foi o que mais me estremeceu as bases quanto ao significado da vida, dos prazeres, do amor. Dom Casmurro, a abalar as bases do meu romantismo. E tantos, tantos autores.

Lembro aqui, carinhosamente, do Pequeno Príncipe com sua filosofia simples de amor pelo singelo, único, pela forma infantil e doce de se ver o mundo, pelas lições, pela simplicidade. Livro apaixonante e que sempre me enche de ternura.

Coloco aqui também livros religiosos, não meramente teológicos mas verdadeiramente religiosos, como o Confissões de santo Agostinho, que mais que aliar fé e razão, foi um livro que realmente me mudou, me tirou de um buraco de vazio existencial e me abriu os tesouros da sabedoria do Ocidente cristão e de uma espiritualidade que me resgatou de muito sofrimento. E tudo que os santos Padres escrevem, ainda mais sobre a vida espiritual, só me enchem de amor, amor de verdade, e arrependimento pelos meus pecados, vontade de mudar e de transformar a mim mesmo.

E sendo mais sincero, não me arrependo nem um pouco das muitas, muitas, MUITAS, lágrimas que meus mangás me fazem derramar. Naruto que o diga.

Esqueci de mencionar: o livro mais tenso que li foi Notas do subsolo. Sério, nunca tive sentimentos tão complicados, contraditórios e intensos pelo mesmo personagem antes.
 
Última edição:
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Orwell me torna mais desconfiado das autoridades do que eu já sou.

Euclides da Cunha faz aumentar as saudades da minha finada avó materna, baiana e sertaneja.

Huxley sempre me entristece.

Tolkien sempre me alegra.

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